- Ele não é meu namorado! – disse ao médico quase histérica. - Não quero ficar dentro dessa ambulância e com esse homem mal-educado que não sabe tratar bem uma mulher sem gritar! – acabei gritando as últimas palavras.
- Só vou acompanhá-la até o hospital – ele explicou como se fosse a coisa mais comum.
- Oh, que cavalheiro! Não devia bater no seu carro, mas passar com o carro em cima de você! – debochei. - E não precisa ir comigo, posso me cuidar sozinha!
Será que os homens não entendem que nós mulheres não precisamos deles para nada? Foi para isso que criaram os vibradores! – olhei para o médico.
- Dá para parar a ambulância e esse ogro descer?
- A senhorita está muito alterada! – o médico proferiu.
- Estou com dor, só isso, e não quero que esse idiota venha comigo!
– expliquei alterada e impaciente segurando o casaco do médico.
O médico tirou a minha mão de cima dele.
- Precisa ficar calma – ele pediu.
- Como alguém que sofre um acidente fica calmo? – perguntei irritada.
Eu tinha um gênio forte, desde criança. Minha mãe dizia que eu acabaria solteira e infeliz, porque ninguém era obrigado a aguentar esse meu jeito grosseiro de falar com as pessoas. Depois de conviver com Dom Andreas, ter que lidar com homens arrogantes e as regras da máfia, apenas piorei.
- Sabe com quem você está falando? – questionei o médico. Senti uma outra picada no meu braço e olhei para o outro médico.
- O que foi isso?
- Outro remédio para a senhorita relaxar – ele avisou.
- Não quero relaxar! Quero ir para casa! – falei brava.
Parei de falar e gemi quando minha cabeça girou. Minha língua parecia pesada e senti vontade de rir. O que estava acontecendo comigo? De repente, tudo ficou em câmera lenta. Levei a mão à cabeça, luzes coloridas piscavam diante de mim e comecei a rir sem conseguir controlar.
Olhei para o lado e vi o ogro selvagem. Pisquei várias vezes para prestar atenção nele, como ele era bonito... Seu perfil era perfeito, ele tinha o nariz reto, a boca carnuda, o rosto não muito quadrado, mas tinha uma aparência que determinava força e poder. As sobrancelhas eram escuras como os cabelos, eram um pouco arqueadas dando um sinal de impaciência. E agora, olhando de perto, os olhos não eram escuros, eram num tom de
marrom chocolate? Algo assim, mas era perfeito. Como não prestei atenção nisso antes? Ele era... era...
- Você é lindo! – não queria dizer aquilo, mas minha boca parecia ter vida própria.
Segurei em seu paletó e o puxei para mais perto olhando para seus olhos escuros, os cabelos castanhos jogados de lado. Aquela cara de homem mau que tem pegada.
- Quer namorar comigo?
Ele estava sério, mas ouvi risadas em volta de nós. Minha boca estava seca e passei a língua pelos lábios.
- Quero água – pedi. Mas ninguém me deu água.
- Segura a minha mão – solicitei e antes que ele fizesse, eu mesma segurei a dele. Era quente e forte -, que mão hein! Você é muito gato! Tem certeza que não é meu namorado?
- Não somos! – a voz dele soou fria.
- Uma pena! – eu suspirei e passei as mãos pelos cabelos. - Eu ia dar muito para você!
Risadas em volta.
- Eles estão rindo para mim! – apontei para os médicos que estavam borrados -, acha que devo matá-los? Eu tenho uma arma na minha bolsa! – contei a ele e pisquei. - E sei atirar bem pra caralho!
Dessa vez um sorriso surgiu nos lábios do bonitão.
- Não vale a pena. – Ele piscou para mim.
- Deus! Você me deixou molhada com essa piscada! – eu disse.
As risadas continuaram e então senti que paramos. A porta de trás da ambulância foi aberta e fui tirada da ambulância. Tive que fechar os olhos por causa da luz do sol e logo fui levada para dentro do hospital. Tudo girava, era horrível.
- Cadê meu namorado? – perguntei à enfermeira que surgiu diante do meu campo de visão. Não conseguia me levantar. Meu corpo estava pesado e mole.
- Ele está na recepção – ela me avisou.
- Ele é bonito, não é?
- É sim. – Ela sorriu para mim.
Paramos em algum lugar e eu tive que fechar os olhos.
- Esse treco que o médico me deu é muito louco! – comentei mais para mim do que para qualquer outra pessoa.
Abri os olhos e o desconhecido bonito estava ao meu lado.
- Você voltou... Gostoso pra caralho... – Ele era.
Bonito, interessante. Numa outra vida, eu teria o prazer de estar com ele. Mas babbo não deixaria. Nunca.
- Você vai ficar bem – ele avisou -, os médicos vão cuidar de
você...
- Quero que você cuide de mim! – pedi e comecei a rir.
- Preciso ir...
- Fica – eu pedi -, se você se for, a gente nunca mais vai se
encontrar.
Ele não disse nada. Segurei a mão dele, era tão gostoso e reconfortante.
- Nunca vou te esquecer... – eu falei.
- Aposto que não...
Quando ele disse isso, meus olhos pesaram e tudo se apagou.
Capítulo 4
Quando meu tio me convidou para cuidar dos negócios dele nos Estados Unidos, cogitei se deveria mesmo ir. Contudo, era uma oportunidade de sair da Itália e ter novos ares, novas oportunidades. E eu devia isso a ele. Dom Andreas Fellini não apenas salvou a vida do meu pai no passado, como lhe deu tudo o que tínhamos. Ficar na Itália não era para o meu pai apenas voltar para casa, era a forma que Dom Andreas encontrou de ter alguém ali para cuidar dos negócios. E eles eram mais que cunhados, eram amigos de verdade. Tanto que quando meu pai morreu, o capo permitiu que eu tomasse a frente dos negócios, confiando em mim tanto quanto um dia confiou em meu pai.
Mas eu não esperava que ao sair do aeroporto teria um problema imensurável. Uma filhinha de papai irresponsável fosse bater no meu carro. E mesmo que ela fosse uma gostosa de parar o trânsito, andando com aquela calça jeans apertada de cintura fina e bunda grande, ainda assim, eu não estava ali para diversão e para tolerar uma irresponsável estragando o meu dia.
Foi um alívio quando ela apagou e parou de falar besteira. Apesar de saber que tudo não passava do efeito do sedativo que haviam dado para ela, toda vez que ela virava aquela boca bonita na minha direção, meu pau ficava duro, ainda mais quando ela disse que daria para mim o resto da vida. Segurei para não rir, mas na verdade, eu estava excitado. Só de imaginar
aquela bunda imensa virada para mim enquanto eu a comia de quatro, era inevitável.
- Como ela está? – perguntei à enfermeira que entrou no quarto.
- Ela vai ficar bem – a enfermeira aplicou alguma coisa no soro -, tiraram o raio X, logo o médico virá falar com o senhor.
E saiu do quarto me deixando sozinho com ela. Deveria ir embora, estavam me esperando na casa de Dom Andreas, mas algo me impelia a ficar. E nunca fui acometido dessa estranha necessidade de saber se alguém estava bem, ainda mais uma mulher desconhecida. Fui criado em um mundo frio, em que qualquer demonstração de afeto era um risco. Mas eu estava na América, havia acabado de chegar, naquele momento era um desconhecido para Chicago e eu só sabia que precisava saber se aquela maluca ficaria bem.
Meu celular tocou. Olhei na tela, era meu tio Genaro. Atendi e coloquei a bolsa da maluca em cima do móvel ao lado da cama.
- Onde você está? – Ele quis saber.
- Estou a caminho, tive um problema – respondi observando-a.
Ela não parecia norte-americana. Os seios eram menores, a cintura muito fina e os quadris largos, parecia mais uma italiana da gema. A boca fora feita para beijar um homem com paixão e aquele nariz arrebitado? Dormindo ela era um anjo lindo, mas acordada era um demônio. Lembrei do que ela disse sobre ter uma arma dentro da bolsa e resolvi espiar.