Capítulo 5 História paralela

Clara

O Carlos chegou da casa da Ju e mal falou comigo, estava com uma cara de poucos amigos.

- Que chato esse meu irmão! Poderia ao menos me esperar terminar o banho para dar boa noite. - falo sozinha.

Não sou louca, mas como moro sozinha há bastante tempo, criei esse hábito de conversar comigo mesma. Depois da separação me senti muito solitária porém, hoje amo a minha companhia e nem lembro mais como era ter um homem, que se dizia ser "um marido" em casa.

- Estranho o Carlos dormir cedo, geralmente conversamos até tarde quando ele está aqui - Abro a porta do quarto de hóspedes onde ele dorme como um anjo - dormindo é um santo.

Fecho a porta e vou para o meu escritório, tenho alguns contratos para revisar antes de dormir. Odeio trazer trabalho para casa, mas foi necessário. Entre uma cláusula e outra começo a ficar sonolenta e consequentemente vem os bocejos. Recosta a cabeça sob a mesa na intenção de descansar as vistas, mas acabo dormindo.

😴

Ligo para o Luís Fernando que me atende grosseiramente, falando baixo, com a justificativa que está em reunião.

- Tchau! Quando estiver desocupado te ligo. - ele diz e ouço um silêncio.

Olho para a tela do smartphone que ainda corre os minutos da chamada, na pressa ele não desligou o celular.

- Vem princesa, estou te esperando! - meu marido fala carinhosamente, mas ele nunca falou assim comigo, nunca gostou de melação, segundo ele isso era coisa de adolescente.

- Já estou indo bebê! - uma voz feminina desconhecida ecoa.

Depois disso, parecia que liguei para um puteiro. Escutei em silêncio meu marido dizer palavras que nunca foram proferidas para mim, enquanto a mulher felizarda gemia com a satisfação que o meu parceiro nunca me fez sentir.

Fiquei paralisada até a hora que ele chegou, como se nada tivesse acontecido.

- Boa noite, amor! Ainda está acordada? - tenta me beijar e viro o rosto - Ah, Clara! vai me dizer que está chateada porque não pude te atender mais cedo? A reunião era importante.

- Tão importante que você esqueceu de desligar o telefone. - observo o Luís Fernando ficar pálido - Ouvi tudo!

- O que você ouviu? Fale! - ele diz nervoso.

- Você quer mesmo, que eu narre seu momento de luxúria com a sua amante? - digo firme.

- Posso explicar, você sabe que nossa relação não é mais a mesma. - ele pausa, está nítido que está escolhendo as palavras para consertar o erro.

- Engraçado que quando eu te falei isso, você disse ser coisa da minha cabeça. Que nos amávamos e isso que importava em uma relação!

- Algum dia faltou amor para você, Clara?

- Não só o amor como também o respeito! - digo indignada.

- Me desculpa, eu deveria ser mais cuidadoso! Isso não acontecerá mais. - ele vai para o banheiro.

- O que você quis dizer com o "serei mais cuidadoso"? - vou atrás dele.

- Clara, você não é mais uma criança. Todo homem tem suas necessidades!

- É sério que estou escutando isso? Sou a sua mulher, sempre estive aberta a te satisfazer em tudo! - uma lágrima rola pelo meu rosto.

- Você é minha esposa, tem certos tipos de coisas que não é lícito para uma mulher direita. - ele segura em meu queixo.

- Por esse motivo você pega as putas da rua para satisfazer as coisas que sua esposa casta, não pode?

- Não deveria estar tendo essa conversa com você. Esquece isso e te prometo não te aborrecer mais com esse assunto. - ele entra no box com o corpo desnudo e vejo alguns arranhões em suas costas.

Vou para a cozinha e choro. Meu casamento é uma farsa! Nunca pensei em ouvir um dia essas coisas do meu marido. Ele me traiu e pelo jeito não foi a primeira vez e nem será a última. Mas ele será cuidadoso e eu não ficarei sabendo e continuo sendo a esposa casta que não realiza coisas ilícitas e não geme como a puta.

No dia seguinte envio todos os pertences do meu marido para a casa dos seus pais. Mudei todas as fechaduras da casa e disse para ele que a partir de hoje serei mais cuidadosa, só me caso com um homem que me faça gozar de verdade!

😴

Assusto-me com o celular tocando, não acredito que sonhei com esse dia ridículo na minha vida!

Ligação on

- Oi, Tony! Tudo bem?

- Oi Clara! Na verdade, não sei se está. É que a Julia não está atendendo minhas ligações. Estou com um mau pressentimento.

- Estranho Tony, ela jantou aqui comigo, mas não quis ficar para dormir. Você sabe como ela é teimosa.

- Será que ela está bem? Ela não costuma dormir cedo e o celular está sempre perto dela.

- Vou até a sua casa verificar e te ligo depois.

- Você não existe, Clara. Obrigado e desculpa te incomodar.

- Você nunca incomoda! Assim que tiver notícias, entro em contato. Beijos!

Ligação off

Desligo e vou correndo para o quarto do Carlos. Se encostou em um fio de cabelo da Ju, mato ele!

- Carlos acorda! O que você fez com a Julia, ela não está atendendo o celular! - puxo o cobertor.

- Está ficando doida! Não fiz nada só a deixei em frente a casa e tinha um moleque lá esperando. Vai ver que ela está muito ocupada, por isso não atende. - ele boceja.

- Que moleque é esse, Carlos! - grito.

- Sei lá! Um tal de Renan. - ele diz confuso.

- O Renan! - fico surpresa.

- Você sabe quem é ele?

- Sim, ele é filho de um casal de amigos que mora no condomínio ao lado. Só estou tentando entender o que ele está fazendo lá.

- Ah para Clara, você nem imagina o que eles estejam fazendo? - debocha.

- A Julia não é assim. Quer saber, vou à casa dela!

(...)

Após tocar muito o interfone ela me atendeu.

- Quem está aí? - pergunta com voz de choro.

- Sou eu, Ju! Abra o portão.

O portão se abre e entro. Na sala encontro a Ju encolhida no sofá como um bebê.

- O que houve Ju? Seu pai está preocupado porque você não atende ele.

- Se te contar uma coisa você promete guardar segredo? - ela chora me deixando mais preocupada.

- Se o segredo não for nada grave ou algo do tipo, sim.

- Namoro com o Renan há 4 anos. - ela pausa - no início não contamos nada por sermos novos. Ano passado tivemos uma discussão boba e ele viajou com os pais. Quando voltou, notei que ele estava estranho, mas acreditei ser coisa da minha cabeça. Voltamos e me prometeu que não ficou com outra nesse tempo que ficamos separados, contudo, depois disso ele ficou estranho. Sempre distante, me evitando e isso se tornou constante. Me dizia que a nossa primeira vez deveria ser especial, mas sempre que tentava ocasionar esse momento, meu namorado inventava uma desculpa, então comecei a ficar mal supondo ter algum problema comigo. - ela chorou.

- Você é linda Ju, ele não se sente preparado, os meninos demoram mais a evoluir. - abracei-a.

- Porém, hoje ele me contou que na viagem do ano passado ele transou com outra menina! - ela soluça - Mesmo que estivéssemos separados, o Renan não respeitou a nossa história. Tínhamos planos da nossa primeira vez juntos, assim como foi nosso primeiro beijo, supunha que nós dois íamos aprender tudo junto, e agora algo em mim se quebrou.

- Ju, infelizmente não existe relacionamento perfeito. Você ainda é nova e terá muitas desilusões amorosas, faz parte da vida.

Ficamos ali abraçadas por um tempo até meu celular tocar.

********

Julia

Me sinto muito bem com a Clara, mesmo não tendo idade ocupa o lugar de mãe na minha vida. Foi para ela que pedi ajuda quando minha menstruação desceu, que me ensinou a usar maquiagem, me ajudou a convencer meu pai que não queria uma festa de 15 anos e por aí vai.

- Ju, você precisa falar com seu pai ele está preocupado. - ela quebra o silêncio.

- Ele perceberá que estou chorando!

- Diz que está com cólica, não pode deixar ele preocupado, ele está ligando de vídeo.

Ligação de vídeo on

- Oi Tony! Estou aqui com ela.

- Oi Clara! Obrigado, não sei oque seria de mim sem você. - a Clara fica corada e me dá o smartphone.

- Oi paizinho, não precisava incomodar a Clara, estou bem, só cheguei com muita cólica, tomei remédio e apaguei! Por esse motivo não ouvi o celular tocar.

- Tem certeza que é só isso, você está com cara de choro, te conheço. - comecei a chorar de novo, não consigo esconder meus sentimentos do meu pai - filha, o que você está me escondendo? Sou seu pai e sempre te dei liberdade para me contar tudo.

- Pai, por favor, agora não, quando o senhor chegar juro que te conto tudo! Descansa que sei que amanhã o senhor tem muito trabalho.

- Filha, como descansarei sabendo que você está assim? Alguém machucou você me fala? - ele suplica por uma resposta.

- Não pai, só estou decepcionada com uma pessoa, mas não dá para explicar pelo celular, no domingo o senhor chega e conversamos.

- Fico com o coração partido em te ver assim e não poder te dar um abraço, filha. Papai te ama muito. - os olhos de Tony marejam.

- Eu também te amo muito pai, e fica tranquilo que ficarei bem.

- Tony pode dormir tranquilo que durmo aqui com ela.

- Mais uma vez obrigado Clara, nem sei se um dia poderei agradecer por tudo que você faz por nós! - meu pai olha a Clara com carinho.

- Se casa com ela pai - digo os deixando envergonhados.

- Dorme filha, já está ficando boa, preciso desligar agora. - ele desliga sem graça.

Ligação de vídeo off

A Clara me deu um beliscão.

- Ai! Isso doeu! - esfrego meu braço.

- Por quê você falou isso para o seu pai? Sua doida, ele pode pensar que estou com algum interesse nele! - minha amiga está igual a um tomate.

- Vai me dizer que você não tem uma quedinha pelo senhor Antônio? Porque ele tem uma queda inteira por você.

- Será? - ela perguntou toda interessada.

- Se interessou né? - ela me jogou a almofada e rimos. - Quer ser minha boadrasta?

- Não viaja Ju entre mim e seu pai só rola amizade desde sempre, ele era amigo do Luís Fernando, não tem nem lógica isso. - ela fica pensativa.

Finjo que acredito nela e após conversar bastante e chorar também, dormimos.

                         

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