Sorri todo safadinho e não sei se é por ficar com as coisinhas ou pelo Gustavo que me arrasta pra algum lugar. Ai caramba! Isso é algum sinal entre eles pra pegar mulher? Estou sendo levada pro abate? Ele me quer? Olho para o Gustavo que não parece excitado, louco pra transar, mas sim pra mostrar de verdade algo importante. Novamente caio na real de que não sou atraente como as coisinhas pra ele.
- Vem!
Entramos atrás do balcão e seguimos para uma porta bang bang, estilo faroeste perto do freezer com as cervejas. Abre a porta e esquecendo que elas vão e voltam muito rápido não segura a infeliz que vem com tudo na minha cara.
- Aí!
Meu nariz lateja, meus olhos lacrimejam e o idiota está rindo.
- Desculpa!
Me ajuda a passar pelas portas e segura meu rosto em suas mãos.
- Mil desculpas!
- Sempre quis fazer uma plástica no nariz. Obrigada por isso!
Beija minha testa e me leva para uma cadeira. Me sento e fecho os olhos, sentindo a dor tomar meu rosto todo.
- Vou pegar gelo.
Mantenho meus olhos fechados e só escuto o barulho que faz abrindo as coisas.
- Toma!
Segura minha mão, coloca um pano gelado e levo ao meu rosto, sentindo a dor acalmar.
- Se a sua intenção era me cegar antes de me mostrar algo, atingiu com perfeição seu alvo.
Sua risada me faz sorrir.
- Esqueci de segurar a porta. Estou empolgado demais!
Tiro o pano do meio do rosto e aos poucos vou abrindo os olhos. Foco em seu sorriso encantador e tento não suspirar. Ele tinha que ser tão lindo assim? Devia ser o tiozinho do bar, todo largado e curtido na pinga.
- Acho que já posso conviver com a dor, mas vou ficar passando a toalha no rosto pra ajudar.
- Certo! Preparada?
- Sim!
Sai da minha frente e me mostra uma linda, impecável e invejável cozinha industrial.
- Te apresento meu mundo, meu sonho!
- Uau!
Parece que estou na cozinha de um restaurante.
- Parece que entrei em um armário e saí em Narnia!
Gustavo ri alto e ando pelo espaço lindo e bem cuidado.
- É sério! Bar e cozinha são totalmente opostos! Como pode isso?
- Senta aqui perto de mim.
Puxa a cadeira para uma bancada. Me sento e o vejo ir pra geladeira.
- Minha paixão é cozinhar! Fiz cursos de muitas coisas e me achei nos lanches. Gosto de inventar uma combinação perfeita para pão, carne, molhos, queijos e outras coisas. Estou testando meu menu de lanches e queria muito te usar como degustadora.
- Uau!
Digo completamente em choque.
- Isso explica aquelas batatinhas incríveis.
- Sim! Faço para acompanhar os lanches. Tenho outros acompanhamentos, mas hoje te mostrarei apenas os lanches.
Pega um monte de coisas da geladeira e vem equilibrando nos braços, todo torto. Ele é descoordenado e fofo ao mesmo tempo. Coloca tudo sobre a bancada, pega no armário outras coisas e volta.
- Esses pães eu fiz hoje de tarde!
Me mostra oito tipos de pães diferente.
- Antes de montar meus lanches pra você, preciso saber se tem alergia a alguma coisa.
- Não! Como de tudo, então sou a degustadora perfeita.
Bate as mãos empolgado e liga a chapa.
- Certo! Não sei por onde começar.
- Respira!
Puxa o ar e o solta lentamente.
- Pega duas cervejas pra gente lá fora?
- Pego!
Saio da cadeira e volto pro bar. As coisinhas me olham e vejo que ficam assustadas. Deve ser porque meu rosto está vermelho e provavelmente começando a ficar deformado. Uma ideia idiota passa pela minha cabeça. Vamos nos divertir com isso. Faço cara de sofrida, pego as cervejas e antes de voltar sussurro pra elas.
- Socorro! Ele quer me matar!
As coitadas pegam as bolsas nervosas e Valdir me olha, sem entender nada. Dou um sorriso pra ele e volto pra dentro da cozinha.
- Pronto!
Abro as cervejas e coloco na bancada. Gustavo já colocou as carnes no fogo. Elas não parecem iguais.
- Me explica os lanches enquanto faz.
- Certo!
- Tenho quatro hambúrgueres de carne vermelha, com temperos diferentes. Dois de frango, também com temperos diferentes. Um de linguiça caseira e um de peixe com camarão.
- Interessante!
Olho a bancada e vejo os pães.
- Pão preto?
- Sim! É para o de linguiça.
- Hum!
Cada pão tem um toque diferente, que imagino seja para diferenciar os lanches, tornando-os único.
- Abre pra mim os potes?
- Claro!
Abro todos os potes e vejo tomate, rúcula, alface americano, cebolas caramelizadas, queijos diferentes, picles, azeitonas e cebola. Gustavo vira as carnes e começa a cortar os pães.
- Para cada lanche eu inventei um molho único.
Fala como se fosse a sétima maravilha do mundo.
- Seus lanches são 100% artesanais?
- Sim!
Pega oito pratos e coloca a minha frente. Abre os pães neles e vejo suas mãos tremendo.
- Por que está nervoso?
- Você é a primeira pessoa a prova-los.
- Sério?
- Sim!
- Por que?
Agora suspira pesado e olha pra mim.
- O bar é herança de família! Vem passando de geração em geração. Antes do meu pai falecer, ele me fez jurar que cuidaria daqui.
- Faz tempo que ele faleceu?
- Cinco anos.
- Sinto muito!
Começa a montar os lanches.
- Não vai me contar o que tem nos molhos?
- Não! Segredo do chef.
- Então me fala mais sobre o bar e sua paixão por cozinhar!
- Quando montar o menu, quero levar para as minhas irmãs e minha mãe. Pedir a aprovação para tornar o bar uma lanchonete.
- Você precisa da aprovação delas?
- Sim! Elas são tudo o que tenho! Isso aqui faz parte de todos nós e necessito que estejam comigo para mudar o que nunca ninguém mudou.
- Isso foi fofo!
- São quatro irmãs e uma mãe, tem noção da batalha que vai ser pra convencer todas?
É impossível não rir. Se apenas uma mulher na minha vida já me causa dor de cabeça, imagina cinco.
- Acho que precisará mais do que um menu! Já verificou como serão as mudanças e quanto sai tudo?
Seus ombros quase despencam e fico com pena.
- Juntei um dinheiro para arcar com a reforma, mas não tenho pra pagar as pessoas na obra. Posso pintar, limpar depois, montar móveis, mas não faço ideia de como mudar os ambientes e tudo mais. Precisaria de engenheiro, arquiteto, decorador.
- Não precisa de tudo isso!
Digo e ele vai montando os lanches.
- A cozinha foi reformada recentemente?
- Sim! Um amigo meu me ajudou.
- Esse amigo consegue ajudar nos banheiros e alguns pontos?
- Acho que sim!
- Você tem um excelente local, que só precisa de reparos, uma boa pintura e repaginada nas coisas.
Finaliza os lanches e limpa as mãos.
- Seu amigo faz os reparos, você pinta e eu arrumo o resto. Apenas me dê o dinheiro e vejo o que consigo fazer.
- Isso é sério?
- Sim! Mas não esqueça de ver a parte burocrática com a prefeitura pra que isso ocorra legalmente.
- Está falando sério?
- Sim! Sou decoradora de ambientes e seria um prazer te ajudar a tornar esse Boteco em uma linda e acolhedora lanchonete.
Pego o primeiro lanche e dou uma bela mordida. Mastigo com gosto e o sabor é maravilhoso.
- Isso está... ótimo!
Digo de boca cheia e ele ri.
- O melhor está no fim!
Mostra pra mim um monstro de lanche.
- Passa ele pra mim!
Puxa o prato pra minha frente e entrego a ele o lanche que mordi. Enquanto mordo o mega lanche, Gustavo morde o que eu provei antes.
- Meu Deus!
Reviro os olhos quase tendo um orgasmo.
- Que molho é esse?
Abro o lanche e pego a parte de cima. Começo a lamber o molho sozinha e nunca provei nada tão bom assim.
- Isso está muito divino!
Pega do pote mais molho e passa no pão que estou lambendo.
- Também sou louco por esse sabor!
Entrego ao Gustavo o pão melecado e puxo o pote de molho pra mim. Começo a comer que nem brigadeiro e ele ri demais.
- Quero um pote desse só pra mim.
- Quando eu fizer mais te dou. Prova os outros!
Volto a degustar os lanches e quando chego no ultimo, me sinto estufada.
- Uau! Minha calça jeans vai estourar.
- Quer uma calça de moletom minha?
- Uma calça sua em mim seria a mesma coisa que vesti uma camisinha Extra GGGG em um pinto de 5 cm.
Ele gargalha alto e me solto na cadeira, sentindo que não posso respirar ou vomito.
- O que achou de todos?
- Quer sinceridade?
- Sim!
- O hambúrguer de peixe com camarão com o molho é divino, mas misturado ao alface americano não ficou legal. Colocaria nele agrião.
- Agrião?
- Sim! Dar uma apimentada e um tchan no lanche.
- Espera!
Vai pra geladeira, pega um pote e volta. Abre e vejo o agrião. O que sobrou do lanche ele tira o alface e coloca agrião. Morde e fecha um olho.
- Verdade! Ficou bem melhor!
- De resto não mudaria nada.
- Certo!
- Sabe o que poderia fazer?
- O que?
- Eu comeria todos e teria dificuldade de escolher. Poderia fazer versões menores e montar uma porção de mini lanches. Ou um rodízio com lanches menores e as pessoas provarem todos.
- Gostei da ideia.
Fala animado e se inclina pra mim.
- É sério que vai me ajudar?
- Sim! Vamos montar uma apresentação bonita com a mudança do local, junto com o menu. Apresenta a sua família e se elas aceitarem, te ajudo em tudo.
Sua mão segura a minha bem forte.
- Você não faz ideia de como isso é importante pra mim. Obrigado mesmo! Nem sei como agradecer.
- Passe livre, vitalício na sua lanchonete.
- Feito!
- E...
Aponto para o lanche maior, com o molho mais top.
- Aquele lanche ganha o nome de Catarina.
- Feito!
- E...
Aponto para o lanche preto com linguiça.
- Aquele vai se chamar Cassandra em homenagem a minha irmã negativa e que não gosta de homens.
- Seu humor é maravilhoso. Feito!
Olho meu relógio e já são três da manhã!
- Merda! Preciso ir embora.
Saio da cadeira tão rápido que quase vomito!
- Eu te levo pra casa!
- Não precisa! Meu amigo vem me pegar de novo.
Vou até Gustavo e na ponta dos pés beijo seu rosto.
- Tchau! Depois volto pra conversarmos sobre as mudanças.
Pego o pote com o molho delicioso e pisco pra ele.
- Fui!
*************
Abro a porta de casa e sei que não preciso ser cautelosa. Cassandra deve estar me esperando acordada. Assim que fecho a porta, a luz se acende e me viro.
- Meu Deus! O filho da puta te espancou? Seu rosto está ficando roxo perto dos olhos e nariz. Nunca mais vai nessas merdas de encontros.