Capítulo 5 O Novo Acordo

Chegaram em uma sala com uma parede de vidro direcionada à varanda, o que deixava a vista exuberante da paisagem totalmente exposta. Samantha poderia ter se apaixonado imediatamente pelo local se a sua situação não fosse tão tensa. Dmitri, muito educado, afastou a cadeira para a dama, que incentivada pelo seu cavalheirismo, se comportou recatadamente.

Já acomodados, Dmitri serviu-se de café puro e forte. Ele se sentia muito cansado, há dois dias não tinha uma noite descente de sono e talvez, se dependesse da jovem em sua frente, essas preciosas horinhas não chegariam tão cedo.

Samantha não se mexeu até que o homem a olhasse com uma expressão que dizia que ele não aceitaria que ela saísse de lá sem comer bem. Ela também sabia que estava apenas sendo orgulhosa, pois estava faminta. Pegou uma xícara, colocou leite e café, pegou um pão e colocou uma pasta que tinha ali disponível. A jovem não teve tempo de ver o que era, mas achou delicioso. Comeu dois pães, tomou a xícara de café com leite e encerrou a ceia com uma maçã. Dmitri ficou feliz que a menina havia se alimentado bem, ele, no entanto, pensava nos problemas que agora tinha que resolver, e ficou apenas com seu café puro e forte.

Quando o momento agradável acabou, o clima se tornou tenso mais uma vez, tanto que Cássio, nos bastidores, sentiu que poderia cortá-lo com uma faca se quisesse. O homem então passou pela sala, cumprimentando Samantha rapidamente, lembrando a Dmitri que ele precisava decidir o que fazer rapidamente.

- Fico feliz por estar bem alimentada, menina. - ele falou novamente com uma postura séria. Embora Cássio já o tivesse avisado que ele parecia assustador quando adquiria tal postura, era impossível para ele manter-se neutro ou até mesmo relaxado quando o assunto era tão sério.

- Obrigada. - Samantha sentiu novamente aquele nervoso que tomava conta dela sempre que ele lhe diria a palavra daquela maneira.

- Sobre o que estávamos conversando mais cedo...

- Nós não estávamos conversando nada - Samantha o cortou. - O senhor supôs que eu estivesse envolvida com a máfia e não é verdade.

- Primeiro, vamos deixar uma coisa bem clara, menina. Não sou tão mais velho que você para que me chame de senhor. E segundo...

- Se não quer que eu lhe chame de senhor, deveria experimentar não me chamar de menina.

- E segundo - ele continuou como se não a tivesse escutado -, eu não fiz uma suposição. Ontem, enquanto conversávamos, meu motorista e braço direito, esteve pesquisando sobre o seu desaparecimento e sobre a recompensa oferecida a quem lhe entregasse.

Samantha empalideceu. Olhou para o homem assustada, pensando em qual seria a sua atitude agora que ele provavelmente sabia a verdade. Se a acharia uma mulher da vida apenas porque seu pai foi babaca o suficiente para vender a própria filha.

Dmitri a olhava com uma expressão aterrorizante. A explicação, o nojo e o ódio por seja lá quem fosse Jonas, o pai de Samantha, por fazer algo tão terrível com uma menina tão linda e ingênua como a que estava em sua frente. O homem sabia que não podia protegê-la para sempre, tampouco poderia ficar com sua custódia por um tempo razoável sem colocá-la em perigo. Nem mesmo ficaria no Brasil por um período que explicasse o que ele estava sentindo.

- Se seu motorista fez a pesquisa direito e suas fontes são confiáveis - Samantha entonou certa superioridade ao falar -, com certeza ele deve saber que se fui metida nessa confusão, não foi por vontade própria.

- Ah, com certeza ele fez a pesquisa bem direitinho - Dmitri respondeu admirado como aquela menina conseguia ser audaciosa e imprudente.

- Então não entendo porque o senhor me olha com tanta superioridade. Sinceramente, não sei nem porque estou tentando me explicar com você. Não te devo nada e nem você tem qualquer obrigação comigo.

- Tem razão. Não tenho e você não me deve, mas eu quero te ajudar. Quero te livrar desse destino cruel que te aguarda se alguém, qualquer um decide que a garota dessa foto é você e tenha a intenção de ganhar uma boa recompensa por te entregar. Nós temos um acordo, Samantha. Cabe a você cumpri-lo agora e sair por aquela porta e aí sim, não teremos mais nenhum contato direto, ou encerrá-lo agora, confiar em um estranho e deixar que eu a ajude. A decisão é sua.

- E a que preço o senhor quer me ajudar? - Samantha não confiaria tão fácil nas boas intenções de Dmitri, ela já tinha referências ruins demais com pessoas próximas a ela.

- Apenas quero que você fique aqui em minha casa.

- Por que? - Samantha estranhou a condição, não via um motivo plausível para isso.

- Porque gostei de você. E porque fico muito sozinho aqui. Uma companhia jovem e agradável vai me fazer bem. - Ele deu um sorrisinho mínimo, mas não foi o suficiente para convencer a morena.

- Não acho que você se sinta tão sozinho. Tem seu motorista, com certeza tem alguém que arruma essa casa, pessoas que te visitam e uma namorada... E eu não sou uma companhia tão agradável assim.

- Cássio raramente para em casa, e sim, tenho mais alguns funcionários no qual tenho relacionamento puramente profissional e não, Samantha, não tenho namorada, nem tampouco me interessa um relacionamento amoroso agora. E você é exatamente o tipo de pessoa que procuro para me fazer companhia.

- E qual a garantia que tenho de que cumprirá sua palavra? - a morena procurava por furos no novo acordo, ela sabia que era uma boa oferta, mas era orgulhosa demais para simplesmente aceitar.

- Tem a minha palavra. - Dmitri a encarou novamente com aquela postura séria e Samantha sentiu-se arrepiar com sua áurea.

A jovem não estava gostando muito da situação, mas no momento era a melhor solução para seu problema e isso ela não podia negar. Após pensar um pouco com o homem atraente ainda a observando, tomou sua decisão. Se levantou educadamente e foi até a vidraça, onde olhou a natureza.

- E eu poderei olhar a paisagem que tem ali de perto? - Ela esboçou um sorriso tímido.

- Quer ir agora? - O homem retribuiu o sorriso, se levantando e oferecendo o braço para a jovem.

Samantha sentiu um desconforto momentâneo, mas assentiu e entrelaçou seu braço no dele para o acompanhar. Seguiram por um corredor, onde de um lado tinha uma parede de cor creme e também alguns vasos enormes com plantas bem exuberantes. Do outo lado, a parede continuava sendo de vidro, enaltecendo a paisagem que enchia os olhos de quem visse.

O casal passou pelo corredor, chegando a uma porta de madeira envernizada, onde Dmitri deu passagem para que a morena fosse na frente e não se arrependeu disso.

A adolescente saiu e logo sentiu o vento em seu rosto, a sensação de liberdade invadindo o seu ser. Ela nem ao menos notou que havia fechado os olhos aproveitando o momento até sentir novamente o cheiro do perfume do homem que estava perto dela.

Nesse momento Samantha se lembrou de que vestia a mesma roupa há dois dias e que provavelmente não estava cheirando nada bem e isso foi o suficiente para ela se fechar novamente.

- O que aconteceu? Você está bem?

- Quero voltar ao meu quarto. Ainda estou cansada. - Samantha não se atreveu a pedir roupas para ele, apenas se virou e voltou ao seu quarto, onde tomou mais um banho e passou o dia inteiro trancada, mais especificamente, dormindo, com um roupão que deixava suas curvas ainda mais acentuadas, e Dmitri percebeu isso.

                         

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