Capítulo 2 Um

CAPÍTULO 1

Sara tentava equilibrar a enorme bandeja nos braços ao mesmo tempo em que apressava os passos, sem querer permanecer entre as mesas por muito tempo e, com isso, torna-se um alvo ainda mais fácil.

Era noite de sábado e o movimento no bar, embora caótico ainda nas primeiras horas, na verdade estava só começando. Restavam cerca de meia dúzia de mesas e cadeiras livres, mas aquilo não parecia ser um empecilho para os transeuntes que insistiam em entrar no lugar. Pelo contrário; após uma olhada pela janela, elas pareciam se animar com o que viam e entravam no bar atrás de um copo de bebida ou até mesmo uma garrafa inteira.

Sara não conseguia entender o que passava pela cabeça daquelas pessoas. Com tantos lugares melhores na Parnell Street, uma das principais ruas do centro de Dublin, Irlanda, com uma extensa variedade de pubs, restaurantes e cafeterias, ela não conseguia entender como toda aquela gente ainda preferia o O'Reilly's, que passava longe de ser o melhor pub do mundo e liderava a disputa entre os piores.

Ainda tentando escapar do labirinto de mesas, cadeiras e bêbados, Sara tropeçou no pé de alguém, virou três copos, quase derrubou a bandeja e conseguiu recuperar o equilíbrio a custo. Pediu desculpas baixinho, sem sequer se virar para saber se a pessoa a ouviu ou não, e seguiu em frente. Manteve o olhar fixo ora na bandeja, ora no caminho que percorria e tentou ignorar a algazarra ao seu redor; com o fluxo constante de pessoas entrando e saindo e bêbados dançando entre as mesas, era quase impossível dar um passo sem esbarrar em alguém.

Serviu os copos que ainda restavam na bandeja para um grupo particularmente barulhento de engravatados e começou a refazer o caminho até o balcão pela quadragésima vez. Fingiu não escutar os comentários e piadinhas que eram berrados na sua direção e conseguiu desviar a tempo antes que um dos engravatados mais ousados a tocasse, isso tudo enquanto pensava no pagamento que receberia no final do mês e no quanto precisava dele.

Steve, o proprietário do bar, estava atrás do balcão e ao ver a expressão dele, Sara soube que o desperdício de bebida – que ainda pingava da bandeja, o que ela tentou disfarçar, sem sucesso – seria descontado do seu bolso. Lamentou em silêncio e tentou lembrar quantos copos derramou daquela vez, o valor de cada bebida e o quanto aquilo afetaria a sua situação.

Pelo canto dos olhos, viu que Steve ainda a encarava e focou toda sua atenção em encher novos copos para não derramar uma gota sequer. Atendeu rapidamente mais alguns pedidos que eram berrados às suas costas enquanto isso e viu o momento exato em que seu chefe a observou da cabeça aos pés. A cara dele se fechou ainda mais, o que ela não pensou ser possível.

A vestimenta das garçonetes do pub consistia em uma blusinha acinturada preta, dois tamanhos menores que o seu e uma micro saia de mesma cor. Sara, ao receber a vestimenta, teve vontade de rir do absurdo da situação. O'Reilly's não é famoso por sua excelência, mas aquilo também já era demais.

- Não posso vestir isso – foi o que disse a ele.

- Ou veste o uniforme ou pode sair pela mesma porta pela qual entrou – foi a resposta que recebeu.

Porque precisava do dinheiro, Sara se viu em um beco sem saída. Não podia deixar aquela oportunidade passar; sabe-se lá quando conseguiria outra vaga de emprego que exigia pouca ou nenhuma experiência de trabalho. O que ela não tinha.

Rendida, mas ainda veemente contra entrar em lugar algum praticamente nua, Sara vestiu o que a partir daquele dia seria o seu uniforme de trabalho, porém por cima das suas próprias roupas. Ajeitou as peças sobre seu corpo e avaliou o resultado no espelho respirando fundo, agradecendo mentalmente por naquele dia ter escolhido vestir roupas também pretas.

Quando entrou na área central do bar, onde trabalharia com as outras meninas, Steve a encarou com tamanho ultraje e com o rosto tão vermelho que Sara pensou que ele explodiria ali mesmo. Ou a expulsaria dali à ponta pés.

Com sorte, o bar já estava movimentado e, com tão poucas garçonetes, o lugar lotava com mais pessoas do que o limite permitia, qualquer ajuda era necessária. Steve estava de mãos atadas. Pelo menos naquele momento.

Steve, apoiado no balcão e fazendo nada – o que Sara presumiu ser o estado normal dele de todos os dias enquanto o bar lotava cada vez mais –, ainda olhava para ela e Sara jurou para si mesma que faria um excelente trabalho e que sequer iria parar para descansar, com a esperança de, embora insubordinada, ainda assim ser contratada.

Uma hora e inúmeros copos derramados depois, ela cHelenamente não estava fazendo um bom trabalho e Steve sequer tentava disfarçar seu descontentamento.

Sara continuou servindo mesas, repetindo o processo de retornar ao balcão, abastecer copos, ignorar os olhares do chefe, voltar às mesas e ignorar a grande massa de homens à sua volta. Uma única hora de trabalho depois e Sara já estava exausta. E não só fisicamente.

Foi realmente uma péssima ideia procurar por trabalho justamente em um bar, o antro onde homens de diversos tipos se reúnem com frequência. Mas o que ela poderia fazer? Não tinha experiência porque nunca trabalhou na vida e como poderia esperar conseguir um emprego decente? Ou melhor remunerado?

Tentava a todo custo focar no dinheiro que receberia, no quanto ele ajudaria, no quanto era necessário e tentava também ignorar o quão intoxicada sentia-se com tantos homens ao seu redor.

Nem todos são como ele. Sabia disso agora, lera sobre homens respeitáveis, ouvia histórias sobre homens melhores, mas ainda assim era difícil.

"Quem vê cara não vê coração" esse é o ditado mais verdadeiro e sincero do mundo.

Ninguém pode dizer apenas olhando de um rosto a outro quem são os bonzinhos e quem são os maus.

Existe maldade no mundo, Sara mais do que ninguém sabe, mas agora tem consciência de que não é mais uma vítima.

E nunca mais será a vítima de alguém.

É uma sobrevivente e sobreviventes necessitam de mais força e coragem do que qualquer outro.

Eles sobrevivem, não importa o que.

Eles perseveram, seguem em frente, ignoram dores e cicatrizes e vivem um dia por vez.

Sara foi estuprada dos nove aos dezessete anos. Era uma criança, não sabia o que estava acontecendo, contava com o amor e cuidado da mãe e mesmo assim ela não a protegeu. E assistiu, um dia após o outro, semanas, meses, anos de abuso e não fez nada.

Nunca ergueu a voz, nunca olhou nos olhos da filha enquanto ela chorava implorando por socorro, enquanto lutava com todas as forças tentando impedir que seu corpo fosse violado ou enquanto sangrava sozinha depois, limpando as próprias feridas, focando na dor que sentia na pele e ignorando a que sentia na alma.

Sara por diversas vezes tentou fugir. Anthony não limitava suas saídas; a deixava sair, ir para a escola, visitar amigos, ir ao parque. Ela era dele dentro de casa, mas fora ela poderia ser outra pessoa se desejasse. Poderia ter uma vida, conhecer pessoas, fazer o que os jovens da idade dela faziam e apenas ser.

Mas como? Como poderia fingir estar bem para estranhos quando não estava? Quando sua realidade na verdade passava longe daquilo, de algo remotamente normal ?Como poderia sair para conhecer pessoas, fazer amigos e se divertir, quando sentia que a cada dia perdia mais um pedaço de si?

Sara não teve infância. Era uma criança quando foi forçada a se tornar mulher, quando foi forçada a cumprir o papel de mulher. Era uma criança que se questionava todos os dias, que se questionou por anos, o porquê de aquilo acontecer com ela.

Ela sempre foi uma boa menina, nunca deu trabalho para a mãe, era gentil, amorosa, tirava notas boas, era uma boa filha. Então por que a mãe nunca a ajudou? Por que a mãe permitiu que aquele monstro a usasse como um brinquedo? Por que?

Na sua primeira tentativa de fuga, poucos dias depois da noite em que perdeu sua inocência e alma, com o corpo machucado por dentro e por fora e ainda sangrando esporadicamente, Sara apanhou tanto que não pôde sair de casa para ir à escola durante um mês. Na segunda teve o braço quebrado. Na terceira, todos os dedos das mãos. Na quarta, perdeu quase todos os dentes, na seguinte não comeu por uma semana e a cada nova tentativa, um castigo ainda pior.

Anthony sempre a encontrava, não importava quão longe ela conseguisse ir e aquele parecia ser o seu destino. Não havia escapatória.

Foram dezenas de tentativas frustradas e torturas e mesmo assim ela sempre manteve a esperança de que um dia, não importa quão distante este ainda dia estivesse, um dia ela conseguiria escapar.

E conseguiu.

Hoje, um dos braços ainda dói, todos os dedos das mãos também, a maioria dos seus dentes não são seus e agora carrega nas costas anos de horrores e muitas outras dores. Mas está viva e isso é o que importa.

Está viva e, se sorrir um dia pareceu impossível, agora não mais. A liberdade, quando ela chegou, lhe devolveu isso. Então ela sorri.

Sorri porque está viva. Sorri porque viveu um inferno, visitou o purgatório vezes sem conta, mas está viva. E livre. Livre dele, dos abusos, das agressões e de tudo que a ligava a ele.

E sorri, principalmente, porque agora tem alguém a quem amar e ser amada. Sorri porque agora sabe o que ser mãe significa e compreende que a sua própria mãe nunca fora de fato uma.

Por Helena, Sara faria e seria de tudo. Então ela acorda uma dia por vez, levando na pele marcas e vestígios de um passado de horrores, com a certeza de que sua filha nunca passará pelo mesmo.

Por isso, se não conseguir manter esse emprego, ela procuraria outro, talvez em um lugar ainda pior e nunca desistiria.

Porque Sara é uma sobrevivente e sobreviventes nunca param de lutar.

Perdida em pensamentos, ouviu o sininho da porta comunicando a chegada de mais clientes e ergueu os olhos para examinar o possível grupo que chegava, tentando determinar se seriam mais uma dor de cabeça para sua noite.

Os homens que frequentavam aquele bar não eram dos melhores, buscavam bebidas com preços quase mínimos, comidas que às vezes nem disso podiam ser chamadas e, é claro, as garçonetes seminuas. Eram em sua maioria homens comuns, da classe mais baixa, moradores de rua e uma vez ou outra engravatados encrenqueiros como os que atendera anteriormente.

Daquela vez, felizmente, não era um grupo de recém-chegados, mas uma única pessoa.

O homem que passava pela porta não se enquadra em nenhuma das características que Sara catalogou ao passar da noite. Era alto, forte, pele cHelena, cabelo e olhos escuros e vestia um terno azul-marinho de aparência cara.

Ele olhava ao redor, procurando por algo ou alguém e Sara, sem saber exatamente por que, não conseguia desviar os olhos dele.

Ele tinha uma presença forte e ela se perguntou por que não conseguia focar em outra coisa. Analisou-o dos pés à cabeça, como que catalogando o que via e sentiu-se enrubescer.

Ele tinha uma beleza impressionante. As maçãs do rosto eram pronunciadas, o nariz reto, mediano, a boca e o maxilar eram emoldurados por uma barba cheia, bem feita. Seu terno obviamente feito sob medida porque este parecia quase abraçá-lo tamanha era a perfeição do caimento da peça.

Sara se perguntou o que um homem como aquele estaria fazendo em um lugar caindo aos pedaços como aquele e, como se sentisse que era observado, ele virou a cabeça e olhou diretamente para ela.

Sara arqueou em surpresa, desviou os olhos rapidamente, tropeçou nos próprios pés na sua pressa de fugir daquele olhar e precisou amparar-se rapidamente no encosto de uma cadeira próxima. Por sorte, estava perto do balcão, então seguiu em frente, de cabeça baixa, quase correndo.

Tentou entender seus sentimentos, tentou pensar, ser racional, mas com a confusão de vozes ao seu redor, tudo o que conseguiu fazer foi se concentrar em não pisar nos próprios pés. De novo.

Chegou ao balcão e agradeceu mentalmente por Steve não estar ali daquela vez ou ele provavelmente teria que zerar o seu pagamento quando visse que daquela vez ela conseguiu a façanha de derrubar e quebrar todos os copos da bandeja.

Embora ainda curiosa sobre a presença daquele homem ali, Sara não ergueu os olhos outra vez. Não queria correr o risco de se ver presa por aquele estranho novamente.

Seguiu fazendo seu trabalho, sempre de cabeça baixa, sem encarar nenhum dos homens que a comiam com os olhos sem vergonha alguma e ignorando suas gracinhas. Conseguiu trabalhar dessa maneira por mais uma hora e logo começou a sentir o suor escorrer pelas costas. O ar-condicionado do bar não era dos melhores e com uma camada extra de roupa, Sara estava quase cozinhando viva.

Não é claustrofóbica, mas quando um grupo de mais de dez homens animados entrou no bar já lotado, ela sentiu que poderia facilmente desenvolver a fobia. O serviço de atendimento das garçonetes funcionava por setores, porém com a aglomeração de pessoas em pé, mesas sendo unidas por grupos que se conheciam e bêbados dançando no pouco espaço que restava, era quase impossível lembrar qual era o seu setor.

Os recém-chegados já estavam cHelenamente embriagados; eles se reuniram próximo ao balcão, gritando pedidos e rindo uns com os outros. Sara trocou um rápido olhar desesperado com Fiona, uma das outras garçonetes. Olhando em volta, confirmou que não havia uma cadeira sequer vazia. Ainda olhando ao redor, notou também o estranho de terno conversando com outros dois homens, ambos também vestindo ternos caros e muito bem apessoados.

Não se surpreendeu quando mais uma vez ele desviou os olhos diretamente para ela, mas daquela vez Sara conseguiu desviar o olhar de maneira rápida e casual. Sentiu a nuca formigar e soube sem ver que ele ainda a fitava.

De volta ao balcão, Steve parecia eufórico; ele gritava ordens, feliz como apenas donos de bares podem ficar em uma situação como aquela e Sara se apressou em atender o maior número de pedidos que pôde por vez. Viu que Fiona se dirigia, tímida, até o grupo recém-chegado de bêbados e mentalmente lhe desejou sorte.

Fiona estava com medo e Sara compreendia o sentimento, mais do que jamais desejou. Todas as garotas que trabalhavam ali não estavam contentes com aquele ambiente de trabalho, mas, como Sara, estavam todas desesperadas e em urgente necessidade de dinheiro. Mesmo que isso quisesse dizer que elas seriam obrigadas a ouvir sempre as mesmas piadinhas e cantadas ofensivas e que precisariam também esquivar-se dos clientes mais ousados, encorajados pelos seus trajes mínimos, o que provavelmente deve ter sido a intenção de Steve.

Preocupada com Fiona, com quem ela teve a oportunidade de conversar por alguns minutos enquanto se trocava, distraída, Sara estava voltando mais uma vez para o balcão quando aconteceu.

Ansiosa para encher mais copos e ainda tentando calcular quantas bebidas derramou até ali, na pressa, só percebeu a presença atrás de si quando já era tarde demais.

Seu corpo bateu contra o que ela teria pensado ser uma pilastra caso braços não tivessem envolvido sua cintura no segundo seguinte. Teria caído com bandeja e tudo, porém o homem a segurou a tempo, prendendo-a a seu corpo. Sara teve um segundo para respirar em alívio por não ter derrubado a bandeja, mas foi então que a sua mente reconheceu a sensação do corpo rijo atrás do seu e os braços largos ao redor da sua cintura.

Tentou se soltar no mesmo instante, mas ele a prendeu com força, unindo as mãos na sua barriga e ela se sentiu gelar. Seus olhos, fixos à frente, perderam o foco e sua garganta fechou em seguida.

Soltou a bandeja sem perceber. Ouviu o som dos copos estilhaçando no chão e a voz de Steve gritando ao fundo, furioso. O homem que a agarrava falou algo que ela não conseguiu compreender. Sara tentou se soltar outra vez, dessa vez com as mãos trêmulas e geladas, mas não conseguiu forçar seus membros a obedecerem o seu comando além de erguer os braços à cima dos dele.

Ele deve ter interpretado o seu silêncio e a forma como não conseguia se mover como um incentivo, porque no instante seguinte ela sentiu mãos percorrendo seu corpo por cima das roupas e então sob elas.

Ouvindo ao longe o som de risadas ao seu redor, Sara sentiu o corpo ser tocado contra a sua vontade, sentiu mãos afastando suas roupas, sentiu dedos ásperos na pele nua da sua barriga e subindo, buscando seus seios, sentiu seu corpo ser reduzido a nada além de algo menos humano. Menos seu, cada vez menos seu. Sempre nunca seu.

Sentiu, sentiu e sentiu e não conseguiu fazer nada. Não conseguiu impedi-lo porque aquilo, aquela impotência, mesmo longe do seu cativeiro, era lugar comum para ela. Seu corpo estava acostumado a se trancar em si mesmo em uma tentativa vã de proteção contra algo ao qual sempre era exposto e à espera da dor que viria.

Ela, que prometeu a si mesma que homem nenhum nunca mais teria o poder de tocar seu corpo sem permissão, agora se via outra vez refém.

Ela, que imaginou nunca mais ter que passar por aquilo novamente, agora se via mais uma vez impotente.

Ela, que pensou ser livre, agora se via outra vez presa.

À mercê de um homem qualquer. De um ser humano vil que roubou sua inocência e sua alma. Presa nos braços de alguém que um dia ela amou, de alguém que um dia jurou protegê-la, que a fez feliz e que depois a despedaçou, roubou todos os seus sonhos e a levou ao inferno.

Gatilhos. Passado e presente eram um só e ela já passou por aquilo uma vez. Um estranho uma vez a abordou na rua e a tocou sem permissão, um toque no ombro, um toque inocente, gentil, mas Sara não consegue mais reconhecer toques gentis porque o seu corpo foi condicionado a sempre, sempre esperar pelo pior.

O que vem após o primeiro toque, a gentileza que precede a dor.

Uma voz sussurrava no seu ouvido e mãos cobriam e apertavam seus seios com força por cima do tecido da sua blusa e ela não conseguia respirar, apenas sentia.

Seu corpo parecia dormente dos pés a cabeça, como se o sangue não estivesse circulando o suficiente e só quando pontos pretos apareceram na sua visão foi que ela percebeu que não estava respirando. Abriu a boca, se para gritar em uma tentativa de expressar o seu tormento, pedir socorro ou para respirar como seus pulmões desesperadamente precisavam, não saberia dizer e não precisou descobrir

Ouviu o que pensou ser um grito às suas costas, sentiu o corpo atrás do seu sacolejar de um lado para o outro e então sentiu o seu próprio corpo tombar para a frente quando os braços que a envolviam a largaram tão de repente que ela sequer conseguiu registrar o que estava acontecendo.

Ouviu um segundo grito, este dessa vez de dor, e cambaleou para a frente quando se viu livre, com as pernas trêmulas. Sem forças, seu corpo despencou de encontro ao chão e Sara sentiu a visão escurecer.

Esperou pela dor que viria, mas em vez disso sentiu o corpo ser amparado gentilmente, a escuridão que a cercava assumiu um tom escuro de azul, como as ondas de um mar profundo e tranquilo, e em seguida não viu mais nada.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022