Pergunto não acreditando que meu sensual é estranho demais pra ele. Meu Deus! Eu não sei nem seduzir direito e quero achar o homem da minha vida na internet.
- Sabe quando dá alergia e os lábios estufam? Eles estavam estufando igual.
- Deve ser alguma coisa que comi.
- Mas eles voltaram ao normal bem rápido.
Aponta pra minha boca e tento me afastar um pouco dele. Que vergonha! Claramente o pensamento de beijar só passou pela minha cabeça e não na dos dois. O cara encarou minha boca sem qualquer desejo. Eu realmente não sou o tipo de mulher que ele sente atração.
- Me diz o que achou de tudo!
Mudo de assunto e Gustavo volta a encarar a tela do computador. Oh meu Deus! Ele de perfil é ainda mais lindo! E esse cabelo tão loirinho. Meus dedos coçam pra tocar, mas me seguro. Não quero pagar mais nenhum mico.
- Você curte cores calmas.
Comenta e analiso as cores que escolhi.
- Por que diz isso?
- Sei lá! Quando eu imaginei pintar isso aqui, queria cores vibrantes.
- Quando se usa cores vibrantes em locais de alimentação, acaba criando um espaço que sufoca, que estufa. A pessoa nem bem come seu lanche e já se sente entalado, por causa da pressão de cores em seus olhos. Ela colocaria a culpa na sua comida e não no ambiente. É sempre bom manter cores nem tão apagadas e nem tão fortes. Aqui eu brinquei com uma paleta de cores que suavizam o visual e dá prazer a quem se alimenta no local.
- Uau!
- O que?
- Eu nunca pensei assim!
- Normalmente os locais possuem uma cor forte apenas, que marca o local. No seu caso eu usei uma tinta chamada "mergulho em Noronha" lembra o mar e pude brincar com os tons parecidos. Vai ajudar a iluminar o lugar e acalmar, enquanto comemos.
- Eu amei!
- Se quiser mudar alguma cor.
- Não! Eu amo praia e mar.
- Então acertei na cor.
Seus olhos se iluminam de um jeito estranho.
- Você também curte praia?
- Não! Odeio sol, areia e água salgada. É uma mistura que não me agrada em nada. Areia entrando na bunda e o cabelo duro depois um mergulho no mar. Prazer nenhum nisso. Sem contar no sol quente me fazendo suar em partes que não deveria nunca escorrer suor.
Gustavo está rindo muito.
- Você é da galera que curte mato, bichos e lagos.
- Mil vezes melhor!
- Não concordo! Praia é bem melhor.
- Sabia que esse loiro seu não era natural. Aposto que é surfista e isso aí é parafina demais.
- Quase isso! Mas faz um bom tempo que não vou. O bar me toma bastante tempo.
- Suas irmãs não ajudam? Sei lá, de fim de semana!
Gustavo se afasta e se encosta na cadeira. Viro mais meu corpo para olha-lo melhor. Apesar disso ser um enorme erro, porque posso babar olhando essa perfeição toda. Ele poderia ser modelo.
- Você está me ouvindo?
Percebo que me olha com diversão e se disse algo, não ouvi.
- Claro!
Minto descaradamente.
- Mas por que?
Digo como se pedisse para esclarecer sua resposta que não ouvi. Cassandra faz muito isso quando ignora seus clientes. Uma estudante de psicologia que as vezes esquece de ouvir as pessoas é algo único.
- Quando meu pai faleceu há cinco anos atrás, apesar de ser o filho do meio, tomei pra mim a responsabilidade de cuidar daqui. Sabia que abraçar o bar seria como enterrar sonhos. Minhas irmãs já tinham planejado a vida profissional e nada se encaixava a isso aqui. E vamos dizer que eu nunca tive sonhos.
- Você de alguma forma protegeu suas irmãs de uma vida infeliz.
- Acho que sempre foi assim. Sou o único homem e cresci vendo como o mundo me trata diferente delas. Jurei a mim mesmo que as protegeria de homens idiotas, sociedade hipócrita e julgamentos machistas. Elas poderiam ser elas mesmas sem medo.
- Isso é incrível!
- Meu pai nos ensinou que o mundo não é uma corrida sobre quem é melhor. Ele dizia que a verdadeira corrida ocorre dentro de nós. Que nós corremos para encontrar aqui dentro uma pessoa melhor!
Aponta para o coração.
- Seu pai devia ser um homem maravilhoso.
- Ele era! Apaixonado pela minha mãe. Seu primeiro e único amor.
- Por que é tão difícil assim achar um amor desses?
Bufo e Gustavo ri.
- Eu só queria isso. Um homem que me ame a vida toda e que ensine aos nossos dez filhos valores assim.
A risada dele ecoa pelo bar vazio.
- Dez filhos?
- Talvez! Pode ser mais ou um pouquinho menos.
- Não diga isso nos encontros, pode espantar os caras.
- Eu sei!
Reviro meus olhos e apoio o cotovelo na cadeira e deito minha cabeça nela.
- Estou pensando em desistir do amor. É muito complicado.
Delicadamente ele coloca meu cabelo atrás da orelha e o simples toque de seus dedos em minha orelha me faz prender o ar. Errado! Isso é muito errado! Nada de se apaixonar pelo cara gato que nem te olha como mulher.
- Não desista! Apenas pare de procurar e deixe acontecer!
- Você fala assim porque vive cheio de mulher atrás de você. É fácil esperar acontecer quando chove vaginas na sua cara. É só esperar a vagina certa cair na sua boca de forma correta.
Gustavo ri balança a cabeça como se não fosse bem assim. Pra evitar uma discussão, porque ele vai fingir que não é assediado, resolvo voltar pro computador.
- Vamos voltar ao trabalho. Então aprova as mudanças?
- Sim!
- Vamos à parte chata. Você disse que a mão de obra da reforma você tem. Quanto de dinheiro você tem para pagar as coisas da obra e comprar os itens novos de decoração?
Fecha um olho sem graça e isso não é bom.
- Acho que não tenho tudo. Me diz quanto precisaremos e arranjo o resto de alguma forma.
- Aproximadamente vinte e cinco mil reais.
- Certo!
Seu corpo cai na cadeira como se tivesse perdido uma batalha.
- Tenho dez mil.
- Isso pagaria apenas o material da reforma do banheiro e tintas.
- Eu sei!
- Nesse valor que te passei está incluso a documentação na prefeitura para a hamburgueria funcionar.
- Eu sei!
Ai Jesus! Ele está fazendo biquinho e isso me mata por dentro. É como se eu tivesse dito a uma criança que ela não vai ganhar o presente desejado no Natal.
- Acho que vamos ter que adiar o sonho.
Respira fundo e se levanta da cadeira.
- Sua família não pode ajudar?
- Não vou apertar minhas meninas por causa disso.
- Mas é seu sonho!
- Mesmo assim! Já é difícil demais pra elas conseguirem lutar pelos sonhos delas, não vou incluir o meu pra pesar mais.
- Não desista! Podemos pensar em alguma coisa.
- Não posso vender o carro! Nem acho que meu fusca renderia muito.
- Você tem um fusca?
- Sim!
- Que legal!
- É a primeira mulher que diz isso.
- Acho mesmo legal! Mas eu prefiro a Kombi.
- Você é muito estranha.
- Olha quem fala.
Pega sua caneca com café e seu desanimo me deixa triste. Pensa Catarina! Pensa! Me levanto da cadeira e vou atrás dele na cozinha.
- Podemos tentar patrocínio.
Ele para perto da pia e vou até ele.
- Levamos seu molho a uma marca famosa de algum ingrediente que usa. Por exemplo a maionese. Mostramos o molho e pedimos ajuda financeira pra investir na hamburgueria. Divulgaremos a marca da maionese aqui e como ingrediente principal do molho. Tem algum ingrediente que podemos usar?
- Minha maionese é caseira. Uso coisas mais naturais e não de marca.
- Ai você complica!
Ele ri e começa a lavar as coisas da pia.
- Já sei!
Vou pra perto e quase encosto em seu corpo.
- Vamos fazer uma arrecadação de fundos!
- Como assim?
- Vamos fazer aqui o dia do hambúrguer. Vamos divulgar na internet, em todos os lugares que teremos um festival de hambúrguer. Você faz toda a comida e eu faço a divulgação. Venderemos seus lanches e arrecadamos o que precisa.
- Não sei se isso é uma boa ideia.
- É sim!
- Não tenho mão de obra pra isso.
- Terá voluntários! Tenho certeza que suas irmãs podem ajudar. E pode contar comigo.
- Pra isso acontecer terei que investir o único dinheiro que tenho pra comprar os ingredientes.
- Vamos fazer venda de voucher. Compra antecipada de lanches para não ter problema de perder o festival.
- As pessoas comprando antes pra comer?
- Sim! E daremos desconto por isso. Assim poderá saber quantas pessoas vão vir mais ou menos.
- Não sei!
- Pensa direitinho! A gente pode conseguir juntar o dinheiro sem você pedir pra ninguém.
Gustavo não responde nada.
- Vamos! Diz que sim...
Empurro seu ombro.
- Não sei!
- Sr. Surfista, pensa que é uma enorme onda que deve atravessar. Você já está no mar remando, não tem como recuar. Suba na sua prancha e pegue a maior onda da sua vida.
- Está usando uma das minhas paixões pra me motivar?
- Sim!
Seu sorriso é muito maravilhoso. Ele tem presas! Como não vi isso antes? Morcegão surfista gato.
- E se eu cair?
- Você nada pra prancha de novo, sobe ela e continua esperando a onda certa.
- E se eu não aguentar remar até a próxima onda?
- Então estarei atrás da sua prancha, batendo minhas minúsculas perninhas naquela água salgada, pra te dar impulso.
- Por que você faria isso por mim?