- Tu és daqueles que "quanto mais me bates, mais eu gosto de ti" – disse Simon a provocar.
Mas Peter não lhe deu resposta, sorriu e encolheu os ombros. A sua boca não se abriu para falar no assunto. Ia guardar para ele, ninguém tinha nada a ver com isso.
Anna saiu de casa bem-disposta, o dia estava lindo para contrastar com os dias anteriores. Anna foi até ao cercado e o Mostarda apareceu de imediato para a cumprimentar. Encostou a cabeça à de Anna, como costumava fazer.
- Temos que dar uma volta amigo, precisamos de espairecer. – Disse Anna como que a segredar ao cavalo.
Mostarda relinchou como que a responder, parecia que a entendia e Anna achava que ele a compreendia mesmo e vice-versa.
Olhou e não viu Peter, mas não era caso para preocupar, pois Simon e Blue também não tinham aparecido, logo só poderiam estar ocupados com alguma coisa.
Não queria pensar muito no assunto, mas o que é certo é que a cena do beijo não lhe saia da cabeça e sempre que pensava nisso sentia borboletas na barriga.
Sentiu alguém por trás dela a agarrá-la pela cintura, virou-se e viu Jake, o miúdo da tribo que ela tinha resgatado dos lobos.
-Olá meu querido, tas aqui! Não é costume vires à aldeia, pois não? -Disse abraçando-o e dando-lhe um beijo na testa.
- Vim comprar mantimentos com o meu pai e outros. Os que costumam ter essa tarefa foram vender cavalos longe.
Anna percebeu porque os rapazes não tinham aparecido na aldeia, ficou mais descansada, pelo menos não fora ela a razão da ausência de Peter.
- Alguém tem que o fazer, não é? Todos os dias temos que comer! Conta-me coisas, estás melhor? Ficas-te com mazelas? - Perguntou Anna com preocupação.
- Não. Estou bem. Só tinha um dói-dói na perna, mas não foram os lobos, fui eu que caí.
-Ainda bem! Portaste-te muito bem! Foste um valente Jake! -Disse Anna para o confortar.
- Tu é que foste valente, nem tiveste medo nenhum! Nunca tens medo de nada? -Perguntou Jake com determinação.
Anna riu e respondeu: - Amigo, eu estava cheia de medo, tremia por todos os lados. A sério! E tenho muitos medos, aliás, devo ser a pessoa com mais medos da aldeia e arredores. Mas vou contar-te um segredo, que não podes dizer a ninguém, juras?
-Claro, juro! – Disse o rapaz, olhando para Anna com muita atenção para não perder pitada
-Eu tenho muito medo de quase tudo, às vezes até de coisas que a maioria das pessoas não tem. Faço-me é de forte, para ninguém perceber. Assim ninguém goza comigo. Às vezes mais vale parecer "duro" que o ser.
- O meu pai diz o mesmo. Mas eu acho que tu és mesmo dura! -Disse Jake com orgulho na amiga.
Anna riu - és mesmo tontinho, meu lindo. Podes levar uma coisa a Mamma?
-Posso pois! - Disse o rapaz entusiasmado.
- Já vou ter contigo, tenho de ir a casa primeiro.
Anna foi a casa buscar a roupa que Mamma lhe tinha emprestado aquando do incidente do banho de água suja e entregou ao menino, já lavada e passada a ferro.
- Tem o teu cheirinho! – Disse o rapaz deliciado
- Eu lá tenho cheiro! - Respondeu Anna- só se for cheiro a cavalo, porque é o único "perfume" que utilizo. – Disse a rir
O Pai de Jake fez-lhe sinal e o rapaz despediu-se de Anna e foi a correr para ele.
Já estava a escurecer, os jovens da aldeia estavam sentados nas mesas do lado de fora taberna, como era habitual. Anna também fazia parte do grupo que estava em amena cavaqueira.
Sara olhou para Anna e como estava com uma vontade louca de se meter com ela desde o jogo da garrafa, disse, como quem não quer a coisa: – Os tipos que nós conhecemos ontem, sabes Anna, aqueles da tribo, nunca mais apareceram. Achas que não nos gostaram de conhecer?
Anna percebeu a deixa, mas respondeu sem problema. – Acho que não deve ser esse o motivo Sara. Acho que pelo menos a ti adoraram-te conhecer, beijas-te os três, se calhar mais que uma vez, durante o jogo! – Disse a rir
- Então porque é que eles não voltaram, costumavam vir quase todos os dias. – Insistiu Sara.
-Tem que trabalhar! Sabes, têm uma vida, para além de ficar na conversa a beber cervejas ou outra coisa qualquer.
-Foi o que o puto te disse? Eu vi-te há bocado a falar com um miúdo da tribo! Não sei de onde tu conheces essa gente toda! – perguntou Sara.
- Sim, o Jake disse-me isso. Eu não conheço "essa gente toda", como tu dizes, mas esforço-me para conhecer o mais que posso. Sabes que sou assim!
Sara que estava de frente para a rua, reparou que uma rapariga da vida fazia sinal para Anna. – Aquela prostituta quer falar contigo Anna, sabes não te fica bem falar com qualquer um, tens que ser mais seletiva. Qualquer dia ainda te confundem. - Advertiu Sara.
Anna olhou para ver quem era. – É a Mélia, vou lá ver o que me quer. Não é qualquer uma, ela andou connosco na escola, tu também a conheces, aliás todos conhecemos, simplesmente não teve tanta sorte como nós.
-Oh Anna, és uma romântica, há sempre outras opções! - disse Sara baixinho
- Ela ficou muito cedo sem pai e mãe, naquele incendio. Foi a opção que teve. Não deixou de ser boa rapariga por isso e eu gosto dela de igual modo. Quero lá saber se me confundem, já estou por tudo! -Disse Anna com ar de gozo.
Anna levantou-se e foi falar com Mélia, era uma rapariga alta e esguia, de cabelo castanho-escuro comprido. Muitas vezes desabafava com Anna os seus problemas, pois era a única amiga que tinha fora do trabalho. E Anna ela sabia que era mesmo amiga, pois as colegas tendiam a ser competitivas e por vezes maldosas.
E Anna adorava falar com ela. A experiência sexual de Anna não era muito abrangente. Namorados tinham sido poucos e não tinham passado dos beijinhos e D. São, a mãe de Anna, não falava desses assuntos com a filha. Por isso, Melia ensinava toda a teoria a Anna, e esta era uma aluna interessada. Mélia não se cansava de dizer – não tenhas pressa em iniciar a tua vida sexual, faz apenas com quem aches que é o certo e verás que corre tudo bem.
Mélia, contava-lhe tudo ao pormenor, sem vergonhas, tudo mesmo! O que os Homens gostavam o que não gostavam, como deveria ser feito. Ela era um verdadeiro manual do sexo. Contava-lhe coisas que até as raparigas da aldeia, com uma vida sexual mais ativa, deveriam de desconhecer. Anna por vezes ficava envergonhada, mas não dizia nada, ouvia e calava.
Mélia, neste dia só queria desabafar uma desavença que teve com a dona do bordel. Apetecia-lhe mais falar do que propriamente fazer queixas.
Anna ouviu e depois disse do nada: - Sabes que beijei um gajo?
- Que gajo? Não deve ter sido um gajo qualquer, senão nem mencionavas, e tu, és esquisita à brava, deve ser um super-homem!
-Não, é nenhum super-homem, é um gajo da tribo, daqueles que estão sempre aí!
-Quem? Conheço todos, diz-me quem é que eu te digo já se vale a pena. - Perguntou Mélia curiosa.
-Peter! Disse na com voz sumida
-O black!!! – Disse Mélia quase a gritar. Apercebendo-se que falou alto tentou baixar o tom de voz – Tás a gozar! Nunca aquele homem foi com nenhuma de nós, diz que se recusa a pagar para ter sexo. É um borracho de primeira. Qualquer uma das meninas ia com ele sem lhe levar nada. Tem uma fama de fodilhão do caraças.
- Escusas de ficar toda animada. Foi só um beijinho, nada de especial, não se volta a repetir. Sabes que não sou assim!
-Oh Anna, ele é um borracho. Aproveita, tonta! Vais chegar a velha e perceberes que não aproveitas-te nada da vida. Se o gajo anda atrás de ti é porque tem interesse. Olha que nunca o vi atrás de ninguém! Elas é que andam atras dele, parecem moscas, ele nem se tem de preocupar, é só escolher, fazer o trabalho e acabou.
-Aí é que está! Não quero sexo só por sexo, percebes. Eu quero algo real, a sério! Mas com ele não dá.
-Não dá porquê? – Perguntou Mélia com ar intrigado.
-Porque eu não faço o estilo dele, aliás, eu não faço o estilo de muita pouca gente! Não cozinho, não lavo, não obedeço, essas coisas que os homens como ele estão habituados. Para mim isso era tirar-me a liberdade que é a coisa que mais prezo. Sabes disso! Para além disso discutimos muito!
Melia riu-se à gargalhada. – Tu fazes é o estilo de muita gente, simplesmente a maioria não tem tomates para ti. És linda, tens tudo no sítio, encantadora, generosa, ninguém tem um coração tão grande como o teu, e eu sou prova disso, por isso somos amigas. És inteligente e sabes fazer tanta coisa, que a maioria nem sonha sequer em experimentar. Cozinhar, lavar... isso toda a gente sabe fazer e nem precisa de ter um dom. Tu tens um dom! tu és uma encantadora de cavalos, ninguém os treina como tu! Cavalos e outros animais, tu és meio bicho! Tu podes não gostar de fazer trabalhos domésticos e acho bem que leves a tua avante, porque fazem falta mulheres com personalidade.
- Mulher com personalidade que não serve para nada! -Argumentou Anna
- Serve sim. Tu tens é medo! Tens medo de experimentar, de ser rejeitada, de não saberes fazer..., mas ninguém nasce ensinado Anna, é com a experiência que chegamos à perfeição.
- Nem sei porque estamos a ter esta conversa – retorquiu Anna para mudar de assunto. - Foi só um beijinho tolo.
- Tolo? Se fosse tolo não tinhas falado no assunto. Foi com a língua? -Perguntou Mélia a rir.
- Tu não prestas para nada Melinha! -disse Anna na brincadeira- Conheces mais algum tipo de beijo?
- Como é que foi? Conta-me tudo! Como te sentiste?
- Tu não bates bem! Foi bom! Foi perfeito! Parecia que nunca tinha beijado ninguém, e que aquele fora o meu primeiro beijo. Sabes, parecia que o mundo tinha parado e não havia nada à nossa volta, só eu e ele! O tipo beija bem, pronto. Está comprovado!
- Tu estás de beicinho! Essa é que é essa! Tas completamente apaixonada! -Disse Melia a gozar.
- cala-te! Não estou nada, simplesmente gostei do beijo! -Disse Anna a fingir-se irritada. - Para além disso, ele, pelos visto não gostou, porque nunca mais cá apareceu.
Anna sabia bem que o que estava a dizer não correspondia à verdade, pois sabia bem a razão dele não ter ido à aldeia. Mas não lhe apetecia ouvir mais as graçolas de Melia e queria mudar de assunto.
- Não, não gostou! Anna tu és um pedaço de mau caminho. Se o homem não voltou a aparecer é porque o trataste mal ou então também está pelo beicinho e está como tu! Todo cagado com medo!
-Vou-me embora, só dizes disparates! Tás só a gozar comigo!
Anna levantou-se e despediu-se de Melia
-Depois quero saber desenvolvimentos. Ai de ti que me escondas alguma coisa! -Disse Melia a imitar um tom ameaçador.
Estava a dirigir-se para casa quando reparou num lobo, quase esquelético com uma pata partida mesmo no começo da floresta. Não disse nada a ninguém, nem fez alarido da situação, aproximou-se devagar para não assustar o bicho.
Começou a falar baixinho com o animal na esperança de o acalmar, mas este começou logo a rosnar. Estava ferido e Anna sabia que não era bom meter-se com animais doentes, ainda se tornavam mais perigosos.
Pensou em pedir ajuda, mas logo declinou essa opção, temia que o quisessem matar. Se calhar até era a melhor opção, pois o animal estava em sofrimento, mas Anna queria tentar sempre até à última.
Anna aproximou-se mais um pouco, e tirou do bolso um pedaço de pão que tinha sobrado do mostarda
O lobo, já era velho e estava mesmo muito fraco, mal se aguentava em pé. Este a medo lá se aproximou e começou o cheirar. Acabou por comer. Anna nem tentou agarrá-lo, pois temia que lhe mordesse. Sabia que por estar coxo não conseguia caçar e por isso estava fraco. Devia de se ter aproximado da Aldeia por causa do cheiro a comida.
Não tinha mais nada no bolso, foi a casa ver o que havia para o jantar. D. São tinha carne assada já feita, era só aquecer. Anna tirou um pedaço grande e levou com ela sem a mãe se aperceber. Voltou novamente e o lobo apareceu logo com o cheiro a comida. Anna voltou a posar a comida no chão, sem deixar de falar com o animal. Este comeu e virou costas já saciado.
No dia a seguir, voltou novamente e Anna já estava à espera com algo embrulhado num pano. E assim consecutivamente, até o lobo estar melhor.
Anna reparou. Que a partir daquele dia, todas as vezes que saia para cavalgar com o mostarda, o velho lobo acompanhava-a de longe. Anna cumprimentava-o sempre de longe e este mantinha-se sempre próximo como se tratasse de um guarda costas. Anna chamava-lhe "sombra".
No final da semana, os rapazes da tribo voltaram, já sem cavalos e com o dinheiro das vendas. Estavam bem dispostos, tinham feito um bom negócio e já tinham uma nova encomenda para dali a seis meses.
Estavam cansados de cavalgar, mas não podiam perder a oportunidade de comemorar.
-Vamos à aldeia beber umas cervejas. - Disse Peter com segundas intenções. Desde o início da viagem que sonhava com o regresso só para encontrar Anna. Já tinha pensado nesse encontro de todas as maneiras possíveis: Anna zangada, Anna amorosa, Anna indiferente, etc.
Mas acabava sempre da mesma forma-. Anna a beijá-lo...
- Vamos! – disse Blue – mas não demoramos, estou completamente roto de cansaço.
- Vamos só desanuviar e ver as vistas – disse Peter a rir.
- Especialmente ver as vistas, não como ninguém há quatro dias, estou completamente à mingua. - disse Simon a rir.
Quando os rapazes chegaram à vila, nem sinal de Anna. Peter esperou um bocado e passado pouco tempo decidiu ir embora. Já era tarde e aquela hora, se não lá estava, já não deveria de aparecer.
-Pessoal, vou-me embora, estou cansado! - Disse Peter para se justificar.
- Não vás já! Ainda agora chegamos, ainda quero tentar a sorte com uma miúda. – disse Simon
- Fiquem vocês! Eu só quero dormir.
Peter montou o tempestade e saiu em direção à tribo, estava desiludido por não ter visto Anna. Mas amanhã era outro dia.
Anna estava em casa, tinha pensado em ir ter com os amigos, mas D. São pediu para ela ficar em casa, tinha de conversar algo importante. Anna ficou com a pulga atras da orelha.
- Quer-me dizer uma coisa importante? Não deve ser bom – Pensou.
Depois de arrumar a louça do jantar D. São chamou Anna para conversar.
- Filha, tomei uma decisão que há muito ando a adiar por tua causa. Mas agora tem que ser! -Disse determinada.
- Por minha causa? O que é que se passa mãe? Estas com algum problema. Diz-me? Nunca tivemos segredos uma para a outra!
D. São respirou fundo e disse: - Anna sinto-me muito sozinha aqui, desde que o teu pai morreu, eras tu bebé. A tua tia Rosa, há muito tempo que me anda a convidar para irmos viver com ela. Ela também está sozinha e não tem filhos e precisa de mim assim como eu preciso dela!
Fez-se silêncio. Anna não estava há espera disto! As palavras da mãe apanharam-na de surpresa.
A tia Rosa vivia muito longe, era preciso uma dúzia de dias a cavalo para lá chegar.
- Tás a brincar? É que só podes! Eu adoro a tia Rosa, mas onde é que eu punha o mostarda, ela tem uma casa pequena, sem espaço para animais?
-O mostarda tinha que ficar! Anna não adianta! Eu já me decidi, filha! Eu não sou feliz aqui!
Anna, começou a chorar. Como é que era possível, nunca ter dado conta que a mãe era infeliz. E ela, como é que ia abandonar os amigos de infância, a vida que sempre conheceu e sobretudo o mostarda. Isso para ela era inconcebível.
- Ó mãe, porque é que não vem a tia Rosa para cá? É a mesma coisa! – replicou Anna
- Sabes que a nossa casa é pequena para nós as duas, não cabe outra pessoa. A tia Rosa tem espaço suficiente para todas.
- Mas não tem para o mostarda? E eu vou deixar o cavalo com quem? E como é que eu o vou montar? Eu tenho este cavalo desde pequena, é como se fosse da família, não posso abandoná-lo. Eu gosto de viver aqui! Gosto das pessoas, tenho amigos que são como se fossem família. Lá não conheço ninguém.
Anna estava furiosa e magoada. Chorava e gritava ao mesmo tempo. A mãe permanecia calada, fora por causa desta reação que só agora tomara esta decisão. Mas a irmã precisava dela e ela estava farta de viver sozinha só com a filha, precisava de sentir apoio e de alguém para cuidar. Anna já há muito que não precisava que cuidassem dela, sempre fora muito independente.
Anna trancou-se no quarto a chorar até adormecer.
No dia seguinte, Anna acordou tarde, para compensar a hora que tinha adormecido. Vestiu umas calcas e uma t-shirt e fez um rabo de cavalo grosseiramente, sem sequer se pentear. Não estava com disposição para se arranjar. E saiu.
Chamou o mostarda e saiu a galope sem destino, precisava de desanuviar, chorar, ralhar e desabafar sem ninguém para atrapalhá-la.
Quando voltou, já passava da hora do almoço, mas não tinha fome nenhuma.
Pôs o mostarda no cercado e foi buscar água para lhe dar a beber.
Sentou-se na cerca virada para os cavalos, não reparou que Peter se aproximava. Peter sentou-se ao lado dela, mas ao contrário, virado de costas para o cercado.
-O que se passa princesa? Estiveste a chorar? – perguntou intrigado
-Não! Estou só mal disposta, já passa! - Disse Anna sem olhar para ele. Tinha estado a chorar, devia de ter os olhos vermelhos e inchados e não queria nada que ele a visse assim. Não por vaidade, mas para evitar perguntas.
Peter segurou-lhe no queixo e virou-lhe a cabeça para a ver melhor.
- Estives-te a chorar sim. Quem é que te fez mal? -Peter já estava a ficar furioso e a voz estava a ficar mais alta.
- Ninguém me fez mal! Só eu é que faço mal a mim própria, de resto toda a gente me trata bem. – disse Anna esboçando um sorriso muito fraco.
-O que se passa? Nunca te vi chorar, de repente apareces-me assim à frente! Pensei que vinha gozar e meter-me um bocadinho contigo, afinal estás assim. Assim não dá pica, querida.
Anna riu-se – o melhor é aproveitares agora e gozares tudo quanto puderes, porque não vais ter mais oportunidades para isso!
-Porquê? Vais-te fechar em casa e virar freira? – disse continuando a brincar – não é que te falte muito para freira, talvez só aquele lenço enrolado na cabeça!
Peter conseguiu animar Anna, que soltou uma gargalhada!
-Fica descansado não vou para freira! No entanto eu até acho que tu até gostas de freiras! Aliás adoras freiras! – Disse Anna para picá-lo.
-Eu!!!- Disse parecendo espantado - Detesto freiras. Por quem me tomas! São muito sonsas e pouco atrevidas.
-Pois olha que podias estar ali ao pé dos teus amigos, rodeado daqueles miúdas lindas e atrevidas, mas ao invés, vieste ter foi com a freira que só lhe falta o lenço na cabeça! – disse em tom de gozo.
- Agora tiveste bem! – disse a rir- não sei o que tens, acho que me enfeitiçaste. Tive fora quatro dias e só pensava na hora de chegada para te atazanar o juízo.
- Então estas de parabéns! Porque nisso tu és expert. Consegues levar uma pessoa a cortar os pulsos de tanto que chateias. – Disse a rir
- Se eu sou tão chato, então fala comigo! Porque é que estiveste a chorar? Pensava que eras de ferro e nada te quebrava!
Anna baixou a cabeça e fez silencio. Ainda não tinha contado a ninguém e parecia que se falasse tornava-se realidade. Mas era certo que ia embora. Por isso porquê adiar?
- Sábado vou-me embora! Para Delta City.
- Vais como? Isso fica longíssimo! Vais lá fazer o quê? – perguntou Peter.
- Vou para lá viver, Peter! Vou deixar esta casa e mudar-me para a casa da minha tia Rosa em Delta City, percebes-te agora?
Peter parecia que não estava a ouvir bem. Nem queria acreditar. Fez silêncio e depois voltou à carga.
-Viver lá como? Quanto tempo? E a tua mãe?
- Para sempre Peter! Não estás a perceber? – Anna falava num tom irritado – A minha mãe vai comigo, como é obvio! Foi ela que teve a ideia de ir para lá, acha que aqui está sozinha e a minha tia precisa dela. Está mais velha e não tem mais ninguém.
Uma lágrima começou a querer rebentar dos olhos de Anna, mas ela fez força para se aguentar. Mas era tão difícil, só pensar no assunto, quanto mais dizê-lo a Peter.
- Tu não vais! – afirmou Peter com toda a certeza do mundo - Vai a tua mãe sozinha, como é lógico. O que é que vais fazer para tão longe? Aqui é que é o teu lugar! Fazes os teus biscates no gajo que vende os cavalos e tenho a certeza de que ele teria todo o gosto de te contratar a tempo inteiro. Anda sempre a dizer isso. Que tu és a melhor e blá blá blá. Que se trabalhasses com ele nem precisava dos nossos animais...
Peter falava, mas Anna nem o ouvia. Para ele era tudo tão fácil! Homens!
- Claro que vou! Fico cá sozinha? – perguntou com sarcasmo.
- Tens medo? Não me parece que tenhas medo. Tu não tens medo de nada, Anna! Qual é o teu problema? Não podes ir embora assim, sem mais nem menos. Este é o teu lugar, é onde tens os teus amigos e tudo o que conheces!
Peter não conseguia dizer a razão real, porque não queria que ela fosse embora, pois nem ele queria admitir que tinha medo de a perder.
-Ouve o que estas a dizer! Achas normal uma rapariga da minha idade viver sozinha, sem ninguém. Era logo crucificada viva. Se já agora é o que é, imagina sozinha. Ainda mais a trabalhar e a ganhar dinheiro. Isso nem sequer se põe Peter. Tu eras o primeiro a condenar-me! Parece que não ouves o que dizes!
- Tás a fazer uma tempestade num copo de água. Eu não quero que vás! Anna ninguém quer que vás, nem tu queres ir! Se tens receio de ficar sozinha em casa, eu posso falar com o ancião para ficares na tribo, a Mamma ia convencê-lo de certeza ela adora-te.
Anna riu à gargalhada, parecia que Black tinha dito a melhor piada do mundo. Não se aguentou e teve que brincar com a situação.
- E ficava onde? Ah já sei! Ia dormir na tenda com as tuas amigas que me atiraram água suja! Ou sei lá, podiam me pôr junto a um velho qualquer sem esposa que qualquer companhia lhe servia, por já não ter escolha! -Anna não conseguia parar de rir só a imaginar a situação
-Ou podias dormir comigo, quem sabe! -Disse Peter para provocar
-Essa hipótese era excelente, meu amigo. Se para ti já é um stress, só me levares à tribo, imagina entrar na tua tenda! Ó Peter, não brinques, a situação é séria, não tenho hipótese.
-Não vou deixar que vás, nem pensar. Com quem eu ia discutir e depois rematar com um beijo...
-Com quem tu quisesses, o que não falta é raparigas para discutires e beijar... -disse Anna com ar conformado.
-Não era a mesma coisa, tu sabes! As outras não dão tanta pica! E a sério, por muito que fosse difícil. Se fosse condição para ficares, eu pedia ao ancião para ficares na tribo e acredita que te oferecia hospedagem na minha tenda. Iam todos gozar comigo, mas era por uma boa causa.
Anna ficou sensibilizada com as palavras de Peter. Não sabia se eram verdadeiras, mas tinha gostado. E era mesmo bonito. Estava louca para repetir o beijo, mas não podia ser. Ainda mais agora que nunca mais o ia ver ou dificilmente o ia ver tão depressa. Tinha era que o esquecer porque não ia dar em nada e só lhe ia causar desgostos.
- Agradeço e ficou registado! - Anna baixou a cabeça e virou-se ao contrário de forma a ficar para o mesmo lado de Peter.
Ambos olharam em frente, para onde a vida quotidiana das pessoas corria normalmente, uns trabalhavam, outros conversavam, outros discutiam. O costume. No entanto ambos sabiam que a vida quer de um quer do outro, não voltaria a ser a mesma. A distância mata qualquer sentimento, seja ela qual for, bom ou mau.
Anna levantou-se, e sem Peter esperar deu-lhe um beijo rápido na face.
-Vou para casa! - disse- obrigada pela conversa. Estava a precisar de contar isto a alguém. Obrigada por me teres ouvido.
-Quando é que vais?
-Não gosto de despedidas Peter. Mas é breve, daqui a um dia ou dois.
Anna sabia que só tinha o dia a seguir para se despedir dos amigos, pois a carruagem sairia no outro dia de La Crox, pela madrugada.
-Pensa no que te disse Anna! -Disse Peter ainda com esperança, que Anna pudesse voltar atrás – não tenhas medo de ficar sozinha, porque nunca vais sentir isso, toda a gente gosta de ti e tens montes de amigos.
Anna assentou com a cabeça e seguiu para casa. Peter ainda ficou sentado no cercado a pensar, mas logo se levantou, chamou o tempestade e saiu esbaforido em direção à tribo.
Mamma, estava a estender a roupa quando Peter chegou. Passou por ela como se fosse um furacão, nem sequer lhe falou, como era seu costume.
-O que se passa filho? Algum bicho te mordeu? – Disse para se meter com ele.
Peter voltou atrás, olhou para Mamma, esperou um bocado em silencio como se estivesse a pensar e depois avançou.
-Mamma posso falar contigo, mas não comentas com ninguém? Com ninguém mesmo!
- alguma vez comentei alguma coisa que alguém me tenha confidenciado? – disse Mamma a fingir-se ofendida com o comentário.
Mamma era como se fosse a confidente ou psicóloga da tribo. Todos a procuravam quanto tinham problemas e os que acatavam os seus conselhos raramente se arrependiam. Era uma mulher sensata e muito sábia.
-Sabes, a Anna! Aquela miúda da aldeia, que já trouxe aqui ao acampamento?
-Sei perfeitamente, quem é! O que se passa? - Disse Mamma com voz calma e segura.
-Ela vai embora da aldeia para longe. Para casa de uma tia, acho eu!
-E...? - Perguntou Mamma para o espicaçar. Achava que aquele rapaz precisava de falar e ser sincero com ele próprio e para isso tinha de o obrigar a falar.
- E... que é uma estupidez! onde já se viu, tem tudo aqui, uma vida toda, os amigos, a casa, tudo. Eu disse-lhe para não ir, mas sabes ela é muito teimosa. Faz sempre o contrário do que lhe peço.
-E... tu gostas dela e não queres perdê-la é isso?
-Se vais começar a falar assim, desisto da conversa! – disse Peter irritado- não gosto dela da maneira que estás a insinuar. És louca! Alguma vez poderia ser Mamma. Parece que não me conheces.
-Parece é que eu te conheço muito bem. E agora vais-me ouvir, custe o que custar. – Mamma falava com voz autoritária – Aquela rapariga vai embora, porque não tem motivos que a prendam aqui! Até tu que gostas dela, mas como não passas de um machista preconceituoso, até para ti tens medo de admitir o que sentes. Tens tanto medo daquilo que os outros possam dizer que até te privas de ser feliz.
Peter interrompeu Mamma com brusquidão – Mamma deves estar a delirar! Achas por acaso que seria feliz com uma mulher assim ao meu lado? Vê-se mesmo que não me conheces. Eu só me preocupo, porque sou amigo dela, é como se fosse minha protegida...
- Amigo??? – Mamma falava cada vez mais alto, como se estivesse a discutir – Pois os amigos, ela também os pode arranjar em Delta. Mais e se calhar até melhores. E não me parece que ele precise de qualquer proteção, sabe se desenrascar muito bem sozinha, melhor do que muitos homens aqui da tribo. Não é mulher para ti? Pois eu acho que ela é muito mulher! Sabe muito bem o que quer e muito mais madura que tu! Acho mesmo é que tu não és homem para ela. Ela precisa de alguém mais maduro e moderno, coisa que tu não és. E tu podes continuar a andar com essas rapariguinhas que basta piscares o olho e vão logo para a cama contigo e que não te dão pica nenhuma, nem sequer te sentes atraído por elas. – E continuou – Agora, se queres ser feliz, vai ter com a rapariga e diz-lhe que queres que fique porque gostas dela, e que enfrentas tudo e todos por ela. Se quiseres ser infeliz, continua como estás, que vais no caminho certo.
- Pensas que sabes tudo Mamma! Mas não sabes!
Peter virou costas e entrou dentro da sua tenda. Mamma tinha-o deixado de rastos. Tocou em todos os pontos certos. Mas era demais para ele. Decidiu dormir, porque normalmente a noite era boa conselheira.
Anna estava no quarto, mas não conseguia dormir. Era muita confusão na sua cabeça. As palavras de Peter também não lhe largavam o pensamento. Como é que ele sequer pôs a hipótese de ela ficar na aldeia sozinha? Uma mulher só fica sozinha se enviuvar e ela nem sequer era casada e estava muito longe disso.
Levantou-se e foi ter com a mãe que já estava recolhida no seu quarto.
- Mãe estás acordada, posso entrar? – Disse batendo à porte ao de leve.
-Entra filha, ainda não consegui adormecer.
Anna entrou na cama e deitou-se ao lado da mãe, como muitas vezes fazia. Deixaram-se ficar em silêncio durante algum tempo. Depois D. São interrompeu.
- O que foi Anna, o que se passa nessa tua cabeça. Se vieste para ao pé de mim é porque tens alguma coisa a dizer. Fala filha!
Anna olhou para a mãe, hesitou por um tempo, depois respirou fundo como se estivesse a ganhar coragem.
-E se... é só uma hipótese. – Reforçou – E se eu quisesse ficar cá na aldeia, ficavas muito zangada? Achavas muito mal? Não era uma coisa para sempre... era até me cansar ou arranjar uma solução para o meu cavalo. Não sei mãe... o que achas?
Dona são respirou fundo, endireitou-se na cama e disse:
-Já estava a estranhar não teres vindo com essa conversa mais cedo. Obvio que acho mal, queria muito que viesses comigo...
-Ó mãe... - disse Anna a desesperar.
- Anna deixa-me acabar de falar! -Ralhou D. São-no entanto compreendo que já não és uma miúda pequena, sei que és responsável e tens muitas coisas que te ligam a esta terra, afinal foi aqui que nasceste e viveste a vida toda. Sei que te ias desenrascar sem problema, sem mim ao pé de ti, mas tenho receio que fiques sozinha. E não é pelos comentários que possa fazer, porque acho que toda a aldeia já te conhece e te aceita tal como és e sei também que és independente e não precisas da ajuda de minguem para nada. Mas fazes-me falta filha. É coisa de mãe... Os pais querem sempre ter os filhos debaixo das suas asas.
- Então já estavas à espera que eu te contrariasse?
- Como se eu não te conhecesse Anna! E o que vais decidir?
Anna agora já com um sorriso nos lábios que não conseguia esconder, respondeu: - Acho que amanhã vou contigo para Delta, mas só te vou lá pôr, porque volto a seguir na mesma carruagem. Só vou perceber se ficas bem e como é que ficas. Mas vou-te ver milhões de vezes, porque te adoro e és a mãe mais modernaça e melhor do mundo. - Anna abraçou a mãe e tiveram assim durante muito tempo.
Anna e D. São dormiram juntas naquele dia como que em sinal de despedida.
O dia amanheceu bonito no dia da partida. Peter acordou cedo, queria estar presente na altura que Anna fosse embora, podia ser que mudasse de ideias, mas duvidava. Esta com um humor terrível, não quis tomar o pequeno almoço e ninguém lhe podia perguntar nada sem receber uma má resposta.
Mamma estava toda arranjada junto à saída da tribo, mal viu Peter, dirigiu-se a ele e antes que falasse disse:
- Vou contigo à aldeia, preciso de fazer um recado! – Disse com ar decidido
- Aí não vais não! Vai com outro, não posso esperar por ti. Nunca precisas de ir á aldeia, porque é que vais hoje. Levo-te amanhã!
-Quero hoje e vou hoje contigo. Não há discussão. Se não me quiseres levar, vou sozinha! – Disse em tom de ameaça.
- Dass... Mamma. Tem que ser hoje?
-Tem! Ajuda-me a montar!
Quando chegaram à aldeia, já Anna e D. São estavam a pôr as malas e restante mercadoria na carruagem publica, que levava no máximo seis pessoas.
Anna já tinha falado com o vendedor de cavalos, que aceitou de imediato contratá-la, mas só quando viesse de viagem, o que ainda ia demorar alguns dias. Também já tinha avisado os amigos que ia só levar a mãe. Depois voltava. O ambiente estava descontraído e até divertido.
Peter desmontou e ajudou Mamma, o que não era fácil, devido ao peso elevado da mulher.
Quando Anna viu Mamma na aldeia, dirigiu-se a esta com passo apressado e com um sorriso no rosto. Nunca tinha visto uma mulher da tribo na aldeia e sendo Mamma melhor, pois achava-a um modelo a seguir.
-Mamma, estás cá hoje? - Perguntou de sorriso aberto.
Peter, deixou-se ficar para trás não queria falar com Anna com Mamma ao pé, por isso esperou que estas terminassem a conversa.
Quando se chegou mais próximo de Anna, Mamma respondeu baixinho.
- Vim só para te ver minha linda!
- A sério! – disse Anna admirada. - Então a que devo a honra?
- Vais mesmo embora?
- Não, decidi experimentar e ficar. Vou só levar a minha mãe, mas volto logo. Sei que se calhar é difícil para si compreender o facto de eu ficar sozinha, mas eu sou assim. Vamos ver como corre.
-Não é difícil Anna e estou muito orgulhosa de ti. Adoraria ter uma filha como tu. Porque és corajosa e decidida. Gostava que me fizesses um favor, pode ser?
- Claro, depois de tanto elogio não poderia negar-lhe nada! – disse Anna piscando-lhe o olho.
-Não digas ao Peter que voltas. Acho que ele precisa de aprender uma lição. Se lhe disseres que só vais levar a tua mãe, ele fica descansado e vai continuar a comportar como o mesmo imbecil de sempre. Se lhe omitires esse facto, pode ser que ele abra os olhos.
-Oh. Mamma! Porque é que insiste nisso. Nunca vai dar certo. E eu não preciso de sarna para me coçar. Para ele vai ser igual eu ir ou voltar.
- Não vai não! Fazes-me este favor!
- Eu faço. Se ele não me perguntar diretamente, porque mentir não consigo. Mas para quê?
- Porque eu gosto daquele menino, como se de um filho se tratasse e a coisa que eu mais quero é que ele seja feliz. Mas para isso ele tem que lutar por aquilo que quer.
Mamma e Anna abraçaram-se e despediram-se. Mamma seguiu a sua vida e foi inventar algo que fazer na mercearia. Só tinha ido à aldeia para falar com Anna. Nada mais.
Peter aproximou-se e ajudou Anna a pôr uma mala na carruagem, depois pegou-lhe no pulso e puxou-a para trás da carruagem para estar mais a vontade.
Encostou Anna à carruagem e colocou-se à frente dela, segurou-lhe nas mãos e disse-lhe, com ar indiferente.
-Sempre vais?
-Sim, tenho que ir, Peter! Tenho que acompanhar a minha mãe. – Anna estava desejosa de lhe contar da sua decisão, mas tinha prometido a Mamma.
-Tu é que sabes! - Disse Peter em tom ríspido- não te vou pedir mais para ficares, porque acho que não me vais fazer a vontade. Espero que não te arrependas!
Só lhe apetecia dizer que queria estar com ela e que iria ter muitas saudades. Mas não foi capaz. Era demais para ele e não ia adiantar de nada. Ela era teimosa e nunca iria mudar de ideias.
Peter deixou Anna encostada à carruagem e foi procurar Mamma apressadamente. Só lhe apetecia sair dali e desaparecer. Não sabia porque se estava a sentir daquela forma, parecia que tinham arrancado um pedaço dele. Nunca se tinha sentido assim.
Anna partiu com a mãe. Tinha-a deixado triste ter deixado Peter sem lhe dizer que voltava, mas tinha feito uma promessa e ele nunca lhe perguntara se ela voltava, por isso não tinha mentido. Mas sentia como se o tivesse enganado.
Pensou: - também daqui a menos de nada já nem se lembra quem eu sou! – este pensamento deixou-a triste, até porque ela acreditava mesmo no que tinha pensado.
Peter chegou à tribo com Mamma, desmontou e fechou-se na sua tenda, durante todo o caminho não tinha trocado uma única palavra com Mamma. Mamma sabia o que o importunava, mas não insistiu, ele tinha que aprender a lição. Deixar de ser rapaz e tornar-se num homem a sério. Tinha que aprender quais as suas prioridades e dar valor ao que realmente é importante sem se preocupar com as opiniões dos outros.
Passou o resto da semana insuportável, parecia que todos lhe deviam e minguem lhe pagava. Implacável com toda a gente, falava só o necessário e seu refúgio era no trabalho, nunca tinha trabalhado tanto na sua vida como naquela semana.