Capítulo 6 LORENZO

Minha empresa exportava armas para todos os países, pois temos uma boa reputação, mesmo com as novas suspeitas e boatos. Desde que tomei o comando dos negócios da família, fiz questão de investir em melhorias e projetos que aperfeiçoassem as nossas mercadorias. Não queria que o envolvimento com o submundo prejudicasse a minha imagem.

Para todos que estão de fora, vendemos armas para grandes agências de segurança, governos e para países onde o porte de armas é legalizado, mas o que mais rende para nós é a venda de armas no mercado negro.

Nós temos uma grande rede de compradores que vão desde simples gangs a grandes organizações criminosas, como nós.

Por isso os Cain, a organização que comando, é muito respeitada. Não só aqui em Drakoy, mas também, em todas as partes. Somos os que abastecem, e como os donos das armas, temos muitos recursos até mesmo para uma grande guerra entre as regiões.

Graças ao acordo entre as partes, isso nunca irá acontecer, e não é o que queremos, pois, desafiar unas aos outros traria consequências graves.

Mesmo tendo esse grande poder, me expor dessa forma traia a polícia para a nossa casa, mostraria a todos o que fazíamos e isso nos faria perder contratos, negócios limpos e sujos, pois, lidávamos com aliados do Norte, Leste e Sul.

Querendo ou não, esse acordo fazia com que ganhássemos mais, não nos preocupávamos em sermos descobertos e trazia muito dinheiro.

Estar no meio do salão oval e glamoroso do novo hotel que estava sendo inaugurado na cidade, acompanhado da mais bela mulher e conversando com outros empresários era um jogo de marketing.

Odiava lidar com esses mundanos patéticos, mas era o preço que eu tinha que pagar para parecer um homem decente.

- Essa festa está se prolongando muito, quando vamos poder sair daqui e brincar...

Meu celular tocou antes de Gema pudesse terminar a sua frase. Eu não gostava dela ou de ouvir as suas palavras, eu só me interessava no sexo. Estar ao lado de alguém tão bonita e presente na mídia completava a caricatura do empresário de sucesso e solteiro.

- O que aconteceu? - Perguntei, me afastando da loira carente.

- Estou levando o corpo de Edgar para a limpeza, Hunter levou a maluca para o...

- Faça o que tem que ser feito. - Falei ao desligar.

A limpeza não precisaria ser usada se Dark tivesse seguido o plano, então isso queria dizer que algo deu errado. Já fazia um tempo que não a via, tanto por falta de tempo quanto por estar fugindo da tentação.

Chamei um dos homens e o pedi para levar Gema para a sua casa, eu tinha que visitar a diaba.

***

Hunter estava na porta quando cheguei. Sua surpresa em me ver foi nítida. O pedi para dar um passeia até que eu saísse do apartamento. Ainda estava do lado de fora e notei dentro de mim uma ansiedade estranha em vê-la depois de tanto tempo.

Dark era um perigo para mim, não só por sua capacidade de matar uma pessoa, mas porque sempre que estávamos em um mesmo ambiente ela conseguia me seduzir de uma forma única, prendendo-me em si, facilitando as coisas para ela.

Eu podia abrir e entrar, como fiz da última vez. Esse apartamento era mel, eu tinha as chaves, porém, tomei a atitude de bater e a esperar abrir a porta.

Não demorou muito, como se já me esperasse e já na entrada, olhando para seu rosto, vi que algo novo estava acontecendo. Além do mais, ela estava enrolada a um robe curto de seda, na cor vermelha.

Sua pele bronzeada estava brilhando e seu perfume era divino. Quase me esqueci do que vim fazer aqui, ela não parecia a Dark que trouxe para Drakoy.

Se afastou para que eu entrasse e fechou aparta atrás de si. Ela ainda estava atrás de mim, e eu de costa para ela, como se estivesse com medo de encara-la.

Isso era ridículo, nenhuma mulher conseguiu me passar insegurança antes e era quase um sacrilégio me sentir assim.

Tomei a atitude de afastar esse sentimento e me virei, com o sentimento de antes de chegar aqui, irritado. Era para ser simples. O idiota do Edgar não dava tanto trabalho. Estava tudo planejado e explicado, porém, eu mesmo sabia que a mulher diabólica não tinha escrúpulos. Seu estilo de matar era doloroso e deixava um estrago no corpo, mesmo sendo calculista.

- Nem precisa dizer o quão furioso está por conta do meu erro, eu mesmo estou me julgando. - Ela disse passando por mim, em direção a sala. - Não foi só porque me pediu cautela e algo que não trouxesse suspeita, mas porquê...

- Porquê o que? - Perguntei depois da sua demora em completar a frase.

Eu não tinha que ser sensível ou amável, não combinava com o meu estilo. Não queria vir aqui e dar uma bronca em alguém que sabia o que deveria ser feito, mas queria saber o que tinha acontecido para que a mulher que era conhecida por seu estilo perfeito na hora de matar, tivesse mudado de plano e me forçado a chamar a limpeza.

Bem, quando as coisas não saiam como planejado, ou quando eu queria mesmo deixar o estrago, eu chamava a limpeza. Uma equipe profissional para se livrar de provas e de corpos dos meus inimigos. Era chefiado por uma mulher de sangue-frio, uma química perfeita, que cobrava caro para se desfazer do problema.

- Porquê odeio errar. - Falou ao se virar. Seus olhos estavam cheios de raiva, mesmo que suas ações fossem contidas. - Era para ser simples, já matei homens piores e mais fortes, mas algo estava errado comigo e a raiva trouxe de volta uma força incomum que tomou conta da situação.

- Então não foi proposital? - Questionei desconfiado.

- Não sou uma menina, Lorenzo, não faço coisa por fazer, para gerar uma reação de ninguém, muito menos sua. - Disse colocando as mãos na cintura perfeita, parecendo impaciente. - Mas vou me controlar da próxima vez. Serei o mais insensível possível.

- Ótimo, não quero problemas com essa próxima, ela é muito ativa na mídia e conhecida no mundo da moda. - Falei ainda pensando no que fazer.

- Preciso de um tempo antes disso, não estou bem ainda. - Comentou.

- Não se esqueça, Dark, se andar fora da linha...

- Vai se fude, Mitolli.

Ela conseguiu me tirar um sorriso, um que me fez esquecer o seu deslize. Ela realmente aparentava não estar completamente bem, e já que posso concentra esse erro, não tem porque ficar bravo por tanto tempo.

- Darei uma semana para que se... recupere. - Falei desviando o meu olhar dela. Eu tinha que sair desse apartamento antes que trocasse os pés pelas mãos. - Não faça bobagens e não terá que se preocupar comigo.

- Não preciso que venha aqui para me dar uma bronca, apesar da idade, você não é o meu pai, e nem gostaria de ser ele. - Falou quase esbravejando.

- Não sou seu inimigo, Dark, mas posso esquecer do nosso acordo. - A alertei.

- Acha que tenho medo da morte? - Perguntou debochada. - Eu já morri tantas vezes que não faz ideia. Por que acha que sou desse jeito?

Seu mistério era algo que me instigava. Queria saber mais sobre a sua vida, não sei o porquê disso, mas queria.

- Então quando acontecer não será uma surpresa.

Nos encaramos por um tempo. Um desafio silencioso que foi quebrado quando ela resolveu me deixar só na sala.