- Sim, é só para conhecer, nunca mais cá volta! - disse pouco à vontade.
Mama desconfiou e pensou logo que fosse rabo de saia, mas não era costume dele esse tipo de coisas. Peter nunca tinha trazido uma rapariga de fora à tribo e nunca tinha deixado sequer uma rapariga da tribo entrar na tenda dele, pois isso era sinal de interesse na pessoa. Ele tinha as suas conquistas, mas só para passar o tempo, nunca se tinha comprometido com ninguém, apesar de interessadas não lhe faltar quer na tribo ou na aldeia.
Quando chegou à aldeia, Anna ainda não estava no local combinado. Ele odiava esperar, mas não tinha outro remédio.
Quando Anna apareceu toda sorridente, o mau humor que se tinha apoderado de Peter desapareceu por completo, para dar lugar a um nervoso miudinho e a uma certa satisfação.
- Demoras-te! Disse ele, fazendo-se de zangado. – Pensava que já não vinhas.
- Não podia perder isto por nada. Só demorei um bocadinho, para não ficares tão convencido. - Disse a sorrir com ar matreiro.
- Ó Deus! Aquilo que eu tenho que aturar! - Disse de modo exagerado e teatral.
- Porque gostas! -Disse Anna já a montar no mostarda.
Anna seguiu a trote sempre ao lado de Black em silêncio. Estava nervosa, há muito que queria conhecer a tribo, mas também não sabia se era bem-vinda e tinha receio de estar a arranjar problemas a Peter. Mas não podia perder esta oportunidade.
Quando chegaram, desmontaram e Peter fez sinal a Anna para o seguir. Todos os olhos estavam postos nela. Anna nem reparou, estava maravilhada com o cercado dos cavalos que se via ao longe, devia de ter mais de 400 cabeças.
Havia imensas crianças a brincar e a correr de um lado para o outro e raparigas e mulheres mais velhas a fazerem as suas tarefas diárias. As casas de cada um pareciam tendas de índios e assim ao longe pareciam cogumelos plantados num prado verde.
Peter levou Anna atá à tenda de Mamma que já estava à espera à porta.
- Mamma esta é a pessoa que te falei, só veio conhecer e depois vai embora. - disse secamente, mas por estar envergonhado. Para ele era como se desse parte fraca ao levar uma miúda à tribo.
Mamma cumprimentou Anna com um sorriso.
- Sê bem-vinda! Eu sou a Mamma a mulher do ancião. -Disse com orgulho
- Muito prazer, minha senhora. Chamo-me Anna e prometo que não vou incomodar nada.
- Não incomodas nada, está à vontade, está toda a gente a olhar para ti porque este menino nunca tinha trazido cá ninguém. Digamos que está tudo perplexo com ele e com a tua beleza. Já te disseram que és linda, meu anjo?
- Muito obrigada, minha senhora. – respondeu Anna envergonhada.
- Dizes isso porque não conheces o feitio da peça. -Retorquiu Peter com ar de gozo.
Anna encolheu os ombros e sorriu com simpatia para Mamma que retribuiu com um sorriso aberto.
-Está à vontade filha, podes ver o que quiseres. – disse Mamma simpaticamente.
Anna encaminhou-se logo para o cercado, Peter pôs-se no seu encalce, mas Mamma puxou-o para o advertir.
- Filho se lhe queres bem, como acho que queres, não brinques com ela!
- Oh Mamma, lá estás tu, é só uma gaja qualquer!
- Estás avisado, depois não venhas chorar ao meu ombro. Toma atenção às outras raparigas que devem estar com uma ciumeira dela que Deus te livre. Não a percas de vista!
Peter assentou com a cabeça e prosseguiu no encalce de Anna.
Mamma sabia bem o que dizia, as raparigas da tribo eram lutadoras e persistentes quando queriam alguma coisa e Black era uma coisa que todas queriam muito, para além de ser bonito, era mais simpático que a maioria, dizia quem sabia que para o sexo não havia igual. E muitas já tinham experimentado e sabiam o que diziam.
Anna parou junto dos cavalos, estava extasiada. Nunca tinha visto tanto cavalo junto. E tudo tao bem organizado. Cavalos selvagens separados dos desbastados, éguas e poldros separados noutro sítio...por isso eles eram os melhores. Sabiam mesmo o que faziam.
- Trouxe-te para conheceres as miúdas lindas da tribo e tu só te interessas pelos animais? – Disse Peter aproximando-se por trás de Anna.
Ana sorriu
- Meu, isto é espetacular, são mesmo profissionais, até tem um picadeiro diferente para treinar os cavalos selvagens dos outros. Demais!
Peter estava orgulhoso, nem se apercebeu da importância que estava a dar aquilo que ela dizia.
- Queres conhecer as meninas, ou não viemos cá para isso? – perguntou novamente.
Anna assentou com a cabeça, mas só lhe apetecia entrar no cercado dos cavalos e montar uns quantos.
Peter apresentou-a a algumas miúdas, nunca se distanciado dela, pois conhecias tão bem como Mamma. Pelo canto do olho já as tinha visto cochichar umas com as outras, especialmente aqueles que ele dava mais "atenção" sexual.
Anna fazia imensa pergunta. - Era curiosa aquela gatinha selvagem. - Pensou.
Entretanto uma série de miúdos foram-se aproximando, tinham tanta curiosidade como Anna, nunca tinham visto uma rapariga com o cabelo cor de trigo e tão bonita. Normalmente não achavam as miúdas da aldeia bonitas, mas esta era diferente, tinha um encanto qualquer.
Anna reparou logo nas crianças e não levou um minuto para já estar integrada na brincadeira. Peter relaxou, as crianças não lhe fazem mal, são puras.
Distanciou-se para a poder apreciar mais. Estava como só ela mesmo, sem preocupações em estar apresentável e sem qualquer medo em fazer figuras tristes.
No meio da correria, Anna distanciou-se para não a apanharem e duas mulheres mandaram-lhe um alguidar de água suja para cima.
Peter saiu a correr furioso, sabia bem que tinha sido de propósito.
- És maluca miúda, poes-te a frente de quem esta a trabalhar, vesse mesmo que não fazes nada da vida... -disse Kate com um tom maldoso.
Cala-te Kate, fizeste de propósito, não vales nada. - Disse Peter enfurecido
Anna estava completamente desconfortável toda molhada e com restos de comida por cima. Não quis armar confusão. Percebeu bem que tinha sido de propósito, mas achou que não deveria de arranjar problema. Se fosse na aldeia Anna já lhes tinha saltado para cima, mas aqui não queria arranjar conflitos.
- Não faz mal, peço desculpa, não reparei no vosso trabalho. Nem fazia ideia de que deitavam a água de lavar a loiça onde as crianças brincam. -Disse sem ser agressiva, mas para que elas percebessem que ela não era parva.
- Também já esta na hora de me ir embora. Obrigada por me receberem.
Mamma estava mortificada. Já estava a prever que isto fosse acontecer e o pior era segurar Peter que quando se enfurecia, ninguém o parava.
- Nem penses que vais assim para casa, o que vão pensar de nós. Tomas aqui um banho e eu arranjo-te umas roupas limpas. – Disse Mamma envergonhada.
- Não é necessário, chego a casa num instante e trato disso, não quero incomodar.
- Tomas aqui banho sim! - Disse Peter com ar autoritário.
Mamma foi arranjar umas roupas para Anna e indicou-lhe a zona de banhos femininos. Anna não teve alternativa. Enquanto estava a tomar banho, ouvia lá fora uma grande discussão, sobressaia a voz de Peter, mas não conseguia perceber o que diziam.
Peter estava fora de si. A primeira vez que levava uma miúda à tribo e logo tinha corrido tudo mal.
Mamma tentava acalmá-lo.
- Deixa lá filho, a loirinha nem se chateou assim tanto. Até está bem-disposta. – dizia Mamma para suavizar a situação.
- Parece-te a ti. Deve estar a ferver por dentro. Tem cá um mau feitio... - responder Peter furioso.
Kate e Mary, que tinham provocado a situação já se tinham distanciado de Peter. Sabiam bem que quando se irritava a sério, não havia quem o segurasse. Mas a Loirinha estava a merecê-las. Quem era ela par se meter no caminho delas. Os homens da tribo andam com mulheres da tribo. Ele não gosta daquele tipo de rapariga. Nem se parecia com nada. Que raio de cabelo era aquele, todo desgrenhado... pensavam, mas sabiam que era só para se iludir.
Anna saiu do banho com uma camisa enorme vestida, que quase dava para um vestido e uma saia comprida e larga que lhe dava quase até aos pés. Não a incomodava andar assim. Até agradecia, ao menos estava seca e limpa.
Peter quando a viu sair, não se conteve e deu uma gargalhada ruidosa. Como é que era possível, mesmo naquela figura continuar tão sexy. Pior, ainda lhe dava mais vontade de arrancar-lhe aquela roupa do corpo.
Mamma também achou piada à figura de Anna. - A miúda é mesmo gira. – Pensou.
- Do que é que te estás a rir? – Disse Anna fazendo-se inocente
-Pareces um espantalho! – Respondeu Peter a rir
Anna sorriu, mas não podia dar parte fraca era mais forte que ela tinha que argumentar.
- E tu és palhaço, senão não te rias tanto, nem achavas piada a tudo! - disse simulando um ar enjoado.
Se fosse uma rapariga da tribo, nunca teria respondido, mesmo que o comentário a tivesse magoado. Mas Anna era assim. E Peter adorava picá-la só para obter resposta, era como um jogo. Nunca admitiria, que na tribo lhe falassem assim, mas também Anna não era para nada sério. Não fazia o estilo dele. Pensava Peter para se convencer.
- Vou-me embora, a minha mãe já deve andar maluca à minha procura. Obrigado por tudo D. Mamma. Adorei conhecer a tribo e especialmente, adorei conhecê-la.
- Trata-me só por Mamma. Adoras-te levar com a água em cima? Não me parece. – retorqui-o Mamma.
- Foi um acidente, já passou! – Disse Anna para a calmar.
Mamma puxou Anna para o seu lado, para que Peter que estava entretido com os miúdos não a ouvisse.
- Sabes filha, o Peter é muito querido pelas meninas aqui da tribo e ainda não se decidiu, percebes? Ainda não escolheu uma namorada. E qualquer outra rapariga que ele leve a casa é uma ameaça para elas. Ainda por cima foste a primeira que ele trouxe...
- Elas podem estar sossegadas, ele não gosta de mim. Eu não sirvo! Não sei cozinhar, nem lavar, nem cuidar da casa. Não sei, nem gosto... Eu gosto daquilo que ele gosta, cavalos, aventuras... sei lá mais o quê. E para isso ele tem os amigos dele.
Mamma riu. Ela ainda não tinha percebido que era isso mesmo que o atraia. E ele se calhar também ainda não tinha percebido...
- Eu acompanho-te até a casa! –Disse Peter
- Deixa Peter. Obrigada. Mas não é preciso. Fica com os teus que já é tarde. Depois falamos. – respondeu Anna decidida
- Não sejas teimosa. Deixa-me ir contigo. – Pediu Peter com ar zangado
- Nop. – Respondeu Anna com indiferença
Anna assobiou ao mostarda e antes que Peter desse conta já ela o tinha montado e desaparecia à frente dele.
- Obrigada Mamma, obrigada por tudo. Depois devolvo-lhe a roupa. – Ainda gritou Anna
Mamma acenou com a mão enquanto a via desaparecer por dentro da floresta.
Peter estava zangadíssimo.
- Teimosa como uma porta. Mas agora acabou. Vou deixar de me armar em parvo. Já vi que ali não posso brincar. E não a quero para mais nada. Estou farto do jogo do gato e do rato. –Pensou Peter.
Já tinha passado uma semana desde que Anna tinha ido á tribo e nunca mais tinha visto Peter na aldeia. Já tinha visto Blue e Simon, mas ele nunca os acompanhou.
Anna já se tinha apercebido e pensou que tivesse ficado zangado ou então percebeu que não valia a pena insistir. Ela não era mulher de quecas fortuitas. Que pena, gostava da companhia dele e da atitude. Tirando o facto de ser um borracho, parecia índio, lindo. - Pensou Anna.
Já estava a anoitecer, mas ainda havia uma réstia de sol, chamou o mostarda e resolveu dar uma volta pela floresta.
Era a esta hora que mais gostava de sair, não podia demorar muito, pois depressa vinha a noite, mas sempre dava para desanuviar.
Quando já estava a voltar para casa, ouviu um barulho diferente. Parou o mostarda e pôs-se à escuta. Não se ouvia nada. Reparou que o tempo se estava a preparar para chover. Voltou a dirigir o mostarda para casa.
Voltou a ouvir qualquer coisa, parecia um frenesim qualquer. Voltou para trás. Provavelmente seriam lobos de volta de uma presa, mas não custava verificar.
Andou uns metros e voltou a ouvir mais perto, parecia um frenesim de lobos, mas pareceu-lhe ouvir um choro, não se conseguia perceber.
Mais a frente, estava uma alcateia de volta de algo, talvez um veado ou outa coisa qualquer. Anna já estava a dar a volta para voltar a casa, mas reparou em algo colorido no meio dos lobos.
Olhou melhor, parecia roupa azul. Aproximou-se devagar, não queria irritar os lobos. Ouviu agora bem um grito misturado com choro. Era alguém que estava ali.
Desmontou o mostarda e saiu a correr e a gritar para o meio da alcateia, sem pensar em consequências.
- Xô... xô saiam daqui. - Gritava muito alto para dispersar a matilha. No meio da confusão estava um menino com cerca de 10 anos. Com uma ferida na perna. Anna pôs-se a frente do menino e continuou a gritar e a mexer vigorosamente as pernas e os braços, tentando intimidar os lobos.
Não sabe o que se passou, mas passado uns minutos, um a um os lobos começaram a dispersar.
Anna abraçou a criança com força. Chorava completamente fora de si, mas não parecia muito magoado. Anna só reparou na perna, mas não lhe parecia que tivessem sido os animais os causadores da mazela, provavelmente tinha caído e a alcateia deve ter sentido o cheiro a sangue, mas deveriam de estar com tanto medo como ele e ainda não lhe tinham chegado a tocar.
Quando o miúdo acalmou, olhou bem para ele e reparou que deveria ser da tribo pela fisionomia.
Tentou acalmá-lo e acalmar-se a si mesma, pois estava muito acelerada e a tremer. Começou a falar com ele, com a voz o mais calma que conseguia
- Pronto! Pronto! já passou, já se foram embora. Vamos voltar para casa?
O menino assentou com a cabeça ainda a chorar e sem largar o colo de Anna.
-Como te chamas?
- Jake. Disse com voz embargada.
- Onde á a tua casa?
-Na tribo perto da aldeia.
- Ok. Vou-te levar a casa que devem de estar todos preocupados contigo.
- Eu só fui dar uma volta, mas acabei por me distanciar. Caí e doía muito para andar. Comecei a chorar e os lobos apareceram logo. Acho que me queriam comer. -Disse num soluço.
Anna brincou com a situação para o acalmar.
- Achas, tinham logo uma dor de barriga.
O miúdo acabou por desenhar um sorriso mo rosto, mas sem parar de soluçar.
Anna pegou-o ao colo e montaram o mostarda, com Jake sempre agarrada ao pescoço dela. Estava a apertar tanto que Anna quase que lhe faltava o ar, mas não disse nada. Sentia o corpo dele a tremer ainda susto e o dela também não estava melhor.
Na aldeia, um grupo tinha saído para procurar Jake a algumas horas, mas ainda não tinham regressado. As mulheres estavam aflitíssimas.
Quando Anna entro na tribo, pediu licença para entrar ao primeiro homem que encontrou, que começou logo a gritar o nome da mãe de Jake.
--Beth! Beth! Já o encontraram.
Seguiu-se um grande alvoroço e a primeira a chegar ao pé de Anna foi Mamma. Vinha completamente esbaforida, com a mão no peito e via-se que tinha os olhos molhados de quem tinha estado a chorar.
Anna desmontou com o menino, que não queria largar-lhe o pescoço.
- Pronto! Já estas a salvo! Já estás ao pé da tua mamã! Há alguma coisa melhor que o colinho da mamã? – disse Anna tentando acalmá-lo.
Jake sorriu para Anna. Esta deu-lhe um beijo na testa e entregou-o a Beth, que estava desesperada par lhe pegar. Enquanto recebia o menino nos braços, apertou a mão de Anna com força em sinal de agradecimento e olhou-se nos olhos. Anna percebeu a mensagem e sorriu. A mulher desapareceu com o miúdo ao colo por entre a multidão.
Anna reparou em Peter, estava mais distanciado. Fingiu que não o viu. Não queria arranjar problemas para ele e também estava um bocadinho ressentida por ele nunca mais lhe ter dito nada. Parecia que ela tinha cometido algum "pecado mortal", mas sem saber.
Montou logo de seguida.
-Filha, estas com a roupa toda suja de sangue e terra e rasgada, Não queres trocar de roupa? – perguntou Mamma.
- Não é preciso. Ainda tenho a outra roupa lá em casa, daqui a pouco o melhor é transferir o seu guarda-roupa para minha casa. – disse a brincar
- Deixa-me ao menos ver se estas ferida? – continuou Mamma
- Não é necessário, estou suja da perna do Jake que estava a sangrar. Ele sim é que precisa que o vejam. – Avisou Anna
Anna nem sabia se estava ferida ou não, mas queria sair dali o mais rapidamente possível. Não queria confrontar-se com Peter de maneira nenhuma, iria acabar por dizer o que queria e o que não queria. Só naquele momento é que reparou como estava magoada.
Peter ficou a ver Anna desaparecer na floresta sem reação. Reparou que ela tinha evitado olhar para ele e isso entristeceu-o.
Na altura da visita de Anna à tribo, mal os homens souberam da sua presença e quem a tinha convidado, fartaram-se de gozar com Peter, dizendo que ele estava pelo beicinho, que nem parecia um homem a sério por andar atrás de uma mulher daquelas que não valia nada.
Peter não tinha gostado e nesse dia prometeu a si mesmo que não ia mais procurá-la, sabia que ela não era mulher para ele, nem para a tribo e não ia estragar a sua vida por uma mera atracão. Recomeçou a andar com as miúdas da tribo, mas ainda não tinha achado nenhuma que o satisfizesse verdadeiramente. No entanto quando reviu Anna, o coração acelerou tanto que parecia que queria sair do peito e as pernas pareciam gelatina.
Não podia voltar atrás, se ao menos consegue-se ir para a cama com ela uma vez que fosse, tinha a certeza que este sentimento passava. Achava que a queria porque não a podia ter.
Estavam todos de volta de Jake a disparar perguntas para o menino para saberem o que tinha acontecido.
Jake no meio de soluços explicou tudo direitinho. E prometeu não se afastar tanto da aldeia.
- Quando saímos a procura do puto, não pensamos que tivesse tão longe por isso não o encontramos. - Justificou Blue.
- Tinha que ser aquela gatinha selvagem a encontrá-lo, deve andar sempre na ramboia, parece que nunca está em casa, deve ser uma puta qualquer. -Comentou um dos homens que tinha saído à procura de Jake.
Peter não aguentou. Eram pobres e mal-agradecidos. Mal ou bem era ela que tinha encontrado o puto e mesmo assim estavam a mandar "bocas".
-o que é certo é que quase uma dúzia de homens, que se dizem os reis da floresta, não encontraram um simples puto de 10 anos e uma rapariga ou uma gatinha selvagem como vocês dizem é que se meteu no meio dos lobos para o defender. E não tinha que fazer nada disto. Não era obrigação dela. Não é da família, não pertence à tribo e não tem qualquer relação connosco. Aposto que qualquer um de vocês se estivesse sozinho na mesma situação, não se ia meter no meio dos bichos, se calhar preferia voltar atrás e pedir ajuda. A mim parece-me que essa gaja ou essa puta que gosta de ramboia, como vocês dizem é muito mais mulher do que vocês são de homens!
O grupo ficou calado, da forma como Black estava, o melhor era nem responder, senão ia dar porrada.
Peter continuou. – E ninguém teve a humildade de lhe agradecer, eu pelo menos não ouvi. Nem tu Bob, como pai do puto, devias de pôr para trás das costas os teus preconceitos e as tuas opiniões pré-concebidas e teres manifestado algum sinal de agradecimento, porque senão fosse ela, quando o encontrassem só lhe encontravam as roupas e os sapatos.
Assim que acabou de falar Peter saiu do grupo e foi para a sua tenda.
- Ele tem razão, deviam ter vergonha! Especialmente tu Dave, como ancião devias de dar o exemplo. - Disse Mamma zangada.
Só a Mamma era permitido falar assim com o marido e com o resto dos homens e normalmente ninguém levava a mal, porque quando ela falava, tinha sempre razão.
Peter estava furioso, especialmente com ele mesmo, uma vez que nem ele tinha tido a capacidade de lhe dirigir a palavra.
-Amanhã vou à aldeia e agradeço-lhe! Só isso, é o mínimo que posso fazer. Não a estou a pedir em casamento é só um agradecimento. - Pensou Peter a tentar convencer-se a ele próprio.