Capítulo 4 O que há por trás da fragilidade

Dmitri observou a morena até que ela sumiu de seu campo de visão. Foi até o bar e pegou mais uma dose de seu uísque preferido, pensando no que fazer para poder ajudar a garota.

- Você conseguiu assustá-la, Russo. - Cássio falou rindo do amigo. - Se você queria parecer um ogro, parabéns, você conseguiu.

- Só queria mostrar que sou um homem sério. - Dmitri se defendeu tomando sua bebida.

- Você mais parecia um psicopata, meu amigo - Cássio bateu no ombro do homem. - Ela já está assustada demais para você tratá-la dessa forma.

- O que você descobriu?

- Liguei para o número do suposto pai. E não foi ele quem atendeu. - Cássio se sentou entregando os papéis para Dmitri. - O pai é Jonas Alves, ex-vendedor, que passou a beber e a se drogar após a esposa ser atropelada.

Dmitri viu as fotos dos pais de Samantha. O pai, um homem de estatura alta, cabelos lisos, acabado para a idade. Seus olhos lembravam muito o da filha, mas havia algo que incomodava o observador. Ele passou para a foto da mulher, que era branca, cabelos negros e lisos como os de Samantha, a boca bem definida, os olhos esverdeados. Parecia uma modelo de capa de revista.

- Há dois dias, Verício Mattar, o chefe da máfia germânica aqui no Rio cobrou uma dívida de 5000 reais em drogas de Jonas e como pagamento, o cara deu a única filha que tinha.

- D3sgr@ç@d0! - Dmitri xingou. Ele não se conformava em saber que Jonas era do pior tipo que existia. - Por isso ela está tão apavorada.

- Exatamente. E quando me viu chegar com esses relatórios, ficou ainda mais agitada. Ela está com medo de que a denunciemos.

- Mas é claro que não vou fazer isso. - Dmitri se sentou ao lado de Cássio, olhando os relatórios que o amigo lhe entregou. - Eu vou ajudá-la.

- Você sabe quais são as regras da máfia, Russo. Ela foi comprada...

- Ela salvou a minha vida. E eu não vou medir esforços para salvar a dela. - Dmitri se levantou, largando os papéis no sofá. Foi para a cozinha beber um copo de água.

- Só há um jeito de tirá-la dessa situação e você sabe, Russo. - Cássio foi atrás do amigo, mesmo sabendo da relutância do mesmo.

- Ela só tem 18 anos. A mesma idade da minha irmã mais nova. Não posso simplesmente dizer a ela que ela precisa engravidar para se livrar do carma que esse homem impôs.

- Não só engravidar, mas o quanto antes. É necessário parecer que ela já estava grávida quando foi comprada. E assim você poderá pagar por ela um valor muito mais alto do que ele pagou antes.

- Eu já disse que não! Vou comprar uma passagem para ela direto para Portugal e lá ela terá uma vida normal...

- Até ser encontrada. Você sabe que uma vez comprada pela máfia, sempre pertencerá a ela.

- Você tem razão. O único jeito é comprando-a do dono. - Dmitri se rendeu frustrado.

- Primeiro você vai ter que convencê-lo a vender. E não acho que ele vá fazer isso antes de conseguir um bom lucro com ela.

Dmitri sabia que seria uma missão um tanto difícil e muito incômoda para Samantha. Ela ficaria muito magoada e chateada e talvez não o perdoaria tão fácil. Talvez nunca se recuperasse totalmente do trauma, mas ele a salvaria, mesmo que para isso tivesse que derrubar cem prédios governamentais.

- Contrate seus melhores homens. Oa que têm sua completa confiança. Não quero erros.

Dmitri saiu da cozinha e seguiu o corredor dos quartos. Entrou em seus aposentos, tomou um banho, se vestiu de forma mais informal, tomou os remédios que Cássio lhe trouxera antes e saiu. Embora não tivesse dormido nada bem desde a noite anterior, ele não conseguiria descansar. Foi para a varanda, onde pegou o notebook e começou a pesquisar. Depois de um tempo, já cansado, ele voltou ao corredor dos quartos, mas não entrou em seus aposentos.

Antes, seguiu direto, entrando no último quarto, onde Samantha dormia feito um anjo. Ele a observou e se sentou em uma cadeira ali em frente a cama.

Antes mesmo do amanhecer, Samantha acordou. Se assustou com o homem ali, sentado à sua frente, mas reparou como ele ficava até bonito do jeito que estava. A jovem se sentou na cama, cobrindo-se com o cobertor até a altura do busto, pois encontrava-se ainda apenas com o roupão que havia encontrado durante a noite. Dmitri percebeu como ela ficava muito bonita quando corada, com os cabelos todos bagunçados, ainda mais negros.

- Quero conversar com você antes de te deixar se levantar. - ele falou ainda em um tom sério, mas ela não esboçou nenhuma reação, além da de susto que estava. - Por que não me contou a verdade?

- Eu não sei do que você está falando. - Samantha respondeu desviando o olhar. Seu coração acelerou, o medo agora invadindo seu corpo de tal maneira que ela chegou a pensar que ele estivesse escutando seus batimentos cardíacos.

- Por favor, vamos conversar abertamente, menina. - Ele se levantou da cadeira, andando dois passos em direção à janela, passando a mão pelo rosto, um claro sinal de seu cansaço. - Eu já sei sobre o seu envolvimento com a máfia.

- Eu não tenho nenhum envolvimento com a máfia! - A garota gritou, se defendendo e levantando-se da cama e se posicionando atrás dele. - O que aconteceu foi...

Samantha se calou quando percebeu que estava começando a falar demais. Dmitri sorriu, ainda de costas para a adolescente, e se virou com uma postura mais séria, incentivando-a a falar.

- Foi...

- Com licença.

Samantha foi ao banheiro, onde lavou o rosto, escovou os dentes com uma escova nova que encontrou em um armário no banheiro, vestiu suas roupas e se arrumou como pôde. Fez tudo bem devagar, na esperança de que quando saísse, o belo homem de cabelos cacheados não estivesse mais lá, mas se decepcionou quando viu que ele continuava lá, observando pela janela quando ela retornou.

- Você demorou menos que as garotas comuns demoram para se arrumar. - Ele se virou para ela assim que a porta do banheiro foi aberta.

- Agradeço pela estadia, a cama é maravilhosa, mas agora, como parte do acordo que você me propôs ontem, eu vou embora.

- Você não vai a lugar nenhum, menina. Me acompanhe.

Dmitri saiu do quarto e Samantha saiu irritada atrás dele. Ela queria se livrar de sua presença o mais rápido possível. O homem, percebendo as intenções da menina, foi logo se adiantando.

- Vamos tomar um café descente e então conversaremos.

- Você prometeu que me deixaria ir, e creio que seja um homem de palavra, então acho que não temos nada para conversar.

Dmitri ouviu a entonação como um canto a seus ouvidos. Mesmo estando à frente da garota e de costas para ela, ele sabia que ela ficava muito bonita quando irritada. Sem se conter, se virou de repente para ela, a imprensando contra a parede do corredor em que estavam, colocando seus braços na parede, prendendo há no meio.

A jovem corou e seu coração saltou, primeiro de medo e depois de vergonha, por pensar que ele ficava ainda mais bonito quando bem pertinho dela, o que parecia ser ainda mais perigoso e que o perfume masculino que ele usava o deixava ainda mais atraente.

- Eu sou um homem de palavra - ele falou baixo, sua voz grossa penetrando os ouvidos da morena - e deixarei você ir se assim desejar, mas somente depois que nós conversarmos.

Samantha não respondeu. Ela não poderia, se sentia tonta com aquele homem tão perto. Dmitri não percebeu o efeito que causara na jovem porque estava ocupado demais olhando as feições da moça, linda, corada e desejável. Ele se aproximou ainda mais do rosto dela, a ponto de um sentir a respiração do outro, quase encostou sua boca na dela, mas se conteve, sabendo que essa atitude seria muito errada, e falou:

- Apenas tome café comigo e depois estará livre.

E saindo, a deixou ainda tonta encostada na parede. Samantha ainda sentia o calor do corpo dele, tão perto que poderia queimar sua pele, quando deu por si e voltou a segui-lo. Ela não disse mais uma palavra enquanto andavam, não queria correr o risco de falar o que não devia ou pior, cair na lábia daquele homem que tanto mexia com ela e ela nem sequer sabia o porquê.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022