intal havia um galinheiro e um cercado para os patos.
Eu precisava pensar, subi as escadas fui para o meu quarto, escancarei as janelas, joguei-me na cama e fiquei olhando o céu lá fora, estava negro, já eram dezenove horas, pequenos pontos de luz enfeitavam o véu da noite, um clarão por trás de algumas nuvens mais baixas chamaram minha atenção, olhei rapidamente pro calendário pendurado na parede ao lado da cama, era a primeira noite de lua cheia no mês.
Era dezembro meu mês preferido, as meninas da faculdade que alugavam os outros quartos de minha casa tinham partido para passar as férias de final de ano com suas famílias, finalmente eu estava só, em meu silencio, minha casa, meu sossego. O rosto dele voltou a minha mente, aqueles olhos... Era como se já o tivesse visto antes, mas onde? Eu não me esqueceria facilmente de alguém tão ímpar como ele.
Foi então que a brisa fria da noite soprou janela a dentro fazendo a cortinas de tule balançarem, senti o cheiro doce das flores das mangueiras na rua, então vi a lua... Linda amarela, redonda, enorme saindo por trás das nuvens, parecia tão sombria mas ao mesmo tempo fascinante. Fiquei deitada inerte em minha cama, enquanto a lua cheia ia subindo lentamente pelo céu, o cheirinho doce na brisa me fez adormecer, foi então que o vi novamente, estava sentado em minha janela admirando o luar, ele virou, deu um leve sorriso para mim, então disse:
_A noite está linda. Consegue sentir o cheiro das mangueiras em flor? Eu amo este perfume doce, me lembra você.
Dei um pulo da cama, eram seis e meia da manhã, o leiteiro batia no portão. Olhei para a janela aberta, ele não estava lá. Passei as mãos no cabelo e amarrei com um elástico, desci as escadas e fui até o portão.
_O de sempre senhorita Elise? Perguntou o leiteiro.
_Sim. Respondi a ele.
Paguei, entrei novamente em casa, ao passar pela sala percebi que não havia trancado a casa antes de dormir, olhei em volta, tudo parecia no lugar, a tv, o aparelho de som, o sofá, e o mais importante a tela que minha mãe havia pintado para mim quando eu era apenas um feto em seu ventre.
Continuei em direção a cozinha, a mesa estava arrumada com uma toalha de estampa floral amarela, havia uma cesta com pães e uma garrafa de café.
Ainda não fui a padaria, como haveriam pães na minha mesa? Pensei.
O cheiro do café quente ainda pairava no ar.
_Bom dia Elise, está atrasada.
Meu melhor amigo acabara de entrar pela porta que dava acesso ao quintal. Ele se chamava Pedro, era alto, forte corpo meio esbelto, moreno bronzeado, tinha lindos olhos negros, cabelos pretos, curto arrepiado. Conheço ele desde que usávamos fraldas, estudamos juntos por toda nossa vida escolar, dividíamos nossos segredos e sofrimentos, até que um dia ele partiu, foi pra capital estudar biologia.
_Esqueceu que eu viria né? Disse Pedro.
Pulei em seus braços e o abracei tão apertado, não consegui segurar, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto... Meu desabafo começou a sair como um rio quando rompe uma barragem.
_Me senti tão sozinha e perdida, não sabia o que fazer, tive um sonho, nele vi meus pais sendo engolidos pelo mangue, a maré estava cheia e encobria a ponte que atravessava o manguezal, minha mãe escorregou em uma das tabuas, a ponte se quebrou, meu pai tentou segurá-la mas os dois acabaram caindo juntos na água, eu estava em uma parte segura da ponte, gritei por meus pais, quando ia pular na água para tentar salvá-los uma mão segurou-me, então acordei gritando. Minha mãe ouviu meu grito correu assustada e entrou no quarto preocupada, ela disse q era só um pesadelo, então ela pediu que eu fosse tomar café pois iríamos para a praia em alguns minutos. Desabei novamente em prantos...
_Calma Elise, tudo vai ficar bem, estou aqui com você, não me diga que está assim por causa de um simples pesadelo. Disse Pedro.