Capítulo 3 Reconhecendo a vida

-Mãe, faz massagem no meu pé. - Eu disse manhosa.

- De novo? Eu acabei de mexer no seu pé. - Minha mãe me respondeu chateada.

- Mas tá doendo.

- Ta bom.

Eu sentia meu pé formigar e doer o tempo todo, e quando mexiam nele, eu sentia um alívio.

-Ta bom assim? - Falou estressada.

-Ta sim. - Continuava me incomodando, mas ela ja estava estressada.

Eu não sabia o porque mais o meu pé direito estava me incomodando muito e o outro coçava por causa do gesso.

- Então eu vou sentar aqui e esticar as minhas pernas um pouco. - Minha mãe falou.

- Eu estou com sede. - Eu disse.

- Mas você não pode estar com sede, na sonda de alimentação você recebe tudo o que precisa e ainda tem o soro que você esta recebendo. - A enfermeira respondeu.

- Mas eu ainda sinto sede.

- Tudo bem, vamos te dar um pouco de água na boca com a seringa pra ver se ajuda.

- Ta bom.

A enfermeira colocou um pouco de água na minha boca com a seringa, bem pouco mesmo, só pra molhar a lingua e os lábios, com medo de que eu engasgasse. Depois disso eu dormi um pouco e quando me acordaram o fisioterapeuta tinha chegado. Ele queria me deixar em pé e sentada por um tempo, esticou o meu pé esquerdo para frente.

- Ta doendo. - Falei agoniada.

- Mas tem que aguentar, seu tendão da perna direita encurtou e ele precisa esticar de novo. - Fisioterapeuta.

- Mas tá doendo muito. - Falando resmungando.

- Só mais um pouco.

- Porque o tendão encurtou? - Perguntei curiosa.

- Por causa do seu coma, você ficou um mês deitada no leito desacordada.

Quando ele terminou de esticar o pé, ele me colocou em pé enquanto me segurava, depois fiquei sentada. Enquanto estava sentada eu sentia dor.

- Ta doendo. - Fazendo cara de choro.

- Mas você precisa ficar sentada, se você só ficar deitada a água nos seus pulmões não vai acabar. - Fisioterapeuta.

O fisioterapeuta e minha mãe estavam conversando sobre mim e minha mãe falando o porque de eu estar sentindo dor sentada.

- Enquanto ela estava em coma, formou uma ferida nas costas dela. - Diz meio envergonhada.

- Ah, uma escara formada por pressão.

- Sim, não formou bem nas costas, mas na região dos glúteos.

- Entendi porque ela ta sentindo dor, mas é bom ela ficar sentada até mesmo para a escara sarar.

O fisioterapeuta foi buscar algumas coisas que diminuiriam a pressão no local e tornaria mais confortável ficar sentada. Depois de 10 minutos sentada eu pude deitar no leito de novo. Enquanto eu dormia meu pai e minha mãe trocaram de lugar, meu pai veio me acompanhar. Quando acordei meu pai conversou comigo por um tempo.

- Manu, você não vai mais voltar com o Gabriel não né? - Pai

- Não, não vou. - Pensei: "Quem é Gabriel mesmo?"

- Ele e os pais dele querem vim te ver.

- Tudo bem.

Quando eles chegaram eu sorri, mas era de estar sem graça, porque eu não me lembrava deles. Eu não tinha recordação nenhuma deles, eles começaram a me lembrar de algumas coisas, mas eu sentia que não fazia parte de tudo aquilo que estavam contando. Quando foram embora eu dormi, cansada de tanta informação que jogaram na minha cabeça e que eu não lembrava. Aparentemente eu era alguém amada, mas eu não lembrava, não sentia amor, não sentia raiva, não sentia nada. Eu só estava ali e respirava. Meus pais revezavam para ficar comigo, meu pai sempre me instruindo a não ficar com meu namorado, mas porque?

- Quando o Gabriel estava no hospital, ele falava para todo mundo que quando ele se recuperasse, ele iria comprar outra moto. - Pai

- Que moto?

- Ele quase te matou por causa dessa moto que ele queria comprar, três horas depois que ele pegou a moto, vocês sofreram o acidente.

- O que que aconteceu?

- Ele subia em alta velocidade para a casa dele com você na garupa e um carro entrou na frente de vocês, mas o motorista do carro alegou que não viu ele subindo.

-Você não lembra de ter ido com ele na moto?

- Não lembro, na verdade eu nem sei o que aconteceu.

- Vocês sofreram um acidente de moto, você está no hospital, ficou em coma um mês e faz 15 dias que estamos no quarto.

15 dias? Parece que eu acordei ontem. Não lembro de nada que tem acontecido, não sei nem o que aconteceu ontem direito, as memórias estão confusas e nem me lembro do meu namorado que todo mundo comenta. Parece que eu gostava tanto dele, mas agora eu não sinto nada e nem lembro de nada, como sera que ele está? Pego meu celular que tinham me devolvido, tento fixar o olhar para a tela dele, mas eu não consigo ver nada e tudo está embaçado.

- Apesar de você ter se machucado de mais, seu rosto não tem nenhum arranhão.

- Deixa eu ver. - Falei curiosa.

- Não tem nenhum espelho aqui.

- Mas tem o meu celular, grava pra mim ver.

- Me mostra como faz isso.

- Abre a camera do celular, quando abrir vai ter um botão vermelho no meio da tela em baixo, ai você clica.

Eu estava toda descabelada e com vários tubos no nariz eu me estranhei fisicamente, aquela não parecia comigo, mas realmente não tinha nenhuma ferida no meu rosto.

- Pai, eu não estou enxergando quase nada no celular. E meu rosto ta estranho e cheio de coisas. - Falei triste.

- Talvez seja por causa da pancada no seu cérebro ainda. Hoje eu vou trocar com a mãe e a vai ficar aqui alguns dias e depois eu volto pra ela descansar um pouco. Mas você viu, não tem nenhuma cicatriz e nenhum machucado.

Depois de um tempo conversando sobre o meu rosto, meu pai resolve relembrar algumas coisas que incomodou ele.

- Quando o Gabriel estava no hospital, ele falava para todo mundo que quando ele se recuperasse, ele iria comprar outra moto. - Meu pai disse.

- Que moto?

- Ele quase te matou por causa dessa moto que ele queria comprar, três horas depois que ele pegou a moto, vocês sofreram o acidente.

- O que aconteceu?

- Ele subia em alta velocidade para a casa dele com você na garupa e um carro entrou na frente de vocês, o motorista ia fazer uma convergência a esquerda, mas o motorista do carro alegou que não viu vocês subindo. Você não lembra de ter ido com ele na moto?

- Não lembro, na verdade eu nem sei o que aconteceu.

- Vocês sofreram um acidente de moto, você está no hospital, ficou em coma um mês e faz 15 dias que estamos no quarto.

- Mas o que aconteceu com a moto?

- Ela deu perca total, não tem mais concerto.

Meu pai ficou uns 3 dias comigo, mas parece que foi só 1, eu não lembro de praticamente nada desses dias, minha mente estava perdida e confusa querendo lembrar a menor quantidade de momentos que fosse possível, os momentos eram dolorosos e sempre vão ser, as coisas passaram em branco para mim e as dores foram esquecidas quase todas, mas já que é pra lembrar, vamos lembrar das dores que eu senti no hospital, a cada momento que as pessoas esqueciam que eu ainda era um ser vivo e tinha sentimentos, pensamentos e dores, eu só não sabia onde meus sentimentos estavam.

Já no primeiro dia que eu estava com a minha mãe dessa vez eu estava me sentindo muito incomodada.

-Mãe, meu nariz tá incomodando de mais, fica coçando. - Falo coçando o nariz e esfregando.

- Deve ser a sonda de alimentação, tira a sua mão daí, que se você puxar vai ser um problema para colocar de volta e vai precisar fazer raio x pra ver se não foi para os pulmões. - Fala irritada com medo de que eu arranque a sonda.

De repente, minha mão enrosca na sonda, e já que tinha saído um pouco, eu termino de puxar tudo, pra finalmente parar de incomodar meu nariz. Minha mãe ficou com muita raiva, mas eu já tinha feito, eu precisava ficar um dia todo sem colocar a sonda de volta e no outro dia eles tentaram colocar novamente, após a tentativa eu fui fazer o raio x antes de colocar o alimento, para confirmar que ele estava no estômago e não nos pulmões. Mas a sonda tinha se alojado na entrada dos meus brônquios, então tivemos que remover tudo de novo e tentar inserir mais uma vez. Na segunda vez deu certo, fizemos o raio x estava no local correto.

            
            

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