Capítulo 3 Uma aventura na floresta

Melissa se sentou na cama com um susto. O coração estava acelerado, sua camisa branca de dormir estava grudada ao corpo devido ao suor, seus cabelos estavam uma bagunça. Ela olhou para o lado e viu apenas o cabelo grisalho da sua avó espalhados no travesseiro da cama improvisada ao lado da sua.

A jovem se levantou, o coração ainda batendo forte, a sua garganta estava seca. Ela foi até o jarro com água que ficava na cômoda do quarto e bebeu dois copos para saciar a sede. Parecia que tinha corrido do morro onde sonhara que estava há poucos minutos até seu quarto. Se sentou na cama e se lembrou do sonho, parecia tão real, não parecia um sonho comum que à medida que o tempo passa as lembranças vão sumindo, mas parecia que a cada minuto que passava a cena se reproduzia com mais detalhes em sua mente, como se ela tivesse vivenciado aquilo de verdade.

Melissa se deitou mas não conseguiu adormecer novamente por muito tempo, pensando sobre o sonho.

"Será que significa alguma coisa? Mas o quê? Por quê?" Ela se fazia essas perguntas quando foi vencida pelo sono.

Quando despertou, sua avó não estava mais na cama improvisada, que agora estava devidamente arrumada da melhor forma possível. Ela se levantou, colocou uma blusa branca que se ajustava na gola com um cordão, vestiu sua velha calça de couro e calçou as botas, as amarrando fortemente. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo com uma tira de couro. Pegou seu arco e flechas novo e quase se esqueceu de colocar o colar que sua avó lhe dera noite passada. Chegando na cozinha, todos estavam à mesa. Ela esperava que seu pai já tivesse saído para trabalhar na oficina, mas ele ainda estava lá, tomando um café da manhã mais completo que o seu costumeiro chá quente.

- Bom dia! - Ela falou com todos.

- Bom dia, minha querida! Sente-se, vou colocar seu café. - Respondeu sua avó.

- Obrigada. Também acordou tarde, papai?

- Oi, minha filha. Sim. Dormi um pouco mais que o de costume. E você também, não é!

Antes que ela respondesse ao pai, Yanni interferiu na conversa.

- A noite foi muito cansativa, priminha? - Ele fez o comentário com uma ponta de malícia e riu para a prima com a intenção de deixa-la envergonhada. Ele conseguiu.

- Deixa de ser idiota, seu moleque! - Arion repreendeu o irmão com um tapa em sua nuca, que arrancou risada de todos e agora era ele que estava envergonhado. Para mudar a conversa, o rapaz prosseguiu.

- Então, Melissa. Nosso passeio na floresta está de pé?

- É claro que sim. Já estou preparada. - Ela disse enquanto tomava o chá que sua vó colocou em sua frente juntamente com um prato de biscoitos e uma fruta.

O pai de Melissa levantou os olhos preocupados em direção aos dois sobrinhos.

- Vocês vão entrar naquela floresta amaldiçoada?

- O senhor acredita nessas bobagens, tio? - Arion respondeu. - Isso é invenção do povo. Como disse ontem, essa é a mesma floresta que cerca a minha aldeia e ninguém nunca falou nada do tipo sobre ela. As pessoas caçam e tomam banho no rio e nunca aconteceu nada. Ninguém nunca viu um "ser do outro mundo". - Ele deu ênfase à palavra e prosseguiu. - Nicolas também estava preocupado, mas acabou aceitando.

- Arion, entenda. As lendas que contam podem ser falsas, mas os desaparecimentos não são. Algo acontece, mas ninguém sabe o quê.

- Estaremos armados, e qualquer coisa estranha voltaremos. Não se preocupe, Melissa estará em segurança.

- Não vai adiantar dizer " Não" mesmo. Então o que me resta é aceitar. Tomem cuidado.

Terminado o café da manhã, Melissa pegou seu cavalo cor de caramelo e o cavalo malhado de seu pai para que os primos montassem, e foram em direção ao campo, onde ela sempre encontrava com Nicolas. Chegando lá, ele já estava lá, mas não se encontrava deitado na grama como costumava fazer. O rapaz estava de pé, com a ponta da espada fincada no chão. Seu rosto estava tenso. Ele estava ali para a aventura na floresta contra sua vontade, apenas para defender Melissa, ela percebeu.

- Que cara é essa, Nick?

- Você sabe, Mel. Estou preocupado, pode ser perigoso.

Ela desceu do cavalo e seus primos também, deu a corda para que Yanni segurasse enquanto ela caminhava em direção a Nicolas.

- Você está aqui para me proteger, não é? - Ela disse colocando os braços em volta de seu pescoço. - Não há perigo, então. - Sorriu, esperando que essa atitude o tranquilizasse, mas não adiantou muito. Resolveu dar um beijo em sua bochecha e em seguida na sua boca, afastou uma mecha de cabelo castanho que caía sobre os olhos, encarando-os antes de se virar - Vamos. - O puxou pela mão e o jovem caminhou até seu cavalo enquanto ela voltava para o próprio.

Enquanto eles seguiam em direção à floresta, Arion falou com Nicolas, quebrando o silêncio.

- Você costuma deixar sua espada daquele jeito? Fincada no chão, sem nenhuma proteção?

- Não tenho onde guardá-la. - Nicolas respondeu simplesmente dando de ombros como se não se preocupasse com isso.

- Enrole-a em um pano, mas não a deixe assim. Você deve cuidar de sua arma, deve afiá-la com frequência e limpá-la todos os dias, mesmo que não a tenha usado. Ela deve estar pronta para uso a qualquer momento.

- Você fala como se estivéssemos em uma guerra. - Nicolas respondeu sem muita emoção, e Arion achou melhor encerrar o assunto ali mesmo.

- A arma é sua. Faça o que achar melhor - Respondeu e se adiantou, entrando na floresta na frente de todos.

- Nick! - Chamou Melissa. - Dá pra tirar essa cara amarrada, por favor? Se permanecer assim vou pedir que você volte pra casa.

- Não vou deixar você aqui sozinha com esses dois idiotas. - Nicolas respondeu.

- Não são idiotas. Bom, talvez Yanni seja, mas ele só tem 14 anos, é da idade.

Nicolas começou a relaxar à medida que o tempo passava e eles caminhavam devagar pela floresta. Depois de uma hora, encontraram um riacho com água muito cristalina. Resolveram parar para que os cavalos bebessem água. Não haviam forçado os cavalos, mas os animais pareciam satisfeitos ao se aproximarem para beber a água.

Amarraram os animais em troncos de árvores e pegaram os suprimentos que haviam levado: água fresca, pão e algumas frutas. Do outro lado do riacho havia uma clareira com algumas rochas e troncos caídos, onde seria perfeito para se sentar e conversar um pouco. Melissa percebeu uma ponte de madeira que permitia atravessar o riacho, e eles atravessaram para o outro lado, mas ao atravessar, a garota observou um brilho na água. Olhou novamente, mas viu apenas pedras coloridas no fundo do riacho cristalino.

Depois de um tempo conversando, rindo e comendo. Melissa se levantou.

- Não treinamos hoje. Quero testar meu novo arco e flecha. - Ela caminhou para uma árvore, apontou sua flecha para o alvo e soltou a corda. - Na mosca! - Ela bradou satisfeita.

- Como vamos saber que foi "na mosca"? - Yanni indagou.

- Ah, é? - Ela caminhou até a árvore, arrancou sua flecha balançando-a bem, para que ficasse bem marcado o local. Usou a mesma flecha, se afastou, mirou e soltou. - Na mosca! - Ela repetiu com um sorriso orgulhoso para Yanni.

Arion se levantou arrancando as facas das botas.

- Meu negócio são as facas. - Anunciou.

Melissa, retirou a flecha, e mirando no mesmo local, Arion se afastou posicionando um pé a frente do outro, segurando a faca pela ponta, mirou e lançou.

- Acertei! - Comemorou, e repetiu o feito outras vezes comemorando.

Enquanto Arion e Melissa treinavam acertar o alvo com flechas e facas, Yanni e Nicolas começaram uma luta corporal, mesmo Yanni sendo menor, ambos tentaram treinar, mas logo a luta virou brincadeira. O mais leve se jogava sobre o mais pesado, caindo um por cima do outro e não demorou muito para que Arion e Melissa se juntassem a eles.

Algum tempo depois todos estavam cansados, mas felizes, há muito tempo Melissa não se divertia dessa forma. A sensação de recordar as travessuras de quando era criança e se divertir despreocupadamente era libertadora. A tensão do passeio havia se dissipado completamente. Logo decidiram que era hora de voltar, e ao atravessar a ponte logo atrás dos garotos, Melissa novamente percebeu um brilho vindo do riacho. Dessa vez ela se abaixou e esticou os braços remexendo o fundo do riacho. Acabou encontrando o motivo para o brilho que ela havia percebido, era um espelho dourado, lindo. A jovem não resistiu e pegou. O vidro estava perfeito.

- Olhem! Encontrei um espelho e está perfeito. - Disse Melissa.

- Coloca de volta no lugar. - Arion falou com voz firme.

- Por quê? Está perdido aqui, e eu achei. E é tão bonito.

Nicolas tomou da mão de Melissa para olhar.

- Deixa-me ver. É realmente muito bonito. Mas como veio parar aqui? É de ouro, a quem deveria pertencer? - Nicolas ainda observava o espelho quando um barulho de árvores se quebrando chamou a atenção deles. O rapaz colocou o espelho no cinto, arrancou a espada presa do outro lado da cintura, se posicionou na frente de Melissa e se preparou. Mas ele não espera ver o que viu. Nenhum deles esperava.

Dois animais enormes surgiram por entre as árvores, cautelosos, mas rugindo para mostrar sua ira. Eles haviam sido despertados e estavam mal humorados, era o que parecia. Mas como dois animais que pareciam duas estátuas douradas de leões que ganharam vida poderiam estar dormindo ou demonstrar emoções? A confusão tomava conta da mente dos quatro jovens. Nunca imaginaram algo assim. De repente tudo fez sentido: os "seres de outro mundo" e os desaparecimentos, alguém havia saído com vida e espalhou sobre esses animais há muito tempo e a história virou lenda.

Os animais possuíam pedras de rubi no lugar de olhos e rugiam com dentes dourados enormes. Eram verdadeiras estátuas de ouro se movendo em direção a eles. Não poderiam fugir, todos souberam no momento que colocaram os olhos naquelas criaturas, no segundo em que corressem, tudo estava acabado. Teriam que lutar, mas como?

Os animais avançaram. Melissa saltou e se agarrou às costas do animal. Nicolas tentou atacar com a espada, mas somente para descobrir que ela nada faria contra aquele ser. O jovem caiu de frente para a fera e não sabia o que fazer. No outro leão, Arion tinha feito o mesmo que Melissa e se agarrava ao pescoço da besta. Yanni também havia descoberto que as armas de nada valiam.

Nicolas tentou golpear a barriga, mas também era dura como o resto do corpo. Yanni tentou encontrar outros pontos fracos, mas nada encontrou. Estavam ficando sem tempo, os jovens se cansariam em breve e a brincadeira acabaria. Os leões os matariam facilmente. Melissa viu seu noivo realizar uma última tentativa: o rapaz lançou a espada na boca do animal, mas ela bateu em algo maciço e caiu. Ouro, o animal era todo de ouro, mas como? A garota já estava caindo, não se aguentava mais, os ombros e os braços queimavam. Arion tinha conseguido montar, mas não estava muito melhor.

Um movimento na árvore chamou a atenção deles, mas não podiam se distrair. De repente uma voz feminina rompeu o ar.

- Arranquem os olhos deles. É o único ponto fraco!

Melissa pegou uma flecha e fincou no canto dos olhos do animal. Ele começou a pular como um touro, tentando tirar Melissa de suas costas. Arion fez o mesmo utilizando a faca e a reação do animal foi a mesma. Melissa se agarrou àquela esperança e mesmo com o braço queimando não largou. Tentou até que sentiu a pedra ceder e cair, e em seguida sentiu a fera perder força. Começou a tentar com o olho seguinte. Arion e Yanni lutavam tentando arrancar os olhos do animal, cada um com uma faca na mão. Yanni estava pendurado de lado e Arion ainda montado. O animal parecia um touro enfurecido até que começou a diminuir a velocidade e a pedra que Yanni tentava tirar, saiu e em seguida a outra caiu no chão. A fera desabou imediatamente. Melissa ainda lutava, mas conseguiu não muito tempo depois arrancar o olho restante e a fera parou de se movimentar. Alívio tomou conta de todos, mas muitas perguntas surgiram.

            
            

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