Perdida em seu toque
img img Perdida em seu toque img Capítulo 4 Terceiro capítulo
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Capítulo 6 Quinto capítulo img
Capítulo 7 Sexto capítulo img
Capítulo 8 Sétimo capítulo img
Capítulo 9 Oitavo capítulo img
Capítulo 10 Nono capítulo img
Capítulo 11 Décimo capítulo img
Capítulo 12 Décimo primeiro capítulo img
Capítulo 13 Décimo segundo capítulo img
Capítulo 14 Décimo terceiro capítulo img
Capítulo 15 Décimo quarto capítulo img
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Capítulo 4 Terceiro capítulo

Observo ao redor e noto o grande salão a minha volta, repleto de pessoas que jamais vi em minha vida, analiso cada detalhe do ambiente. As paredes no tom pastel deixam a decoração mais destacadas. O piso de mármore puro reflete a luz dos lustres, expondo as mesas fartas com frutas e peixes diversos.

Ao olhar o vestido bufante azul marinho que visto, me sinto uma princesa presa em um conto de fadas. Tateio o meu pescoço, notando um medalhão com um brasão desenhado preso sobre ele e acredito que esse símbolo representa algo importante. A música clássica invade o local ecoando por todo o lugar.

- Sra. Mardell, dai-me a honra desta dança? - Vejo Ramon à minha frente, me convidando para dançar com uma leve reverência, isso me faz crer que devo estar sonhando novamente.

- Ramon... - Meu rosto fica quente ao sentir o toque de suas mãos envolverem minha cintura, coloco minha cabeça sobre o seu peito, fecho meus olhos, sendo conduzidos pela música, nossos corpos se interligam por completo.

- Vitória! - Ouço uma voz gritar em minha direção e, de repente, o medo me domina por completo, abro meus olhos e vejo sobre o ombro do Ramon, Edgar vindo em minha direção, o pânico me invade e me solto instintivamente.

- Temos que ir... Ele irá nos pegar. - Grito para o Ramon, e ele olha para trás e encara seu irmão com a arma nas mãos, aproximando-se cada vez mais.

- Você nunca conseguirá fugir, está presa à mim! Você é minha para sempre. - Em um piscar de olhos vejo Edgar a minha frente segurando meu braço com força. - Nessa vida ou em outra, sempre será minha!

Acordo, ofegante, e encaro o relógio da escrivaninha, que marcam seis horas da manhã. Nesse domingo estou determinada a descobrir mais sobre os sonhos que se tornam cada vez mais presentes. Acredito que eles significam alguma coisa e não vou descansar até encontrar a resposta que procuro. Isso me faz pensar que essas visões não são apenas uma obra projetada na minha imaginação. Olho para o lado e não vejo meu marido sobre a cama. Levanto-me ao notar um bilhete sobre a cômoda, o apanho já acostumada com a rotina dos recados.

"Fui correr no parque, volto logo"

Leonardo não aceita minha independência, como não pode me apoiar, prefere se distanciar. Pelo menos assim ele não me machuca mais uma vez. Sei que deveria fazer uma denúncia, mas eu ainda tenho sentimentos por ele, além disso se algum escândalo acontecer a carreira dele escorre pelo ralo e, apesar de todos os maus tratos, não consigo odiá-lo, na verdade eu me odeio por não conseguir sentir raiva dele.

Amasso o bilhete e apanho meu notebook. Volto-me para cama e abro a janela de pesquisa. Hoje quero descobrir se o que ando sonhando é realmente verdadeiro ou não. Tomando coragem, eu pesquiso o significado do nome Mardell. Para meu total espanto, essa família realmente existiu.

Descubro que sua origem é inglesa e que uma família no século XIX veio para o Brasil em busca de terras, mas apenas essa informação que encontro sobre a família. Minha curiosidade é aguçada e por alguma razão sinto que conseguirei encontrar algo a mais. Mergulho ainda mais nas pesquisas e digito no google o nome Edgar Mardell. No mesmo instante aparece o rosto do homem que assombra os meus sonhos.

Observo atentamente cada traço do seu rosto e o momento do tiro volta a vagar em minhas memórias. Recupero o ar que perdi por alguns segundos em seguida noto algo familiar. Atrás da fotografia encaro um brasão, mas não é um qualquer, ele estava desenhado no medalhão exposto em meu pescoço.

Abro a página do Museu municipal de São Paulo e pesquiso o respectivo sobrenome no guia. Surpreendo-me ao encontrar o medalhão exposto na área de história do Brasil. Um sorriso de vitória se instaura em meu rosto e apanho o celular pronta para chamar o Vick. Ele com certeza irá se empolgar com o que tenho para contar.

- Alô, Sá, aconteceu alguma coisa? - Sua voz de preocupação ecoa pelo outro lado da linha.

- Vick, que bom que você atendeu! - Digo em um tom de entusiasmo. - Desculpe ligar a essa hora. Não aconteceu nada de ruim, apenas liguei para te contar algumas novidades e para te pedir um favor.

- Claro! Qualquer coisa pela minha diva. - Diz com a voz mais desperta do que antes.

Ao ouvir suas palavras começo a gesticular e contar sobre os acontecimentos na noite anterior e desabafo sobre toda a situação. Conto-lhe desde o momento em que sai do shopping e fui atacada, até o aparecimento do Oliver. Confidencio a ele os sonhos constantes e meu amigo se empolga com as notícias da minha vida que parece mais como uma telenovela.

- Meu Deus, menina! Tudo isso em apenas dois dias? Que loucura! - Ele diz com um tom de preocupação. - Que bom que aquele príncipe estava ali para te resgatar.

- Que príncipe o que? Ele não é essas coisas não... - Respondo e Vick solta uma gargalhada.

- Me engana que eu gosto! Está na cara que ele era um gato! - Seu tom de voz é descontraído e começo a rir junto com ele.

- Tudo bem, você sabe que não consigo mentir para você.... Não prestei muita atenção nele por conta dos acontecimentos que foram muito rápidos, mas se prestasse eu te diria que ele é um homem bem apresentável.

- Amiga, admita de uma vez que ele era irresistível! Não tente esconder isso... E esse sonho então? Que coisa estranha, o que pensa fazer em relação a isso?

- Ok, ele não é de se jogar fora..., mas sou muito bem casada viu! E em relação ao sonho, estava verificando algumas pesquisas e encontrei o medalhão do meu sonho, exposto no museu e queria saber se você quer ir lá comigo investigar.

- Mas é claro que eu quero ir! Vamos embarcar em uma aventura como o Sherlock Holmes e o Dr. Watson.

- Maravilha! Obrigada, meu amigo. Vou tomar um banho e um belo café da manhã e te encontro na sua casa, tudo bem?

- Não se preocupe, Sá, eu vou buscar você de carro, hoje não tenho nenhuma sessão de fotos marcada então sou todinho seu. - Ele tenta fazer uma voz sedutora, mas logo caímos na gargalhada.

- Tudo bem então, beijo! - Respondi, desligando o celular.

Caminho até o banheiro, pronta para mergulhar em uma ducha quente, quando avisto o sobretudo do rapaz que me ajudou na noite anterior, ele me emprestou para não passar frio. O apanho e inspiro o perfume ainda impregnado, um sorriso se forma em meu rosto. Volto minha atenção para a porta do banheiro, mas antes de entrar ouço a porta da entrada se abrir.

O desespero toma conta do meu corpo e sinto a adrenalina se formando em cada músculo. Minha visão volta-se para o casaco preto e o agarro amedrontada. Na noite anterior o meu marido não notou o casaco porque era de madrugada, mas agora mais disposto irá me perguntar sobre ele.

Leonardo entra no quarto sem aviso prévio e me encara com o semblante sério. Sem tempo de esconder o casaco ele passa seu olhar para as minhas mãos que seguram a prova do crime. Engulo em seco, já esperando algum ato animal dele, mas para minha surpresa ele sorri e me abraça.

- Fico feliz que tenha se divertido ontem. - Ele sussurra em meu ouvido e sua mão se prende em meu cabelo. Me desvencilho da peça masculina e o abraço.

- Sério mesmo, meu amor? - A emoção invade meu corpo relaxando-o aos poucos. Talvez ainda exista uma salvação para o meu casamento.

- Sim, claro! Ainda mais quando você se veste como uma vadia de rua e chega em um carro desconhecido. - Aquela voz de antes se transforma em um tom ameaçador.

- O – o que? - Pergunto incrédula com sua mudança brusca de atitude e ele agarra meu cabelo com força.

- Acha que pode me enganar assim? - Um sorriso sombrio se forma em seus lábios. - Somos uma família bem conhecida que é vista em todos os lugares, achou mesmo que não descobriria? Sua vagabunda! - Ele me joga contra o chão e minha cabeça bate no azulejo e minha visão fica turva.

- M - me deixa explicar, por favor! - Inicio mais uma justificativa e como sempre ele não me escuta. Ele fica por cima do meu corpo e sinto uma pressão sobre meu abdômen. Suas mãos envolvem meu pescoço e perco o ar aos poucos.

- Vai se arrepender de manchar meu nome assim... - Ele aperta o meu pescoço cada vez mais. - Sua vadia!

Tateio o chão à procura de algo que eu possa me defender, mas meus esforços são em vão, porque ele prende meus braços com suas pernas e desfere socos em meu rosto. Grito por ajuda, mas estou fraca demais, minha visão fica embaçada e perco os sentidos. Um barulho ecoa ao fundo do ambiente e não entendo o que está acontecendo, de repente a pressão é dissipada, mas antes que pudesse absorver tudo, a escuridão toma conta do meu corpo.

- Moça, está me ouvindo? - Uma voz masculina soa ao fundo, mas não consigo assimilar quem está me chamando. - Os níveis de oxigênio dela estão instáveis, precisamos ser rápidos. - Sinto algo em minha face e abro os olhos para entender onde estou.

- Estamos aqui com você, Sá, não desista! - Ouço a voz do Victor e de repente sinto um toque em meu ombro.

Um peso domina o meu corpo impossibilitando qualquer movimentação, faço de tudo para me livrar dessa sensação, mas nada ajuda. Observo o ambiente ao meu redor, porém tudo está negro. Meu corpo começa a flutuar e de repente começo a cair em queda livre. A agonia vai embora e abro meus olhos. Encaro as diversas flores ao meu redor e um sorriso de alívio surge em meus lábios quando o sol irradia o meu rosto. A sensação de paz me invade e encaro o horizonte azul, mas a calmaria é interrompida pelo som de trotes de cavalos.

- Você está aí! - Um cavalo para à minha frente e o homem montado nele fala comigo como se me conhecesse.

- Hm? - Não consigo identificar quem fala comigo porque seu rosto está ofuscado pelo sol. Ele desce do garanhão marrom e estende sua mão.

- O papai estava preocupado, sabe que este é um momento delicado para todos nós e sua proteção é o mais importante. - Encaro o rapaz com o semblante confuso e ele expande um sorriso. - Sei que você pode se sentir desconfortável minha irmã, mas apesar de ser algo difícil, isso é necessário. Quero que saiba que mesmo não aprovando a decisão do papai essa é a melhor solução.

- C - como assim? - Pergunto ainda não entendendo a conversa.

- Victória, eu te amo e apoio todas suas decisões... se tivesse outra alternativa não hesitaria falar com o papai, mas para continuarmos nessa terra você precisará casar com o Edgar, porque foi sua família que salvou a maioria do nosso povo depois do massacre...

- Mas... O que você quer dizer com massacre? - Indago, porém antes que ele possa me responder tudo torna-se escuro mais uma vez e aquele rapaz que se denomina meu irmão desaparece.

O barulho de uma porta me faz acordar. Encaro o ambiente ao redor e a claridade do quarto arde as minhas vistas embaralhando-as por um segundo. Meu olho esquerdo está semiaberto, sinto-o um pouco inchado. Victor corre em minha direção e me abraça, sinto uma fisgada no meu braço e analiso o acesso intravenoso que leva soro para as minhas veias. Volto os olhos para o meu amigo e me pergunto o que houve depois que apaguei.

-E- eu achei que...te perderia... - Lágrimas escorrem pelos olhos de Vick e coloco minha mão livre em seu rosto.

- Você nunca irá me perder, lembra do nosso pacto de morrermos juntos? - Pisco para ele para amenizar o clima.

- Fiquei tão assustado. - Ele murmura e me abraça. - Você é minha irmã de outra mãe, se te perdesse não sei o que faria...

- Estou bem, não se preocupe! - Esboço um sorriso cansado. - Mas... O que aconteceu? A última coisa que me lembro foi do Leonardo.... - Hesito envergonhada com o ocorrido.

- Aquele desgraçado! Se não chegássemos a tempo você essas horas não estaria aqui. - Sua expressão de tristeza é aparente e seguro sua mão.

- Ele perdeu o controle, eu confesso, mas nunca me mataria.

- Chega de mentir para si mesma, Safira! - Seus olhos fixam nos meus. - Você precisa denunciá-lo.

- E – eu não posso, ele é meu marido. - Abaixo a cabeça com vergonha de encara-lo.

- Eu te apoio em tudo, menos nisso! - Ele se distancia e apanha seu celular. -Você estava assim. - Ele mostra-me uma fotografia, onde meu rosto está completamente roxo e machucado. - E agora está assim. - Vick tira uma foto minha sem aviso prévio e me mostra meu rosto ainda machucado.

- Q - quanto tempo estou aqui? - Pergunto mudando de assunto, porque me ver daquele jeito foi como um soco na boca do estômago.

- Dois dias.... - Suspira com o rosto abalado.

- C - como assim? E a minha viagem? - Dou um sobressalto, e sinto meu corpo inteiro doer.

- Fique calma, está bem? Entrei em contato com sua supervisora da universidade e disse a ela que você estava no hospital porque sofreu um acidente. Então ela disse para não se preocupar que quando saísse daqui ela remarcaria o voo.

- Victor, você não existe! Obrigada. - Um sorriso sobressai em meu rosto.

- É para isso que temos os melhores amigos, não é? - Ele pisca com o olho direito.

A porta do quarto se abre sem aviso prévio. Encaro o homem com jaleco branco e que segura uma prancheta em sua mão direita. Ele se aproxima da minha maca e me observa permanecendo em silêncio, essa quietude me faz pressentir que o que vou ouvir não é muito bom.

- Sra. Mendes, fico muito feliz que está se recuperando. - Finalmente ele abre a boca, mas sua expressão ainda me preocupa. - Gostaria de dizer que sinto muito pela sua perda.

- Perda? Como assim? - Encaro seu rosto cansado por um segundo e depois volto-me para o meu amigo, mas ele me lança um olhar de quem não sabe o que está acontecendo.

- A senhora estava gestante de quatro semanas, mas infelizmente por conta do descolamento de placenta a gestação foi interrompida. - Ele gesticula com as mãos e eu perco toda a cor que tenho. Essa notícia me atinge em cheio.

- E – eu estava.... - Minha voz soa tremula. - Grávida?! - Meu amigo e eu dizemos ao mesmo tempo e trocamos olhares confusos.

- Sinto muito mesmo, devido as suas lesões houve também uma hemorragia interna, fizemos de tudo para conter o sangramento, mas não foi o suficiente.

Suas palavras são como facas que me rasgam internamente. Lágrimas escorrem pela minha face e começo a tremer. Não tive, ao menos, a chance de conhecê-lo. Coloco a mão na barriga e percebo os pontos aparentes. Victor me abraça sem dizer uma palavra e o agarro buscando conforto, mas isso é em vão. O vazio cresce em meu peito e sinto como se parte de mim tivesse sido tirado sem ao menos eu ter ciência da sua existência.

- Isso tudo por conta daquele desgraçado! - Victor exclama sua raiva e eu finalmente enxergo o animal por trás do homem que troquei votos.

- V – você tem razão.... - Murmuro secando minhas lagrimas. Victor me encara com uma expressão de surpresa e o médico com o rosto confuso pergunta:

- A senhora gostaria que eu chamasse seu marido? - Sua voz soa insegura, mas acredito que ele está apenas fazendo seu trabalho.

- Na verdade gostaria que ele esperasse um pouco mais para me ver, poderia dizer a ele que ainda não acordei? - Esboço um sorriso e o médico assente com a cabeça, se retirando do quarto.

- O que pretende fazer? - Meu amigo indaga com o olhar curioso.

- Está na hora do meu querido pagar pelo que fez comigo....

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