Capítulo 4 Em suas mãos

Theo

Já passava das onze da noite quando Juliano finalmente chegou. Eu fiquei na cozinha martelando tudo o que Bianca havia me falado naquele dia e acabei fazendo um bolo e chocolate quente, mas tudo pareceu muito sem graça quando me percebi sozinho. Então tomando mais uma xícara de café eu o vi adentrar o cômodo e se assustar com minha presença.

― Oi – ele sussurrou sem jeito e pouco a vontade.

― Fiz bolo, você quer? – levantei me encaminhando para o balcão onde estava o bolo e o chocolate quente. O silêncio dele me incomodou a princípio, mas logo o ouvi suspirar e arrastar a cadeira para enfim se sentar.

Terminei de organizar a fatia do bolo em um pires e peguei sua caneca favorita para lhe servir o chocolate, não esquecendo de colocar dois marshmallows na bebida. Virei e coloquei tudo em sua frente e sentei já colocando uma nova quantidade de café em minha caneca.

Juliano olhava para o lanche em silêncio, seu semblante demonstrava cansaço e sua postura era tensa. Seus olhos começaram a ficar vermelhos, mas antes que lágrimas se formassem ali, sua voz deu vida para aquele momento.

― Obrigado pela comida. – ainda o observando, o vi segurar o garfo e começar a comer. – Está ótimo Theo. – foi o que ele disse enquanto engolia mais um pedaço. Baixei meu olhar e tomei mais um gole de café. O silêncio durou por toda a pequena refeição e quando tudo acabou Juliano juntou sua louça e a minha e se encaminhou para a pia. Ele lavou, secou e guardou enquanto eu encarava seus movimentos, sentindo meu coração se apertar de saudades.

Mesmo ferido, magoado, eu sentia falta dele. Dos seus abraços, dos seus beijos, dos seus toques, eu o queria, eu o amava, mas o orgulho parecia tão, mais tão grande que eu só consegui ficar olhando, rezando para que ele invadisse meu espaço pessoal, que me jogasse contra a cama e me tomasse para si.

Mas Juliano sempre respeitou meu tempo. Ele sempre foi um doce.

Depois da conversa com Bianca eu refleti muito sobre todos os anos em que estive compartilhando minha vida com o mais velho e cheguei a uma conclusão. Eu também colaborei para a crise desse relacionamento. Em muitos momentos eu realmente maltratei a pessoa que sempre me amou. Chegar até aquela conclusão me fez chorar bastante, mas ainda sim eu era orgulhoso demais para pedir desculpas, para falar tão abertamente.

― Amor ― Seu olhar era temeroso, mas eu podia enxergar a saudade e o desejo em meio ao medo da rejeição. Meu coração bateu descompassado enquanto eu sentia seu corpo mais próximo, as lágrimas já pintavam seu rosto.

― Eu... Eu não sei o que fazer. – confessei nervoso, sufocando com a angústia que se instalou em todo meu corpo. ― Eu queria ter uma resposta Ju, queria poder ouvir, perdoar, mas dói tanto. – ele se aproximou, tocando minhas bochechas com suas mãos pequenas e frias. Jimin limpou minhas lágrimas e trouxe seu rosto para mais perto, encostando a ponta de seu nariz no meu em um simples beijo de esquimó, coisa que não fazíamos há anos.

― Eu só preciso de você amor, por favor, apenas hoje... Seja meu. – meu coração palpitou com o pedido e sem dar qualquer moral para a razão, que insistia em me manter longe, eu o beijei.

Deixei minha língua deslizar e entrelaçar na sua enquanto minhas mãos buscavam trazê-lo para mais perto. Seus lábios estavam doces, muito diferente de seus toques afoitos em meu corpo. Ainda em meio a beijos, andamos até o quarto onde seu corpo tocou o colchão enquanto o meu se mantinha por cima.

Viramos uma bagunça de toques e mãos bobas. Juliano tomou meu corpo com devoção e saudade, me amou do jeito mais carnal e intenso. Por um momento tudo o que podíamos ouvir eram nossos supiros e os barulhos de nossos corpos se chocando em busca de prazer. Quando atingimos nossos clímax continuamos nos beijando e por muito tempo nos perdemos entre os carinhos e as juras de amor, que naquele momento aqueciam meu coração. Mas as sensações boas foram passando e novamente o clima se tornou pesado e sufocante.

Ele me abraçou forte, distribuindo beijinhos em minha cabeça e sussurrando que me amava. Eu só conseguia me focar na sensação de aconchego e de paz, mesmo sabendo que eu não deveria estar ali, que os problemas ainda eram reais, mas ainda assim eu quis me entregar, eu quis quebrar uma das tantas barreiras que eu levantei nesse casamento.

Faziam anos que eu não tinha um momento tão bom com ele, anos em que eu não ouvia o que meu amor queria ou fazia algo para agradá-lo. Se a traição dele fosse mesmo verdade, ele teria todos os motivos para realmente fazer. Eu dei meu marido de bandeja para outro porque eu não soube enxergá-lo. Então tudo isso foi minha culpa?

O primeiro soluço veio alto e forte, com lágrimas grossas deixando o rosto molhado. As lágrimas que não eram minhas, molharam meu pescoço enquanto Juliano me abraçava cada vez mais forte. Seu corpo estava exausto, mas ainda conseguia tremer a medida que seu choro ficava mais intenso e vendo todo o sofrimento deu um casamento fracassado, eu também me permiti chorar.

E foi assim que depois de fazermos um amor muito barulhento, eu e Juliano começamos a tentar salvar o que talvez não tivesse mais jeito.

[...]

Juliano

Antes

Eu estava ferrado!

A noite estava fria, mas meu corpo estava entrando em combustão. Eu subi as escadas de dois em dois por três andares. Cheguei em casa, batendo as portas e tropeçando em meus pés. O motivo de tanta pressa era meu atraso para a festa de posse do novo presidente da empresa em que eu trabalhava. Eu era chefe do setor jurídico e assim como os outros chefes de setores, eu precisava ser pontual.

Cheguei na porta do meu quarto rezando para que Theo estivesse arrumado, mas meu sorriso morreu quando entrei e não vi ninguém. O quarto estava arrumado e com o cheiro dele, mas sem sua presença.

− Theo? – eu chamei, mas o vazio era perturbador. Suspirei sentindo o coração apertar por saber que ele havia esquecido de novo.

Fui ao banheiro e tomei um bom banho, me arrumei e novamente corri para o andar de baixo para enfim chegar naquela cerimônia. Era tudo muito chato, cheio de regras de etiqueta, mas eu percebi que conseguia impressionar alguns superiores. Eu tinha muita ambição em crescer naquela empresa, principalmente por conta dos planos para uma futura adoção. Era meu sonho ter um filho e Theo já havia concordado com tudo, então se eu ganhasse mais e ele se firmasse no ateliê, poderíamos dar esse próximo passo.

Depois de uma noite muito entediante, eu finalmente cheguei em casa e meu marido estava no sofá, com um balde de pipoca no colo assistindo um filme. Ele parecia muito tranquilo e confortável. Não demorou para seu olhar chegar até mim e um sorriso bonito se fazer presente em seus lábios. Ele me chamou com a mão e eu fui, já esquecendo toda minha frustração.

− Amor, você demorou. – Ele me abraçou forte e deixou um beijo cálido em meus lábios. – Por quê?

− Theo, hoje é sexta, dia 02. – Eu disse com a intenção de fazê-lo lembrar do compromisso.

− Oh, realmente. Hoje foi dia de pagamento, mas o que isso tem a ver com você ter demorado para chegar? – Theo fazia carinho nos meus cabelos enquanto estava muito atento ao filme que assistia. Eu apenas suspirei negando o que me fazia tão mal. Levantei, deixando-o confuso, e andei até meu quarto onde me despi e fui ao banheiro tomar um banho.

A água quente relaxou meus músculos, mas minha cabeça ainda estava cheia com tanto descaso. Theo simplesmente não ligava para as minhas conquistas ou meus compromissos. Eu sempre precisei ir em reuniões e jantares a negócios, mas ele nunca fazia questão de estar comigo e era tão irritante ter que inventar uma desculpa diferente. Eu estava cansado, muito exausto.

Ainda sentindo a água descer pelo meu corpo, senti a movimentação no quarto e logo ele entrou no banheiro. Abri meus olhos o encarando de forma séria, mas ele não se abalou. Theo tirou sua roupa e entrou no box ficando de frente para mim e perigosamente perto. Em seu rosto tinha um sorriso cínico e safado, o que me deixava com mais raiva.

− Você está com raiva? – Ele me perguntou. Suas mãos passavam por meu tórax e abdômen. Sem dizer qualquer palavra eu o beijei de forma intensa, dura, colocando minha língua bem fundo para em seguida eu chupar seus lábios e morder sentindo o gosto ferroso de sangue.

− Hum...você me machucou! - Theo parecia indignado, mas ele só fez com que a minha vontade de o ter para mim aumentasse. Eu o virei de costas e o fiz encostar no box.

− Você também me machucou. − eu sussurrei em seu ouvido.

Em seguida me virei para o chuveiro e tomei um banho rápido, saindo sem sequer olhar para ele. Mas ele não deixou barato, me seguiu até o closet e continuou a me encarar como se não soubesse o motivo de eu estar chateado.

- Você realmente está chateado? - Theo me perguntou, apesar da raiva ele estava lindo com a toalha amarrada na cintura e com o tronco molhado, assim como seus cabelos que lhe caíam sobre os olhos.

- Hoje foi um dia importante. Eu venho falando disso há mais de mês e você simplesmente não apareceu. Sabe como é chato todo mundo ficar perguntando sobre meu marido ter que ficar mentindo? Eu fiz isso a noite toda e sinceramente Theo, eu estou exausto.

Joguei minha toalha em qualquer lugar, peguei meu travesseiro e cobertor e bati a porta atrás de mim. As lágrimas já caiam e eu só conseguia pensar que alguma coisa tinha quebrado em mim, talvez fosse meu coração.

6

            
            

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