Capítulo 5 Uma noite imperfeita

Michele e Bruce, mãe e pai de Liam, Alec e Kimberly, estavam sentados no sofá assistindo o jornal local quando ouviram o som da campainha ecoar o imóvel, fazendo ambos seguirem o olhar em direção a Kim, a filha do meio, concentrada nos estudos para a Universidade Federal de Nova York.

- Filha? Veja quem é!

Kimberly Clark até revirou os olhos, mas não havia outra saída e cedeu seu precioso tempo indo até o interfone o qual ficava próximo a tevê.

- Quem é o que deseja? - perguntou a garota.

Nicholas estarreceu sob tal humor, porém não se importou.

- Sou colega do Alec. Ele está?

Kimberly revirou os olhos.

- Claro, devia ter suspeitado - ela encarou os pais e estes estavam concentrados nas últimas informações. - Vou abrir o portão para você, aí é só entrar e se dirigir a porta, jovem!

Nicholas agradeceu prontamente. Kimberly pressionou um botão e voltou a sentar em frente a tela do notebook, numa mesa de vidro ornada com um vaso de rosas colhidas pela manhã.

- Quem era, filha? - Michele perguntou, curiosa.

A garota ligou o headphone.

- Amigo do Alec e do Liam, segundo o garoto.

- Ah, sim, deve ser um desses mesquinhos do bairro.

- É, deve ser. Abra a porta, mãe. Quero me concentrar aqui, por favor!

Michele assentiu.

Menos de dois minutos, Michele ouviu três batidas na madeira de cedro e o som agudo ecoou a sala e rapidamente a mulher se ergueu e caminhou até a porta, abrindo-a em seguida e deparando-se com aquele rapaz a qual a fez arregalar os olhos.

- Boa noite, Sra. Clark. Tudo bem?

Sim, era completamente diferente dos demais amigos de Liam e Alec, e também das parcerias de Kim, sua filha.

- Boa noite. Estou bem - ela respondeu com gentileza- Esse rosto me é familiar.

Nicholas abriu um sorriso.

- Ah, que bom, Sra. Clark - ele espiou por cima do ombro dela e enxergou Kimberly e o esposo da mulher. - Sou o Nicholas, filho do Robert Ramsey.

- Uau - disse impressionada, talvez pela beleza, ora pela educação- Entre, jovem, entre. Me acompanhe.

Nicholas acompanhou a mulher que não permitiu a presença dele passar despercebida por ambos.

- Bruce, meu amor, temos visita. Desligue a tevê, por favor - pediu a Sra. Michele.

Bruce levantou apressado e desligou o aparelho e o silêncio habitual dos Clark, retornou à sala.

- Oh, e quem é esse rapaz?

- O nome dele é Nicholas, amor.

- O filho do Robert?

- Esse mesmo, Sr. Clark. Perdão pela invasão de privacidade.

Bruce Clark, no entanto, não se importou, pois ficou contente em apreciar a educação, beleza e aspereza de Nicholas de perto, sem ter intermédio de Robert, seu amigo e sócio. Caminhou até o jovem e o cumprimentou com um longo aperto de mãos. Kimberly, que havia voltado aos assuntos da faculdade, teve o momento de reflexão violado outra vez.

- Que droga, mãe! - disse indignada.

Ao ver a visita de pé e tentando esconder o sorriso, Kimberly mudou de branca para vermelha. Talvez pela vergonha ou ingenuidade, mas levantou-se depressa e atenta a aqueles olhos penetrantes os quais a encaravam à distância.

- Filha? - Michele a chamou, com um sorrisinho nos lábios. - Este é o filho do Robert?

- Do Robert, mãe? Sério? - Perguntou toda sem graça.

Bruce e Michele assentiram.

A vontade de Kimberly naquele instante era que abrisse um buraco debaixo de seus pés e a levasse ao quarto no reverso apenas para dar um retoque na maquiagem e mudasse de roupas.

- Sou o Nicholas - ele disse se apresentando a ela, caminhando com a mão direita estendida para o cumprimento. - Qual seu nome, moça?

Kimberly acatou o contato e pode sentir o coração pulsando em reação quando o toque das mãos dele a possuiu.

- Kimberly!

- Prazer em conhecê-la, Kimberly. Você era a moça do interfone, certo?

- Fui grossa?

- Imagina, não foi. Eu é quem deveria ter avisado os meninos sobre minha chegada. Fora que está no dever de ficar irritada com visitas - falou olhando a pilha de livros e o notebook aberto em cima da mesa - Já que parecia tão focada nos estudos.

Ele era compreensivo e isso era notório pelo sorriso de Michele e Bruce.

- Até que enfim conhecemos você, Nicholas. Seu pai comentava o quão belo era, mas nunca cheguei a imaginar a proporção dessa pulcritude - elogiou Michele, dando a mão ao marido. - Mas sente-se e espere pelos meninos.

- Obrigado pelos elogios, Sra. Clark. E pela recepção também.

Ele sentou no lugar indicado, mas os olhos ainda prosseguiam de vez em quando em Kimberly.

Kimberly puxara o pai. Era loira dos olhos azuis e pele clara, com um corpo de mulher já formado e Nicholas podia jurar ter uns dezoito anos apenas. Contudo, Kimberly havia acabado de completar vinte e dois, e era mais nova dois anos que Liam.

Sentados no sofá, a família Clark observava o garoto, indagando sobre assuntos relevantes e os quais Nicholas prontamente respondia ou com uma longa veracidade ou detalhadamente curto, algo que impressionou os três.

- Estuda com Alec, certo? - perguntou Michele.

- Não, na verdade. Alec e eu cursamos a mesma série, mas em salas separadas.

- Ah, entendi - disse a mulher. - E como conheceu o meu outro filho?

Nicholas, então, contou-lhes os eventos de mais cedo no estacionamento e no final todos sorriam.

- Meus filhos são de ouro. Mas minha filha é diamante raro - exaltou Bruce, entrando no assunto- Seu pai também tem muito orgulho de você, rapaz. Parece ser um ótimo prole.

Nicholas agradeceu outra vez.

- Tem quantos anos? - perguntou a curiosa Kimberly.

- Dezessete, por enquanto. Mês que vem farei dezoito e serão convidados ou intimados a ir na minha festa.

O sorriso de Kimberly se desfez, porém continuava com grandes esperanças voltadas ao amor.

- Legal. Iremos com certeza - Bruce prontificou-se.

Michele, vendo que tinha sido mal-educada, ofereceu-lhe algo.

- Quer um suco, querido?

Nicholas, porém, dispensou o refresco.

- Obrigado, Sra. Clark...

- Apenas Michele, querido..

- Obrigado, Sra. Michele. Mas aceito um copo com água.

- Com ou sem gás?

- Sem gás, por favor.

A mulher erigiu do sofá e caminhou até a cozinha. Pouco tempo depois voltou trazendo o pedido do jovem e prosseguiram a conversa aleatória. Ao ouvirem passos e vozes em direção a sala, vindo pela escada, o papo deu por encerrado e os filhos do casal, vestidos adequadamente, apareceram sufocando o ar da atmosfera com a vastidão de seus charmes.

Alec optou por uma bermuda jeans de tonalidade azul-opaca na altura dos joelhos, uma camisa por debaixo do moletom branco e um par de tênis preto. Diferente dele, Liam pareceu caprichar mais, quiçá porque queria encontrar alguém e ao contrário do irmão, exibia bem mais que o costumeiro, sem deixar de ser casual.

Os sapatos brancos e a meia da mesma cor iam até as panturrilhas musculosas. A bermuda preta era folgada, assim como a camisa rose-gold a qual caiu perfeitamente em seu corpo de veias salientes e músculos tesos e sensuais, principalmente na região do peitoral destacados no pano suave e nos braços e antebraços.

Ele abriu um sorriso largo ao notar Nicholas, e Kimberly percebeu o interesse estampado no rosto do irmão, sobre o rapaz.

- Eu vou para o quarto. Bom passeio para vocês!

E sem se despedir de Nicholas, ela deixou a sala e caminhou para o quarto onde passaria a ocupar a mente com os assuntos da faculdade.

- Que bom que veio, cara - Alec se prontificou em abraçá-lo- Nossa, meu, você está cheiroso e irresistível.

O ato fez Michele e Bruce sorrirem, porém desintegrou o de Liam por infames dois segundos.

- Que tal irmos? - Ele olhou o relógio e tomou um susto- São sete e quarenta e dois da noite, e nosso tour pela cidade de Nova York começará no Luna Park.

- Mas isso fica no finzinho do Brooklyn - disse Alec, assustado. - Pensei que iríamos naquela praça de alimentação onde marquei com o restante da turma?

Liam, no entanto, se contrapôs.

- Também achei legal ir com seus amigos, mas acho que só eu, sua namorada, você e o Nicholas, está de bom tamanho, não acha?

- Tem razão, mas tipo: é do outro lado de Manhattan, Brooklyn para ser mais específico.

Liam cedeu.

- Então vamos ao Central Park, garanto que não irão achar ruim. Ele é fechado à noite, mas existem outras diversões ao redor.

Alec concordou e passou um telegrama para todos e o local onde iriam se encontrar.

- Até mais pai e mãe - assegurou Liam, beijando o rosto de cada um.

- Até, e se comportem. Nada de deixar o Nicholas sozinho, ele não conhece nada da cidade - Bruce pediu. - Cuidem bem desse rapaz.

Liam tomou a frente.

- Eu mesmo irei encarregar-me de ficar sempre por perto.

Mas era óbvio! Aquele encontro tinha exatamente essa funcionalidade e nada poderia dar errado. Jogaria todo seu charme e sabia que nos fins da conta, sagraria vencedor e seu prêmio pelo mérito seria Nicholas em seus braços.

Entre os arranha-céus da cidade de Nova York e localizado no Distrito de Manhattan, o Central Park possui uma extensão de um pouco mais de três quilômetros quadrados. Considerado por muitos nova-iorquinos como um Oásis, dentro da floresta de concreto - Nova Iorque -, é um lugar de bastante movimentação e onde os habitantes tentavam diminuir o ritmo frenético da cidade. Embora pareça natural, ele é, na verdade, ajardinado quase inteiramente e abriga diversos lagos artificiais, trilhas para caminhadas e duas pistas de patinação no gelo, além de um Santuário vivo e campos diversos. Porém, como era fechado à noite devido a alta incidência de criminalidade, o carro de Liam apenas passou por ele e estacionou dois quarteirões à frente, numa praça de alimentação ao ar livre onde haviam diversas pessoas conversando, andando de Skate e bike, ou aproveitando para namorar na agitação.

Nada comparado a um passeio indelével, mas podia ficar melhor e Liam estava ansioso em fazê-lo memorável em todos os aspectos.

Saíram do carro e seguiram caminho até o grupo. Estavam ali: Túlio e Vanessa, sua namorada. O casal Erik e Priscila, os namorados Elle e William e Amber com Austin e mais o irmão de Austin, o Christian. Quando avistaram o trio, uma sequência de cochichos começou e se rompeu, principalmente ao perceberem que o novato estava entre eles. Mas foi Austin quem tremeu sob a possibilidade inevitável de conversar e conhecer mais profundamente o rapaz.

Alec cumprimentou a todos, assim como Liam; Nicholas apenas acenou a cada um.

- Cadê a Maíra? - ele quis saber.

- Hã... foi ao banheiro retocar a maquiagem - respondeu Amber, colada a Austin. - Mas sentem, por favor! - Ela pediu delicadamente.

Tal ato gerou olhares tortos, mas os três passaram a ocupar respectivas cadeiras. Ao notar o silêncio, Túlio iniciou uma conversa.

- E sua banda, Liam, como vai?

- Bem, mas estamos nos apresentando pouco devido à faculdade - alegou o rapaz, olhando para Nicholas, centrado e tímido no assunto. - Por que?

Túlio tomou um pouco do suco natural antes que respondesse.

- É que a banda a qual iria cantar no meu aniversário, despachou - anunciou Túlio- Então queria saber se, por acaso, topam tocar pra gente.

Liam abriu um sorriso largo, arrancando um olhar selvagem de Amber, sentada sobre as pernas de Austin. Nicholas notou o gesto e desviou os olhos em direção a Liam, todo sorridente.

- Ah, mas é claro. Pode contar com a gente.

- Que bom, parceiro. Espero por vocês lá.

Dois minutos depois, Maíra retornou do banheiro e deixou um beijo no rosto de Liam e outro nos lábios do namorado, que a fez sentar junto de si. Entre conversas e assuntos, Amber não deixou apenas sorrisos, ela gostava de fogo no parquinho e havia preparado uma pergunta a qual silenciou a todos de forma surreal.

- Vocês estão juntos? - perguntou referindo-se a Nicholas e Liam.

A pergunta não foi respondida, não depressa como a garota e todos os curiosos gostariam.

- Não, por que? - Nicholas tomou coragem de confrontá-la- Tem algo contra ou é apenas ciúmes do Liam? Porque notei seu olhar sobre ele desde o momento que chegamos e é algo fora do comum... muito fora do comum. Bom, pra mim chega. Boa noite!

E daquela forma, Nicholas deixou o grupo com um suspense no ar e voltou para casa, sem ver Liam ou ouvir seu nome ser pronunciado e que bom, preferia assim mesmo. Amber colheu apenas o que havia plantado: discórdia.

                         

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