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" No capítulo anterior...
Dom Black tira a noite para se distrair dos problemas que anda enfrentando, enquanto todos se divertem, inimigos vem ficando a espreita para uma grande abordagem."
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O sol já podia iluminar boa parte do topo do morro e as pessoas da vizinhança começavam a sair de suas casas e se depararem com o grande cercado de fitas e placas de avisos, em volta da área interditada foi preenchendo de pessoas curiosas e no meio delas as fofoqueiras de plantão, Dendê, Vera e Joana.
As três fofocavam sobre a festa e os frequentadores, elas falavam de Andressa filha da Joaquina estar andando com pessoas erradas, iria se tornar mais uma maçã podre da comunidade era assim como elas diziam, mas não deixaram de notar uma moça diferente caminhar do outro lado da rua, parar para olhar o que havia acontecido e depois continuar a andar como se aquilo não fosse nada.
- Quem é aquela garota? - Vera perguntou, seus cabelos ainda estavam com os fios grisalhos desarrumados.
- Uma vizinha nossa se mudou ontem, essa deve ser a filha dela. - Dendê comentou.
- A menina até que é bonita viu! -Joana fez uma careta. - Bem que André poderia conhecê -la.
- Mas nem sabemos se ela presta ou não! Já está querendo jogar seu filhinho doutor para cima de uma desconhecida?
Dendê nunca aceitou estar errada, seus argumentos sempre fizeram boa parte da comunidade acreditar nas acusações e profanações que provinha de sua comprida língua, bastava ela falar mal e a pessoa ficaria com uma péssima visão dos moradores.
- Delegado! Achei algo aqui que vai te interessar. - Pedaços de roupas foram encontrados em uma baixada que levava diretamente para a mata.
- Bom trabalho Detetive! - Ele apoiou o peso do corpo sobre os joelhos e analisou um pedaço que parecia ser de uma blusa. - Essa garota sumiu ontem no baile, a mãe dela foi no Distrito prestar queixa.
- A mãe trabalha como camelô e o pai tem uma pequena empresa de transportadoras em São Paulo, talvez esse seja o motivo do sequestro.
- Com certeza Detetive Brenda. - Ela sem ter o que dizer pegou as luvas vestindo as mão e recolheu a prova do crime.
- Isso vai dar um trabalhão para resolver!
Brenda tinha razão ao falar isso, pois nessa região era comum os confrontos por tomadas de territórios, criminosos tanto do Morro da Babilônia quanto do Chapéu-Mangueira ficavam ativos, essa foi a sorte que Liz teve ao ignorar o convite de Julinho no dia anterior.
Ela chegou em sua casa quase amassando as sacolas de pães, sua mãe conversava com uma vizinha que parecia ter a mesma idade que ela e então suspirou aliviada por ter chegado a tempo de tomar o café da manhã e tirar um tempo para seus estudos.
- Liz? Você está mais branca do que um papel! - Mariana foi de encontro com sua filha, sentia que algo estava estranho.
- Houve um massacre na festa de ontem. - Ela apenas respondeu com palavras rasas e entrou.
- Menina! Eu fiquei sabendo antes de ir ao mercado hoje cedinho, tinha até polícia no local. - Inaê comentou fazendo dona Consoello lhe dirigir um olhar fulminante.
- E veio abrir esse bico só agora? Criatura de Deus!
- Desculpe amiga! Não tinha me lembrado.
- Tá certo. Bom, preciso fazer alguma coisa porque não vivo de fofocas! - Ela deu as costas e decidiu ir ver sua filha que estava se comportando estranho.
Liz deixou a sacola sobre a mesa e foi lavar o rosto, a imagem daqueles corpos ficou em sua mente, bastava fechar os olhos e podia ver os sacos pretos naquela rua. Com certeza foi um grande baque em sua consciência, ela bem que poderia estar entre aqueles corpos nesse momento, então se olhou no espelho e deixou Lágrimas caírem, sentiu pezar por aquelas pessoas e também alívio, sua mãe entra lhe causando um grande susto.
- O que deu em você?
- Nada. Só me senti triste por aquelas pessoas, mãe eu quase fui...
- Nanananananao! Parou por aqui! Nem ouse falar nisso, Liziane Andrade Sanches! - As duas se abraçaram, os soluços de Liz quebrou mais uma vez o coração de sua mãe. Talvez ali não fosse um bom lugar para se viver, mas de nada adiantaria chorar agora pela péssima escolha que fez.
Tomás havia chegado em seu sobrado com um rasgo na lateral de seu abdômen, não era grave, mas poderia facilmente adquirir algum tipo de bactéria e acabar morrendo, então Julinho se encarregou de ir a farmácia e comprar alguns anti inflamatórios e analgésicos com o faturamento da noite, depois também averiguou as fronteiras. Precisava ter certeza de que o Morro estava sendo mesmo vigiado, após tudo certo, retornou para cuidar do seu amigo.
Ele estava deitado no sofá enquanto assistia o jornal, sua expressão estava mais compenetrada do que antes, a reportagem falava do desastre que foi o baile funk.
- Está com medo de ser enquadrado? - Debochou diante da situação de Tomás, ele colocou os remédios sobre a mesa de centro e prestou atenção na televisão quando a reportagem mudou para um crime de sequestro relâmpago.
- Você está ouvindo isso? - Tomás perguntou tirando o foco da televisão, Juninho apurou os sentidos.
- São tiros. Porra! - Ele gritou indo para a porta, abriu vendo um alvoroço do lado de fora, pessoas gritavam em meio aos estrondos altos.
- É os fardas?
- Não! O nosso pessoal. - Julinho informou de acordo com o que um dos rapazes na rua lhe disse.
- São eles. - Tomás soltou um gemido ao se levantar do sofá. - Não se contentaram com o confronto de ontem e tão agora aqui tirando sarro da nossa cara.
- Fica quieto! Não está vendo aí a carne aberta?
- Me dê um motivo para ficar parado, não está vendo que fomos invadidos novamente? - Disse pegando sua arma e colocando na cintura.
- Morrer se torna um bom motivo, você não acha?