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Gale Wintamer certamente não tinha como plano ideal uma batalha catastrófica após o café da manhã.
Era o dia de sua graduação como Protetor no Santuário da Luz, tudo o que precisava fazer era derrotar seu oponente, Geralt, na Arena das Estrelas. O lugar era um grande estádio dentro do Santuário em forma da Lua crescente e com um núcleo feito para, magicamente, alterar o espaço ao redor durante os combates e treinar os aprendizes em ambientes hostis.
O jovem, de dezessete anos, esperava por aquela oportunidade desde que chegara ao Santuário antes dos dez. Para ele, esse era um momento grandioso. Finalmente estava pronto para cumprir seu destino de se tornar um Protetor da Criação.
O Santuário da Luz era uma cidade inteira protegida pelas brumas de Niwloedd, região mais afastada ao sul de Cylch. A névoa, fruto de uma poderosa magia, ocultavam o Santuário dos olhos de qualquer criatura que não fosse um filho da Luz. Ao atravessá-las e visualizar as muralhas do lugar, a impressão que se tem é que a construção teria o tamanho de um grande castelo, porém, ao ultrapassar os grandes portões descobria-se que, na verdade, tratava-se de uma cidade inteira. No centro dela, havia uma grande e majestosa estátua de Luxord e seus quatro filhos, seres místicos, lutando.
O monumento representava a história do fim da guerra contra os Senhores das Trevas e os hud, as criaturas nascidas da magia e dos tipos mais variados em tamanho e forma vindas do outro mundo, e a Ascensão do Senhor da Luz.
A imagem no centro da cidade possuía pelo menos cinco metros de altura e ficava em cima de um altar. Era construída com a mais brilhante rocha anciã que puderam encontrar e cuidadosamente esculpida até os mínimos detalhes, o que tornava as figuras praticamente reais.
O Santuário era a fortaleza dos sentinelas, os portadores dos Filhos de Luxord: Espadas criadas a partir da alma dos filhos de um dos Três Tremores. Os quatro sentinelas tinham como objetivo manter o equilíbrio de Cylch com a ajuda das espadas mágicas e dos chamados protetores: Seguidores do Arauto da Liberdade que não possuem a benção de uma Estação, mas que compõem o seu exército pela terra de Cylch. Dentro do lugar os céus sempre estavam claros e limpos, exceto nos arredores da Arena, e a água era obtida a partir de nuvens mágicas que ficavam em cima de grandes poços espalhados pela grande cidade murada, chovendo até a borda, onde não derramam uma única gota para o lado de fora.
Mas, se somente os filhos da Luz podem encontrar a entrada, como chegaram aqui?
Foi o que pensou o jovem quando pôde respirar.
Após o café da manhã, tinha se dirigido à Arena das Estrelas para se acalmar e preparar para o confronto com Geralt, o melhor amigo. Fez seu rito pessoal, vestiu a armadura leve e deitou os joelhos no chão onde em poucos minutos os olhares de metade da população do Santuário estariam direcionados e rezou para que a Luz de Luxord brilhasse mais forte sobre ele naquele dia.
Não foi, contudo, o que aconteceu.
Aos poucos, rostos conhecidos iam chegando e se acomodando nas primeiras fileiras da grande construção. Os aprendizes, empolgados para assistir a batalha, discutiam tentando prever qual forma a Arena mágica tomaria naquele dia. Um deserto de gelo, penhasco, vulcão, uma simples planície alta, ou talvez todas essas possibilidades juntas e infinitas mais, o que a criatividade daqueles garotos pudesse elaborar.
- Ei, Gale! Animado para sua graduação? - disse Lenora, uma aprendiz do Santuário, quatro anos mais nova que o garoto ajoelhado. Ele abriu os olhos levemente assustado com a voz que lhe tirou do transe meditativo em que estava e virou-se para a garota de cabelos escuros, que formavam uma grande trança que lhe caía pelo ombro.
- Não percebi que estava se concentrando, é impossível ver seu rosto com esses cabelos na frente! - disse a menina, que torceu o nariz fino tentando se justificar.
- O que tem de errado com o meu cabelo? - questionou Gale enquanto enrolava os dedos no cabelo castanho que lhe descia até um pouco acima dos ombros.
- Não tenho nada contra o seu cabelo, idiota. Mas não dá pra ver o seu rosto com ele todo na sua cara, nem sei como você luta tão bem com essa coisa mal cuidada tampando sua vista - respondeu Lenora com um suposto tom de inveja enquanto dizia as últimas palavras.
O jovem deu uma breve risada, tentando disfarçar seu nervosismo. Era a sua última provação. Estava tremendo e com a barriga se contorcendo dentro dele mesmo fazendo questão de comer o mínimo possível de manhã. O Sol já começava a se fazer mais presente no céu, o garoto avaliou que deveriam ser por volta de oito horas.
Todos já deveriam estar aqui. Geralt deveria estar aqui.
- O que foi? Está com uma cara idiota - disse a garota à sua frente apoiada na mureta da Arena. Ela o encarava tentando decifrar seus pensamentos mais profundos, um costume que Gale já conhecia muito bem, mas nunca se rendeu aos olhos castanhos e intimidadores. O cabelo sobre a face o ajudava.
- Eu só estava pensando que... - Não terminou o que ia dizer.
Um estrondo, semelhante a uma forte explosão, ecoou por toda a Arena.
Instantaneamente todos os seus sentidos ficaram em alerta.
No portão leste da Arena das Estrelas, um tumulto começou com a invasão de soldados vestidos em mantos totalmente negros como as sombras de uma caverna na escuridão. Os homens usavam máscaras estranhas que cobriam totalmente a face apoiadas pelo capuz das capas que escondiam espadas e machados agora empunhados, prontos para uma carnificina. Gale viu as arquibancadas serem tomadas por aqueles desconhecidos e os protetores desarmados caindo um a um. Alguns conseguiam roubar armas dos invasores e lutar pouco, ou pelo menos tentar. Eram muitos deles.
Lenora ficou imóvel vendo os protetores sendo derrotados tão facilmente. Um ataque surpresa. Não era permitido a protetores e aprendizes portar armas no interior da Arena, pois, quando o núcleo de magia fosse ativado, todos aqueles que estivessem armados sentiriam o efeito da mudança de terreno, o que era reservado somente para quem iria lutar naquele dia, Gale e Geralt. Alguns aprendizes pularam a mureta que dividia a arena de luta da arquibancada, seguidos por um pequeno número de protetores que não tentavam combater a invasão. O jovem puxou a amiga e correu para o portão oeste, que era a entrada direta na arena de luta através de um grande corredor, até ele ser arrombado por outro grupo dos mesmos invasores. Um deles veio na direção do rapaz com uma lança e tentou o golpear com uma estocada.
O aprendiz fez valer os anos de treinamento e desviou o corpo para a direita, agarrou a arma com as duas mãos e a tomou do dono, golpeando-o com a mesma. Era a primeira vez que tinha acertado carne humana com um objeto mortal, pôde sentir a resistência dos músculos e ossos enquanto a ponta de metal enferrujada perfurava o tórax do oponente e quando a vida se esvaiu da casca através do cabo.
Gale recobrou a consciência. Não podia entrar em choque, nem mesmo por um segundo sequer, depois, se sobrevivesse, poderia se lamentar. Puxou a lança de volta, que se partiu, deixando-o apenas com metade do cabo nas mãos.
- Quem diabos são eles!? - perguntou outro aprendiz mais novo. Qual era o nome dele? Robert? Gill? O garoto não se lembrava.
- Não sei! - respondeu.
- Como podem ter entrado aqui? - ele questionou novamente enquanto chutava um dos invasores escuros para desequilibrá-lo e roubar sua espada.
- Já disse que não s... - O jovem de cabelos grandes e bagunçados não conseguiu terminar a frase ao ver o garoto ser apunhalado pelas costas com uma adaga empenada e ter a espada que acabara de conseguir, removida das suas mãos que começavam a perder calor.
Gale investiu contra o covarde assassino com o cabo quebrado da lança. Primeiro o arremessou em direção ao alvo, que o rebateu para longe e, fazendo isso, abriu sua defesa. O menino segurou o braço em que o mascarado empunhava a espada e a tomou depressa, antes que a adaga presente na outra mão o acertasse. Depois, chutou o joelho do homem e brandiu a espada contra o mesmo. A sensação se fez presente de novo, nem um pouco mais fácil de lidar que a primeira morte.
Olhou ao redor.
Encontrou o painel a sua direita onde estavam o escudo e a espada: Dente de Dragão. Suas armas haviam sido recolhidas na noite anterior para que fossem tratadas especialmente para aquele dia, então ele planejava somente tomá-las na hora do embate com Geralt.
Correu com a arma que acabara de apanhar em punhos.
Acompanhado de um grito, golpeou um soldado no caminho, depois aparou o golpe de outro e contra-atacou, perfurando a cota de malha enferrujada por baixo do corpo do inimigo naquela curta dança de espadas. Enquanto continuava correndo para atravessar o campo ia repelindo ataques e às vezes devolvia o golpe sem perder o fluxo de seus apressados passos até Dente de Dragão.
A poucos metros de distância foi interrompido por um oponente muito habilidoso, qual não dava brecha para um ataque direto. Gale posicionou a espada para trás, abaixo de sua cintura, uma de suas posições favoritas com espadas de duas mãos para surpreender o inimigo. O espadachim adversário tentou atacar com um corte por cima, então o jovem bloqueou o ataque e empurrou a lâmina para o alto até o limite onde seus braços poderiam alcançar, levando as duas espadas para acima da linha da cabeça e abrindo a guarda do homem, que foi empurrado com um chute alto no estômago e golpeado com a queda da arma do garoto sobre sua cabeça, não podendo fazer nada pelo equilíbrio que lhe foi roubado e a defesa extremamente exposta.
O caminho estava livre até que viu um invasor ser arremessado através do pequeno corredor imaginário. Uma abertura no meio do caos da batalha. Virou-se para a direção de onde o encapuzado tinha sido atirado e viu Noran, um já velho Protetor, mas muito forte, que lutava de mãos vazias contra vários inimigos de uma só vez.
- Venham e enfrentem a ira de um filho da Luz! - gritava o velho careca e musculoso enquanto se desviava de um golpe de espada e corria até outro encapuzado para desarmá-lo. - Seus movimentos são fracos demais - disse ao agarrar o mascarado que desarmara e que agora recebia golpes na cabeça do mesmo. Então riu grandiosamente, o que certamente deve ter amedrontado os oponentes, que pensaram duas vezes antes de atacar novamente.
- Senhor Noran! - chamou Gale, que lhe jogou a espada que empunhava e ganhou um honesto sorriso de agradecimento, que para aqueles vestidos em mantos escuros lá deve ter soado aterrorizante de tão prazerosa era a sensação do Protetor ao receber a arma.
- Muito obrigado, meu querido! Agora é hora de brigarmos como homens. Certo, crianças? - perguntou aos invasores. Então investiu contra eles. Pelo que conhecia dele, o jovem poderia afirmar que o velho Protetor não era o maior exemplo de fé dentro do Santuário, ele acreditava nos homens e no peso da espada.
Gale correu para o painel, onde se equipou com o escudo, um elmo e a Dente de Dragão. A espada era feita com ferro tariano, o melhor metal para se forjar de toda Cylch e possuía uma cabeça de dragão entalhada por ele mesmo no pomo do cabo.
Sabia o que fazer, era o único com algum tipo de proteção, já que trajava um peitoral de couro, braçadeira de carvalho guardiano e joelheiras por causa do combate que teria. Era o único que podia abrir caminho pelo túnel até o lado de fora, que supôs estar pior que dentro da Arena das Estrelas. Os filhos da Luz não poderiam ficar ali, era questão de tempo até chegarem mais mascarados e derrotá-los naquele ambiente fechado e sem armamento para se defender.
O aprendiz então brandiu sua espada em direção ao alvo mais próximo e gritou:
- Por Luxord!
Seu grito conseguiu levantar a moral dos que ali estavam, como um pedido para mais um esforço. Até o limite.
Ele correu em direção ao túnel, acompanhado por outros aprendizes e protetores, abrindo caminho. Gale girou a espada em seu punho e estocou um alvo, defendeu um machado vindo da direita com o escudo e golpeou o autor do ataque rapidamente. Sentiu um golpe acertar-lhe a cabeça, o que o fez ficar tonto e embaralhar os sentidos. Cambaleou para o lado e acertou com as costas a parede esquerda do túnel, onde uma batalha violenta acontecia. Quando sua visão começou voltar ao normal, não enxergando versões duplicadas de seus oponentes e aliados, percebeu a lâmina que caía sobre si. Rapidamente o guerreiro se desviou para a direita com o susto, ainda zonzo, mas conseguiu aparar o próximo ataque. Firmou os pés no chão e investiu contra a espada, defendendo-a com seu escudo de madeira e trazendo a Dente de Dragão para frente, perfurando o alvo.
As mortes não estavam tendo mais tempo para causar pesar ou qualquer outro tipo de sentimento punitivo, não se podia pensar mais que o necessário para saber onde acertar o próximo golpe. O aprendiz correu abrindo caminho dentro do túnel junto dos outros, recebendo mais golpes do que gostaria, e conseguiu chegar ao seu fim, vislumbrando a cidade que outrora era maravilhosa, agora não passando de casas e ruas em chamas.
Do lado de fora, os protetores estavam armados e realizando pequenos combates em grupos, o que Gale pensou que deveria estar se estendendo por todo o Santuário. Os que saíram de dentro da Arena iam se juntando às lutas em diferentes lugares. Não ele.
O jovem filho da Luz correu através das ruas, estrategicamente planejadas em padrões geométricos perfeitos, tão rápido que não conseguiam acertá-lo com espadas, lanças ou machados. Gale correu até o único erro de cálculo daquela cidade inteira: O beco sem saída formado pelo encontro de uma casa de ladrilhos amarelos, que possuía um terraço descomunal, e de uma casa branca com o telhado pontiagudo da cor azul. O aprendiz não conhecia os donos daquelas residências, mas preferia a casa amarela, era melhor para ver as estrelas do alto do terraço.
Lá, ele se largou ao chão, conseguiu tirar o elmo com dificuldade, pois estava amassado, e se pôs a respirar. O jovem precisava entender o que estava acontecendo, o Santuário da Luz era o lugar onde os protetores eram treinados para proteger o equilíbrio das Estações e impedir que os Senhores das Trevas retornassem, os únicos que poderiam invadir o lugar seriam marionetes deles.
- Mas isso é impossível, somente filhos da Luz podem achar o caminho até o Santuário - disse o rapaz para si mesmo, tentando se controlar e encontrar lógica em seus próprios pensamentos descontrolados.
Um traidor.
Isso seria mesmo possível? Não podia se dar ao luxo de refletir muito sobre isso naquele momento, precisava voltar à luta.
Antes, decidiu fazer um rápido autoexame, para ter certeza das suas condições físicas. Tirou a braçadeira do braço esquerdo e viu que seu punho estava inchado, o que era um grande problema. Gale era canhoto. O pé direito doía um pouco, talvez tivesse torcido na briga dentro da Arena. Nada demais. Seus ombros doíam e as costelas também, possivelmente estavam fraturadas. Um pequeno desejo de ficar escondido no beco até tudo acabar brotou no fundo de seu coração, o que deixou o aprendiz irado. Mesmo que por um segundo ele pensara em abandonar seus amigos e colegas. Pensou em abandonar Luxord, o Senhor da Luz.
Pôs-se de pé. Botou o escudo no braço apertou Dente de Dragão o mais forte que pôde, para evitar que escapasse. Após isso, não teve mais escolha.
Três invasores vestidos de preto o avistaram no beco e avançaram em sua direção. Gale usou a lâmina para aparar o golpe do primeiro oponente a chegar em seu confronto e bateu com o escudo em seu rosto. Então girou e desviou do golpe do segundo, um corte de cima para baixo e encaixou no corpo exposto uma estocada perfurante. Retirou a lâmina do peito do homem e pulou para trás, esquivando-se do ataque do último e ganhando espaço para uma boa inspirada de ar, então saltou em direção à parede da casa de ladrilhos amarelos e pegou impulso na mesma, para acertar a cravada no rosto do alvo. Dente de Dragão ficou presa. Ainda precisava lidar com o primeiro hostil, que já estava recuperado e investiu contra Gale. O garoto se abaixou para desviar do corte transversal e desferiu soco no estômago do ser de máscara e capuz, que se contorceu, então se levantou e lhe bateu com o escudo. O sujeito bateu com a cabeça contra a parede. O garoto pulou até ele e roubou a espada de suas mãos, qual usou em um giro, cortando a vida daquele homem fora. Largou a arma. A respiração estava descompassada novamente e os pontos de fumaça resultante dos incêndios aumentavam.
Mesmo contra a vontade do próprio corpo, que lhe obrigava a ter o dobro de esforço pela fadiga, o jovem escalou a casa com o telhado azul para poder ver o Santuário melhor. Atualmente estava na região dos protetores, onde havia casas, comércios, ferreiros e estábulos. Até onde o rapaz podia ver, era o ponto de menos caos dentro do lugar. Supôs que por ser onde os guerreiros residem, a resposta ao ataque fora mais rápida e efetiva. Avistou ao sul o lugar onde morava: O acampamento dos aprendizes, que eram compostos por inúmeras tendas e barracas de pele de bisão dos Alpes Voadores e era onde ele passara toda a vida enquanto filho da Luz.
Naquele momento, estava totalmente destruído.
O acampamento ficava muito próximo da entrada secreta do Santuário, então possivelmente era onde o ataque havia começado. O lugar que era verde e abençoado pela grama cheirosa estava queimado, morto. Gale viu Geralt lutando bravamente ao lado do Sentinela do Verão, Gaheris, o portador da espada flamejante conhecida como Litha, a filha de Luxord que representava a Estação mais quente. A pele negra do Sentinela brilhava ao brandir sua espada incandescente contra os adversários que ficavam atônitos vendo-a se transformar em um grande chicote, trazendo desespero aos inimigos do fogo do Verão.
Então o jovem direcionou seu olhar a subir a via principal, composta pela estrada de tijolos de rocha anciã que atravessava a cidade inteira até o centro do Santuário da Luz, onde ficava a majestosa estátua de Luxord e seus quatro filhos. Em volta, uma grande batalha acontecia liderada pela Sentinela do Outono, Kyria, aquela que carregava Samhain. Os guerreiros defendiam a estátua enquanto ela despedaçava os oponentes com o poder de sua espada. O garoto analisou suas possibilidades, pensou nos outros sentinelas que deveriam estar protegendo outros lugares em que sua vista não alcançava dali, então rasgou parte da calça e fez uma tira para amarrar a Dente de Dragão em volta de seu pulso para que esta não escapasse, e correu até o centro para ajudar a Filha do Outono.
Gale ficou feliz de poder assistir Kyria lutar de tão perto. Ela era magnífica em combate, talvez a melhor dos quatro. A Sentinela logo o acolheu ao entrar na luta, mesmo não o conhecendo. O jovem sabia que os sentinelas possuíam tarefas mais importantes do que saber o nome dos aprendizes, mas ela era diferente, importava-se com cada soldado sob seu comando e sorriu quando apoiou suas costas nas do garoto.
- Quer que eu te cubra, novato? - perguntou ela em um tom leve dada a gravidade da situação. Com a respiração pesada, a Filha do Outono usava uma armadura leve, de malha de dragão, muito rara em tons escuros como madeira de carvalho guardiano e cabelos arrepiados e cuidadosamente raspados do lado direito da cabeça da cor das folhas secas que caem das árvores antes da chegada do Inverno. Seus grandes olhos envoltos de uma pintura preta pulsavam em tons dissonantes de laranja e transmitiam inspiração ao mais infeliz e desacreditado.
- S-Seria uma honra, senhora - disse o rapaz com a voz trêmula. Estava nervoso demais para proteger a retaguarda da Sentinela do Outono, uma dos quatro líderes do Santuário. - Darei minha vida se for preciso!
- Não será necessário, jovem Wintamer, apenas lute e fique vivo - respondeu com uma risada simpática, a Sentinela aparentava ter poucos anos de diferença do rapaz, tendo em vista de que o envelhecimento dos portadores das espadas de Luxord era diferente.
Como ela sabe meu nome?
Antes de abrir a boca para perguntar, o primeiro inimigo atacou. Gale bloqueou e rebateu o golpe, girando junto com Kyria. Como fora ensinado durante seus anos de luta, nunca se pode permanecer parado. O mais importante na dança do combate é estar em movimento, então foi o que fez. Eles atacavam e se movimentavam, protegendo as costas um do outro. O garoto podia ouvir risadas vindas dela.
- O que é tão engraçado!? - indagou com os cabelos colados na face pelo suor e logo em seguida se arrependeu-se pela insolência que estava cometendo.
- Nunca perca a calma em um combate, rapaz. É assim que te derrubam! Você tem que se sentir vivo e confiante em cada golpe! - respondeu a Sentinela com os cabelos bagunçados enquanto girava sua espada feita com o bronze das Montanhas Tempestuosas, Samhain.
Então surgiu um grupo de quatro novos mascarados e um brutamonte com um machado de guerra imenso. O elmo com chifre permitia que Gale visse o rosto em fúria do homem, ou o que ele fosse.
Seus olhos brilhavam como se estivessem em chamas e a carne em sua face parecia se deteriorar, era como se ele já tivesse morrido. A mandíbula era estranha, parecia pertencente mais a um animal do que uma pessoa e o nariz achatado como um focinho contribuía com essa ideia. O braço que segurava o machado era deformado, visivelmente maior e mais forte do que o outro. O aprendiz com certeza não gostaria de ser acertado por um soco daquela coisa.
- Consegue cuidar dele, novato? Eu lido com os outros - perguntou honestamente Kyria. Era uma oferta muito boa, um oponente em vez de vários. Entretanto, Gale não concordava com essa ideia após ver o tamanho do corpo e da fúria do gigante de elmo.
- C-Consigo - gaguejou. Não queria decepcionar uma Sentinela.
- Não se esqueça, lutamos por Luxord! - a Sentinela disse com um sorriso e levantou Samhain, a espada, aos céus. - Irmãos! Hoje a nossa missão é pela sobrevivência, então me escutem. Acima de nós o senhor que descarrega sua Luz sobre a terra nos assiste. Rompam as barreiras, purifiquem as trevas e brilhem como um farol para teu irmão ao lado! Não se esqueçam de seus juramentos, pois hoje seremos eternos! - Então partiu em direção aos invasores.
Não podia entender de onde vinha tanta empolgação que transbordava da Filha do Outono, aquilo era um desastre, o seu lar estava caindo nas mãos de sujeitos misteriosos e hostis. Por outro lado, as palavras e o ânimo dela eram impossíveis de não serem absorvidos. Gale sentia a energia voltando para seu corpo cansado, o escudo já não pesava tanto, podia sentir novamente os dedos e apertar o cabo da espada mais uma vez. Logo avançou contra o monstruoso homem de machado.
O primeiro golpe arremessou Gale a três metros de distância.
Teria sido destroçado se não fosse o escudo, que agora só lhe restava metade no braço e a bossa de metal. O rapaz tirou os cabelos do rosto e armou a defesa com a proteção à sua frente e a espada apontada para o alvo. O gigante veio bufando como um animal e atacou. Ele rolou para o lado e acertou seu calcanhar, o que deixou o invasor de joelhos. No momento em que foi finalizá-lo, o homem se abaixou, o apanhou pelo peitoral já completamente danificado e o atirou longe.
O bárbaro pegou o machado de guerra do chão e o rapaz percebeu que sua proteção do torso havia ficado com ele. Não possuía mais nenhuma defesa no corpo e metade de um escudo. Então correu para acertar o guerreiro do elmo de chifres primeiro e foi recebido com o forte giro do machado em seu flanco esquerdo. Tudo o que podia fazer era saltar para trás, o que conseguiu realizar com dificuldade. Havia cortado o braço, mas não percebeu. Aproveitando do giro, o bárbaro encaixou outro golpe de cima para baixo que foi amortecido pela parte do escudo que sobrara, mas fez Gale cair de joelhos. Agora só lhe restava a bossa de metal. O restante do escudo foi jogado para longe após ser removido da ponta da arma do seu oponente.
O vento mudou de direção.
Gale ouviu o grito poderoso de um exército e as pisadas fortes no chão do centro do Santuário, então, o gigante foi arremessado para longe por um monstro de metal. Era o lendário Touro Armadurado, uma criatura de ferro tariano de 3 metros de altura construída a partir da forma de um antigo hud que era uma mistura de touro com humano. Sua armadura brilhava tanto, que não se podia ter tanta certeza sobre seu material naturalmente escuro. Ao olhar de perto, parecia até mesmo que as placas de ferro vibravam em conjunto. O jovem aprendiz só tinha ouvido falar da armadura viva em histórias contadas pelos protetores que tomavam conta de sua classe de aprendizes e, pelo que se lembrava, o Touro era símbolo e principal arma da Legião dos Cavaleiros de Ferro: A tropa de guerreiros de elite do reino de Tarian.
O que ele estaria fazendo ali?
Ao ouvir as pisadas ficarem mais altas, o garoto se virou e viu a Legião se juntando ao combate com suas armaduras de ferro tariano, que diferente do Touro, possuía seu tom escuro natural e que eram misturadas com aço lofidiano, uma recompensa do Santuário em forma de agradecimento ao reino aliado. Gale sabia disso, pois tinha acompanhado dois protetores em uma missão diplomática até Tarian no Verão passado.
Por causa de sua viagem também sabia que era impossível eles terem chegado tão rápido até lá.
- ...le, Gale! GALE! - berrou Kyria. O guerreiro com a visão comprometida pelos cabelos bagunçados a viu lutando com dois soldados malignos quando deixou o mundo de seus pensamentos. - Vá ajudar Gaheris, nos viramos por aqui! - A Sentinela agora possuía o reforço necessário para lutar e sabia que as coisas estavam mais difíceis ao sul, então mandou mais cinco soldados, que acabavam de chegar, irem com Gale até o Filho do Verão. O rapaz relutou, mas quis crer que ela estaria mais bem acompanhada pela criatura que já despedaçou fileiras inteiras de exércitos que com ele.
Ao ficar livre de combate por uns instantes, percebeu que era um absoluto imbecil. Era impossível ganhar daquele bárbaro com brutalidade, ele tinha o dobro de força e o dobro de peso do garoto, que precisava ter abusado de sua agilidade e esperteza. O calor da batalha estava começando a afetar suas decisões, não estava pensando direito. O medo e o nervosismo o faziam agir primeiro, e isso ia acabar o matando.
Sem mais idiotices a partir de agora.
Gale desceu correndo portando somente Dente de Dragão em suas mãos, que já não mais brilhava. A espada estava amassada onde o guerreiro gostava de golpear, quase sem fio e suja de terra e sangue. Ele girou a lâmina acima da cabeça e aparou um corte da gigante espada à sua frente e depois cortou o dono da arma com um golpe espaçado, como gostava de lutar. Então finalmente perguntou aos soldados que o acompanhavam?
- De onde vocês vieram?
- De Tarian, senhor!
- Não sou senhor, e é impossível vocês terem vindo de lá!
O legionário com qual estava falando foi acertado por uma flecha no peito.
- Protejam-se! - gritou outro. Eles estavam na frente de três arqueiros empoleirados nas casas estrada acima. Gale e os outros legionários correram para se proteger, um deles foi acertado. Encontraram proteção atrás de carroças derrubadas ali perto. Era frustrante, não havia como sair dali sem cobertura, algo que eles definitivamente não tinham no momento.
O aprendiz conseguiu ver quando as lanças acertaram dois dos arqueiros. O outro se desviou, mas caiu de cima da casa. O socorro havia chegado com força. Tratava-se dos que lutavam perto do acampamento dos aprendizes, que dominaram o terreno e começaram a avançar. Liderando o avanço vinha Hêner, a General do Exército da Luz, patente mais alta do Santuário antes dos sentinelas. Tinha cabelos loiros e uma grande armadura que Gale arriscava ser de placa de dragão, mas não tinha certeza e não perguntaria. A alta mulher trazia uma espada curta e um gigante escudo branco que mais parecia uma porta, mas era esplêndido aos olhos do jovem. Ao seu lado, vinha Gaheris empunhando Litha, com sua espessa barba e tranças amarradas para trás. O guerreiro era intimidador, trajava uma armadura vermelha que mesmo de longe dava para saber que era feita de aço lofidiano pelo brilho que emanava. Gaheris era de Lofeed, reino especializado na arte da guerra e onde os habitantes possuíam a pele mais escura, embora Gale os achasse bons demais em combate para serem simples humanos. Seus olhos negros exalavam fúria, que era correspondida pelo pulsar da espada-chicote incandescente se segurando para não irromper em chamas mais uma vez.
Atrás deles vinham Lenora e Geralt, que estava machucado, mas bem o suficiente para manter-se de pé, então podia lutar. Seu amigo estava com as vestes idênticas às de Gale, o que usariam em combate naquele dia, mas ainda trajava o peitoral e a braçadeira. Os curtos cabelos ruivos contrastavam com os olhos azuis, um estava quase fechado devido ao inchaço de um golpe certeiro. O rosto estava muito sujo, quase não sendo visível sua marca de nascença ao lado da sobrancelha esquerda e mal conseguia levantar a espada, mas segurava um escudo seminovo.
- Fiquem juntos! Em formação! - gritou Hêner. A general levantou o escudo e avançou, sendo seguida por grupo de protetores formando uma parede que varria a via principal. - Pela Luz que brilha sobre toda Cylch! - e os protetores responderam repetindo a fala em uníssono. Os legionários que acompanhavam o garoto foram atrás. Ele continuou agachado atrás da carroça, sendo intimidado pela presença do Sentinela do Verão que ficara para trás. O lofidiano o encarou de volta e o jovem de cabelos bagunçados sentiu um frio percorrer sua espinha de ponta a ponta.
- Ainda pode ficar de pé? - perguntou Gaheris, e pela primeira vez Gale pôde ouvir sua voz, era retumbante e amedrontadora, reverberando dentro da cabeça do aprendiz. - Está me ouvindo, moleque? - questionou impaciente.
Assentiu com a cabeça.
- Então levante, homem! Você é um filho da Luz ou um covarde!? - Fez os três jovens recuarem com o poder de sua voz. O guerreiro no chão tentou levantar-se, mas seu sangue já havia esfriado e finalmente teve o prazer de sentir a dor. Seu pé direito era incapaz de apoiar-se no chão. Seu braço, que levantava a espada, perdera toda a força com o corte que empapava sua manga de sangue e a pancada na cabeça finalmente estava lhe deixando verdadeiramente tonto.
- Gale! Eu o levo, não se preocupem - disse Lenora, aproximando-se do companheiro para ajudá-lo a levantar. Com certa dificuldade e muita dor, ele conseguiu se apoiar nela e ficar de pé. Gaheris praguejou e foi em frente. Geralt pretendia segui-lo, mas antes virou para o amigo e falou:
- Não morra. Ainda preciso te vencer para tornar-me Protetor. - Então sorriu pressionando as sardas em seu rosto ao fazê-lo. Geralt era o companheiro de tenda do jovem ferido, passaram toda a vida dentro do acampamento juntos. Eram praticamente irmãos e Gale o viu partir em direção à batalha, novamente, sem ao menos dizer uma palavra sequer. Arrependeu-se de não ter conversado uma última vez com o amigo antes de ele virar as costas. Tentou gritar algo que o ruivo pudesse ouvir, mas gemeu de dor ao puxar o ar para os pulmões.
- Não se esforce. Vou te levar para onde estamos cuidando dos feridos. Esta área já é segura - contou a garota apontando para o sul da via principal, de onde ela e o grupo tinham acabado de vir. Ela não parecia tão machucada, apesar de estar suja e com as roupas levemente rasgadas. Gale podia ver que Lenora havia lutado muito bem. A lança que repousava nas costas da menina estava quebrada na ponta e com rachaduras, mas as cicatrizes que ganhara mostravam o quão boa aquela arma tinha sido.
- Parece que você finalmente se batizou no combate, não é? - perguntou ele tentando esboçar um sorriso, mas só conseguiu sentir mais dor e embaçar sua visão. - Ai. - Não sabia o motivo de ter feito aquilo.
- Você fala como se este não tivesse sido seu primeiro combate também - respondeu ríspida e depois contraiu a boca rosada. Estava preocupada com o garoto, ela o via como um irmão mais velho que a acolheu quando chegara ao Santuário da Luz. Agora, ele mal podia andar.
- Estou bem, só preciso de um tempo e entã...
- Você não vai voltar para lá, Gale. Não vou deixar. - Ela se impôs. Lenora era bem menor que o rapaz e ele era bem pesado, mas não pensaria duas vezes em desacordá-lo para protegê-lo de si mesmo.
O jovem pensou em protestar quando os dois foram atingidos por uma rajada de vento que os lançou para trás. Ele tirou os cabelos do rosto e olhou em volta. Tudo o que via eram as casas que estavam em chamas e agora tinham sido apagadas com a lufada de ar que as atingira. Algumas delas perderam partes dos telhados e das paredes, outras foram arrancadas inteiramente do chão e levantadas até os céus.
Ao longe, em frente à estátua de Luxord e seus filhos, A Sentinela do Outono caiu.
O aprendiz mal podia se colocar em pé, mas não conseguiu mexer um só músculo quando viu guerreira de cabelos ruivos caída. Aquela era a mais habilidosa dos sentinelas, a Filha do Outono, aquela que empunhava Samhain, a Espada da Transformação. Não era possível ela ter sido vencida.
Se Kyria fora derrotada, quais chances teriam os outros? Estavam perdidos.
- Não pode ser - disse Lenora, também no chão.
- Preciso ir até lá. - Levantou-se, encontrando o máximo de forças que seu corpo poderia lhe dar. O que não era muito.
- O que, você ficou louco? Mal pode ficar em pé, o que acha que vai fazer?- Lenora se ergueu furiosa enquanto via o amigo mais velho mancar em direção onde o caos estava instaurado. Após a morte de Kyria, os protetores fizeram uma formação em círculo em volta de seu corpo e lutavam com apenas o que o luto e o ódio juntos poderiam criar percorrendo suas veias.
A menina parou à sua frente e abriu os braços, impedindo a passagem.
- Lenora, eu... - Já ia protestar furioso por sua invalidez quando as palavras sumiram de sua boca, junto de qualquer traço de saliva.
A garganta ficou instantaneamente seca ao ver o jovem de mesma idade de Lenora pegar Samhain, que tinha se perdido em meio ao combate e apontá-la de forma trêmula para Gaheris. Gale o conhecia, era o geniozinho, como o chamavam. A última vez que vira aquele garoto foi quando havia saído em uma missão em seu lugar. Os cabelos negros do menino precisavam ser aparados, o que significava que ele estava há meses fora.
Alabaster. Foi ele?
Antes que pensasse demais, pôde ouvir o grito do Sentinela ao longe:
- COVARDE! TRAIDOR! - Estalou seu chicote no chão, que irrompeu em chamas.
Gaheris golpeou uma vez e Alabaster defendeu com o escudo, que se desfez. No segundo ataque, tentou defender-se com Samhain, mas somente conseguiu desviar o golpe para seu rosto, queimando o olho esquerdo.
O menino caiu no chão ferido, sujo e aterrorizado pela imponência do Filho do Verão.
Quando viu as chamas incandescentes da lendária Litha inflamar-se em línguas de fogo para desferir o golpe que lhe tiraria a vida, tudo o que pôde fazer foi usar Samhain como escudo. Prevendo o que aconteceria, Gaheris tentou desviar a trajetória do fio de sua lâmina para não acertar a espada de Kyria. Era tarde, contudo.
O Outono se feriu.
O equilíbrio havia sido destruído.
Os céus ficaram vermelhos como o sangue fresco de um bezerro e as nuvens negras feito carvão. O chão tremeu e fez as casas ao redor balançarem, a imagem de Luxord e seus quatro filhos pareceram se mexer alguns centímetros enquanto assistiam a cena do altar à sua frente. Buracos no chão se abriram e de lá saíram águas escaldantes, mesmo não havendo nenhum fluxo de água pelo Santuário.
Uma evacuação em massa dos invasores ocorreu. Fugiram com medo. Um deles pegou Alabaster pelos braços e o arrastou pelo chão. Um grande grupo de cerca de cinquenta ou mais seres mascarados desceram a via principal, passando diretamente por Gale e Lenora, que estavam atônitos e nada podiam fazer. Eles não foram perseguidos, pois todos estavam mais preocupados com a Sentinela.
A espada de Gaheris se apagou e voltou à sua forma normal. Ele colheu as partes de Samhain quebrada, cuidadosamente, pegou o corpo da Sentinela nos braços e parou por uns longos instantes. Gale só podia enxergar a figura de costas, então nem imaginava qual poderia ser a expressão que tomava conta de sua face no momento.
Hêner se ajoelhou e abaixou a cabeça para tentar esconder o rosto choroso. Os membros da Legião batiam com a ponta de suas espadas no chão em forma tradicional de respeito, enquanto o Touro Armadurado parecia se enrijecer e perder a vida, voltando a ser uma armadura comum. O Sentinela de pele escura saiu em direção ao palácio do Senhor da Luz levando Kyria.
A visão do aprendiz ficou embaçada. Seus olhos se tornaram pesados demais para segurar, então, desmaiou.