Capítulo 4 A proposta.

AMAYA

Nossa situação vem se tornando cada vez mais complicada, os funcionários comentam nossa situação, os contratos que conseguimos recuperar não cobriram os gastos com a produção, e as multas de outros tantos contratos perdido. Hoje um jornalista nos ligou querendo saber se estamos dispostos a falar com ele em primeira mão sobre a possível crise que a empresa está atravessando. A verdade é que, até os amigos próximos querem tripudiar em cima do nosso sofrimento, papai anda tão abatido, o pobrezinho até perdeu alguns quilos, o coitado mal dorme ou come, de tanta preocupação, ele passa o dia tentando buscar formas de dar a volta por cima.

Mais um dia nasce, o desanimo para levantar e enfrentar toda essa situação tenta me dominar. Nunca fui conhecida por me deixar abater e ser uma covarde, isso não vai mudar hoje! Levanto decidida a tentar buscar uma solução eficaz para mudar o rumo dessa situação.

Quando chego a mesa do café da manhã, observo que a mesa já não estava tão farta, o numero de empregados na casa diminui.

- Bom dia mãe.

Beijo seus cabelos sempre cheirosos, me sento a sua frente.

- Bom dia filha.

- Onde está meu pai?

- Saiu cedo pra uma reunião importante.

Tomo um longo de meu café, tentando deixar que a cafeína melhore esse dia. Minha mãe se remexe na cadeira, com um dedo ela alisa a borda da xicara do seu café.

- Aconteceu alguma coisa mãe?

- Preciso conversar com você, e não sei como falar.

As palavras dele me deixa confusa, minha mãe não é uma mulher de rodeios, então o assunto deve ser muito delicado.

- Pode falar mãe, a senhora não é de rodeios.

Levo minha xicara mais uma vez aos lábios.

- Sei que não é a melhor solução para os nossos problemas, mas...

Ergo meus olhos, a observando pela borda da xicara, minha mãe parece nervosa. Dona Lúcia é uma mulher tão linda, ela suspira pesado, ajeitando uma mexa de cabelo atrás da orelha direita, observo seu rosto cansado, ela não tem dormido direito, não a julgo, nenhum de nós consegue ter uma boa noite de sono a dias.

- O Henrique Albuquerque. - Um dos muitos amigos de papai, de golfe pelo que me lembro. - Dono da Holister Empreendimentos, fez uma proposta ao seu pai, um pouco antiquada, mas que talvez possa vir a ser a nossa salvação.

Os pelos do meu corpo se arrepiam com a meia noticia.

- Porque sinto que estou diretamente envolvida nisso? - Coloco a xicara sobre a mesa, olho em seus olhos lhe dando minha total atenção. - Vamos lá, me diga, qual foi a proposta?

Minha mãe suspira enquanto gira a aliança no dedo, um sinal de que está pensativa.

- Ele propôs ao seu pai uma sociedade. - Abro um sorriso já na esperança de que tudo será resolvido. - Henrique quer reerguer a empresa, mas claro que isso não vai ser de graça.

Claro que não seria, a Holister é uma multinacional de fundos de investimentos, muito bem estruturada e sólida no mercado, na verdade, não consigo entender o que esse homem poderia querer com meu pai, muito menos como isso me envolveria.

A ideia de ter um sócio não é de tudo ruim, papai é dono de oitenta por cento das ações da empresa, ele abriu mão só de vinte por cento, para adquirir capital, o que foi bem inteligente, nenhum sócio tem o poder de tirá-lo da presidência da empresa, então não vejo problema de um sócio, desde que, papai se mantenha o majoritário, claro!

- Ele quer quarenta por cento das ações do seu pai, com uma condição estipulada de não reivindicar a presidência e ...

O olhar de mamãe se desvia do meu.

- E? - Incentivo ela a continuar falando, apesar de sentir dentro de mim que não vou gostar da resposta, sou corajosa o suficiente para voltar a questionar. - Fala logo mãe!

- A outra condição é que você se case com o filho dele.

Eu começo a rir, muito, tanto que levo minha mão a barriga quando ela dói.

- O filho dele, Vicente, não sei se você conhece. - Paro de rir prestando atenção no quanto ela está séria. - Ele tem vinte e sete anos, uma a mais que você, ele tem por habito curtir a vida, um pouco sem limites. O rapaz não parece estar de acordo com as vontades do pai.

- Você o quanto tudo isso é ridículo, mãe? Estamos no século vinte e um, ninguém mais se casa por acordo financeiro.

- Na verdade filha, você se surpreenderia como isso é comum em meio as famílias abastardas.

Olho para ela procurando algum indicio de brincadeira, não encontro. Inacreditável, é simplesmente inacreditável!

- O meu pai está de acordo?

- Não. Também não estou filha, só quis te mostrar uma opção. Seu pai foi atrás de um grupo de empresários hoje. A verdade Amaya é que não vemos mais saída, todos os nossos bens estão bloqueados, estamos afundando rápido.

Fecho os olhos resignada, ouvir a verdade dói, estamos afundando tão rápido quanto o Titanic, a diferença é pelo que parece meu Jack é um play boy idiota.

- Então eu serei o cordeiro do sacrifício?

As palavras em tom sarcásticos, escorregam entre meus lábios, eles são acidas, ditas na intenção de magoar, ferir. Mesmo entendendo que em momentos de desespero, tendemos a tomar medidas desesperadas, minha cabeça se nega a aceitar.

- Não é bem assim filha, se você aceitar o acordo, podemos estipular um prazo de validade.

Sorrio sem graça.

- Você está se ouvindo mãe? Não sou uma mercadoria para ser barganhada.

- Eu sei meu amor. - Ela respira com dificuldade, deixando as lágrimas alcançarem os olhos. - Foi o Antônio quem nos meteu nesse buraco, sei pai teve sua parcela de culpa, apesar de tudo não temos ideia de como sair dessa situação.

Ela está certa, não temos mais como adiar o inevitável, estamos com pouco dinheiro e muitas contas a pagar.

- Isso é loucura mãe, loucura! - Minha voz sai em uma suplica.

Levo minhas mãos aos cabelos, esfrego meu rosto, eu serei sacrificada, é assim que me sinto. Um aperto forte me vem ao peito, uma voz dentro de mim, sabe que vou sofrer.

- Se ele fosse realmente amigo do papai, ajudaria sem querer nada em troca. - Levanto da mesa chateada com o rumo dessa conversa. - Preciso pensar mãe.

- Sinto muito querida, não queria te colocar em uma posição de ter que assumir uma responsabilidade desse tamanho, mas estamos no fundo do poço!

Ela se levanta e me abraça, com lagrimas nos olhos, retribuo seu abraço e a beijo no rosto, sei que não é o que ela queria para mim, a situação chegou a um ponto que talvez não haja mais escolhas.

Me afasto dos seus braços, calada pego minha bolsa e chaves, sigo pelas ruas movimentadas de São Paulo, pesando em tudo que terei que abrir mão por esse casamento, será que vale a pena?

É uma loucura juntar duas pessoas que nunca se viram em matrimônio, somos dois desconhecidos as chances desse casamento dar muito errado são enormes. Fico me perguntando, será que vale a pena todo esse esforço? Sacrificar minha vida, a minha felicidade?

Preciso pensar muito em tudo isso, e entender o que está acontecendo de verdade!