Meu querido vizinho
img img Meu querido vizinho img Capítulo 2 LATIDOS E ORGASMO
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Capítulo 6 O JOGO DA PAQUERA img
Capítulo 7 MUDE A HISTÓRIA img
Capítulo 8 LUZES DE SEXTA À NOITE img
Capítulo 9 CAIXA DE PANDORA img
Capítulo 10 EX E OHS img
Capítulo 11 TRETA DE BÊBADO img
Capítulo 12 AI, MANO img
Capítulo 13 BEM FERRADO img
Capítulo 14 SEGUIR EM FRENTE img
Capítulo 15 STALKER img
Capítulo 16 CORAÇÃO PARTIDO img
Capítulo 17 NO CHÃO img
Capítulo 18 BANHEIROS E CASAS NA ÁRVORE img
Capítulo 19 COBERTURA img
Capítulo 20 EMBAIXO DO PARAÍSO img
Capítulo 21 LE NOMBRIL img
Capítulo 22 JURAS NÃO INTENCIONAIS img
Capítulo 23 O LUTADOR img
Capítulo 24 PLANO DE DEUS img
Capítulo 25 PINGO NO I img
Capítulo 26 EPÍLOGO img
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Capítulo 2 LATIDOS E ORGASMO

Uma semana se passou e Jade tinha voltado para Nova York. Eu já sentia muita falta dela. A única razão pela

qual eu não tinha ido visitá-la era que agora Elec morava lá com Greta. Embora fosse extremamente

improvável que eu o encontrasse, ainda não estava preparada para visitar o território deles.

O Artista Nervosinho e eu não nos encontramos desde o incidente quando Jade estava aqui. Apesar de não o

ter visto por ali, seus cachorros me acordavam quase todas as manhãs latindo como se fossem explodir. Como

eu trabalhava no programa vespertino no Centro da Juventude, minhas manhãs eram livres. Era comum eu ter

dificuldade para dormir à noite e precisar das manhãs para recuperar as horas de sono.

Estava pensando seriamente em quando chegaria o momento em que eu não aguentaria mais os latidos. Se

um cachorro não estava latindo, o outro estava. Na maioria das vezes, era um coro de latidos em uníssono. Eu

não me importava com o quanto ele era intimidador e lindo. Precisava falar com o vizinho.

Terça-feira de manhã, me arrastei para fora da cama e vesti um moletom. Passei um pouco de corretivo nas

olheiras antes de ir bater à porta dele.

Ele a abriu vestindo uma camiseta branca e justa. O cabelo estava desgrenhado.

- Posso ajudar?

- Preciso falar com você sobre os cachorros.

- Quê? Sem cestinha de muffins?

- Não rolou. Desculpa. Não tenho energia para cozinhar, já que não consigo dormir por causa dos latidos

incessantes dos seus animais.

- Não tem nada que eu possa fazer. Já tentei de tudo. Eles não calam a boca.

- E aí, o que os outros devem fazer, então?

- Não sei. Descolar protetores de ouvido?

- Sério. Deve ter alguma coisa que você possa fazer.

- Além de pôr uma focinheira neles, o que não vou fazer, não, não tem. De qualquer forma, está ouvindo

os latidos agora?

Por algum motivo, eles tinham parado.

- Não. Mas é raro eles ficarem quietos assim de manhã, e você sabe disso.

- Olha, se quiser reclamar com o síndico, fica à vontade. Eu não posso impedir. Mas não tem nada que eu

já não tenha tentado para fazer os cachorros pararem de latir. Eles têm vontade própria.

- Bom, então é isso que vou ter que fazer. Obrigada por me obrigar a recorrer a isso. Muito obrigada por

nada.

Eu me afastei e ouvi a batida da porta pouco depois.

Quase no mesmo instante em que entrei no meu apartamento, os latidos recomeçaram.

Deitada na cama, eu sabia que só havia uma coisa que poderia fazer para relaxar o suficiente e dormir,

mesmo com os latidos. Apesar de não querer recorrer a eles, peguei meus fones de ouvido com redução de

ruído e os coloquei nas orelhas para diminuir um pouco o barulho. Mesmo sem música, eles ajudavam. Mas eu

dormia de lado. Os fones só resolviam quando eu estava deitada de costas. E eu só deitava nessa posição

quando me masturbava. E por que de repente eu estava pensando no Artista Nervosinho? Infelizmente, pensar

em me tocar trouxe imediatamente imagens indesejadas dele. Eu não queria pensar nele desse jeito. Ele era um

idiota e não merecia ser objeto da minha vontade. Mas ele cheirava muito bem, uma mistura de especiarias,

almíscar e homem. Não dá para controlar o que fantasiamos. O fato de ele ser grosso e inacessível o tornava

ainda mais elegível como objeto dos meus pensamentos proibidos. Aprendi na aula de psicologia na faculdade:

a supressão geralmente leva à obsessão. Se você disser a si mesmo para não pensar em alguma coisa, vai

pensar nela ainda mais.

Deslizei as mãos para dentro da calcinha e comecei a massagear meu clitóris. Deus, eu nem sabia o nome

dele. Isso era doentio, mas nesse momento não tinha importância. Pensei nele em cima de mim, entrando em

mim, me fodendo com raiva. O tempo todo, a sugestão dos latidos continuava ao fundo enquanto eu balançava

para a frente e para trás, me levando a um dos clímax mais arrasadores que eu já tinha experimentado.

Depois consegui dormir por uma hora.

O sol do meio da manhã entrava pela janela. Abri os olhos meio atordoada e notei que o latido havia parado.

Os animais deviam ter saído para passear.

Faltavam algumas horas para eu ir trabalhar, então decidi procurar o número de telefone do proprietário do

prédio. Havia um escritório da administração no edifício, mas a mulher que trabalhava lá era bem relapsa.

Desconfiei de que ela não levaria a sério minha queixa sobre os latidos e achei melhor ir procurar diretamente

quem tinha o poder de resolução. Eu só tinha mantido contato com a mulher da imobiliária que cuidava do

aluguel e nunca tinha falado com o síndico.

Uma busca na internet me deu o nome D.H. Hennessey, LLC. Havia um número de telefone para contato,

mas a ligação caiu em uma caixa de correio de voz com uma saudação automática. Eu queria falar com

alguém, então desliguei sem deixar recado. Percebi que o endereço listado ficava no primeiro andar desse

prédio. Decidida a ir até lá, coloquei um vestido, calcei os sapatos e escovei o cabelo.

Bati à porta, respirei fundo e esperei. Quando a porta se abriu, quase caí ao vê-lo.

O Artista Nervosinho estava ali parado, sem camisa e com aquela maldita touca de novo. Meu coração

disparou. Seu peito esculpido estava coberto de suor e juro que fiquei com a boca cheia d'água.

- Posso ajudar?

A mesma pergunta que ele havia feito ao abrir a porta do apartamento. Isso parecia um déjà-vu, um episódio

de Além da imaginação, ou um pesadelo em que, independentemente de que porta eu abrisse, ele estaria lá.

- O que está fazendo aqui?

- Isto aqui é meu.

- Não. Seu apartamento é vizinho ao meu.

- Isso. Aquele é o meu apartamento. Aqui é o meu estúdio e academia.

- Este endereço é do síndico.

Um sorriso irônico surgiu no rosto dele. De repente, eu me senti a pessoa mais burra do mundo quando

entendi tudo: ele era o síndico. Foi por isso que o idiota me incentivou a fazer uma reclamação formal.

- Você é D.H. Hennessey...

- Isso. E você é Chelsea Jameson. Excelente histórico de crédito, ótimas referências... reclama de tudo o

tempo todo.

- Bom, isso explica muita coisa... por exemplo, não encarar as consequências por descaracterizar a

propriedade e ser um babaca com os vizinhos.

- Eu dificilmente compararia minha arte criativa com uma descaracterização de propriedade. Você não deu

uma olhada no bairro? É uma meca da arte. Meu mural não é o único, longe disso. E você está exagerando com

relação aos cachorros. E aí, quem é babaca nessa situação? Discutível.

Atrás dele, dava para ver várias telas pintadas com spray, um banco de supino e outros aparelhos de

musculação.

- Onde os cachorros estão agora?

- Cochilando.

- Cães cochilam?

- Sim, eles cochilam. Estão recuperando o sono perdido porque sua chatice os manteve acordados hoje de

manhã. - Ele abriu um sorriso. Isso me fez perceber quanto estava se divertindo com essa conversa.

- Esse D é de desprezível?

Ele não respondeu imediatamente e nos encaramos por alguns instantes antes de ele dizer: - O D é de

Damien.

Damien.

Claro que ele também tinha que ter nome de gostoso.

- Damien... como daquele filme A profecia? Combina. - Olhei em volta. - Por que fornece esse

endereço para os inquilinos?

- Ah, não sei. Talvez eu não queira gente maluca que me compara ao anticristo aparecendo na minha casa

a qualquer hora.

Não consegui segurar o riso. Essa causa era perdida.

- Tudo bem. Bom, é óbvio que essa conversa não vai servir para nada, então curta seu treino.

***

Naquela tarde, membros da Sinfônica de São Francisco fizeram uma visita ao Centro da Juventude. Eles

fizeram um pequeno espetáculo só para nós. Ver o sorriso no rosto das crianças enquanto brincavam com os

instrumentos sofisticados serviu para me lembrar de quanto eu amava o meu trabalho.

Enquanto todos estavam atentos aos convidados, notei uma das adolescentes, Ariel Sandoval, escondida em

um canto com um celular. Os dispositivos eram contra as regras do Centro, já que este deveria ser um local de

aprendizado. Os adolescentes que tinham celular precisavam deixar o aparelho em um recipiente na recepção,

onde os pegavam de volta na saída.

- Ariel, tudo bem? Você deveria estar com todo mundo.

Ela balançou a cabeça de um lado para o outro.

- Desculpa. Sei que não devia estar com o celular, mas preciso dele. E não, não estou bem.

Eu me sentei no chão ao lado dela. O chão estava frio.

- O que aconteceu?

- É o Kai. Estou olhando o Facebook para ver se alguém o marcou em alguma foto.

O namorado dela, Kai, também era frequentador regular e jogava no time de basquete do Centro. Várias

meninas gostavam dele. Quando eu descobri que Ariel e Kai estavam namorando, isso me preocupou, não só

por causa da idade – eles tinham quinze anos – mas por causa da popularidade de Kai.

Então, não foi nenhuma surpresa quando ela disse: - Acho que ele está saindo com outra pessoa.

- Como você sabe?

- Ele não veio para cá depois da escola na semana passada e meu irmão disse que viu o Kai no shopping

com uma garota.

Meu coração ficou apertado. Eu queria dizer que ela provavelmente estava certa, mas não sabia se ela estava

emocionalmente preparada para ouvir isso.

- Bom, não tire conclusões precipitadas até falar com ele, mas vocês precisam conversar. É melhor saber

logo do que ser surpreendida depois. Não vai querer perder tempo com alguém que não é honesto.

Eu sei bem disso.

Mesmo que tecnicamente Elec não tenha me traído fisicamente, ele foi emocionalmente desonesto.

Ariel enxugou os olhos e se virou para mim.

- Posso te perguntar uma coisa?

- É claro.

- O que aconteceu entre você e Elec?

Senti uma pontada no estômago. Não estava esperando que ela tocasse no assunto e essa era uma história

muito longa para ser reescrita.

Elec era o conselheiro favorito de todos. Quando ele saiu do Centro, as crianças ficaram arrasadas. Todos

por aqui sabiam que éramos namorados; todo mundo torcia muito por nós e acompanhava nossa história.

- Quer saber por que terminamos?

- Sim.

Se eu fosse resumir tudo em uma única frase, só havia uma resposta.

- Ele se apaixonou por outra pessoa.

Ariel parecia confusa.

- Como é possível estar apaixonado por uma pessoa e simplesmente se apaixonar por outra?

Ah, a pergunta do ano.

- Também estou tentando entender, Ariel.

- Eu lembro como ele era com você. Pareciam apaixonados.

- Eu achei que estivéssemos - sussurrei.

- Acha que ele não te amava mesmo... ou só amava mais a outra garota?

Era como se essa garota de quinze anos tivesse vasculhado minha alma e escolhido exatamente a pergunta

que eu mais fazia a mim mesma. Queria ser honesta com ela.

- Não sei se existem níveis diferentes de amor, ou se ter me deixado significa que ele nunca me amou. Não

entendo se é possível simplesmente deixar de amar alguém. Estou tentando esclarecer essas mesmas dúvidas.

Mas o importante é que, se alguém está te traindo, essa pessoa não te ama.

Ela olhou para o nada.

- Sim.

Bati de leve meu ombro no dela e sorri.

- Mas quer a boa notícia? Você ainda é muito jovem e tem tempo de sobra para encontrar o cara certo, se

não for o Kai. Você está em uma idade muito difícil agora, provavelmente a fase mais difícil da sua vida. Você

e ele são puro hormônio e estão começando a descobrir quem são.

- E você?

- Eu o quê?

- Encontrou outra pessoa?

- Não. - Fiz uma pausa e olhei para os meus sapatos. - Não sei se vou.

- Por que não?

Como eu poderia acabar com as esperanças dessa menina? Como poderia admitir em voz alta que não seria

capaz de confiar em outro homem de novo? Esse problema era meu e não queria contagiá-la com a minha

nuvem sombria de dúvida.

- Sabe de uma coisa? Tudo é possível, Ariel. - Sorri.

Que bom seria se eu acreditasse no que dizia.

            
            

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