Fiquei meio paralisada ao ouvir o que Pedro havia dito, meus olhos ficaram marejados de lagrimas, abaixei a cabeça por uns instantes, fui levantando o olhar enquanto uma lágrima pingou sobe a toalha da mesa, então bem a minha frente percebi um pacote, uma pequena caixa marrom com lacre do sedex, pelo jeito minha mãe tinha urgência que Pedro recebesse aquilo, fiquei olhado o pacote por uns minutos, não senti vontade de abrir, minha curiosidade parecia estar de férias, não fiz questão de saber o que tinha dentro, por fim o peguei e levei para o quarto, coloquei na mesinha de cabeceira ao lado do
abajur.
Caminhei em direção a janela, sentei-me no parapeito assim como Vincent fazia todas as noites em meus sonhos, o sol brilhava tão intensamente lá fora, não havia uma nuvem branca se quer no céu, o vento estava suave, era quase meio dia, uma rajada forte de vento me pegou de surpresa jogando um pouco de poeira em meus olhos, o susto fez com que eu me desequilibrasse, olhei fixamente pro chão lá embaixo quando comecei a escorregar da janela, então senti uma mão forte me segurar pela cintura. Um arrepio tomou conta do meu corpo, lembrei-me do sonho com meus pais, gritei ao reviver aquela lembrança, o sol começou a se apagar e tudo foi escurecendo aos poucos, apaguei novamente. Acordei com um cheiro forte de álcool, era Pedro sentando ao meu lado com aquela cara de bravo. _ Se Vincent não tivesse vindo trazer um copo de suco, você estaria lá embaixo toda arrebentada Elise. Ta tentando se matar é? Disse Pedro com um olhar bastante preocupado e irritado. O celular de Pedro tocou, então ele se retirou do quarto para atender, pela cara que fez ao olhar a chamada, parecia bastante preocupado e ansioso.
Fiquei sentada na cama por uns momentos, então levantei o olhar, lá estava Vincent escorado na beirada da janela, os olhos dele pareciam querer falar algo. Levantei-me da cama e caminhei até ele sem desviar meu olhar, fiquei próxima o suficiente pra sentir a respiração dele, parecia um pouco nervoso, então comecei perguntar:
_ Quem é você Vincent? Podes até dizer que nunca me viu antes, mas seus olhos dizem outra coisa, então me diz agora! Quem é você?
_ Me chamo Vincent D'Valt, sou de uma das primeiras famílias a colonizar Nova Orleans, e vim para o Brasil conhecer o pais e a cultura, me interessei e resolvi ficar, fiz faculdade de biologia em nova York, e estou concluindo meu mestrado aqui no Pará. E.... desde minha primeira visita ao Brasil sonho com você, sonho com fragmentos desta ilha, pesquisei na internet e descobri que o lugar dos meus sonhos ficava no Brasil, foi então que consegui uma vaga para fazer meu mestrado em Belém, sabia que da capital até o Marajó eram poucas horas, mas não sabia como chegar aqui, então conheci Pedro na minha turma de mestrado. E o restante você já tem uma base do que aconteceu. Respondeu Vincent.
Não sei se engoli muito bem as palavras de Vincent, me pareceram um tanto superficiais, pensei por uns segundos em silêncio antes de falar qualquer coisa a ele.
_Na verdade já o conheço, não da maneira convencional, mas o conheço, sempre tive a ideia de que você não passasse de uma alucinação, acho que agora já dá pra entender o motivo do meu assombro. Dias atrás antes de você e Pedro chegarem, eu te vi na praia, no fim da tarde, não sei se o momento foi apenas coincidência, mas você estava lá na praia. É isso... Falei à Vincent.
Me silenciei por mais uns instantes, então perguntei:
_Como é possível sonhar com alguém que você nunca viu antes? Consegue me explicar isso? Não tem lógica, foge de qualquer realidade...
Vincent me olhou fixamente.
A porta se abriu, era Pedro com uma bandeja de comida, ele ficou estático por uns segundos e agiu como se nada tivesse acontecido, porem eu percebi no jeito dele que não gostou de ver a minha aproximação com Vincent.
_É hora de almoçar Elise. Pedro estava com um comportamento meio sem graça, um olhar que misturava preocupação e hostilidade, porém tentou ser natural e não deixar nada transparecer, no entanto eu pude perceber, pude sentir.
_Vincent pode nos deixar a sós por um instante? Preciso conversar com Ise. Disse Pedro em um tom sério.