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Ao vê-lo adentrar pela porta, Melinda sentiu-se mais aliviada.
- Ah, graças a Deus você chegou, Nich! - transparência e suavidade passaram a ser vistas milimetricamente na face de Melinda - Liguei tanto para você e apenas caixa postal! Veio de táxi?
Ele ajeitou a mochila no ombro direito e sorriu.
- Não.
E caminhou para o quarto, sendo seguido pela mulher.
- Como assim, não? Veio com quem?
Nicholas abriu a porta e foi rumo à cama, debruçando sobre ela.
- Qual o motivo de tanta pergunta, Mel?
- É o meu trabalho, guri. Se algo vier acontecer contigo, a culpada sou eu.
- Chega de drama, Melinda. Senta aqui!
Indicou a beirada da cama. Melinda não hesitou, já que estava curiosa em saber com quem o rapaz veio..
- Me diga, com quem veio?
Nicholas revirou os olhos, mas sorriu.
- Ora, com nossos vizinhos de rua. O Alec e o irmão dele, o... - Nicholas fingiu ter esquecido o nome do jovem - Liam, me parece.
Melinda suspirou fundo.
- Que bom que está fazendo amizades. Os meninos parecem ser pessoas gentis.
- Ah, e são mesmo. Principalmente o Liam. Ele é gente boa.
Melinda fitou-o por um breve tempo. Nicholas sentou-se no meio da cama e abraçou um travesseiro. A fisionomia triste abalou a mulher, mas esta sabia os motivos e as razões, no entanto, queria ouvir dele.
- Gostou dele?
Nicholas encarou um semblante curioso à sua frente.
- Como assim, gostei dele?
- Ah, Nich - ela ergueu da cama e foi até o espelho - Essas coisas são tão normais hoje em dia, bom, pensei que...
- Pensou precipitada, Melinda.
- Não engane seu coração, pequeno. Tente não se retrair. Vou colocar o almoço na mesa!
Ela deixou o quarto com um vazio ainda maior, cheio de confusões a prolongar-se por mais dias. Nicholas, contanto, mandou as indagações e objeções para o mar do esquecimento e mudou de roupa.
Vinte minutos depois, resolveu descer para almoçar. De fato, Melinda já havia posto a mesa, mas o cardápio não o agradou pois ainda preferia a culinária de Gales e por mais saborosa que lasanha fosse, sentia o estômago revirar só de vê-la. Porém, um pedaço médio o satisfaz de imediato e alguns minutos mais tarde, locomove-se a sala ampla da mansão e conseguinte, deitado no sofá, acabou sendo abatido pelo cansaço e adormeceu ali mesmo.
O cansaço parecia ter finalmente conseguido arruinar o dia de Austin Moore, o descolado. Quiçá pela presença apavorante de Amber e Maíra que estavam há mais de duas horas fazendo stories, tirando fotos, falando sobre maquiagem, roupas de modas e etc.
O trio banhavam-se na piscina de borda infinita no quintal florido e de grama sintética na casa de Amber, mas Austin estava a quatro metros na espreguiçadeira tentando recompor as energias para a nova seleção de jogadores que iriam competir pela Bernard High School, nos jogos interclasses. No entanto, os cochichos das duas irritavam seus tímpanos que o fizeram tomar uma decisão. Ergueu-se à procura de sua camisa e bufou, antes de se dirigir a elas.
- Tô indo... amanhã nos vemos, beleza?
- Mas já, amor? - ela indagou. - Ei? Cadê meu beijo?
Austin virou o corpo e deixou um selinho nos lábios de Amber e, logo após, as deixou sozinhas, como estavam há pouco tempo. Vestiu a camisa no trajeto até o carro estacionado em frente a calçada da casa e assim que entrou nele, descansou a cabeça no volante e pegou a pensar.
- Que droga!
Se praguejou duas ou mais vezes antes de ligar o veículo e sair em disparada em direção a sua casa a qual ficava naquele mesmo condomínio pela proximidade com o Centro de Manhattan, a escola, parques e shoppings centers.
Alguns minutos depois, chegou à mansão onde morava com seus pais e mais dois irmãos, sendo um mais velho e outro caçula. Ao entrar pela porta, Julian, seu patriarca, lia um livro com as pernas trançadas e uma xícara com café, degustando tanto as palavras quanto aquele o qual passou a ser seu vício preferido.
- Cheguei, pai!
- Estou vendo - Austin ia subindo as escadas quando foi interrompido- Ei, ei, ei, vem cá!
A ordem foi cumprida assim que terminou de revirar os olhos.
- Qual é, pai?
- Qual é o que, garoto? Eu que te pergunto quem o deixou assim?
- Assim como?
Julian Moore fechou o livro e levantou, circundando o sofá e caminhando até o filho.
- É a Amber, não é mesmo?
- Como sabe?
- Não preciso ser telepata, filho. Ela publica um status a cada dois minutos e poucos deles tem você. Acho que já deu, né? Por que investe tanto em algo que só te faz mal?
Não havia resposta para aquela pergunta, só mais um amontoado de indagações que surgiram depois.
- Eu... preciso tirar o cloro do meu corpo...
- Austin? - Julian o encarou nos olhos - O assunto ainda te perturba, não é mesmo?
- Não quero falar sobre isso. Vou pro quarto.
Ele voltou as escadas, mas ouviu a voz do pai ecoar seus ouvidos.
- Sua mãe deixou o almoço na geladeira.
Ao entrar no quarto, deixou as chaves sobre o criado-mudo, retirando a camisa e sentando na beirada da cama, voltando a refletir se o romance casual com Amber tinha o levado a algum lugar além do sofrimento e da própria escuridão. E quando percebeu o caos formado em sua vida, deitou lentamente e manteve aquela mesma posição até cair no sono.
Ao acordar, deparou-se com Christian, seu irmão caçula, de pé rente a cama fazendo tomar um susto pela máscara horripilante e tão real do assassino do filme Sexta-Feira 13.
- Droga, Chris! Que porra é essa?
- Olha a boca - repreendeu o garoto - Sou seu maior pesadelo.
- Ah, é mesmo. Cai fora!
Mas o garoto pulou na cama e repousou sua cabeça nos braços de Austin que sorriu pela raridade, já que Chris preferia Matt, ao invés dele, o que levou a suspeitar da criança.
- Que você quer, em?
Chris abriu um sorriso banguela. Chris tinha acabado de fazer sete anos. Era incontrolável, o famoso pestinha da família, aquele que vivia aprontando com todos.
- Matt tem faculdade hoje à noite e...
- E?
- E queria ir ao parque... brincar.
- Agora eu entendi, seu aproveitador. Você quer que eu o leve, certo? - Christian assentiu sorrindo. - Infelizmente não poderei. Vou... sair com a Amber e os meninos.
Chris protagonizou o episódio da criança tristonha, tentando convencer Austin de fazer seus desejos e não os dele. Enfim, a encenação não surtiu efeito.
- Por favor, Austinzinho, me leva no parque.
Austin bufou.
- Hoje não. Amanhã, que tal?
- Amanhã não... amanhã tem aquele jantar na casa dos pais do Alec.
Austin lambeu os lábios e levantou.
- Certo, eu levo você - Chris bateu palmas eufórico - Mas com uma condição.
- Qual? Qual?
- Que... você... não apronte nenhuma pra mim. Estamos certo? Caso me envergonhe, irei me irritar e quando eu ficar irritado...
- Não vou aprontar.
- Que bom, que bom. Agora cai fora que vou chamar a Amber pra ir com a gente.
Christian revirou os olhinhos azulados e deixou o quarto.
Ele digitou o número da namorada e esperou que ela atendesse, mas nada. Tentou outras cinco vezes e deixou por isso mesmo, suavizando sua raiva.
- Filho? Filho? Acorde, Nich! - Robert balançou o corpo do garoto, fazendo-o acordar. - Vamos para o quarto?
Nicholas revirou-se no sofá.
- Ah, pai, depois.
- Depois nada. Vamos agora. Tome pelo menos um banho para conversarmos um pouco.
- Ah, droga.
- Olha o palavreado, Nich. Levante e vamos.
Meio sonolento, Robert acompanhou seu filho pelas escadas até o quarto dele. Repousou sobre a cama e analisou a fisionomia cansada do garoto.
- É o fuso horário ainda?
- Escola, professores, fuso-horário, tudo. Tudo me deixa exausto, pai.
Robert sentou próximo dele e acariciou os cabelos loiros do rapaz, encostando a cabeça dele em seus ombros.
- Perdão por fazê-lo vir para cá. Eu... me odeio por isso.
Nicholas se sentiu mal, óbvio, mas nada disse durante alguns segundos.
- Será que posso sair hoje com uns amigos que fiz?
Se fosse em Cardiff, Robert não o repreendia, tampouco perguntaria sobre a árvore genealógica da família desses amigos.
- São confiáveis?
- Não sei, eles dizem que são canibais e assassinos. Gostam de matar policiais e se infiltrar em guerras.
- Nich?! Estou falando sério.
- Eu também. Pelo menos eles dizem que fazem isso nos jogos.
Robert suspirou um pouco mais aliviado.
- Quero nomes? Identidade e sobrenomes?
Nicholas sorriu.
- É o Alec e o Liam, pai. Filhos do seu sócio.
Robert arregalou os olhos pela surpresa. Afastou a cabeça do filho e ergueu da cama.
- Eles são pessoas adoráveis.
- São tão adoráveis que nem comentou sobre eles.
- É verdade, filho. Mas amanhã teremos um jantar na casa dos pais do Alec e do Liam, poderão se conhecer melhor.
Nicholas revirou os olhos.
- Por que será que não estou surpreso?
- E era para estar?
- Não. Acho que não. Mas e aí coroa, vai deixar eu sair com os meninos?
Robert não demorou a tomar uma decisão.
- Pode ir, mas antes da meia-noite, quero você em casa, me ouviu?
Nicholas comemorou.
- Irei vir no horário marcado.
- Que bom, filho. Mas e aí, já pensou na festa de aniversário?
Não, era óbvio que não.
- Pensei - ele mentiu, e mentiu péssimo. - Tem uma garota, chamada Amber, da minha escola que se ofereceu para organizar tudo.
- Amber Johnson? A filha dos Jonhson de Manhattan?
- Deve ser. Ela namora o Austin Moore, filho do seu sócio.
- Ah, sei quem são os dois. Ela é uma graça, mas ele não, não gostei do garoto.
Nicholas ergueu uma sobrancelha, curioso.
- Por que? Ele me pareceu ser uma ótima pessoa.
- Engano seu, filho. Austin é irrelevante, o irmão dele, o mais velho, este sim é confiável. Acho que estará no jantar amanhã.
- Humm. Vou tomar banho. Tem problema se eu pedir para sair, pai?
- Nenhum. Tome cuidado, filho. Sem bebida, sem drogas e sexo apenas com camisinha.
Nicholas concordou.
- Pai? - ele o chamou. - Será que...
- Que o que, filho?
Nicholas pensou se valia apenas, chegou a abrir os lábios mas a coragem em proferir as palavras não veio na mesma intensidade.
- Nada, pai.
- Ok. Vou descer e sair um momento.
- Vai onde?
- Na... sorveteria do outro bairro. Quer uma casquinha?
- Não, de boa. Tem um pote na geladeira.
Robert, então, retirou-se do quarto de Nicholas e ele pode, finalmente, tomar banho.
Dez minutos foi o tempo suficiente para terminar sua higiene corporal. Deixou o banheiro em seguida, caminhando até o closet e procurando entre suas tantas opções algo não muito chamativo. Na seção de conjuntos e um, em especial, chamou sua atenção. Era todo preto, tanto a camisa quanto o calção, ambos de cetim, com um desenho em tom prateado no peito direito e acima dos joelhos. Escolheu um boné da mesma tonalidade; um cordão de ouro dezoito quilates e pulseiras, as quais raramente usava. No repartimento de calçados, optou por usar um tênis branco, com poucos detalhes preto e, finalizando o look, Nicholas pegou uma de suas jaquetas.
Após a finalização do vestuário, passou perfume, pôs um brinco pequeno com o pingente do infinito no lóbulo da orelha esquerda e penteou os cabelos. Estava pronto. Dessa forma, encarou seu reflexo no espelho. Nicholas possuía um rosto harmônico, com os músculos que fazia-o parecer mais velho, tudo porque a herança da face angulosa destaca sua beleza de forma natural, herdada principalmente de seu pai. Os olhos, bom, estes vieram de sua mãe, assim como a cor da pele, porém os fios dourados da cabeleira proviam de Robert.
Depois de um último retoque de perfume, deixou o quarto e a casa, cruzando a rua a passos calmos e tocando a campainha da mansão de Liam e Alec, aguardando alguém vir atendê-lo.