Capítulo 4 Esperando voltar

Eu estava muito confusa e totalmente perdida, não posso nem falar que me perdi em pensamentos, porque eu não conseguia pensar em quase nada. Após algum tempo me buscaram para fazer exames, e detectaram que havia um líquido entre os pulmões e a caixa torácica posterior (nas costas). Ou seja, precisava ser removida, recebi anestesia em toda as costas, e doeu de mais.

Após as anestesias começaram a perfurar com seringas para remover o líquido que estava acumulado na região, como a anestesia já tinha começado a agir, eu não senti quase nada, mas ao retornar para o quarto eu senti muita dor ao deitar de costas.

- Mãe, tá doendo de mais ficar assim.

- Logo vai passar, tenta deitar de outro jeito.

- Eu queria deitar de lado.

- Tem que ser só lado direito, no lado esquerdo tem as drenos no pâncreas e do pulmão.

Tentei deitar de lado, mas doía ainda assim. Então tentei me virar um pouco para o lado dos drenos, mas não deu muito certo e acabei parando de costas. Dormi um pouco. Quando acordei tentei mexer no celular mais uma vez, continuei sem enxergar, mas quando eu forçava a visão um pouco eu conseguia pelo menos diferenciar algumas letras, vi um grupo de amigos torcendo por mim, tentei mandar um Oi. Acho que foi errado, mas foi. Logo mandei um audio falando que não conseguia enxergar nada que escreviam. Todos mandaram audio dizendo "Ainda bem que você esta bem Manu, ficamos sabendo do seu acidente e todo mundo ficou preocupado". Tento abrir a conversa com o Gabriel para mandar algo pra ele, mas quase não vejo nada, quando eu consigo achar ele no meu whatsapp, eu realmente não sei o que mandar para ele, fico perdida um bom tempo até ter coragem de enviar algo.

- Oi - Eu digo.

- Oi, tudo bem amor?

- Tudo sim.

- Estou te esperando para você voltar para a nossa casa, o Bob e a Diana estão sentindo a sua falta.

- Me manda foto deles?

O Bob é um vira lata meio Pitbull e a Diana é um husky com os olhos castanhos e metade do olho direito dela é azul.

- Como são fofos.

- Amor, tá com saudade da nossa casa?

- Eu não sei, não lembro, vou parar de mandar mensagem agora que a minha visão tá muito ruim, preciso forçar para ver no celular.

Guardei o celular e fiquei pensando tudo que eu não lembrava. Será que posso lembrar novamente? Será que vou viver com esse buraco na minha consciência?Um médico apareceu falando que era pra tirar o meu respirador, que eu já conseguia respirar sozinha. Sendo assim, ele tirou meu respirador e eu fiquei sentindo uma enorme falta de ar, porque eu estava acostumada e tiraram de repente o respirador de mim.

- Mãe, eu to sem ar, eu não consigo respirar.

- Tenta respirar fundo que vai dar certo

- Não ta funcionando.

- Ergue o leito um pouco na parte de cima. - Enfermeira.

Não foi fácil estabilizar a minha respiração, mas assim que consegui , eu dormi algumas horas e quando acordei eu quase não me lembrava mais do que tinha acabado de acontecer. Eu estava perdida de novo, onde era o meu lugar? Parecia que eu não pertencia a nenhum lugar, então, eu simplesmente fui sobrevivendo um dia após o outro, por parte da minha família e dos médicos, descobri que eu tive pneumotórax, perdi meu baço, precisei suturar o meu pâncreas, quebrei o pulso, tornozelo, dedo, tive traumatismo craniano, coágulo no meu cérebro que causaram a paralisia dos meus membros do lado direito do corpo e quebrei costelas.

Já era meu pai que estava comigo de novo, parece que os dias não tinham 24 horas e nem que eu vivia todas as horas que estava ali. As vezes tudo parecia um grande buraco branco na minha memória, fora as horas de maior dor para mim, essas eu lembrava bem.

- Oi, vamos limpar a traqueostomia hoje. - Enfermeira.

- Tudo bem.

Ela tira a tampa da traqueostomia e começa a passar o tubo de sucção para tirar o muco que se criava nessa região, porém, ela estava machucando a mucosa da minha traqueia, comecei a tossir bastante.

- O que foi Manu? - Pai.

- A enfermeira foi muito bruta, e machucou a traqueostomia.

- Vou procurar alguém pra fazer alguma coisa.

Meu pai foi atras de alguma enfermeira para saber o que faríamos, porque eu estava tossindo muito e a outra enfermeira tinha me machucado.

- Que tipo de enfermeira faz as coisas assim para machucar?

- Calma senhor, vamos colocar um nebulizador para melhorar.

Odeio ficar com esse trem na cara e parece que não ta ajudando em nada.

- Cof cof cof.

- Fica com o nebulizador no rosto, se não, não vai ajudar,

- Cof cof cof cof, não esta ajudando do mesmo jeito.

- Mas vai ajudar se você ficar com ele no rosto.

Passei a noite tossindo e mal, e as enfermeiras me culpando que eu não segurava o nebulizador no rosto. Dormi pouco e quando acordo no outro dia meu pai ja vem me perguntando quem era a enfermeira.

- Manu, que enfermeira que era essa que fez a limpeza da traqueostomia?

- Eu não sei pai, eu não me lembro.

- Se você ver ela novamente, você me avisa qual é.

- Tudo bem.

- Porque ela machucou a sua traqueia ontem e isso não pode acontecer.

- Ta bom pai, eu entendi.

Não descobrimos quem era a enfermeira, mas no dia seguinte estava um pouco melhor, meu pai chamou a atenção das enfermeiras que colocaram o nebulizador em mim.

- Alguém machucou a traqueostomia da Manu, isso não poderia ter acontecido.

- Nós sabemos, vamos ter cuidado da próxima vez.

- Espero que tenham mesmo.

Depois de dormir, mais algumas horas ou dias eu não sei, meu irmão do meio apareceu, o nome dele é Lucca, tinha vindo me visitar e ver como eu estava, depois de um tempo uma enfermeira veio para limpar a traqueostomia de novo, ela tirou a tampa da traqueostomia, e no processo de limpeza da traqueostomia ela derramou álcool sem querer no meu peito e era insuportável, eu não conseguia respirar devido ao vapor do álcool, mas eu também não conseguir falar, porque a traqueostomia estava aberta, explicando, ela é um procedimento cirúrgico, que é realizado na região do pescoço, onde a traqueia passa, ela tem a função de facilitar a chegada de ar até os pulmões, geralmente por cilindros de oxigênio, mas costumam mantê-la após parar o seu uso, para evitar faze-la novamente caso ocorra algum acidente, e ela precisa de higienização constante devido ao muco que forma, e a dificuldade de eliminar. Quando a traqueostomia esta aberta não é possível falar, porque antes do ar passar nas cordas vocais, ele sai pela região do pescoço.

Eu não conseguia falar e estava sufocando por causa do álcool, a enfermeira só pediu desculpas e passou um pano por cima de mim, depois disso me levaram para o corredor para auscultarem os meus pulmões e ver se tinha mais algum liquido para ser removido, no corredor meu irmão estava esperando comigo, mas eu não conseguia falar, então me lembrei do básico de libras e comecei a soletrar pra ele o que estava acontecendo.

- O que foi Manu? - Disse Lucca.

Tentei soletrar a-l-c-o-o-l.

- Eu não entendo libras.

Comecei a fazer mimica, talvez assim ele entendesse o que eu queria dizer, comecei a gesticular para ele que não estava conseguindo respirar direito.

- Eu não to entendendo o que você ta querendo falar.

Ai que ódio daquela enfermeira, ainda por cima me deixou com a traqueostomia aberta pra ser mais difícil de respirar e impossível de falar. Por sorte não foi o suficiente para me matar, mas que estava horrível de respirar estava sim. Me examinaram, disseram que estava tudo bem e voltei para o quarto, fecharam a minha traqueostomia e eu finalmente pude falar.

- Você precisa aprender libras. - Eu falei para o Lucca brava.

- Pra que? - Lucca me questionou.

- Pra me socorrer quando eu não puder falar. Uma enfermeira derramou álcool em cima de mim e só tirou o grosso, eu estava quase sufocando. - Disse brava.

            
            

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