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São Paulo - Brasil - 2022
Zora invadiu a mansão com seu salto alto e andar rústico. Os olhos brilhantes, cheios de esperanças chegaram em meu escritório rapidamente para me lançar a pasta com os dados que lhe havia pedido. Ela sorriu largamente quando peguei as informações para abrir e ler.
- Regina Jan. O sobrenome é uma abreviação de Janowicz que foi adotada pela família há cinco gerações. Anteriormente seu sobrenome era Johann quando a família, muito antes do pai de Regina nascer, vivia na Alemanha. - A mulher tirou outra pasta parda de sua mala para me passar. - Johann foi o nome deles por longos duzentos anos, mas antes disso os ancestrais de Regina viviam em Roma e tinha o sobrenome de origem latina Joannes que esteve ligado a eles por um longo período. Não seria possível descobrir mais, pois ao chegarem na Itália, eles adotaram o Joannes e destruíram diversos arquivos referente ao seu passado.
- Joannes me parece um nome comum, porque teriam tanto trabalho para apagar seu passado? - Perguntei, fazendo a mulher sorrir outra vez e retirar mais uma pasta da mela, dessa vez ela segurou firme.
- Porque a família Joannes fugiu da Venezuela em 1502, após terem sido descobertos pela ordem da magia. - Me estendeu a folha deixando-me abri-la. Ao ouvi-la dizer sobre a ordem, meus olhos arregalaram. - Provavelmente as gerações de Joannes se escondeu lá, mas quando a Venezuela foi descoberta em 1498, eles não tiveram opções e fugiram.
- Fugiram do que se a ordem procurava apenas...
- O sobrenome era Nidad. A classe de Cloe.
Pensei brevemente nas buscas feitas por Zora. Scain havia morria em meados de 520, a primeira vez que surgira a família Joannes havia sido em 1502, não seria possível que Nidad tivesse perambulado por mais de novecentos anos sem serem descobertos.
- Isso é apenas uma base. Como um Nidad teria chegado tão longe sem ajuda e em um lugar desconhecido? - Disse e Zora sorriu assentindo para minhas perguntas.
- Cloe era mestra da magia negra. Sua família a seguiu até o último dia e todos misteriosamente desapareceram quando ela morreu e de repente uma família pagã surge no continente americano e também desaparece quando descobrem o local onde estão. Não muita é coincidência?
- Como sabe que eles eram pagãos e seguidores de Cloe?
Zora suspirou, seus dedos invadiram a mala uma vez mais e retiraram a foto antiga passando-a para mim, nela havia um pedaço de madeira com um símbolo desenhado de maneira ainda mais antigo que aquela revelação. A cobra engolindo a própria cauda com pontos pretos no centro como se formassem olhos de criatura e um enorme triângulo retorcido prendendo a besta no seu meio. Alisei o peito naquele instante, onde antes a corrente havia me marcado com um desenho idêntico.
- Existem muitos símbolos semelhantes, mas nunca fizeram exatamente igual.
- Sobreviver em uma terra quase vazia por novecentos anos, como conseguiram e como fugiram?
- Haviam nativos quando os espanhóis chegaram, podem tê-los ajudado a viver e a fugir. - Supôs a garota.
A porta de entrada da casa foi aberta uma vez mais e o rapaz percorreu o caminho de maneira feroz, como sempre tinha costume de fazer quando trazia notícias. Vendo as portas do escritório abertas, ele não parou os passos e quando chegou próximo de nós, sorriu para Zora antes de respirar fundo.
- Acabou de sair no jornal que Regina Jan foi encontrada e que não havia sido uma travessura universitária. Ela apenas se perdeu pelas redondezas. - Franzi as sobrancelhas para ambos os funcionários e o rapaz moreno manteve seu sorriso. - Antes que pergunte, ela nasceu naquela cidade.
- Ainda sim se perdeu nas redondezas.
Era até irônico que alguém caísse em algo assim, haviam feito alarde pela menina ter desaparecido por conta de uma brincadeira sem graça. Antes das 24 h imposta pelas autoridades em caso de desaparecimento, eles já estavam atrás dela por terem medo de lhe ocorrer algo e quando a garota aparece, fora por se perder em um lugar que sempre viveu. Regina devia conhecer as redondezas e era até estúpido dizer que não.
Minhas mãos coçaram, me lembrei do vento que havia alertado o uso de parte da força de Cloe e pensei em como ela deveria ter sido descoberta sendo ele em seu corpo. Talvez ele não tivesse ciências que se tornara outra pessoa e poderia ter machucado alguém. Aquilo me alarmou, levando meu olhar a sua antiga discípula.
- Ela nunca machucou uma mosca sem necessidade - Zora falou ao entender meu olhar assustado. Meu rosto ganhou um ar de desconfiança e ela revirou os olhos. - Todas às vezes que atacou foi para se defender, jamais usou da magia para ferir por maldade. Confie nela, dessa vez.
Fechei os olhos com aquela repreensão. Zora fazia questão de me lembrar, todas às vezes, que eu não havia confiado o suficiente em Cloe e por isso tudo chegara tão longe. De certa forma ela tinha razão.
- Vocês já sabem o endereço de Regina? - Perguntei, ao tentar me livrar daqueles pensamentos.
- Ainda não, mas descubro em duas horas - Disse o jovem ainda na sala.
- Tem quarenta minutos, Tales - vamos sair assim que conseguir a aprovação de vôo e sabe que sou rápida. - Ele arregalou os olhos, fez uma breve careta para Zora e se apressou para sair dali o quanto antes. A garota se voltou para mim. - E você se recomponha. Se for Cloe, ele precisará de apoio dessa vez.
- Minha preocupação não é só com ela - suspirei pesadamente, enquanto tentava não desmoronar. - Cloe era a líder, você um dos quatro. Se ela voltou, faltam apenas três. Os mesmos que sumiram com sua morte.
- Ranon - a mulher se aproximou da mesa para sussurrar. - Agradeço pela ajuda durante todos esses anos, mas Cloe é minha mestra e devo lealdade a ela. Se voltarem, devem também. Antes de tomar qualquer decisão preciso ver de qual lado ela está e se optou pelo errado, farei questão de selar minha alma.
- Mas os três vão segui-la e podem acabar com tudo. Seu irmão...
- Meu irmão deve muito mais a Cloe do que eu. - Interrompeu-me ela. - O que posso fazer é enfraquecer os cinco deixando de existir, mas não posso me voltar contra quem me criou.
Pensar que ela havia ficado junto a mim todos os anos apenas para encontrar seu mestre e saber se foi real sua traição, fora um dos fatores que me motivaram a procurá-lo. Zora tinha convicção de que tudo não havia passado de um mal-entendido na época e jurava que eles tinham sido atacados muito antes de Cloe enlouquecer. Por isso quando a ajudei a fugir da condenação, ela me jurou que iríamos trazer seu mestre de volta para que eu soubesse a verdade e me arrependesse de não ajudá-la.
Eu estava bem próximo de descobrir se minha amiga havia realmente sucumbido ao poder obscuro dos magos ou se havíamos a transformador em um monstro.
- Prepare o vôo, vamos encontrar Regina.
Disse com a decisão e a aflição de mesclando dentro de mim. Zora se apressou para sair e eu me preparei para encontrar um velho amigo.