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Uma semana. Foi o tempo que Nicholas passou sem trocar uma palavra com nenhum dos colegas; às vezes ouvia seu nome sendo pronunciado em sussurro, outra pessoas comentando sobre bobagens, fazendo teorias da conspiração, mas nada igualava a extrema necessidade em ocupar sua mente lendo um bom livro.
Era segunda-feira, e chegou cedo naquele dia. Havia comprado um livro recém lançado e buscou um lugar entre as sombras das árvores para iniciar sua leitura, sempre evitando contato visual com os demais estudantes; principalmente os de sua turma, pois achava-os vulgares, mesquinhos e mesmo tendo pouco ou mais dinheiro que eles, pisar nas pessoas nunca esteve em seus planos.
Ele colocou os fones nos ouvidos e conectou via bluetooth, mas não pôs nada para tocar. Abriu o livro e começou a ler, antes de concluir a terceira lauda, sentiu o toque em seus ombros e erguendo o olhar, observou seu vizinho, Alec, de pé. Nicholas marcou a página e fechou o livro. Retirou os fones e fez um sinal, como se para Alec perguntar o que gostaria de saber.
- Hã... posso me sentar? - ele perguntou.
- Pode sim, Alec.
Alec sentou no banco de mármore e repousou a mochila sobre suas pernas.
- Eu fiquei triste por você ter me evitado.
Nicholas corou.
- Ah, me perdoa. Eu... sou inexperiente com colegas novos.
- De boa - ele sorriu e que sorriso. Pensou Nicholas. - Vi seu nome na equipe de soccer, vai mesmo tentar ser um selecionado?
- Talvez! Gosto de futebol, mas não sei se competir é meu forte. É mais para... me manter saudável. Entende?
- Entendo sim. Caso queira uma ajuda com os deveres de casa, estou convencido em ajudá-lo!
- Obrigado, Alec. Mas não preciso por enquanto.
Alec correu com os dedos pelos fios de seu cabelo e, depois, de forma programática, mordeu os lábios inferiores.
- Meus amigos comentam sobre você, principalmente as meninas. Que tal sentar conosco hoje no intervalo e trocar uma ideia?
- Outro dia. Não quero me intrometer nos assuntos restritos a vocês. Mas, posso passar na sua casa qualquer hora dessa pra provar a... pipoca doce de comer rezando e lamber os dedos.
A lembrança de sua fala anterior alegrou Alec. Dois minutos depois, no entanto, uma menina ruiva com o mesmo piercing no nariz, aproximou-se deles e deixou um beijo nos lábios rosados de Alec, o ato desconfortou Nicholas que encarou as rosas do jardim.
- Bom dia amor. Bom dia, Andrich, estou certa?
- Sim, mas é Nicholas. Andrich é meu segundo nome.
A garota sentou entre os dois e a pergunta soou com tons de ciúmes.
- Se conhece da onde?
Alec foi quem respondeu.
- Ah, ele é meu vizinho. O pai dele é o Robert, sócio do meu pai e do seu também.
- Legal. Eu sou a Mia, namorada do Alec.
Não era nenhuma surpresa para Nicholas depois do beijo; além do mais Mia parecia ser uma boa pessoa, mesmo se deixando ser influenciada de cabo a rabo por Amber Johnson, a popular.
- Felicidades pro casal - Nicholas se levantou do banco e olhou os dois. - Foi um prazer. Nos falamos mais tarde, Alec. Boa aula.
Alec estudava na sala sessenta e um, antes da classe de Nicholas, não eram muito chegados e a presença de Mia pareceu incomodá-lo de uma maneira surreal.
- Mas já? - o garoto protestou. - Sério mesmo que precisa ir agora?
- Não me incomodo que fique, Andrich - asseverou Mia, massageando os cabelos ruivos - Se quiser podemos nos sentar juntos no refeitório mais tarde.
Será que havia escapatória? Ele pensou.
- Pode ser, então.
Dito isso, Nicholas deixou o casal de pombinhos namorando e foi em direção a sua sala. Faltava aproximadamente quinze minutos para o início das aulas, e ao estar caminhando nos corredores aglomerados do segundo andar, percebeu as pessoas menos improváveis acenando em direção a ele. Não se tratava de ninguém menos que Austin Moore e sua corja de garotos bonitos, fortes e podres de coração e alma; todos vestindo um casaco em especial, o do time de soccer. No meio deles, Amber Johnson, a popular e namorada de Austin. Bonita por fora, vazia por dentro. O grupinho dos ricaços. Os temidos, os indomáveis, como os menos privilegiados conheciam na Bernard High School.
Como lutar contra eles? Nicholas perguntou ao cumprimentá-los um por um. O sorriso mais esnobe e de pura falsidade foi visto de perto, mas não negava que Amber Johnson tinha bom gosto. Austin Moore era ainda mais belo de perto; os cabelos castanhos impávidos só não eram mais belos porque os olhos azuis deslumbrantes ao toque da luz.
- Como está? - Austin perguntou por extrema curiosidade.
- Bem, e vocês?
Todos assentiram veementemente.
- Vai na festinha do Túlio final de semana? - o loiro desejou saber.
- Não, não fui convidado.
Túlio, um rapaz negro e dono de dentes brancos, prontificou-se em convidá-lo pessoalmente.
- Está convidado. Passarei o endereço mais tarde.
- Ah, mas ele reside no mesmo condomínio que a gente, cara - avisou Austin, dando um tapinha nos ombros de Túlio- Alec leva ele, já que são vizinhos de rua.
O grupo gargalhou um pouco alto, mas Nicholas não entendeu os motivos, então foi enfático na pergunta.
- Qual a razão dos sorrisos de deboche? - a pergunta encerrou o sarcasmo.
Amber que estava até o momento centrada no celular assistindo tutoriais de como suportar babacas o dia inteiro, respondeu:
- Você não sabia?
- Sabia o que?
Amber era programada para destruir casamentos e namoros longínquos em um único clique, logo não seria diferente ao expor Liam, o irmão mais velho de Alec.
- O cara é puro narcisismo, mas é gay.
- Gay?
- Sim, gay. Quando o homem se apaixona por...
- Eu sei o que é homossexualismo, garoto - Nicholas cortou Erik, amigo de Austin- E por que riram quando disseram sobre eu residir perto dele?
Todos engoliram em seco, mas Erik foi quem respondeu agora mais cauteloso.
- Sei lá, algo sobre: tome cuidado com ele. O cara é bonito, mas é lobo em pele de cordeiro.
A resposta bastou.
- Certo! Se eu tiver com vontade de ir a festa do seu amigo, eu vou, beleza? - exclamou Nicholas, afastando-se meio metro do grupo- Boa conversa.
Ele adentrou a sala de aula, composta por pouquíssimos alunos até aquele instante.
Em cinco minutos, o professor Washington, de Biologia, entrou pela porta trazendo todos que estavam ainda fora. Repousou seus materiais em cima da mesa e esperou se acomodarem, quando observou os adolescentes com hormônios aflorados nos devidos lugares, entrelaçou os braços acima dos peitos e encostou o quadril na mesa.
- Bom dia, gente da testosterona e progesterona elevada.
O coro respondeu em uníssono.
- Bom dia, professor Washington.
Washington Hall era um dos educadores mais adorados do ensino médio, tudo porque facilitava a vida do aluno fazendo-o entreter em assuntos importantes como o clima, saúde e futuro. Naquela manhã, em especial, trazia três boas notícias.
- Pessoas do hormônio elevado, a diretora Blanche pediu para noticiar algumas novidades deste semestre. A primeira é que haverá o famoso Baile que vocês amam... usem camisinha e nada de transar bêbados.
A classe caiu em gargalhadas.
- Segunda notícia - ele prosseguiu - Nossa escola vai tentar o bicampeonato dos Jogos Interclasses. E a terceira e mais favorável, dias de terça e quinta, as aulas passarão a ser... - todos suspiraram profundamente, menos Nich - integral, para poderem treinar e ficarem mais preparados na disputa. Nada de azarões, por favor, garotos dos hormônios eletrizantes.
Todos comentaram as notícias durante três minutos, quando Washington resolveu se intrometer.
- Outra notícia que havia me esquecido, mas não eram as três mais importantes: amanhã antes do início das aulas, todos agrupados no ginásio. O professor Elliot, vai dar continuidade nas atividades extraclasse.
O burburinho prosseguiu. Nicholas estava sentado no meio da turma, ao seu lado direito estava Brian, um garoto extremamente bonito, com um corte de cabelo baixo; à esquerda, Vanessa, uma das amigas de Amber; à frente, Austin, atrás Dylan. Seria quase impossível Washington avistá-lo em meio a pessoas tão populares. Mas os olhos castanhos-escuros do professor o encontraram no momento oportuno, quando os "hormônios exaltados" como referia-se a Austin e seu grupinho, falavam asneiras sem sentido.
- Silêncio - ele pediu, se levantando. - Cadê os dois novatos? - Washington procurou pela frequência e a encontrou. Colocou os óculos e buscou os referentes - Anne Maya e Nicholas Andrich! É isso?
As mãos no ar foram o bastante para o professor chamá-los à frente. Sem hesitar, cumpriram as ordens. Washington permaneceu entre ambos.
- Sejam bem vindos a Bernard High School. É uma satisfação tê-los aqui. São de onde? Começando por você,... Anne!
Anne era uma garota bonita de cabelos cacheados e tom de pele parecido com canela. Corpo moldado, nádegas que denunciavam a não pertencer àquele país.
- Sou Anne Maya, brasileira. Tenho dezessete anos, sou filha de advogados e me mudei recentemente para os Estados Unidos. Espero fazer grandes amizades.
Sem sotaque. O inglês de Anne era impecável, ninguém jamais suspeitaria que fosse brasileira.
- O Brasil é lindo. Qual seu estado?
- Pará. É o segundo maior do Brasil, depois do Amazonas e o mais populoso da região Norte.
Aquilo bastou para Washington.
- Sua vez, rapazinho!
Nicholas parecia mais relaxado depois da primeira semana. Aquele tivera sido seu primeiro contato com o professor Washington, mas já o adorava.
- Sou Nicholas Andrich. Galês, tenho dezessete anos, cheguei há uma semana em Nova Iorque.
- É de Cardiff?
- Sim, Cardiff!
Professor Washington pediu para que ambos voltassem aos seus lugares.
Passou os exercícios devido e ao soar o horário do intervalo, liberou todos para lanchar no refeitório.
O refeitório normalmente era dividido em duas partes: a primeira coberta, com diversas mesas onde grupos sentavam; ventilado pelos arcondicionados e onde os próprios alunos serviam-se. A segunda divisão ficava ao ar livre, debaixo de árvores, também muito frequentadas. A turminha de Austin sentava ali, todos com seus pares românticos, a decisão de acompanhá-los foi pura nostalgia, afinal Nicholas não namorava. Se entreter com aquele povo seria difícil. Mas todos foram bastante receptivos com ele.
- Então esse é o carinha novato? - Guilherme questionou Alec.
- O nome dele é Nicholas Andrich. Estuda comigo - disse Austin, dando um tapinha no ombro esquerdo do rapaz- Convidei ele para a festa do Túlio. Espero que ele vá!
Nicholas nada disse.
- É verdade que irão inaugurar uma boate no centro? - Dylan perguntou ao grupo.
- Meu pai conhece o dono - assegurou Philip, após um gole no milkshake- Ele consegue umas entradas pra gente.
Austin esfregou uma mão na outra.
- Tenta e avisa a mim. São apenas dois menores de idade: o novato e a namorada do Alec. Cê está dentro, né?
Nicholas tomou um pouco de suco.
- Ah, não, meu pai me mata se descobrir. Mas meu aniversário é noutro mês... consigo esperar.
- Hum... vai ter festinha?
- Não, ainda não.
- Como assim, não? Se desejar eu e Maíra somos ótimas em decorações e montagens de festa... - intrometeu-se Amber, deixando, finalmente, o celular de lado. - Estamos aqui caso precise.
Nicholas agradeceu de bom grado, mas ainda não tinha conversado com o pai a respeito. Jamais tomaria uma decisão sem antes consultá-lo.
Ele levantou e todos encararam um semblante curioso.
- Bem, obrigado pela recepção. Até mais.
- Como assim você já vai? - Austin quis saber.
- Passarei na biblioteca da escola. Ouvi dizer que estão precisando de voluntários, então decidi me candidatar a vaga.
Os olhares suspeitos o abateram, mas não ligou.
- Até mais, então. Boa sorte lá, cara.
- Obrigado, pessoal!
A educação de Nicholas parecia coisa de outro mundo, tanto Austin quanto o restante do grupo perceberam isso, mas Nicholas era inocente demais, e não prestou atenção devida no que aquelas pessoas tramavam por debaixo dos sorrisos.