_Meu pesadelo estava se tornando real, tão real quanto o chão em que pisávamos, eu vi meus pais caindo na agua, porém o fundo de lama do mangue prendia seus pés e eles não conseguiram sair da água, eles iam afundando lentamente até se afogarem, por vezes tentei pular para ajudá-los, mas algo me impedia, uma mão me segurava forte pelo braço, e uma voz doce e leve como a brisa do mar dizia ao meu ouvido:
_Você não pode salvá-los Elise, se pular irá morrer, ainda não é sua hora.
_Por vezes aquela mesma frase ecoava em meus ouvidos como o vento sibilando nas janelas em dias de ventania, por dias sonhei com o que havia acontecido. Eu revivia a morte dos meus pais constantemente eu meus sonhos, tentei até me matar, nem lembro quantas vezes tentei, sempre algo estranho acontecia para me impedir, conviver com a culpa não tem sido fácil, eu sabia o que iria acontecer, eu vi em meu sonho, porque não impedi Pedro? Porque? Dividi toda minha angústia com Pedro. _ Não foi sua culpa Elise, você tentou ajudá-los, mas paralisou na hora, talvez se você tivesse pulado na água também se afogaria. Vai ficar tudo bem, você vai ver, tudo vai ficar bem, estarei aqui com você, prometo não te deixar mais sozinha. Disse Pedro tentando me acalmar. _ Meus pais eram biólogos Pedro, você sabe o quanto eles amavam esta ilha, eles se conheceram aqui, construíram a vida deles aqui, foi aqui que eu nasci, tudo o que sei aprendi com eles, porque esta ilha tinha que tira-los de mim? Porque? Retruquei à Pedro.
_ Elise se acalme, vem tomar café comigo, olha pra você, está descabela, tem até mancha de baba no canto da boca, vai tomar um banho e trocar a roupa, não quero que meu amigo conheça você assim, coitado vai é tomar um susto quando lhe ver. Falou Pedro.
Percebi que Pedro tinha razão, fui para o banheiro tirar a cara de ontem, tomei um longo banho, lavei os cabelos, fui até o quarto vestir-me, peguei uma bermuda jeans e uma camiseta branca, me olhei no espelho, percebi que o tempo tinha realmente passado desde a última vez que me olhei de verdade em um espelho, minha pele estava bronzeada do sol, minha altura parecia não ter mudado nada, talvez eu ainda tivesse meus um metro e sessenta, continuava com o mesmo corpo esbelto, meus cachos ruivos estavam mais compridos, quase na cintura, era hora de cortar e dar forma... Meu olhar parecia triste...
Fui até minha caixa de maquiagem, peguei um delineador de olhos e passei, coloquei um pouco de cor nos lábios com brilho rosado de morango, disfarcei as olheiras com corretivo. Então olhei novamente pros meus cabelos, resolvi por fim penteá-los e amarrar com elástico formando um rabo de cavalo.
Desci rapidamente as escadas para matar a saudade do meu velho amigo de infância, entrei na cozinha e fui abraçar Pedro novamente, foi então que ouvi uma voz vindo de trás de mim dizendo bom dia, me virei e olhei, um calafrio dominou meu corpo, minha visão começou a escurecer, fui perdendo os sentidos, apenas ouvia algumas vozes ao longe, até que elas cessaram e o silencio tomou conta de mim.
Comecei a sentir o vento em meu rosto, fui abrindo os olhos de vagar e me situando, percebi que estava em minha cama, comecei a pensar que tinha sido mais outro sonho, então sentei-me. _Elise finalmente você acordou, nos deixou muito preocupados, o Pedro foi chamar um médico pra te examinar, você demorou muito para acordar. Como se sente? Quer um copo de água? Falou o rapaz de pé ao lado da minha cama.
Era ele, não consegui acreditar, era como nos meus sonhos, falando comigo, parecia tão real, os olhos cor de mel tão lindos e brilhantes, os cabelos cobrindo a nuca com cachos acobreados levemente bagunçados, a pele clara corada do sol. Fiquei olhando ele por uns instantes pensativa, não consegui responder nenhuma das perguntas, mesmo assim era só um sonho, porque eu falaria com um sonho? Não é real mesmo... De repente a voz de Pedro chamou por mim.
_ Elise finalmente você acordou, que susto me deu. Como você está? O médico veio vê-la. Falou Pedro muito preocupado.
O Dr. Ricardo sentou ao meu lado e foi me examinando, ouviu meus batimentos cardíacos com um estetoscópio, examinou minhas pupilas, mediu minha pressão arterial. Então concluiu: