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Alguns meses depois de receber de presente o amuleto de família, Melissa já havia aprendido os padrões de seus sonhos. Eles ocorriam sempre por cinco dias na lua cheia, na noite do auge da lua e dois dias antes e dois dias depois. Ela agora estava se preparando para ir para a casa de sua avó, pois era aniversário dela e a jovem passaria a semana em sua casa. A viagem a estava deixando mais ansiosa do que costumava deixar nos anos anteriores, dessa vez a garota tinha algo a mais.
Na conversa que teve com sua avó, no dia em que achou que a única explicação para tudo o que ela estava vendo fosse a loucura, sua avó disse algumas coisas que a tranquilizou:
"- Querida. Sua mãe teve esses sonhos e eu também. Você não está ficando louca. Essa é uma pedra que está sendo passada de mãe para filha há várias gerações. Na primeira lua cheia que a recebi, tive sonhos como esses que você teve e sua mãe também. Depois os sonhos somem, devem ser lembranças de nossos antepassados. "
Mas quando os sonhos voltaram, Melissa sabia que desta vez havia algo de diferente. Dona Elis havia lhe dito que não sabia muita coisa a respeito do amuleto, apenas o que sua mãe havia lhe dito: Que era uma joia de família e que haviam alguns livros antigos que contavam histórias sobre ela, mas que provavelmente ela não iria precisar deles. A avó de Melissa não conhecia as letras, por tanto a idosa nunca leu esses livros, porém, disse a Melissa que estavam bem guardados em sua casa, e que se ela quisesse poderia lê-los. Antes, Melissa já estava ansiosa por saber mais, agora com o novo padrão dos sonhos, ela estava ainda mais.
A garota colocava a última bolsa na carruagem que seu pai havia pegado emprestado para essa viagem, quando ouviu que alguém se aproximava. Ela se virou para ver quem era e viu Nicolas. Seu coração se encheu de alegria e de saudade antecipada. O carinho que ela sentia por ele havia mudado depois desses meses de noivado. O que ela sentia agora era mais forte, mais profundo, como se doesse ficar longe dele. A jovem abriu um lindo sorriso e correu para encontrá-lo. O sorriso no rosto dele também era enorme e refletia os seus sentimentos.
- Nick! - Ela disse enquanto passava os braços por seu pescoço. - Que bom que você veio, já vamos sair daqui a pouco. - Ele lhe deu um beijo intenso como resposta.
- Mel, vou sentir tanto a sua falta.
- É só uma semana, Nick. - Respondeu como se ela mesma já não estivesse sentindo a saudade antecipada, a dor de ficar uma semana longe dele.
- Não vai sentir minha falta, é isso? – o rapaz perguntou com falsa ira. Testa franzida e braços cruzados, mas tudo cena, e ela sabia disso.
- É claro que vou, seu bobo, e você sabe disso. - Ela o abraçou forte novamente.
- Melissa, vamos, minha filha! - Seu pai a chamou. - Nicolas, veio se despedir de Melissa, não é? Escute, você poderia me ajudar com uma entrega daqui a dois dias? Só ficarei um dia na casa de minha sogra, mas Melissa passará a semana lá, ela que me ajudava com essas coisas. Será que você poderia me dar uma ajuda?
- É claro, meu sogro. Estarei aqui bem cedo. - Com essa resposta, o pai de Melissa voltou a arrumar algo desnecessário na carruagem, provavelmente para que a filha se despedisse de Nicolas.
Ela o abraçou e o beijou, depois enterrou o rosto no peito do rapaz sentindo o seu cheiro, para memorizar e se lembrar durante a noite.
- Eu te amo. - Ela disse por fim, quando se afastou para olhar nos olhos do noivo.
Com um sorriso ainda maior no rosto, Nicolas respondeu:
- Eu também te amo, Mel. Vou estar aqui te esperando quando você voltar e vou passar o dia inteiro com você para matar a saudade.
- Vou estar esperando por isso! - Ela lhe deu um beijo rápido de despedida e foi até a carruagem, onde o pai já estava sentado, esperando por ela.
Nicolas ficou olhando a carruagem se afastar até que mal dava para ver e voltou para casa. Melissa havia acenado para ele até quando a poeira já a impedia de vê-lo.
A viagem durou uma hora, sua avó e seus primos os estavam esperando e ajudou-os a retirar as coisas da carruagem. Dona Elis os instalou e foi terminar de preparar o almoço.
O quarto que Melissa e seu pai dividiriam essa noite pertencia a seus primos, eles dormiam na casa da avó às vezes e tinham um quarto só pra eles. Dessa vez o quarto ficaria para Melissa durante uma semana. "Sejam cavalheiros" Sua avó havia dito para eles. O almoço foi servido e ao fim, ela só pensava em falar com sua avó sobre os livros. A jovem a ajudou a tirar a mesa, e estava secando os pratos quando tomou coragem para falar.
- Vovó! Eu queria ver os livros que a senhora disse.
- Claro, querida. Estão no meu quarto, no baú. Pode ficar lá procurando o que você quiser. Leve seus primos.
- Mas vó, eu não falei nada sobre os sonhos com eles.
- Você teve mais sonhos, Melissa? - Sua vó tinha um tom preocupado na voz. Melissa apenas confirmou com a cabeça, e então sua avó continuou. - Eu não queria preocupar você à toa, mas quando peguei o amuleto de volta, quando sua mãe morreu, eu pensei que teria os sonhos novamente, mas eles não vieram. Pouco antes do seu aniversário eles voltaram, não sei por quê. Quando passei para você naquela noite eles passaram e iniciaram para você, por que agora você é a nova detentora do amuleto. Nunca entendi o propósito dele. Talvez tenha algo grande por traz e não sabemos. Conte para seus primos, eles a entenderão e ajudarão em tudo que puderem, tenho certeza disso.
- Vou fazer isso. Obrigada vovó! - Melissa caminhou até a varanda onde seus primos estavam esticados em suas redes. Yanni já dormia, Arion olhava pensativo para o teto.
- Arion! Queria conversar com você e Yanni. - Ela disse.
Arion se sentou imediatamente e confirmou com a cabeça sem fazer perguntas. Chamou Yanni que despertou em um susto, fazendo Melissa rir um pouco. Eles caminharam para o quarto da avó.
- O que nós vamos fazer no quarto da vovó? - Yanni perguntou.
Melissa entrou no quarto, se sentou no chão em um tapete de retalhos feito à mão que cobria toda a lateral da cama de sua avó. Seus primos fecharam a porta e se sentaram um de cada lado de Melissa. Então Melissa lhes contou tudo, eles a ouviram em silêncio. Quando terminou, ela se virou para ficar de frente para seus primos.
- Falem alguma coisa.
- Acreditamos em você, Melissa. Vamos procurar o que pudermos nesses livros. – Para sua surpresa, quem disse isso foi Yanni.
- Pegue os livros então, Melissa, vamos ver o que a gente descobre. - Arion encorajou a prima.
Melissa abriu o baú que tinha lençóis e toalhas em cima, mas quando Melissa os retirou, por baixo tinham muitos livros antigos. Ela retirou um a um e foi empilhando-os ao redor deles. Eram oito livros ao todo. A jovem pegou um muito grande com as páginas um pouco abertas, colocou no meio deles e o abriu. Era um livro de mapas. Muitos mapas dobrados no interior do livro, ele não era nem tão grosso como havia parecido, mas as folhas dobradas davam esse aspecto a ele.
- É um livro de mapas. - Melissa falou enquanto abria um deles.
Eles o observaram. Uma floresta se estendia de ponta a ponta desde as montanhas onde o rio nascia até a outra cadeia de montanhas que separava a floresta do mar. O rio cortava a floresta desde sua nascente, atravessando-a por toda sua extensão até o mar. Haviam três clareiras, uma mais próxima das montanhas onde havia a nascente do rio, outra no meio da floresta, mas próxima ao rio e outra também próxima ao rio, mas já se aproximando das montanhas que separavam a floresta do oceano.
- É a nossa floresta. - Disse Arion.
- Mas onde estão nossas aldeias? - Perguntou Melissa.
- Este mapa é muito antigo, não deveriam existir ainda. Mas veja, aqui... - Arion apontou em um ponto mais próximo das montanhas da nascente do rio. - ... deve ser onde hoje é a nossa aldeia; e aqui... - Ele apontou um pouco mais para a esquerda se aproximando do meio do mapa. - ... deve ser a sua.
- Próximo às clareiras então. - Disse Melissa.
- Explicaria a clareira, ou o que sobrou dela, há uma hora daqui a cavalo e há outra perto da sua casa. - Disse Yanni, fazendo Melissa pensar na aventura que eles tiveram na floresta.
- É uma possibilidade. Será que tem alguma coisa a ver com o templo que aquela garota... a Isis, falou? - Melissa falou o que estava pensando.
- Não sei. Será que realmente tem um templo lá? Eu gostaria de explorar. - Disse Arion.
- Quando eu voltar, posso fazer isso.
- Você não vai sozinha com o Nicolas, vimos a grande ajuda que ele deu naquele dia. Voltaremos com você então. - Arion concluiu.
Decidiram fechar o livro de mapas, quando tiverem uma melhor ideia do que procurar, eles voltariam a olhá-lo. Pegaram um outro livro, um pouco menor que estava marcado com uma tira de couro.
- É um diário. - Melissa concluiu.
- Mas não dá pra ler nada. - Yanni falou. - Está todo borrado.
Era muito velho e talvez tenha sido molhado, as letras estavam manchadas, algumas folhas enrugadas e grudadas. Era uma pena porque talvez tivesse experiências de alguém que pudesse ajuda-los. Melissa notou o desenho de luas que lembravam as de seus sonhos. Ela voltou na primeira página do diário. Havia um círculo com apenas uma borda pintada de preto. Algumas páginas depois, outro círculo com a parte escura um pouco maior, e o desenho ia se repetindo até que o círculo estava todo negro e então a parte negra começava a recuar até que o círculo voltava a ficar como no início com apenas a borda oposta a do início escurecida. No seu sonho a escuridão não recuava, mas mesmo assim poderia significar a mesma coisa. Ela compartilhou seus pensamentos com seus primos, e então, como não dava para se aproveitar mais nada, eles pegaram um outro livro.
Era grosso e pesado. Na primeira página havia um amuleto igual ao de Melissa desenhado. A jovem olhou para os primos com os olhos arregalados, haviam outros desenhos em outras páginas: uma pedra; um castelo; uma figura segurando um cajado enorme em pé na frente de um trono; uma fila de homens encapuzados. Felizmente este livro estava com as letras intactas e eles poderiam ler, mas era enorme, levaria tempo. Melissa voltou para a primeira página onde havia visto o desenho do amuleto. O Texto que estava escrito abaixo dizia:
" A portadora do amuleto carrega uma missão importante. O amuleto é passado de geração em geração, sempre de mãe para filha. A profecia garante que enquanto for necessário, haverá uma filha para que sua mãe possa passar o amuleto em diante.
No início o mal convivia com o bem, mantendo o equilíbrio, mas o Sombrio, como ficou conhecido, queria mais, queria dominar e recrutou aqueles que defendiam a sua causa por poder. Eles queriam dominar o mundo, sentiam prazer na dor e no sofrimento dos outros, por isso os deuses baniram os seres das trevas para o mundo das sombras, onde eles ficariam trancados por trezentos anos, quando eles poderiam voltar a Terra durante um alinhamento entre a lua, a Terra e o Mundo sombrio, pelo período de um mês. O mundo precisaria do equilíbrio que o mal fornecia, mas os deuses sempre os baniam de volta antes que o Portal da lua se fechasse. Quando os deuses precisaram deixar a Terra, a deusa da bondade deixou o amuleto, através do qual ela emprestaria seu poder para a escolhida banir o mal de volta para o seu mundo de trevas."
Melissa não tinha palavras. Tudo que ela fez foi olhar para seus primos e ver que eles refletiam seu mesmo sentimento: medo.