Capítulo 4 Estou ficando louca

- Quem é você? - Melissa perguntou.

- Quem sou eu, não importa, salvei sua vida. - A estranha respondeu.

- Obrigada.

- Meu nome é Isis. - A estranha suspirou impaciente. - Moro em uma aldeia do outro lado da floresta. Antes que você pergunte, eu estava aqui caçando, ou tentando. Vocês espantaram qualquer possível caça. - Fez uma cara de desgosto. - Então, quem são vocês?

Melissa analisou a estranha. Não tinha como saber se ela era de confiança, mas ela salvara sua vida. E também, o que eles estavam fazendo de tão importante ali? A garota deveria ter a sua idade, se fosse mais velha seria no máximo um ano. Seu cabelo era loiro platinado e trançado até abaixo da cintura. Ela era bonita e tinha um ar superior e confiante.

- Eu sou Melissa, esses são meus primos Arion e Yanni, e este é meu namorado Nicolas. Antes que você pergunte, estávamos apenas explorando a floresta. - Isis a estudou com calma e falou finalmente.

- O que vocês pegaram?

- O quê? - Melissa se espantou.

- Vocês pegaram algo aqui na floresta. Vocês precisam devolver, não pertence a vocês.

- Você é uma bruxa? - Yanni perguntou espantado. Isis gargalhou com a cara de espanto do garoto.

- Não! É claro que não. Você quer saber como sei, não é? - Ísis andou calmamente e se sentou em uma pedra apoiando os braços nos joelhos. – Bem. Vocês despertaram os guardiões, e isso já me diz que pegaram algo. Eu aconselho que vocês devolvam logo e vão embora. Eles não estão mortos, estão detidos. Vão se recuperar e se vocês ainda estiverem aqui, eles atacarão novamente. Eles são os guardiões de um antigo templo em ruínas, mas os tesouros ainda estão por aí e se alguém pegá-los, eles despertam e o resto vocês viram. Mais alguma pergunta? - Ela olhou com um olhar superior e debochado para Melissa. A jovem decidiu que não gostava de Ísis.

- Como você sabe de tudo isso?

- Há muito tempo meu povo foi atacado por essas criaturas. Precisávamos explorar e descobrir. Meu pai descobriu todas essas coisas e passou para todos. - Ela se levantou e caminhou para ir embora. - As pedras que vocês retiraram somem, podem procurar que não as encontrarão, e novas surgem no lugar. Podem observar que já estão sendo restauradas, em pouco tempo eles irão acordar e vocês serão atacados novamente se ainda estiverem aqui. Eu estou indo. Adeus! Espero nunca mais vê-los. - Dito isto ela se foi.

Eles se entreolharam e perceberam que ela disse a verdade sobre os tais guardiões, eles despertariam em breve. Uma luz vermelha reluzia no local dos olhos. Melissa tomou o espelho do cinto de Nicolas e colocou no mesmo lugar que havia encontrado.

- Vamos, rápido! - Ela disse e eles partiram em silêncio e em uma velocidade bem maior de quando entraram na floresta.

Quando chegaram ao campo, todos desmontaram. Pegaram seus cantis de água e beberam, a garganta seca e a cabeça enevoada com tudo que eles haviam presenciado.

- Estou apaixonado! - Yanni quebrou o silêncio, e todos olharam pra ele com cara de espanto. - O quê? É sério. Viram aquela garota? Me apaixonei na hora. - Ninguém riu como de costume.

- É sério que essa é a única coisa que você está pensando agora? - Arion finalmente falou. Estava calado o tempo todo desde o ataque, assim como Nicolas.

- Nós fomos atacados por aquelas criaturas; aquela garota surge do nada e fala como se fosse uma rainha. E isso é o que você pensa? - Foi a vez de Nicolas externar sua indignação. - Eu disse que era perigoso. O que os aldeões falam é verdade, vocês viram agora. - Ele se levantou e pegou nas mãos de Melissa. - Mel, você está bem?

- Estou bem, Nick. Não se preocupe.

- Me prometa que não vai voltar a entrar nessa floresta. – O olhar do rapaz era desesperado, mas Melissa não poderia prometer tal coisa, o motivo ela não saberia explorar, mas sentia que voltaria a entrar na floresta.

- Não vou te prometer isso, Nick. - Ele fez uma careta. - Você ouviu o que ela disse, se não pegarmos nada, não há perigo. Ela estava caçando.

- Desde quando você acredita em estranhos?

- Desde quando o que a estranha disse salvou nossas vidas. - Melissa apoiou as mãos na cintura e encarou Nicolas. Virou-se bruscamente e caminhou para seu cavalo. - Por hoje chega. Quero ficar sozinha. - Ela falou sem olhar para trás e saiu.

Os rapazes pegaram seus cavalos e foram para casa em silêncio.

Melissa ao chegar em casa foi direto para a oficina de seu pai, ocupar a mente com trabalho seria a melhor coisa.

- Oi, filha, você chegou! - Ele a analisou. - Aconteceu alguma coisa?

- Nicolas é um idiota, pai, só isso! - Seu pai sorriu e se aproximou.

- Mas já? Estão noivos há menos de 24 horas!

- Pai, me desculpe, mas não quero falar sobre isso agora, mais tarde talvez. Tudo bem?

- É claro, filha. - Ele se afastou, pegou uma bolsa de couro e entregou a Melissa. - Tome essas armas, já estão quase prontas. Falta sua decoração e então eu irei afiá-las. - Melissa sorriu, finalmente trabalho.

- Vou começar agora. - Ela disse e se dirigiu para o local da oficina destinado ao trabalho dela.

- Melissa. Preciso que faça algo de diferente nessas armas. Elas são para uma mulher, então, decore-as com delicadeza. Faça o seu trabalho mais belo.

- Para uma mulher, papai! - Ela se empolgou. - Vou deixá-las lindas.

- Eu sei, filha. Você é a melhor. - Melissa se afastou e foi iniciar seu trabalho.

Primeiro pegou a espada: era delicada e leve. Não era pesada como a espada de Nicolas. Ela até conseguiu equilibrá-la em sua frente sem dificuldades. A jovem a colocou sobre a bancada e a analisou. Pensou em como poderia deixá-la linda e delicada para uma arma feminina, e então sorriu com uma ideia: nada melhor do que algo que todas as mulheres gostam. Flores!

***

No final da tarde, Melissa estava cansada, faminta e muito suada devido ao calor da forja. Havia pontos pretos em seu rosto, sua camisa branca estava arruinada. A garota não pretendia ir direto para a oficina, mas foi porque precisava pensar e esfriar a cabeça. Nada faria melhor para Melissa do que o trabalho. Era assim que ela refletia: enquanto trabalhava. Mas ainda estava muito confusa com tudo o que havia acontecido. Nada acontecia em sua vida, de repente aparecem um monte de coisas estranhas.

Já era noite quando ela saiu do quarto. Encontrou seus primos em uma fogueira, queimando espetinhos de carne, e então se juntou a eles e conversaram por muito tempo. Ninguém falou sobre o que aconteceu na floresta, mas Melissa sabia que um dia teria que voltar lá. E teria que conversar sobre isso com seus primos, mas por hoje não. Estava exausta. Olhou para a lua cheia que já diminuía. O auge da Lua cheia tinha sido no dia anterior ao da sua festa e esta noite ela já estava diminuindo. Se despediu dos seus primos e foi se deitar. Cansada, ela logo pegou no sono, mas suas horas de sono tranquilo foram interrompidas por mais um sonho esquisito.

" Melissa se encontrava em meio a uma aldeia deserta, não parecia haver ninguém ali. A Lua cheia estava subindo ao céu, e subia rápido demais, logo ela estava no alto e pouco depois já estava se pondo. Em seguida a Lua nascia novamente, cheia como a anterior e tudo se repetia. A lua não minguava, continuava cheia o tempo todo. Ela viu a lua nascer e se pôr 5 vezes, 10 vezes.... ela perdeu a conta de quantas vezes ela a viu nascer e se pôr sempre cheia. Da última vez a lua parou no alto do céu e começou a escurecer como no seu sonho do dia anterior.

Dessa vez ela reparou que a escuridão que cobria a lua era completa. Não era bem como em um eclipse, era muito mais escuro, era negro, totalmente negro. A sensação que ela experimentou no sonho anterior estava de volta. A sensação de ser observada, o vazio dentro de si, o frio congelante. Tudo era muito agonizante. Logo a lua estava totalmente escura, apenas um aro luminoso em torno da escuridão, e do ponto mais brilhante do aro que circulava a escuridão que cobria a lua, ela viu uma sombra passar e parecia se aproximar rápido, muito rápido. A jovem não tinha forças para correr e também sabia que se corresse seria inútil. Aquela sombra se aproximou e ela viu uma criatura sinistra por baixo de uma névoa sombria, ela gritou e seu grito a acordou."

Melissa se sentou na cama como na noite anterior: suada e com a boca seca. Ela não havia gritado de verdade, pois sua avó deitada ao seu lado na cama improvisada teria acordado e isso não aconteceu, pois estava dormindo tranquilamente. Ela foi até a cômoda onde estava a água, bebeu e retornou para a cama. Depois de um tempo pensando no sonho que teve nessas duas noites, ela pegou no sono.

O dia seguinte foi tranquilo, o próximo e o próximo também. A garota se ocupou com o trabalho, não estava indo para seus treinos com Nicolas. O rapaz apareceu na tarde do terceiro dia que ela não o quis ver.

A raiva já havia passado, mas enquanto estava nos braços do rapaz, era impossível não ficar pensativa com tudo o que aconteceu. Já havia 2 noites que ela não sonhava. O que tinha começado os sonhos e o que tinha os levado embora? Ela se perguntava. Não queria os sonhos de volta, com certeza não. Eles eram angustiantes. Mas Melissa sentia que precisava entender, precisava conversar com alguém. Seus primos não era uma opção, eles estavam tão confusos quanto ela e olha que provavelmente eles não estavam tendo aqueles sonhos. Com Nicholas também não poderia, o senso de superproteção dele a impediria de chegar na metade do que ela queria falar. Seu pai poderia ser uma opção, mas sua avó.... era com ela que sempre conversava, a mulher sempre a escutava e dava conselhos, então seria com ela que Melissa conversaria. Se contar tudo, ela poderia parecer uma louca, mas ela contaria e sua avó a escutaria. O que ela falaria depois era outra coisa, não havia como saber o que ela diria.

Ela se despediu de Nicolas e entrou. Sua avó estava na cozinha, arrumando algumas coisas. Se aproximou da avó e segurou suas mãos, a mulher a olhou preocupada.

- O que foi, querida?

- Vovó, você tem um tempo pra conversar comigo?

- É claro, querida. Vamos para o seu quarto.

As duas caminharam de mãos dadas até o quarto de Melissa, e ambas se sentaram na cama. A garota ficou em silêncio, pensando em todas as loucuras que ia contar para sua avó. A mulher não a apressou, deixou que a garota se expressasse da forma que se sentisse melhor, e a moça amava isso. Finalmente ela tomou coragem, respirou fundo e olhou nos olhos de sua avó.

- Acho que estou ficando louca.

            
            

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