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Dulce Liwes
Por algum motivo suas palavras me surpreenderam de mais. Eu já deveria esperar isso dos meus tios já que eles nunca gostaram de mim, e nem se esforçavam para demonstrar isso. Sempre me batiam, me trancavam em lugares sem comida e água, acreditavam nas mentiras dos meus primos, e me xingavam de tudo que é nome, pelo menor erro possível ou por nada.
Eu tentei fugir de lá inúmeras vezes quando completei meus 18 anos, mas fracassei já que meus tios me queriam lá a todo custo. Eles tinham guardas espalhados por toda parte para vigiar a casa, e estes sempre estragavam as minhas tentativas de fuga.
Mas antes de completar 19 anos, uns cinco dias antes elaborei um plano para fugir, e esse deu certo. Eu nunca mais soube dos meus tios, eles me ligaram inúmeras vezes, disseram que a minha fuga foi um erro,que eu iria pagar e blá blá blá...
Mesmo meus pais nunca tendo sido tão presentes na minha vida, eu os amava mais que tudo,e no fundo sei que esse sentimento não era tão recíproco. Na frente deles meus tios eram anjos, me tratavam bem, e sorriam o tempo todo, mas quando meus pais se viravam eles se transformavam nos demônios que são e meus pais não pareciam ligar.
Sempre soube que meus tios eram viciados, e que mexiam com pessoas erradas. É bem lógico que se fossem dar um de nós três__Eu,Milena e Luigi__ como pagamento de suas drogas, eles dariam a mim sem pensar duas vezes.
Ouço a porta do carro ser aberta me tirando dos meus devaneios. Os outros dois homens entram, um se senta ao meu lado,e o outro no banco do passageiro na frente com o irmão. Eles colocam o cinto de segurança e o homem dá partida.
- Ele te contou?-Pergunta o homem ao meu lado, o mesmo que pegou meu celular por debaixo da mesa.
Não respondi, e baixei a cabeça encarando minhas mãos. Me sinto um objeto, algo descartável, uma moeda de troca e eu não sou isso, sou mais que um objeto descartável.
Mais lágrimas rolam pelo meu rosto, essas agora são de raiva e ódio dos meus tios. Limpo as lágrimas com as costas da minha mão e sinto algo frio e metálico tocar meu rosto. Olho para minha mão, e vejo a pulseira que Esther me deu de natal.
Esther me deu essa pulseira assim que conseguiu tirar a guarda de Ben de seus pais psicopatas. São três pulseiras, uma minha, outra de Esther, e a outra de Ben. A minha pulseira é dourada com um pingente de coração, outro de estrela,e o outro de lua, a de Esther é prateada com os mesmos pingentes,e a de Ben é metade dourada e metade prateada com os mesmos pingentes. Cada pingente tem a inicial de um de nós, o coração tem a minha, a lua a de Ben,e a estrela a de Esther nos deixando sempre conectados.
A pulseira me lembrou de como os pais de Esther tentaram vender Ben 3 vezes seguidas, e Esther os empediu. Os pais de Esther e meus tios são iguais, ambos tentaram vender uma pessoa sem se importar com nada a não ser eles mesmos. Venderam uma vida como um objeto, Ben é uma criança e não entende oque os seus avós psicopatas fizeram, mas sei que fui feita de moeda de troca pelos meus tios que não tem a mínima empatia por mim.
Não tenho forças para lutar contra eles agora, meu corpo dói pela forma que fui jogada dentro do carro, e pelos meus esforços em tentar fugir destes homens. As lágrimas já não rolam pelo meu rosto.
Sinto cansaço, sono e medo do que esses homens datam comigo,mas o pior de tudo é pensar em estar longe de Esther e Ben-eles são tudo pra mim. Foi tudo tão rápido o advogado,os homens estranhos,o barulho estranho que deduzi ser um tiro,o acordo dos meus tios...tudo muito rápido.
Pensei bastante,estou apavorada-e quando fico apavorada começo a pensar em tudo que já aconteceu na minha vida para tentar não focar no que me apavora-,assustada e com medo desses homens,e acabo ficando com sono depois de muito tempo de silêncio,no início só ouvi os barulhos da agitada metrópole de Manhatan,e depois nem isso eu ouvia. Não consigo ver oque se passa lá fora,pois tenho medo de me mover,e o carro tem vidro fumê.
Deixo o sono me levar para seja lá onde ele quer me levar,e durmo.
...
"Sou lançada contra a parede da cozinha,colidindo com a estante de pratos e copos que se quebram encima de mim,me cortando com os cacos.
Gemo de dor,e vejo o sorriso diabólico no rosto da minha prima. Ela muda sua expressão para uma cara de inocente e assustada e grita seus pais,que chegam rapido até a cozinha. O rosto do meu tio se transforma em pura raiva,e ele tira seu cinto da calça e vem em minha direção,me puxando pelo meu braço dolorido até o meu quarto.
Ele me jogou no chão,me fazendo bater as costas na quina da cama com muita força. Gemo de dor,e nem dá tempo de me recuperar da queda e uma cintada no braço estala queimando minha pele.
Grito de dor,e recebo um tapa na cara, me fazendo vira-la com o impacto.
-Cala a boca,e vira-Ele grita e não me movo,oque o irrita.
Recebo outra cintada,e depois outra...
Recebo 73 cintadas,ao decorrer da noite e sou trancada no quarto por algo que nem fiz."
Acordo assustada com a lembrança,e olho ao redor. Reconheço o carro onde estou,e percebo meu rosto molhado pelas lágrimas. As limpo e olho para o lado não vendo ninguém, olho para frente e sem sinal de vida.
Os vidros estão fechados, e somente o ar-condicionado ventila o carro. Tento abrir a porta e sem sucesso, me arrasto até o outro lado do banco e tento abrir a porta que também está trancada.
Que merda
Olho para o parabrisa do carro e percebo estar em um lugar desconhecido.
Uma estrada talvez.
Está escuro e mal consigo ver a rua. Olho para a janela do motorista, e Bingo!!...Está aberta. Me arrasto para o meio do banco, e me inclino para o banco do motorista passando facilmente para ele. Me ajoelho no banco e inclino meu corpo para fora da janela,e abro a porta do carro, caindo do mesmo por estar apoiada na porta.
Me levanto e fecho a porta do carro olho para a minha frente e vejo uma floresta-oque me dá a certeza de que estou em uma estrada-,olho para trás,e bem distante tem um complexo de chácaras.
Os homens devem estar lá dentro, então é melhor ir pela floresta-e assim o faço. Entro cuidadosamente na floresta escura, e escorrego em uma pedra que não tinha visto rolando morro abaixo-que também não tinha visto. Cai por cima do meu braço direito, que agora arde de dor,e torci o pé direito
Me levantei com dificuldade, seguro o meu braço dolorido com minha mão,e caminho mancando pela floresta escura e sombria.
Não sei oque fazer, e a cada minuto o medo em mim cresce mais,assim como a dor no meu braço. Tropeço em uma pedra, e quase vou ao chão novamente.
Caminho por um bom tempo até que as minhas pernas reclamam de cansaço,e resolvo parar para descansar um pouco.
Com dificuldade me sento em uma árvore,e relaxo um pouco os meus músculos.
Escoro minha cabeça na árvore, e suspiro.
Como tudo ficou assim?
Porquê meus tios maléficos me venderam para três homens estranhosda máfia??
Porquê,porquê...
Lágrimas ameaçam sair, mas as contenho, e me forço a não chorar.
Um tiro alto e próximo me assusta, levanto em um pulo,e gemo de dor por conta do movimento bruto.
Outro tiro ecoa alto,só que dessa vez mais distante. Me assusto quando vários outros tiros são disparados seguidamente me fazendo recuar,tropeçar em uma pedra e cair de bunda no chão.