Respiro fundo... Quem esta mulher pensa que é? A dona? Fico curioso. - E você, caipira terrorista? Onde está o seu crachá? Ela bufa irritada, vasculha no bolso de trás do macacão e esfrega o documento na minha fuça com um sorriso vitorioso, que escancara seus dentes branquinhos. Belíssima mulher, uma obra de arte! Sou fisgado por sua boquinha carnuda e petulante, que fica tentadora nesse sorriso abusado. Pera lá, Theo! Isso é hora para reparar em bocas ou dentes? Fico puto comigo, obrigo-me a pensar com a cabeça de cima quando alcanço o maldito crachá. - Nina Kovac.
Arquitetura e Paisagismo. 12 º Andar. - leio em voz alta e debochada, segundos antes do meu celular começar a tocar. ●●● ● ● ● ●●● Nina Otário! Assisto o homem à minha frente pedir um minuto e alcançar o celular caído no meio de uma poça de água. Seu rosto se ilumina ao tocar a tela. - Ter pago mais caro para ter essa merda blindada, valeu a pena. - sorri arrogante ao deslizar o dedo sobre o aparelho. - Está atrasado, porra! - esbraveja. Eitaaaa! André volta com um maço de papel toalha na mão. Ao lado dele está Lucas, um dos seguranças da área externa. Ambos exibem máscaras à prova de gás em suas testas. Parecem dois extraterrestres saídos de algum filme apocalíptico. Ele me pergunta se está tudo bem, digo que a situação está sob controle. Assistimos quietos, o homem reclamar do atraso de alguém. Ainda estou em estado de choque, estupefata. Meu coração bate acelerado e minha boca está mais seca que minha conta bancária. Foi surreal reencontrar o bonitão do café aqui na Callas e mais inacreditável ainda, a situação. Seria cômico se não fosse trágico. Com tanto homem por aí, para eu encharcar e encher de merda, tinha que ser logo esse? Procuro não dar bandeira, mas é impossível não olhar para seu abdômen marcado sob a camiseta cinza molhada. Os músculos ressaltados indicam que ele está mais do que em forma. E como é alto! De tênis, fico parecendo um pigmeu perto dele. Com certeza, o topo da minha cabeça deve bater em seu queixo. Tiro os olhos da barriga, foco nos braços fortes, droga... Pernas grossas, droga... Mãos e pés enormes, inferno. Uma súbita curiosidade e benza Deus! Tudo indica que possui um pacote de respeito. Inclino a cabeça para ter uma visão melhor. Sinto meu pescoço e colo pinicarem mais ainda. Olhe para outra coisa, Nina! Não consigo ! Outra coisa, já! Os olhos ! Estremeço... e minha pele começa a suar debaixo de toda a lama grudada nela. Um sorriso arrogante está plantado em seu rosto ao me examinar sem nenhum constrangimento depois, foca a atenção para a sua virilha e morde o canto da boca. Fico com mais raiva e frustrada quando constato que estou meio excitada com tudo isso. Espero que diga algo, mas ele decide me ignorar e responder à outra pessoa na linha com... - Hum, hum... Sei. Preciso de um carro. Como é arrogante e convencido! No mínimo, deve pensar que está abafando só porque me pegou dando uma espiadinha em seu documento. Tudo bem, estava olhando e daí? Grande, mas porcaria! Reviro os olhos em puro desgosto. É decepcionante... Todo o encantamento inicial desaparece depois que percebo, que ele é mais do mesmo. Errei feio confundindo o seu silêncio no café com educação. Pensei mesmo, que era um indicativo de que ele fugia à regra. O tão sonhado dez mais. O santo graal dos homens. Aquele cara diferente, que respeita as mulheres. Um tipo com o qual não sei lidar. Com certeza ficou caladinho, porque tinha culpa no cartório. Cretino. - Pode mandar um carro me buscar? Um com bancos de couro. Vim de moto, mas não vou conseguir voltar nela... Sem perguntas! Só faça o que estou pedindo, porra! Mande a merda do carro! Eitaaaa... Que mimado! Esse aí na minha frente, não é um cavalheiro... É um arrogante e gritalhão, isso sim... Pode dar a mão para o Bernardo e sair andando para bem longe de mim. O que facilita e muito a minha vida. Não saberia lidar com um dez mais, do tipo príncipe do bem, que oferece algo a mais do que aparência. Entretanto, este tipo de dez bem menos, que é só casca... Não me intimida, muito pelo contrário, tenho é repulsa. Mantenho o olhar para mostrar que ele não me amedronta. Sou Ph.D. em como lidar com canalhas. - Ok... - responde e continua a me olhar... Ele não desvia por nada e nem eu... E assim, começamos uma guerrinha... O que não chega a ser uma tortura...O homem é bom de ser encarado e seus olhos têm uma cor diferente de tudo que já vi. São brilhantes e exóticos, como chocolate derretido, salpicado de mel em calda. Lindos, mas arrogantes como o dono. - Vai à merda, você... - aumenta o tom de voz e eu bocejo fingindo tédio. Ele cerra os olhos, mas não dá o braço a torcer. Nem eu, cerro os meus também. - Cuidado, Pedro. Meu dia começou péssimo e meu humor está pior ainda... Bipolar o teu rabo! Bem feito, que seu dia esteja péssimo! Sorrio satisfeita cruzando os braços. Ele coça a barba intrigado... - Não... Só quero o carro... Agora! Melhor analisarmos aqueles papéis no meu apartamento. Depois, te explico.... - Já disse que explico depois, caralho. Preciso de uma descontaminação antes. - irritação volta ao seu olhar, Opa! - Fui atacado por uma caipira louca. Opa! Opa! Opa! Pera lá, seu imbecil. Caipira louca uma pinóia! Irritada, rompo o contato visual e começo a organizar a bagunça. Recolho a mangueira, junto a terra, oriento André, enquanto o homem continua a resmungar no telefone. Não disse! Um dez menos legítimo! Lindo, ordinário e babaca. E esse aí não levou nem cinco minutos, para ir de príncipe a ogro. Mauricinho cretino dos infernos! Não sei por que ele mexeu tanto comigo. Não é o primeiro, nem será o último idiota que irei cruzar na vida. Normalmente, eu os ignoro, mas não estou conseguindo desta vez. Tem alguma coisa nele que me deixa vulnerável e me atrai como o mel. ... Fico irritada comigo, agradeço quando André se oferece para terminar tudo. Preciso de um banho e fugir desta tentação irritante. Alcanço minha bolsa e saio apressada, talvez eu também esteja em um mal dia. - Espera! Um suspiro profundo me escapa e desacelero o passo. Estou quase na calçada. Vejo um SUV prata, desses que devem custar mais que meu rim, estacionar. - Não pode ir embora assim. Ainda de costas praguejo baixinho e viro-me lentamente. - Ah, não, por quê? - ajeito a bolsa em meu ombro. O que vejo me desconcerta e me desarma. Demônios! Seus olhos enrugam e um esboço de sorriso aparece em seus lábios. E, essa imagem é quase tão sexy quanto o resto do seu corpo. O que é péssimo, dada a nossa situação patética. - Porque eu não me apresentei, só por isso. - explica com uma voz calculadamente calma. Oh, oh... Aí tem! - Theo Callas Junior, mas se preferir pode me chamar de chefe. - estende a mão em minha direção. Macacos saltitantes me mordam