Meu querido vizinho
img img Meu querido vizinho img Capítulo 4 VOCÊ ME DEIXA DOIDO DE BACON
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Capítulo 6 O JOGO DA PAQUERA img
Capítulo 7 MUDE A HISTÓRIA img
Capítulo 8 LUZES DE SEXTA À NOITE img
Capítulo 9 CAIXA DE PANDORA img
Capítulo 10 EX E OHS img
Capítulo 11 TRETA DE BÊBADO img
Capítulo 12 AI, MANO img
Capítulo 13 BEM FERRADO img
Capítulo 14 SEGUIR EM FRENTE img
Capítulo 15 STALKER img
Capítulo 16 CORAÇÃO PARTIDO img
Capítulo 17 NO CHÃO img
Capítulo 18 BANHEIROS E CASAS NA ÁRVORE img
Capítulo 19 COBERTURA img
Capítulo 20 EMBAIXO DO PARAÍSO img
Capítulo 21 LE NOMBRIL img
Capítulo 22 JURAS NÃO INTENCIONAIS img
Capítulo 23 O LUTADOR img
Capítulo 24 PLANO DE DEUS img
Capítulo 25 PINGO NO I img
Capítulo 26 EPÍLOGO img
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Capítulo 4 VOCÊ ME DEIXA DOIDO DE BACON

No dia seguinte no trabalho, eu não conseguia deixar de pensar em Damien ouvindo as minhas conversas

particulares. Isso não era ilegal?

Na noite anterior, eu tinha interrompido bem depressa nossa comunicação através da parede depois da

revelação, ido para a sala de estar e esvaziado uma garrafa de Zinfandel com um acompanhamento de massa de

biscoito.

Felizmente, hoje estava ocupada demais no Centro da Juventude para deixar isso me consumir totalmente, já

que era a noite do nosso evento anual de café da manhã. Uma vez por ano, a equipe preparava um café da

manhã gigante na cozinha industrial para todas as crianças. Minha responsabilidade era fritar quilos de bacon.

No caminho de volta para casa, literalmente exalando gordura de bacon, voltei a pensar no buraco na parede.

Tinha notado que a abertura estava bem atrás da minha cama. Meu único consolo era que, se meu quarto ficava

ao lado do escritório dele, talvez ele não passasse tanto tempo lá à noite quanto passaria se fosse outro cômodo.

Talvez ele não tivesse ouvido todas as minhas sessões. Ou talvez eu estivesse só me enganando.

Exatamente quanto Damien sabia? Eu tinha abordado algumas coisas bem privadas com a dra. Little.

Relembrando tudo isso na caminhada de volta para casa, quase bati em uma barraca de frutas.

Quando cheguei ao prédio, estava tão furiosa que, num impulso, passei pela minha porta e segui para o

apartamento de Damien. Os cachorros, que normalmente eram tranquilos à noite, por algum motivo estavam

latindo desesperadamente.

Bati à porta freneticamente, planejando exigir que Damien me dissesse exatamente o que tinha ouvido

através da parede. Ele não abriu e eu bati mais forte. Os latidos ganharam força, mas a porta continuava

fechada. Eu já me preparava para desistir, quando a porta se abriu.

O cabelo escuro de Damien estava encharcado e gotas de água escorriam de sua testa até o peito. Ele estava

completamente molhado. O V esculpido na parte inferior do abdômen era a prova de que todo aquele trabalho

no andar de baixo estava valendo a pena. Uma toalhinha enrolada na cintura era o único tecido sobre seu corpo

nu.

Corpo de músculos definidos.

Puta merda.

Ele era gostoso a ponto de ser obsceno.

Levantei o olhar.

- Por que você abriu a porta desse jeito?

- Eu? Por que você está esmurrando a porta como uma maluca? Não queria sair do banho, mas achei que o

problema era muito sério. E que porra de cheiro é esse? Não é bacon, é?

- Sim, eu estava fritando bacon no trabalho. Eu...

- Porra! - ele rosnou por entre os dentes.

- Vim falar com você sobre o conserto do buraco na minha parede, mas é óbvio...

Antes que eu pudesse terminar a frase, os dois rottweilers pretos tinham corrido para a porta e pulado em

cima de mim, me derrubando no chão. Eles lambiam freneticamente meu rosto, pescoço e peito enquanto eu

estava ali deitada no corredor. Eles também mordiam o tecido da minha camisa.

Apavorada, consegui gritar:

- Tira eles de cima de mim!

Damien fez um esforço para dominar os animais enormes e finalmente os tirou de cima do meu corpo. Meu

rosto estava grudento de saliva.

Ele os empurrou para dentro do apartamento e pude ouvir as patas arranhando e escorregando no piso de

madeira. Em seguida, Damien voltou para o corredor e bateu a porta ao sair para trancar os cachorros lá dentro.

Ele estendeu a mão e eu a segurei. Ele me levantou lentamente, mas com firmeza, como se meu corpo fosse

leve como uma pluma.

Sem palavras, olhei para mim mesma. Faltava um enorme pedaço de tecido na frente da minha camisa e

dava para ver meu sutiã.

Ele parecia não saber o que falar.

- Chelsea, eu...

- Está feliz agora? Olha o que eles fizeram comigo.

- Porra. Sério? Não, não estou feliz. Os cachorros são obcecados por bacon, ok? É um cheiro que mexe

com eles. Por isso pularam em você. Por que tinha que vir aqui exalando esse cheiro?

- Tenho que ir - eu disse, virando em direção à minha porta.

Ele tentou me impedir.

- Espera.

- Não. Por favor. Só quero esquecer que isso aconteceu.

Voltei para o meu apartamento e deixei Damien ali parado com as mãos na cintura.

***

Depois de um banho quente, eu me acalmei um pouco e comecei a pensar que talvez tivesse exagerado ao

culpar Damien pelo ataque dos cachorros. Ele fez o melhor que pôde para tirá-los rapidamente de cima de

mim, o que não foi uma tarefa fácil, considerando que ele também estava segurando a toalha para não mostrar

o que não devia.

Eu também tinha certeza de que ele estava tentando se desculpar, antes de eu tê-lo deixado falando sozinho.

Ainda tinha que falar com ele sobre essa história de ficar escutando as minhas conversas, mas não seria hoje.

Eu estava muito cansada e me sentindo derrotada.

Peguei minha bolsa e decidi ir até o mercadinho comprar alguma coisa simples para fazer para o jantar.

Quase tropecei em uma sacola quando saí, me abaixei para pegá-la e vi que era da Casper's, a divertida loja de

camisetas da cidade.

Dentro da sacola havia uma camiseta de tamanho pequeno, cor de ferrugem com uma inscrição branca.

Sobre as palavras Você me deixa doido de bacon havia um rosto sorridente com lábios feitos de fatias de

bacon.

Não tinha nenhum bilhete, mas eu sabia que só podia ser do Damien.

No caminho de volta para casa com minhas compras, eu pensava em como ele tinha se dado ao trabalho de

comprar a camiseta como uma oferta de paz. Eu estava agindo como uma chata intransigente e exagerando

tudo, desde o buraco na parede até o ataque de bacon? Sinceramente, não sabia. Tudo que sabia era que

realmente não gostava da pessoa excessivamente sensível que tinha me tornado no ano passado.

Depois de fazer um jantar rápido de espaguete e molho marinara, voltei ao meu quarto para ler. Toda vez

que me sentava na cama, não conseguia deixar de me perguntar se Damien estava do outro lado da parede.

Quando pensei ter ouvido um barulho atrás de mim, perguntei: - Você está aí?

Ele respondeu depois de uma pausa breve com aquela voz profunda: - Estou trabalhando no meu

escritório. Não estou te ouvindo.

Eu não estava esperando uma resposta e meu coração começou a bater mais depressa.

Depois de um minuto, quebrei o gelo.

- Obrigada pela camiseta.

- Bom, eu te devia uma blusa... e um pedido de desculpas.

- Eu sei que não te dei uma chance de pedir desculpas. Sinto muito.

Ele não disse nada, então eu continuei: - Como é o nome deles? Dos cachorros.

- Dudley e Drewfus.

- Fofo. De onde você tirou isso?

- Não fui eu.

- Quem foi?

- Minha ex.

Interessante.

- Entendo. Por que eles ficam tão quietos à noite... como agora... mas fazem todo aquele barulho de

manhã?

- Eles não estão aqui.

- Onde eles estão?

- Com ela. Nós compartilhamos a guarda. Ela deixa os cachorros aqui de manhã, no caminho para o

trabalho, e eu os devolvo à noite.

- Uau. Eu achei estranho nunca ouvir os latidos à noite. Agora faz sentido. - Eu devia saber. - Então já

foi casado?

- Não. É ex-namorada.

- Ela morava aqui com você e os cachorros?

- Olha só, para alguém que não quer que eu saiba das suas coisas, você é intrometida pra cacete.

- Desculpa. Mas não acha que é justo, depois de ter ouvido tanto sobre mim?

Ele suspirou.

- Sim, ela morava aqui.

- O que aconteceu?

- O que acha que aconteceu? Nós terminamos.

- Eu sei. Mas quero dizer... por que não deu certo?

- Nem sempre existe uma resposta clara para essa pergunta. Nem sempre é tão simples como... - Ele

hesitou. - Alguém transando com a irmã de criação.

Ai. Meu. Deus.

Ele é muito babaca!

É claro que tinha escutado mais que a última sessão. Por vergonha, nunca contei para ninguém, exceto para

Jade e a dra. Little, que a mulher pela qual Elec me deixou era, na verdade, sua irmã de criação, por quem ele

aparentemente era apaixonado havia anos – desde a adolescência.

Não falei nada, e ele riu.

- Desculpa. Foi mal. Eu vou para o inferno.

Continuei em silêncio, balançando a cabeça numa reação incrédula.

Ele continuou:

- Isso realmente aconteceu? Parece uma coisa tirada de um livro ruim.

- Sim, realmente aconteceu. O que mais você ouviu?

- Caramba, não estou te julgando, Chelsea. Eu não poderia ligar menos para tudo isso. Não tem

importância.

- Para mim tem.

- Essa terapeuta está te extorquindo.

- Por quê?

- Ela tira unicórnios da bunda só para você continuar questionando tudo e ela continuar ganhando dinheiro

com isso. Fala para mim, depois de todas essas semanas, você acha que está mais perto de se sentir melhor, de

entender tudo isso?

- Não.

- É porque, às vezes, não tem uma explicação satisfatória para tudo. Você quer uma resposta? Acontece.

Essa é a resposta. Pessoas deixam de amar, se apaixonam, foda-se. Faz parte da vida. Você não fez nada de

errado. Para de tentar descobrir onde errou.

Fechei os olhos e deixei as palavras ecoarem. Para minha surpresa, meus olhos se encheram de lágrimas.

Não porque ele tinha gritado comigo, mas porque pela primeira vez me dei conta de que não havia nada que eu

pudesse ter feito para impedir o que aconteceu. E que talvez não fosse tudo culpa minha.

Finalmente falei:

- Nem sempre fui insegura desse jeito. É que... a experiência com ele, com o Elec, foi realmente um

momento decisivo na minha vida porque me fez questionar tudo. Eu achava que tinha feito tudo direito para

fazer esse relacionamento dar certo. Acreditava que ele me amava e me sentia segura, via todo o meu futuro

com ele. Apostaria minha vida nisso. Sinto que não vou conseguir confiar em ninguém de novo. Isso me

assusta, porque não quero acabar sozinha. Eu realmente pensava que ele era o cara.

- Bom, é evidente que não era. Você só precisa aceitar e seguir em frente. Sei que é mais fácil falar do que

fazer, mas é isso. Você não tem escolha a não ser aceitar. Só depende de você perder mais tempo vivendo no

passado, tentando resolver um problema sem solução, ou seguir em frente com a sua vida.

Deus, ele estava certo.

Eu sorri.

- Como pode ser tão inteligente?

- Isso é só senso comum.

- Não, não é só isso. Tipo... MIT?

- Como sabe disso?

- Ah, então o boato é verdade.

- Sim, estudei lá, mas não fico me exibindo por isso.

- Devia sentir muito orgulho, isso é incrível.

- Não é tão incrível. Pessoas lutam pelo nosso país... crianças lutam contra o câncer... essas pessoas são

incríveis. Ficar sentado em uma aula de física com um monte de outros nerds não tem nada de incrível.

- Você não é um nerd, Damien.

- Não pareço, é verdade.

- Eu nunca teria imaginado vendo...

- Vendo o quê?

- Como você é... nunca imaginaria que estudou no MIT.

- Por quê? Porque pinto e malho?

- Não é isso, não. É você, mesmo...

Lindo. E ninguém tão gostoso poderia ser igualmente inteligente.

- Deixa pra lá - eu disse.

Fechei os olhos novamente, saboreando a nova clareza trazida por seu conselho direto.

Depois de um longo momento de silêncio, ele disse: - Estou indo embora. Murray vai consertar o buraco

na parede amanhã à tarde. Se você estiver no trabalho, ele entra.

- Obrigada.

Estranho, eu não sabia se ainda me importava tanto com o buraco.

            
            

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