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Antônio/ Tony
Não gosto de ficar longe da minha filha, a Julia é a coisa mais importante da minha vida. Quando eu soube da traição de minha ex, meu mundo desabou. Eu amava tanto essa mulher que esqueceria o fato de tê-la visto aos beijos com outro homem, em um bar a duas quadras do meu trabalho. A humilhação foi grande, fiquei por cinco minutos esperando ela notar a minha presença e quando a minha esposa me viu ficou sentada, nem sequer tirou os braços do amante de seu ombro apenas fingiu não ter me visto e continuou a conversa. Inventei uma desculpa para o Paulo, que estava comigo, e voltei para o trabalho. Meu amigo ficou tão sem graça que não falou nada sobre o ocorrido.
No fim do dia ao sair do trabalho, já pensava em como seria nossa conversa ao chegar em casa. Imaginei chegar e encontrar uma Juliana arrependida, mas não recebi nenhum pedido de desculpas. Lembro como se fosse hoje, ela com duas malas de carrinho, com uma cara de cínica, me dizendo que nunca me amou, que só esteve comigo esse tempo por status e pela Julia que ainda era muito nova. Quase a implorei para não afastar minha filha de mim, foi aí que perdi qualquer respeito que um dia tive por essa mulher. Minha até então esposa gritou com todas as letras que não queria um estorvo em sua vida, e que eu era responsável por aquela criança, pois ela nunca quis ser mãe, que por ela teria abortado e só não o fez porque não deixei.
Ela partiu sem se despedir da menina. Observei pela janela ela entrar no carro do amante. Desde esse dia, cuidei da minha filha e fui mãe e pai da Julia. Tem dias que não sei como lidar com o seu crescimento, mas tive ajuda dos meus amigos. Hoje ela parece uma mulher, mas ainda é o meu bebê.
A Julia nunca teve um namorado, não que eu saiba, e espero que continue assim, não estou preparado para ver um malandro qualquer encostar na minha filha, mas sei que será inevitável.
Antes de viajar passei em seu quarto e a beijei carinhosamente, ela continuou adormecida com a Mel (sua cachorrinha poodle, que dei para ela quando a mãe saiu de casa) dormindo ao seu lado.
Mais tarde ligo a obrigando a dormir na casa da Clara, sei que ela sabe se cuidar, mas fico mais tranquilo em saber que ela tem a supervisão de um adulto.
Fui para fora do condomínio para pegar o táxi até ao aeroporto. Já se passaram 20 minutos e nada de chegar.
- Droga, vou chegar atrasado. - reclamei em voz alta.
- Bom dia Tony, como sempre atrasado. - olhei para trás e observei a Clara, como sempre sorrindo.
- Bom dia, Clara. - dei um beijo em seu rosto que está corado, deve ser o sol - meu vôo sai em 40 minutos e não passa nenhum táxi.
- Eita, já sei, pego meu carro e te levo lá.
- Não, Clara, não precisa. Já basta te incomodar com a minha filha, não quero estragar seu passeio.
- Só ia caminhar um pouco, e você sabe que adoro a Julia. Não é nenhum incômodo estar com ela. A caminhada pode ficar para depois. Já volto!
Observo ela se distanciar e relances do passado vem em minha memória...
Há um tempo, Clara descobriu a traição do marido, que era do meu grupo de amigos, porém, nunca fui muito com a cara dele. Sempre achei a Clara demais para o Luís Fernando.
Ficamos próximos nessa fase, pelo fato de eu saber o que ela estava passando. Estávamos juntos em todos os eventos, comecei a frequentar a casa da Clara e ela a minha. É notável como minha amiga e a Julia sempre se deram bem, contudo, acabei confundindo as coisas. Um dia me deixei levar pela atração que sinto por essa mulher incrível e pensei ser recíproco, então a beijei. O beijo foi ótimo, mas quando nossos lábios se afastaram ela pediu delicadamente para eu não confundir as coisas, pois, curtia muito a minha amizade e no momento estava fechada para uma nova relação. Me desculpei e nunca mais tentei nada do tipo mesmo ainda tendo uma forte atração.
Clara buzina estacionando o carro ao meu lado e saio do meu devaneio.
Entro no carro e fomos em direção ao aeroporto conversando sobre bobeiras. Ao chegar ao meu destino, desço rápido do carro, pois meu vôo sai em 20 minutos.
- Tony, sua mochila! - Clara corre em minha direção.
- Ainda bem que você viu, por isso não vivo sem você. Quer dizer, sem a sua ajuda! - corrijo.
- Vai lá, antes que perca seu vôo. - ela sorri.
- Verdade o vôo, tchau!
Aproximo-me rapidamente de seu rosto e para dar um selinho em sua bochecha, mas a Clara não percebe e vira a cabeça e o beijo pega em seus lábios.
- Me desculpa Clara é que... - me atrapalho.
- Não precisa se desculpar, quer dizer - ela se enrolou - eu que virei, enfim boa viagem, Tony.
- Obrigada, Clara. - ela se virou e saiu.
Depois de alguns passos, a Clara olha para trás e eu ainda a olhava. Ela acenou sem graça e seguiu.
*************
Clara
Fiquei totalmente sem reação com o beijo, será que o Tony percebeu que gostei, espero que sim. Ai meu Deus é claro que não!
Já se passaram dois anos desde que o Tony me beijou. Eu boba recusei dizendo não estar preparada, mas logo depois me vi cada vez mais apaixonada por ele, entretanto, ele parece só querer minha amizade. Arrependo-me tanto de tê-lo rejeitado, mas ele também desistiu muito rápido.
Agora não tenho coragem de falar para ele dos meus sentimentos. Talvez o Tony me veja só como amiga, a que ajuda com a filha, mas esse beijo hoje, mesmo que tenha sido sem querer, percebi que ele ficou em um embaraço. Ficou tão sem jeito quanto eu, ou talvez seja porque pense que só quero a sua amizade.
Chego em frente a minha casa, e espero o portão da garagem abrir. Ouço uma risada conhecida, o safado do Carlos num papo super quente com a quenga da Bia. Meu irmão que não perde uma oportunidade, beija a minha vizinha e entra na sua casa, que odio.
(...)
Horas depois estou preparando uma lasanha para o almoço e o comedor de vizinha chega.
- Oi, maninha, estava com saudades. Que cheiro bom, tem para dois?
- Estava com tanta saudade que antes de me ver, comeu minha vizinha. - ele cai na gargalhada me deixando com mais raiva.
- Calma irmãzinha, minha intenção era passar aqui primeiro, mas você não estava em casa e, nessa altura, sua vizinha super prestativa me recebeu. A vizinhança desse condomínio é excelente! - ele pega uma maçã e puxa uma cadeira para se sentar.
- Caralho, Carlos com tanto rabo de saia, você escolhe justo essa mulher. - reclamo.
- Ah para Clara, não estou entendendo esse seu ciúme do nada. Você nunca questionou as mulheres que saio. - ele disse sério.
- É porque tenho certeza que ela já ficou com o Luiz Fernando, a vaca ficava me provocando depois que ele saiu de casa. - volto para a pia, não gosto de lembrar desse momento ruim da minha vida.
- Pelo amor de Deus Clara, esquece seu ex marido, além disso, a Bia é gente boa. - ele se aproxima.
- Já esqueci o Luís Fernando há muito tempo, mas não sou besta de ter amizade com a categoria de mulher que se oferece para homem casado! - falo ríspida.
- Ok Clara, relaxa que não pedi a Bia em casamento, só estou curtindo um pouco. Agora para de ser chata e libera essa lasanha que estou com fome. - ele senta de novo.
- Então levante a sua bunda daí e vá almoçar na casa da minha vizinha, porque quem está te comendo é ela e não eu! - jogo o pano de prato nele.
- Acordou mordida hoje? Você está precisando de um namorado. - ele debocha.
- Tchau, Carlos! Come em outro lugar, vou receber uma visita e não quero você aqui.
- Vou mesmo, hoje você está muito chata. Espero que a visita seja do sexo masculino, você está precisando.
Jogo a colher de pau que estava em minha mão e ele corre antes de ser acertado.
Estou esperando a Julia, mas não ia dizer para ele.