Capítulo 2 Outra vida

Quando já era de madrugada, minha amiga queria ir ao banheiro, mas o da festa estava lotado, e eu também precisava, acabamos indo para o estacionamento que tinha muitos carros e dava pra se esconder e eu vigiei enquanto ela fazia xixi e depois era a vez dela. Quando voltamos para lá, os meninos queriam ir embora, todos concordamos então, porque eu já estava carregando a minha amiga bêbada que tinha bebido menos que eu, quando eles deixaram ela em casa eu precisei ajudar ela a entrar, voltei e eles me deixaram em casa.

Chegando em casa, fui me limpar e direto pra cama, assim que me deitei, vi que tinha recebido uma mensagem, era do Samael.

- Agora que você foi pra essa festa eu não quero mais nada com você não, deve ter pegado meio mundo de gente por lá e curtido de mais, esta acabado entre nós.

- Eu te convidei pra ir comigo. - Mandei abismada.

Ele ainda estava acordado a essa hora.

- Mas eu não queria ir.

- Você não tem nada que me julgar, você nem precisou ir pra festa pra pegar outra mulher e saiba que apesar disso tudo que você fez comigo, eu não fiquei com ninguém, eu sou a mais humilhada dessa história toda. - Disse irritada.

Foi então que mandei uma mensagem pro Gabriel, pedindo ajuda e tentando me acertar com o Samael, porque eu sou burra e corna mansa.

- Relaxa, ele é assim mesmo, quando ele se acalmar vocês vão voltar, você vai ver. - disse o Gabriel.

- Eu não sei, ele fala que eu peguei todo mundo na festa, sendo que o cara que foi tentar me beijar, eu quase cai no chão pra evitar. - Falando parecendo uma otária.

Acabei dormindo e vi somente no outro dia a resposta dele.

- Deixa ele esfriar a cabeça. (Deveria estar rindo de mim).

- Mas apesar disso tudo, ele me traiu e ficou com outra menina. Eu descobri e por isso fui para a festa, pra ver se conseguia relaxar.

- Então depende do que você vai querer.

- Eu quero ficar com ele. - Disse magoada e uma baita corna.

Passou muito tempo sem ter noticias do Samael, então mandei mensagem pro Gabriel, estávamos conversando com frequência, sobre qualquer coisa, ele terminou com a mulher dele também, disse que eles não iam dar certo de jeito nenhum.

- Eu não quero mais ficar com o Samael. - Eu disse revoltada por ele não ter me procurado.

- Porque não?

- Ele não me procurou pra entender, provavelmente ele me traiu, porque faz pouco tempo que vi foto dele e da menina no facebook juntos. - Disse irritada.

- Que menina?

- A tal da Rossi, que eu desconfiava que ele tinha me traído antes de terminar comigo.

- Então foi por isso que ele terminou com você e não por causa da festa.

- Eu não sei, só sei que eu to mal e queria uma companhia pra conversar. - Fazendo manha.

- Olha, eu to perto da sua casa, ajudando o pessoal aqui da empresa com umas coisas, se quiser depois eu passo ai.

- Ta bom, passa mesmo? - Animada por ter companhia.

- Eu acho que sim.

Passou um tempo e a gente conversando sobre qualquer coisa.

- Nossa, queria uma água de coco. - Indireta.

- Pode ir la em casa buscar a hora que quiser.

- Você que poderia trazer pra mim.

- Agora não tem como, eu vou sair daqui e vou ter que voltar para casa e vir trabalhar hoje a noite.

- Achei que você viria aqui, relaxa, eu não vou te agarrar se vim aqui, não precisa ter medo. - Disse brincando e debochada.

- Ah, mas acho que se me agarrar eu vou.

- Vem mesmo? - Apavorei.

- Sim.

- Então vem, que eu vou te dar um beijo. (Só falo e não faço nada).

Mais ou menos uma hora depois eu vou pra porta de casa porque o Gabriel chegou, eu fico enrolando e batendo papo, porque estou sem graça de ter falado que iria beijar ele, fico meio afastada e enrolando. Quando eu acabo dando bobeira e me aproximando ele, ele me puxa pela cintura e me da um beijo. Depois disso tudo parecia perfeito, mas estava muito longe de ser perfeito, o Samael ameaçou o Gabriel de morte, chamou a Alice pra ter um rolo com ele e se vingar de nós. Fiquei com muito medo do Gabriel se machucar por causa disso, mas ele sempre tentava me acalmar. A Júlia ia comigo para a casa dele, ficávamos tranquilas, cozinhávamos e ficávamos treinando tiro com as armas de chumbinho dele e fumando narguilé, bebíamos e já tentei até fumar maconha quando a Júlia não estava lá, mas não deu certo, porque eu desmaiei tão bem desmaiado que só lembro dele me dando banho gelado e me colocando na cama e a partir de então só me lembro do outro dia.

Depois que tudo se acalmou, nós vivíamos felizes íamos sempre para a fazenda dos parentes do Gabriel nos finais de semana, ele se mudou de casa, devido a casa dele ter sido finalizada, eu fui ajudar a limpar, nem sabia que ele estava esperando a casa dele ser finalizada, quando ele me contou foi uma surpresa, porque eu nem esperava algo assim.

- Amor, me ajuda aqui, pra limpar lá em cima.

- Ta bom, mas toma cuidado para não molhar o forro de gesso.

- Então eu nem vou limpar lá em cima, porque eu sou desastrada.

- Tudo bem, depois eu limpo.

Na fazenda eu já amamentei na mamadeira um carneirinho, fofo e muito lindo, andava muito a cavalo, já toquei gado com cavalo porque eu cavalgava bem. Neste tempo com ele eu me formei no IF, ele foi assistir a minha formatura e tirar fotos, ele chegou um pouco atrasado por causa do trabalho e meus colegas de turma que nunca nem sequer olharam para mim, estavam comentando da minha bunda no dia da formatura, tentei andar mais rápido e evitar eles, porque eu estava vermelha igual a um pimentão, fiquei com muita vergonha, mas também me senti a gatissima, eles nunca tinham me visto arrumada, só de uniforme e geralmente cabelo preso com um coque.

Neste meio tempo depois da minha formatura eu comecei a trabalhar como jovem aprendiz, eu gostava do meu serviço, eu trabalhava próximo a minha casa, ia a pé todos os dias, como eu tinha facilidade com computadores, eles adoraram me contratar, eu fazia serviço de conferir notas, cadastrar clientes, caixa, uma auxiliar administrativa completa, na verdade esse era o meu cargo, além disso eu também dava assistência nos computadores e impressoras, ouvia dizer que eles me contratariam após o meu contrato vencer, porque eu era muito eficiente e pró ativa.

A gente passou muito tempo juntos, enquanto meu outro relacionamento durou 9 meses, esse ja tinha passado de 9 meses. Eu sempre ia dormir na casa dele, nós ficávamos sozinhos, ele me levava café da manhã na cama quando eu dormia na casa dele. Sempre que ele ia trabalhar a noite, eu ia ajudar ele a se arrumar e depois eu ia para a minha casa e ele trabalhar. Nos dias que ele não ia trabalhar a noite eu ia pra ficar com ele e dormir com ele.

Quando eu completei meus 18 anos o Gabriel me levou para piscinas termais e mais tarde me deu um presente maravilhoso, amava tirar fotos e ele me deu um camera semi profissional, eu faço aniversário próximo a pascoa, então no dia da pascoa, a noite, ele vendou os meus olhos e disse que tinha uma surpresa para mim, fiquei muito animada, ele me levou até a sala da minha casa e me sentou no sofá, e foi buscar o meu presente, ele colocou na minha frente e disse que eu poderia tirar a venda dos olhos, quando tirei, vi um ovo de colher, recheado com um creme de chocolate e com muitas frutas.

Naquele final de semana fomos visitar a família dele na fazenda, sempre que a gente ia lá, o que eu mais amava fazer era andar nos cavalos, tinham outras coisas como conversar com os parentes dele, que sempre me trataram bem, comer a comida de fazenda, fazer carinho nos cachorros (quando não estavam fedendo carniça), e como sempre eu amei cada momento, parecia que nós fomos feitos um para o outro e nada daria errado na nossa relação, porque eu achava que finalmente eu tinha encontrado o cara dos meus sonhos, que faria parte do resto da minha vida e que seria pai dos meus filhos.

O Gabriel, que me jurou uma família amável, meu sonho era conseguir essa família e viver nela, fazer parte dela, por um ano eu experimentei tudo o que me faltava, achava que estava curada, que o meu problema era só a minha família, que tudo poderia se resolver tão simplesmente, mas ai que tá, não poderia, então fiquei noiva com 18 anos, porém com quase 19 anos eu morri.

"O condutor da moto teve uma perna faturada, já a passageira, de 18 anos, foi socorrida inconsciente pelas equipes de resgate e esta internada na UTI do hospital em estado grave".

Minha alma morreu, meu cérebro danificou, meu corpo quase não resistiu, mas eu respirava com ajuda de aparelhos, não enxergava quase nada, recebia injeções todos os dias, não lembrava de nada, passava por diversos exames o tempo todo e eu não andava, o hospital da minha cidade não tinha estrutura de UTI que me suportasse, eu precisei ser transferida para o local mais próximo que conseguisse atender a minha demanda.

Tive parada cardiorrespiratória, sofri pneumotórax que é quando o pulmão "esvazia" e para inflar de novo precisa remover o ar presente entre as costelas

            
            

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