- Tem medo de mim, mas não de sair pela noite pra conhecer um homem que pode ser seu assassino?
- Cassandra, você precisa parar de assistir séries de suspense e investigação. Está ficando paranoica!
- Isso não tem nada a ver com séries, mundos imaginários. É a nossa realidade e parece que você vive em uma bolha, Catarina!
- Eu apenas não aceito viver no seu mundo de medo.
Realmente exausta de brigar com ela sobre isso, decido ir para o meu quarto.
- Hoje você voltou pra casa bem, mas pode ser que dá próxima vez eu te perca!
Ela vem andando atrás de mim e quando entro em meu quarto, não me deixa fechar a porta.
- Você não me escuta!
- Escuto!
Digo quase gritando e olhando em seus olhos.
- Mas eu não vou deixar suas loucuras, paranoias e tudo mais me impedirem de encontrar alguém legal.
Seu corpo relaxa e odeio quando me olha culpada assim.
- Não quero te impedir de encontrar um cara legal. Mesmo sabendo que não existe cara legal no mundo.
Se aproxima e me abraça forte.
- Só quero te proteger!
- Tente fazer isso sem me sufocar.
- Você é a única coisa que eu tenho, Catarina!
Me entrego ao seu abraço e respiro fundo.
- Não sou imprudente! Confie em mim!
- Você está marcando encontro com desconhecidos! Usa sites de namoro, faz montagens de bebês com estranhos. Como posso confiar em você?
- Pedi pra confiar e não achar que sou normal!
Nós duas rimos.
- Todo mundo tem um pouco de loucura e essa é a minha.
Nos separamos e começo a tirar a merda do vestido.
- Você voltou sem maquiagem.
- Estava me incomodando.
Começo a colocar meu pijama e vejo Cassandra deitar na minha cama.
- Vai me contar como foi?
- E ouvir mais um discurso de mãe super protetora? Não!
Vou para o banheiro e lavo meu rosto.
- Prometo ficar caladinha!
Escovo meus dentes e tento pensar se é uma boa ideia contar que levei um bolo de um desconhecido e fui parar em um boteco. Termino de escovar os dentes, seco minha boca, mãos e volto pro quarto.
- Vem! Me conta tudo!
Ela já está embolada no meu edredom, dando espaço pra mim.
- Vai dormir comigo?
- Vou! Odeio brigar com você.
Me deito ao seu lado e ela nos cobre. Viramos de bruços, agarramos nossos travesseiros e ficamos nos olhando.
- Me conta tudo! Onde marcaram de se encontrar?
- Em um bar bem aconchegante de um amigo dele.
Minto, tentando de todas as formas não deixa-la perceber. Cassandra me conhece muito bem.
- Qual o nome?
- Não me lembro agora!
Bar do Juca não é algo que ela deva saber.
- Quem chegou primeiro?
- Ele!
Respondo rápido e nervosa.
- Está me escondendo algo!
- Não!
- Continua!
- Cheguei e estávamos tão nervosos que ficamos em silêncio por um longo tempo.
Ela está em silêncio até agora! Minha mente acusa e tento não rir.
- Quem quebrou o gelo?
- Ele!
- Como?
- Pedindo tequila.
Me lembro de quando bebi tequila com o Gustavo.
- Como ele é?
Oh merda! Não faço ideia de como é o Osvaldo. Karen não me mostrou foto, então não sei como descrever.
- Está pensando demais!
- Tentando lembrar dos pequenos detalhes.
Fecho um olho pensando.
- Alto, loiro, olhos verdes, nariz levemente grande e tem a barba da mesmíssima cor do cabelo.
Eita! Acabei de descrever o Gustavo!
- Um Deus grego!
Minha irmã comenta e rimos juntas.
- Qual o nome do cara?
- Apolo!
Respondo agora gargalhando e ela me acompanha. Que o Gustavo me perdoe, mas vou usa-lo como "o cara do encontro", essa noite.
- Estranho!
- Pois é!
Digo tentando controlar o riso.
- Você gostou dele?
Sua pergunta me faz refletir. Gustavo é lindo, parece ter um coração maravilhoso e acima de tudo é encantador.
- Sim!
Respondo de puro coração.
- Foi a resposta mais sincera que me deu hoje.
- É porque eu realmente gostei dele.
- Vão se encontrar de novo?
- Não!
- Por que?
Solto um longo suspiro e tento achar uma forma simples de responder.
- Ele é muito areia pro meu caminhãozinho.
- Só por que o cara é alto?
- Não! É porque ele é típico cara que namora modelos, deusas, atrizes, mulheres incríveis e poderosas.
- Mas ele foi se encontrar com você e não com uma dessas mulheres.
Dou um tapa em seu braço e Cassandra ri alto.
- Era pra dizer que sou uma mulher incrível e poderosa!
Tento parecer magoada.
- Você é!
- Cala a boca!
Cutuco sua barriga várias vezes e ela se contorce na cama.
- Para!
Quando perde o fôlego me abraça. Suspira e ficamos um pouco em silêncio.
- Catarina!
- Oi!
- Você é a mulher mais incrível que eu conheço! Qualquer homem seria um idiota em não ver isso.
- Cassandra!
- Hum!
- Você fala isso porque sou a única pessoa na sua vida.
- Cala a boca e nunca mais diga que é pouca coisa pra macho escroto.
Não digo nada e apenas me acomodo em seu corpo pra dormir.
- Eu te amo!
- Também te amo!
**************
QUATRO DIAS DEPOIS
Pego minha bolsa e percebo olhos curiosos me seguindo.
- Um encontro?
- Sim!
- Apolo?
- Não!
Ela solta um longo suspiro e sei que se controla pra não surtar.
- Cuidado!
- Pode deixar!
Mando um beijo e recebo de volta um revirar de olhos.
- Vou te esperar acordada, então não chegue tarde!
- Tchau!
**************
Entro no bar e já procuro o Gustavo no balcão. Resolvi vir uma hora antes do horário marcado pra conversar com ele. O encontro atendendo duas meninas cheias de sorrisos pra ele. O infeliz está flertando com elas? Mas são clientes! Olho em volta e decido ir para uma mesa qualquer, longe dessa cena bizarra. Me sento e não consigo deixar de olhar novamente pra eles. O pior é que as duas garotas são lindas pra caramba. Uma morena maravilhosa como a Cassandra e uma ruiva exótica. Decido evitar olha-lo e puxo meu celular do bolso. Que maravilha! Uma hora procurando o que fazer pra não ficar olhando safadezas alheias. Espero pelo menos que esse Caio chegue mais cedo e me tire desse momento estranho.
- Cat!
Viro a cabeça e me deparo com um enorme sorriso pra mim.
- Gust!
Gustavo começa a rir alto e para a minha surpresa se senta a minha frente, na minha mesa.
- Encontro?
- Sim!
- Esse também não vem?
- Vim mais cedo, mas se Deus quiser esse vem.
Tomba a cabeça de lado, vendo minha roupa.
- Está linda!
- Me mandou vir como sou!
Dou de ombros e espero que Caio me aceite de jeans surrado, all star e blusinha preta básica. Estou usando pelo menos brincos de argola e uma corrente bonita!
- Seu cabelo ficou legal assim!
- Chama rabo de cavalo! Valoriza o pescoço que eu não tenho!
Ele começa a rir alto.
- Você tem pescoço!
- Não! Tenho uma papada que dividi minha cabeça do tronco.
Sua risada chama a atenção das duas meninas no balcão. Elas saem de onde estão e vem pra perto da gente.
- Gu, você pode fazer aquela bebida deliciosa pra gente?
- Vou pedir pro Valdir servir vocês! Estou dando uma pausa!
Pisca pra elas que, não parecem felizes. Ele se levanta, some e as coisinhas voltam pro balcão. Em alguns minutos o Gustavo volta com uma porção de fritas e duas cervejas.
- Me fala desse cara!
- Não tenho nada ainda pra dizer! Encontro de site de relacionamentos. Juntaram o meu perfil e o dele e estamos aqui pra ver o que rola.
Pego uma batata e enfio na boca.
- Nossa! Isso aqui é bom!
- Meu tempero secreto!
Pisca pra mim e percebo que usa como charme essa piscadinha. Pego mais uma batata e quando coloco na boca, chupo os dedos. Ele ri de tudo que eu faço e isso começa a me irritar.
- Qual a graça?
- Estou tentando achar o seu pescoço!
Gargalha alto e chuto sua perna por baixo da mesa.
- Você roubou o estoque de pescoço que tinha no céu! Pescoço, pernas e braços. Vim parecendo um dinossauro e você uma girafa.
Ele chora de tanto rir.
- Desculpa o comentário, mas sua bunda larguinha parece mesmo de um dinossauro. E os bracinhos curtos comendo batata.
Jogo uma batata nele que pega no ar e enfia na boca.
- Fico feliz que te faça rir feito uma anta acasalando.
- Catarina!
Olho pro lado e vejo um homem.
- Sou o Caio!
Olho para o Gustavo e dou um sinal com a cabeça pra vazar.
- Com licença!
Me levanto e estico minha mão.
- Prazer!
Ele é um pouco mais alto do que eu, tem cabelos pretos super organizado na cabeça, um bigode nada sensual e usa óculos. Um mistura de anos 80 com nerd.
- Senta!
Peço soltando sua mão e nos sentamos. Ele me olha! Olho pra ele! Ninguém fala nada e isso não me agrada.
- Quer batata?
- Não! Acho que não devia comer isso! Sabe Deus como foi feito! Olha esse lugar!
Fala com cara de nojo e ergue o copo limpo a sua frente, tentando achar alguma sujeira.
- Por que escolheu aqui? Podemos pegar alguma doença.
- Caio, me fala sobre você!
Peço pra ver se impeço essa boca de só falar merda.
- Sou gerente de um setor financeiro! Moro sozinho em meu apartamento quitado e tenho um carro, também quitado.
- Certo! Acho que isso não vai dar certo.
- Por que?
- Sou decoradora de ambientes, moro com a minha irmã em um lugar alugado e não tenho carro. Sou completamente perdida no mundo e desorganizada. Amo lugares assim!
Essa parte estou mentindo! Isso aqui é realmente mal cuidado e administrado, mas é um lugar legal e tem um cara legal.
- Acha que eu devo ir embora?
Confirmo firmemente com a cabeça.
- Certo!
Ele se levanta sem graça e vai embora sem olhar pra trás. Vejo no balcão o Gustavo com as coisinhas e acho que também devo ir embora. Deixo dinheiro que imagino pagar as fritas e a cerveja e sigo para fora do bar. Assim que passo pelas portas, alguém segura meu braço.
- Onde vai?
Olho a mão me segurando e subo para o rosto.
- Ir embora! O encontro já acabou!
Gustavo sorri e solta meu braço.
- Fica!
- Pra que?
- Quero te mostrar uma coisa!
- Acho melhor ir!
- Por favor, fica!
Seus olhos verdes pedindo pra ficar é de amolecer pernas e coração.
- Só um pouco!
Sorri e pega minha mão.
- Não vai se arrepender.