Era costume desde quando casamos, sempre fazia seu café, ele gostava das minhas panquecas, esse tempo nossa relação era razoável. Faz apenas dois anos que estamos juntos, fora a parte perfeita que foi o período do namoro que durou apenas cinco meses.
- Não, não é necessário - me impediu, e pôs a mão em meu rosto.
- Porque me acordou? - perguntei, aceitei seu toque.
- Queria ver esse belo azul - falou olhando fascinado para meus olhos. - Você é tão linda - suas expressão era curiosa e admirável. - Se levante!
Apertei as pernas uma na outra por baixo dos lençóis. Me levantei, ficando sentada na cama, seus olhos não desgrudaram dos meus, meu corpo fora das cobertas, provocaram arrepios, e não foi de frio.
- Diga que me ama! - ele pediu, fechou os olhos.
Aquela não era a primeira vez essa semana que pedia para ouvir isso, apesar de sentir esse sentimento tão doloroso, não seria capaz de dizer novamente em voz alta, não para ele.
- Cristian... - mordi os lábios.
Seus olhos acinzentados devoradores que me davam medo estava novamente focado em mim. Christian era irresistível, mesmo que fosse descontrolado, seu jeito aparentemente calmo e centrado o deixava sexy, charmoso. Seus dedos fizeram uma trilha por minha barriga, indo até meus seios, seus dedos circularam os chupões feito por ele.
Seu toque a maioria das vezes me machucava, mas quando delicado, conseguia me fazer esquecer de tudo, inclusive a sua verdadeira face. Fechei os olhos voluntariamente, gostava quando tocava com carinho no meu rosto e assim ele fazia agora.
- Não está marcado ... - abrir meus olhos quando ele falou.
- O quê? - perguntei perdida.
- Nosso desentendimento de ontem, não tem nenhum hematoma amostra - amassa com seu dedo no lado esquerdo, onde deu-me um soco.
A palavra que usava sempre era essa "Desentendimento".
- Oh, Não ficou! - sorri nervosa.
- Melhor se comportar - puxou meu rosto para perto do seu, seu toque agora era grosseiro. - Quando chegar quero que sua irmã, insuportável, não esteja mais na nossa casa.
Deu três tapinhas no meu rosto e saiu da cama. Mencionei meu pequeno problema de pressão, Christian era um veneno para mim, mas conseguia controlar a maioria das vezes. A única coisa que não controlava, era meu coração.
Algum tempo depois.....
- Lia!! - andei animada até a porta para receber minha irmã.
Ela por outro lado não pareceu animada quando me viu, sua atenção foi completamente para Cristian.
Segurei-me para não demonstrar o incômodo que me causou, e principalmente a decepção. Lia não havia mudado nada.
- Oi Ana... - sorriu com falsidade, conhecia ela. - Ah, Christian! Como você está? - sorriu abertamente para ele.
Nem sabia que em sua boca havia tantos dentes, que naquele momento queria arrancar.
- Sempre estou bem - puxou-me pela cintura, me deixando presa a ele. - Ter essa mulher todos os dias, é uma maravilha - falou deixando Lia com cara de maracujá.
Olhei para ele e sorri, ele continuou com sua expressão séria.
- Minha irmã parece um pouco magra - ela sempre procurava falar de meus defeitos.
- Ela está perfeita, do jeito que gosto - bateu na minha bunda, tirando um gritinho da minha garganta. - Tenho que ir - beijou meus lábios, mas não foi rápido, sua língua teve que tocar a minha.
- Pensei que fosse tomar café com sua cunhada - Lia parecia uma mulher desesperada por atenção.
Jamais pensei que alguém pudesse ficar pior com o decorrer do tempo. Tenho esse exemplo dentro de casa, mas nossa família sempre foi tão simpática e correta, pelo menos eu e minha mãe.
- Não tenho prazer em fazer isso, e nem tempo - pegou sua maleta.
Algo que admirava em Christian era sua sinceridade e coragem de falar as coisas sem se importar com quem fosse.
- Porque está me olhando desse jeito? - perguntou revirando os olhos.
- Você não mudou nada, Lia - suspirei triste.
- Estou como sempre fui, Ana. Deixe de ser sonsa - jogou sua bolsa no chão. - Estou faminta, irei comer - fez careta.
Não faria questão de começar assunto com Lia, não com essa que é presunçosa.
Alguns minutos depois...
- Você não sai? - ouço uma voz chata.
Os dias aqui eram sempre os mesmo, a única coisa que mudava eram as posições, e lugares que Christian me punia por míseros detalhes.
- Não - respondo, estou deitada no sofá.
- Como consegue sobreviver aqui? - faz gestos com as mãos. - Bom, você tem o Christian que é um belo motivo para ficar trancada.. mas agora ele não está aqui. O que costuma fazer? - se joga em cima de mim.
Costumo passar horas na frente do espelho, passando maquiagem no meu rosto, para caso alguém resolver fazer uma visita surpresa.
- Não tenho nada para fazer - empurro seu corpo para sair de cima do meu.
- Vamos tomar banho na piscina - sugere.
- Não, Lia - não preciso que ninguém veja as obras de arte de Christian.
- Ah, que saco - se levanta. - Se soubesse que fosse ser assim, não teria vindo para cá. Quero me divertir, Ana.
- Deveria vir, com a intenção de me ver, Lia. Sabe como estou - falei ressentida.
- Pra quê? Sei que você está ótima. Olha onde você mora, o marido gostoso que tem, como alguém não poderia estar bem?
- Esqueci com quem estou falando - me levantei, e saí da sala.
O que se esperar da própria família? As pessoas são muito artificiais, acham que ter dinheiro, coisas caras e bonitas, tornam as pessoas felizes, elas não são se não tiver amor.
Subi para meu quarto, sempre tive curiosidade de saber das coisas de Cristian, sei apenas aquilo que contou e sua mãe que soltou algumas coisas, mas nada sério. O assunto aqui é proibido quando se trata de uma mulher chamada Cristina, peguei certo dia Cristian falando dela para sua mãe.
Me sinto um fantoche nas mãos de Christian, ele faz o que quer comigo. Não tenho livre arbítrio.
Pego a misteriosa caixa que fica por trás de seus paletó, minha curiosidade sempre gritava para ver o que havia ali dentro, a última vez que tive coragem para mexer, ela estava fechada num pequeno cadeado de prata.
A coloco no chão, ela é um pouco pesada. Não sabia se era coisa do destino, para finalmente saber o que tinha ali dentro ou era para minha desgraça ver as coisas que não me eram permitidas saber. O cadeado estava destravado, era sinal que Christian andou recordando.
Criei coragem para abrir, meu coração saltou, sorri com tristeza. Era foto de uma mulher e ele estava atrás dela sorrindo, ele parecia feliz.
Sentei no chão mesmo, não quis olhar mais nada. Esperei tantas oportunidade para ver por dentro daquela caixa e no momento sinto arrependimento por ter ainda mais certeza que Christian não me ama, ele faz aquelas coisas comigo porque não tem mais ela, ou tem?
- Ana! - levantei com rapidez. - O que aconteceu? - perguntou.
Limpei rápido meus olhos.
- Nada ..
- Ah, estava vendo as fotos do casamento - entrou no closet e pegou uma caixa um pouco mais fina que eu mexia, e virou para mim, mostrando minha foto com Cristian.
- É, estava vendo - peguei a caixa com a amante do Christian e botei no lugar do jeito que estava.
- Ah, você está nua nessa foto?
Puxo a foto da sua mão, e arregalei os olhos, estou deitada na cama, e dormindo... estou dormindo?
- Parece que estou ... - falo ainda olhando para foto.
- Ele é louco por você! - fecha a caixa e me dá.
- Com certeza - concordo, o louco que adora ver meu corpo marcado.
Guardei a caixa que, para minha surpresa e completo espanto, está cheia de fotos minhas, algumas estou com ele.
Chega de dar uma de investigadora, encerro o caso, descobrindo um belo chifre na cabeça. Mas o que posso fazer? Christian não é o homem que pode ser confrontado, não quando não se tem coragem e amor pela vida.
- O que você queria, Lia? - lembro, ela foi atrás de mim, com certeza era para pedir alguma coisa.
- Lia, minha gostosa!! -
Arregalei os olhos quando vi um homem alto, ruivo, agarrar Lia a levantando.
- Lia!!! - a chamei.
- Queria ele .. ia dizer que convidei ele - sorriu sacana.
- Você não podia ter feito isso - olhei para o estranho, que agora me encarava.
- O que tem demais?
- Christian! Lia, ele não gosta disso .
- Ele não vai saber, Ana, relaxa. E não tem com que se preocupar, ele é meu namorado - abraçou ele.
- Preciso falar com Christian, agora!
- Diz por favor que ele é engenheiro, e que não tem vinte anos - pediu juntando as mãos.
Não tinha essa de idade com Christian, ele não gostava de homem algum dentro dessa casa, ou pior dizendo, perto de mim. Ele tinha ciúmes até de meu pai.
- Me dá teu celular - pedi.
- Pra quê?
- Para ligar para ele - bati na testa dela.
Peguei a agenda com os números anotados, não sabia o número da empresa, o fato de não ter um celular próprio, dificultava muito minha vida. Os telefones da casa eram monitorados por ele, caso eu tentasse alguma coisa.
Olhei na agenda, procurando pelo nome, vi o do Lucas, o médico que pôs em perigo.
Aperto o celular no meu peito, que está apertado por ter lembrado dele. É arriscado mas devo tentar pelo menos ver se está bem.
Disquei o número, e penso mais vezes se ligo. Que minha última ação seja boa, para quem sabe salvar alguém. Aperto o botão para chamar.
" Olá aqui é Luccas, deixe seu recado ou mensagem de texto..."
Bufo!! Droga ....
Ouço o grito de Lia na área da piscina.
- Senhora! Sr Ferri, concedeu a presença desse homem aqui na propriedade? - olhei para trás e vi Taylor.
Ele era o chefe da segurança, estranho ele não estar com Christian. Ele sabia que Christian não permitia outro homem aqui, a não ser que estivesse presente e fosse importante. Isso era basicamente um teste, tudo ele contava para Cristian.
- Não, Taylo - deixei o caderno de lado.
- Irei fazer isso agora - informei.
Taylor acenou com a cabeça e saiu.
Procurei pelo contato de Christian na agenda de Lia. Respirei fundo quando vi o nome dele salvo 'Meu sonho" Ignorei a besteira de Lia.
Pela noite ....
Ouço uma batida na porta, coloco o brinco e termino de ajeitar meu cabelo.
- Pode entrar - falei.
- Senhora, o sr Ferri a espera na sala de jantar - informou a governanta.
- Já irei descer - sorrir minimamente.
Cristian não se agradou com a presença do namorado de Lia, mas permitiu.
Era estranho ele ficar lá embaixo, geralmente ele sobe para tomar banho, e me interrogar.
Ainda sentia uma dorzinha no peito, pelo o que vi naquela caixa, tinha vontade de perguntar para ele a respeito, ela era um passado ou presente dele.
Desço as escadas com calma, contando distraidamente em pensamentos, isso me ajuda a transparecer uma feição calma e serena.
- Boa noite! - falo quando chego na sala.
Christian está sentado na sua cadeira, enquanto Lia com namorado estão de pé.
- Boa noite, Srta Ferri - o namorado de Lia se aproxima e estende a mão. - Não tive o prazer de me apresentar melhor pela tarde.
Seguro sua mão, Christian foca em nós dois.
- É um prazer ..? - espero que ele diga seu nome.
- Diz seu nome, Amor! - Lia praticamente grita.
- Aaa... meu nome é Georg.. George Lucas - ele estava nervoso, e ainda não havia soltado minha mão.
- Solta a mão da minha mulher! - falou Christian, mas não se levantou.
George sorriu, mas não constrangido, ele piscou e se afastou. Fiquei esperando Cristian falar alguma coisa para mim, mas se manteve calado, apenas me olhando.
- Ana, ligaram para você - Lia falou, Christian olhou para ela.
- Não tenho celular, Lia - falei.
- Não boba.. para meu celular - tirou ele do bolso.
Para minha desgraça, o celular começou a tocar.
- Deve ser ele.... - olhou a tela do celular. - É ele mesmo, salvei o numero dele.
- Quem é? - Cristian se manifestou.
- Luccas ... doutor Luccas!
Fechei meus olhos, minhas mãos começaram a tremer.
- Não chora! - Christian já estava perto de mim, e segurava meu cotovelo de maneira normal perante os outros.
- Lia, dê o celular para Ana - ela pode não ter percebido, mas aquilo foi uma ordem.
- Ele tem uma voz bonita, Ana - sorriu saliente, e me entregou o celular.
Peguei o celular e atendi, mas não tive coragem de falar... O aperto de Christian aumentou no meu cotovelo, seu olhar era amedrontador.
- Fale, Amor - incentivou. - Agora, Analice! - sussurrou.
"Luccas!!" engolir em seco.
"Analice, obrigado por acabar com a minha vida " falou tossindo.
Sua voz estava fraca, meu coração despedaçou com suas palavras.
" Não, não.. não por favor não me mate, tenho que cuidar da minha família...." ouvir o som de vários tiros.
E o apito da ligação encerrada.
- Disse para você se comportar, Ana - tirou o celular da minha mão trêmula.
Entregou para Lia que estava concentrada em sua bebida junto com George.
Deixei uma lágrima cair.
- Parece que você gosta de receber o pior de mim - limpou a lágrima, impedindo que escorresse pelo meu pescoço.
- Odeio você, Christian! - minha voz saiu baixa.
- Vamos subir! - pegou minha mão, sua voz era carregada de ódio. - Se sirvam façam o que quiserem, irei cuidar da minha mulher.
Travei no lugar, olhei para Lia, George. Talvez aquela fosse a última vez que os veria.
Não, não irei morrer. Mas o que Christian faz, com certeza a morte parece a melhor opção.