Capítulo 2 Ele voltou

- Obrigado.

Samantha observou o homem. Seus olhos castanhos combinavam com o cabelo grande e com a barba por fazer. Ele não deveria ter mais que 25 anos, ela pensou, e sua voz grossa arrepiou toda a sua espinha.

- Fico feliz por você já estar consciente - ela falou -, mas não me agradeça ainda. Estamos em um local muito precário, sem falar que podem nos encontrar aqui. Eu... eu já vou indo.

Samantha tentou soltar o braço, mas o homem continuou a segurando. Mesmo estando muito mal, e tendo perdido a consciência algumas vezes, notou que ela esteve a noite velando por ele.

- Não vai embora. - Ele estava tentando não assustá-la, mas continuava segurando em seu braço, surtindo o efeito contrário.

- Tudo bem, olha - Samantha mesmo assustada falou devagar -, eu trouxe goiabas. Sei que não é lá algo muito bom para comer, mas foi o que consegui.

- Obrigado. - Ele respondeu novamente, tentando se levantar, mas a jovem o impediu.

- Não, você não pode se levantar! Está com um ferimento aberto e com febre. Sabe o que isso significa? Que seu ferimento pode estar infeccionado e... - Samantha não conseguia mais parar de falar devido ao seu nervosismo e o homem notou.

- Se você me ajudar, vou poder me levantar. - Ele a cortou já sem muita paciência com aquele falatório. - E se é goiaba o que temos, eu quero uma sim, estou com fome.

Sem opção, Samantha o ajudou a se sentar e lhe entregou duas goiabas. O homem comeu as duas e bebeu um pouco da água. Ainda estava sentindo dor, mas se levantou e se pôs a olhar o local.

- Que lugar é esse? - ele perguntou encostado no portal da tapera.

- Sinceramente, eu não sei. - Samantha sentiu-se envergonhada. Tantos anos morando no mesmo lugar e nunca tinha ido à parte mais humilde da cidade.

- Você não é uma garota da rua - ele constatou ao olhar para ela.

Embora Samantha não tivesse em sua melhor performance, dava para perceber que ela tinha uma educação razoável, e suas roupas não negavam que não pertencia à mais humildes das classes.

- Está enganado - ela respondeu. - Se eu não fosse, não estaria aqui.

- Não estou, mas se você diz, quem sou eu para discutir? Só tenho que lhe agradecer por ter salvo a minha vida.

- Qualquer um faria o mesmo. Não é preciso agradecer.

Samantha se afastou um pouco, entrando ainda mais na tapera velha. Ali aquele homem asqueroso e seus capangas não a encontrariam, mas não era um lugar seguro. Ela precisava mesmo encontrar outro local para passar daquele momento em diante, mas se encontrava totalmente perdida.

Se sentou no chão sujo, cheio de lixo, em posição fetal, e chorou por não saber o que seria da sua vida dali por diante. Samantha não sabia o tempo exato em que estava ali, reclusa, mas pelo silêncio que estava, pensou que o homem tivesse tornado a se deitar. Ela se levantou para ver se o homem ainda estava com febre, mas não o encontrou mais ali. Por um lado, a jovem se sentiu aliviada, nem ao menos sabia quem ele era e estava sozinha com ele, de qualquer forma ninguém a defenderia se lhe quisesse fazer mal.

Por outro lado, se preocupou. Não sabia quem era aquele homem, e ele percebeu que ela não era uma garota de rua. E se falasse dela para alguém? E se através disso, aquele cafetão asqueroso a encontrasse? Samantha novamente se desesperou, mas sabia que não podia sair naquele horário, seria muito arriscado.

Mesmo sendo um lugar com pouco movimento, alguém poderia vê-la e não era isso o que a jovem queria. Decidiu então que a noite sairia da tapera e passaria a noite em uma casinha de ferramentas que ficava perto da casa onde pegara os remédios.

Era um bom plano na cabeça de Samantha. Ela esperou e quando escureceu e a lua estava apontando, deixando a noite uma penumbra, resolveu sair. Estava certa quando pensou que aquele não era um local seguro, pois quando estava a uma certa distância, viu faróis de carro parados bem perto do entulho.

Samantha sentiu a pele se arrepiar e seguiu o mais rápido que pôde para seu local de destino. O carro, percebeu, havia saído do lugar onde estava e seguia na direção em que ela estava. Por estar andando escondida, acreditou que ninguém a viu, principalmente porque o motorista estava andando devagar, como se procurasse algo, ou alguém e passou direto.

Samantha estava com o coração batendo a mil, pensou até em desistir e ir para outro local, mas decidiu que pelo menos naquela noite seguiria o plano. Ela chegou no local onde a casinha ficava situada e sentiu um arrepio, o que fez com que tentasse entrar o mais rápido possível, mas para sua infelicidade, havia um cadeado trancando a porta.

-

Essa não! - ela sussurrou. - De manhã essa porcaria não estava trancada.

E foi nesse instante que ela sentiu uma mão enluvada em sua boca. No desespero a jovem se debateu tentando se livrar da pessoa, mas seu oponente era demasiado muito mais forte do que ela.

- Não lute comigo e não vou machucar você. Vem. - Uma voz masculina entoou no ouvido dela em sussurros.

Ainda tentando se soltar, Samantha foi arrastada pelo homem, que a levou até o carro. Chorando, foi jogada no banco de trás do veículo, e quando pensou em sair correndo pela outra porta, alguém disse ao seu lado, sentado no mesmo banco à sua espera.

- Que bom que você está bem, Samantha Alves.

Samantha conhecia aquela voz. Seus pelos eriçaram com o cumprimento e ela soube que sua vida agora não pertenceria mais a ela mesma.

- Vamos conversar com calma em outro lugar mais agradável, menina. Você não se importa em dar um passeio, não é? - o homem perguntou enquanto o motorista arrancava com o carro.

Samantha ainda cogitou saltar do veículo em movimento, mas quando olhou de relance para o velocímetro, percebeu que estavam a mais de 120 e isso a fez desistir na mesma hora de seu intento e deixasse que o destino resolvesse como ficaria sua vida dali por diante.

            
            

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