Minha garganta se fecha ao pensar que Victor tinha razão. Sempre estive escondida atrás de Leonardo, vivendo em um relacionamento abominável, onde era consumida em silêncio por um abismo profundo, mas agora sinto a transformação invadir meu corpo e a leveza revigorar minha alma ao saber que ele ficará longe por um longo tempo.
A partir de agora tenho certeza que as coisas mudarão e não irei permitir que Leonardo me machuque mais. Coloco minha mão sobre a barriga e meu peito se aperta por um instante, mas me empenho em apagar da memória o sentimento de perda e enfim reestabelecer minhas forças.
O desconhecido é o que mais tememos, porque com ele vem grandes mudanças destinadas à nossa vida. Transformações como essa nos faz sentir desconfortáveis, mas há momentos em nosso caminho que precisamos cortar o mal pela raiz.
- Está na hora... - Victor entra no quarto sem aviso prévio e me observa. - Sei que será difícil superar, mas saiba que sempre estarei ao seu lado.
- Obrigada... A polícia está lá fora? - Questiono-o.
- Sim, como você me pediu. - Ele apanha a mala e saímos dali.
Caminho pelos corredores e me despeço das enfermeiras e do doutor, que me acolheram e trataram dos meus ferimentos, sem eles não conseguiria me manter em pé. Cruzo a recepção e observo os dois policiais que me aguardam e suspiro aliviada por não encontrar o meu pior pesadelo.
- Senhora Mendes, vamos acompanhá-la até a delegacia para você prestar queixa. - Um homem alto e moreno com os dentes branquíssimos coloca sua mão nas minhas costas, levando-me para fora.
Saio pela porta de vidro e encaro tudo atentamente. Ainda sinto grande receio em encontrar o meu marido. Acredito que ele deve estar furioso porque não o deixei entrar no momento das visitas, mas depois do que soube não poderia ficar mais perto dele. Ter um filho nunca esteve em meus planos, porém quando descobri que sofri um aborto por conta das agressões, senti que uma parte minha foi embora e que deixou um buraco vazio.
Pensar nisso faz as lágrimas se formarem mais uma vez em meus olhos, porque fico imaginando aquele corpinho frágil crescendo aqui dentro. Observo meu reflexo nos vidros da porta da viatura e noto o meu rosto pálido. Os hematomas de três dias atrás agora não são perceptíveis, apenas alguns arranhões ainda estão visíveis.
Entro no carro acompanhada pelo meu amigo de todas as horas. Sinto sua mão esguia agarrar a minha e seu olhar de preocupação é visível. Lembro-me da nossa conversa anterior quando ele me questionou se realmente estava disposta a pedir ao juiz uma ordem de restrição e garanti a ele que o meu maior desejo agora é manter distância do meu marido.
- Estamos quase chegando. - O policial nos avisa e balanço a cabeça em positiva, respirando fundo.
- Calma, Sá, a lei está ao seu lado e você conseguirá reconstruir sua vida longe dele.
O carro finalmente estaciona rente ao meio fio e encaro a fachada que diz "Delegacia da Mulher". Abro a porta e me aproximo da entrada com o coração saltando pela boca. Esse é o momento de mostrar a todos quem é o verdadeiro marido doce e gentil que tenho. Lembro-me de todos aprovarem meu casamento e dizer que tenho sorte em ter um príncipe ao meu lado, mal sabiam eles que esse conto de fadas na verdade era um pesadelo.
- Está pronta? - Meu amigo pergunta, ainda segurando minha mão.
- Estou mais que pronta! - Respondo-o e entramos finalmente.
Observo em silêncio algumas policiais femininas trajadas em seus uniformes, uma estava de pé atendendo outra mulher que tinha o rosto ensanguentado e as outras estavam sentadas nos telefones, provavelmente acalmando outra vítima. Paro em frente a uma mulher alta e negra com os traços bem definidos, seu sorriso é marcante e seus olhos cor de jabuticaba transmitem segurança. Seus cabelos soltos formam cachos perfeitos.
- Boa tarde, Safira, estava à sua espera, sou a delegada Layla. Sente-se, por favor. - Ela sorri apontando para uma cadeira, sento-me em silêncio e ela me acompanha, sentando-se à minha frente. - Não tenha medo, você está segura aqui.
- O – obrigada... - digo ainda envergonhada com toda essa situação. Ela me observa como se estivesse lendo meus pensamentos. Estende suas mãos e segura as minhas.
- Não precisa ter vergonha, Safira, todos precisam de ajuda e quero que você saiba que não está sozinha. - Sua voz acolhedora me faz abrir um sorriso.
- É que não consigo entender.... - Balanço a cabeça em negativa. - Como o homem que eu amo faz isso comigo....
- Às vezes passamos por coisas horríveis, mas cabe a nós mudarmos nosso caminho e é por isso que você está aqui hoje.
- E - ele será preso? - Questiono-a pensando nas consequências.
- Ele será intimado e o juiz determinará quantos metros a ordem de restrição valerá, caso ele quebre esse limite ele será preso e só poderá ser solto se você retirar a queixa.
Minhas mãos trêmulas apanham a caneta para assinar o boletim de ocorrência. Nesse momento sinto por um segundo que tudo está começando a se encaixar, mas quando se trata do meu cônjuge sei que a história não é bem assim.
- Se precisar de qualquer coisa é só me ligar. - Layla sorri e me entrega seu cartão. - E isso é um presente para sua proteção. - Ela sussurra entregando-me um canivete.
Me sinto acolhida por um instante e agradeço a delegada pela ajuda apertando sua mão, mas sou surpreendida com um abraço repentino da mulher. Por um momento parece que ela já sentiu a mesma dor que eu e agora acredito que fiz uma nova amiga. Me despeço de todos ali que me ajudaram a concluir uma parte dolorosa da minha vida.
Seguro a mão do meu amigo confidente e caminho até o carro. As lembranças vagam em minha mente deixando-me atordoada. Sempre me culpei por todas as agressões verbais, físicas, patrimoniais e sexuais, mas tudo mudou quando acordei naquela cama de hospital com o rosto machucado. Depois da notícia que o médico me deu sobre a perda do meu filho eu não pude aguentar mais, espero que as consequências da minha escolha não sejam devastadoras.
- Vai dar entrada na papelada do divórcio? - Victor indaga, encarando-me.
- Acho que é melhor esperar... O Léo está conquistando um emprego novo agora e ele não tem onde morar. Não posso ser a causadora da destruição dele. - Suspiro entrando no veículo.
- Safira, aquele crápula quase te matou! - Meu amigo me encara com a expressão de revolta. - Você não deve nada a ele, pare de tentar ser a Madre Tereza de Calcutá, expulsa esse estrupício do seu caminho de vez!
- Sei que ele fez muita maldade, mas não posso deixá-lo ainda, afinal temos uma história. - Exponho minha opinião para convencê-lo, mas ele balança a cabeça em negativa.
- E toda a história tem um final! Não quero que esse fim chegue de uma forma macabra. - Ele expressa seu receio.
- Eu sei tomar conta de mim mesma... - Fecho a cara, irritada com os comentários do meu amigo.
- Sabe tanto que se eu não tivesse chegado na sua casa, essas horas você estaria morta! - Ele joga na minha cara.
- Chega desse papo, você venceu... - Suspiro, rendendo-me.
- Eu falo tudo isso para o seu bem. - Ele faz uma careta. - Pelo menos fique na minha casa até o dia da sua viagem...
- Não serei uma fugitiva da minha própria casa!
- Safira, você é mais teimosa do que uma mula empacada. - Ele suspira engatando o carro. - Enfim, onde posso deixar a My lady? - Victor sorri e não me contenho, sorrio com ele.
- Podemos ir naquele museu que te falei? Estou curiosa para descobrir mais sobre os meus sonhos...
- Você teve mais algum? - Indaga curioso.
- Sim.... Quando estava no hospital, mas esses sonhos parecem mais como visões do passado, porque cada vez que os tenho, sinto mais familiarizada com aquele tempo, isso é muito estranho? - Digo encarando meu amigo.
- Bom, cada louco com sua mania, não é? - Pisca em minha direção e começamos a rir. - Bom, vale investigar tudo isso, não sou muito crente em vidas passadas, mas quem sabe?
- Será que vivi em outra época, então? Mas se isso for verdade, por que esses sonhos só começaram agora?
- Não me faz pergunta difícil, amiga... precisamos consultar todas as teorias sobre vidas passadas.
- Concordo com você, mas tenho medo de descobrir algo terrível. - Confesso o meu receio.
- Nós vamos enfrentar isso juntos, não importa o que seja.
Seguimos em frente, ao som da música Believer do Imagine Dragons e penso o quanto essa letra tem significado nesse momento. Um sorriso invade minha face ao lembrar a tradução da música. É impressionante que em certas situações as músicas se encaixem tão perfeitamente.
First things first/ I'm say all the words inside my head/ I'm fired up and tired of the way/ That things have been, oh-ooh.
Começo a cantarolar e meu amigo me encara com um sorriso no rosto.
- Olha que inglês perfeito. - Ele brinca comigo e dou um soco leve em seu braço.
- Para de tirar sarro. - Faço uma careta.
- Sabe que estou sendo sincero, Sá! Me fala a tradução....
- Você já sabe, fizemos aula juntos durante 4 anos.
- Talvez esteja enferrujado. Vai, esse pequeno trecho. - Ele pede com jeito, e com um sorriso começo a cantarolar mais alto.
- Em primeiro lugar/ Vou dizer tudo que estou pensando/ Estou irritado e cansado do jeito/ Como as coisas têm sido oh-ooh.
- Bravo! - Ele exclama ainda com as duas mãos sobre o volante. - Lembra na época de escola que você sonhava em ser cantora?
- Lembro, mas meu desejo mudou quando fiz curso técnico de auxiliar de veterinária. - Pisco para ele.
- Naquela época sabíamos nós divertir, se tivesse investido em sua voz, hoje seria uma cantora incrível! - Ele insiste.
- Isso é apenas uma passa tempo, Vick.
- Tudo bem então, bom já chegamos. A sua direita pode-se observar a entrada do Museu Nacional de São Paulo. - Ele imita a voz daqueles guias de turismo e não me aguento de dar risada.
- Você não tem jeito mesmo, hein! - Ele faz uma careta.
- Já me conhece, não é, baby?! - Ele beija a minha bochecha. - Quer que eu vá com você?
- Não precisa, você já fez demais, além disso tem uma sessão de fotos para fazer em meia hora.
- Olha quem fica bisbilhotando a minha agenda. - Ele força o tom de voz como se tivesse falando com uma criança e acabamos caindo na gargalhada. - Tudo bem, mocinha, vou te deixar aqui, mas não hesite em me ligar se precisar de algo e caso descubra alguma coisa desses sonhos me ligue também.
- Pode deixar! Muito obrigada por tudo, meu amigo. - Abraço-o me despedindo. Fecho a porta do carro e caminho até a entrada do museu.
As vozes ao meu redor tornam-se abafadas no momento em que entro naquele lugar. Ouço as batidas do meu coração se agitarem e percebo que devo estar no caminho certo. Cruzo os corredores evitando o aglomerado de turistas que tiram fotos de todos os quadros, eles provavelmente são de alguma excursão.
"Vamos lá, Safira, se concentre!"
Penso engolindo seco a minha ansiedade. Estalo os dedos para me acalmar, essa mania sempre foi minha válvula de escape. Observo ao meu redor toda a exposição e, aparentemente, nada aqui se remete aos meus sonhos. Frustrada, penso por um minuto em desistir, mas algo sussurra em meu peito dizendo que estou no lugar certo.
Entro no corredor que expõe os marcos brasileiros e me impressiono com a quantidade de informações disponíveis aqui. Nunca pensei que o Brasil tivesse passado por tantas batalhas em busca da independência. Tendo em vista desde as tribos indígenas, Quilombo dos Palmares até mesmo a presença dos europeus no Brasil.
Um objeto familiar captura a minha atenção. Sinto como se estivesse sendo chamada e apenas eu pudesse escutar tal convocação. Meus olhos criam um brilho único e sinto como uma criança que acaba de ganhar um presente. Vislumbro o vidro que o protege, esse objeto que existe além dos meus sonhos, sabia que encontraria as respostas aqui.
Estendo minha mão para alcançar o vidro que está em volta do antigo colar que aparece em minhas visões do passado, mas de repente sinto uma pressão invadir a minha cabeça. Desequilibro-me por um instante e fecho meus olhos para tentar recuperar os meus sentidos.
Abro novamente meus olhos, mas não estou mais diante do museu. Observo o grande salão à minha frente e analiso minhas roupas que voltaram a ser de época.
"Estou sonhando acordada? Isso é muito novo! " Penso comigo mesma. Não entendo o motivo de tais acontecimentos, mas a melhor parte de reviver esse passado é poder me encontrar com o Ramon. Esse homem me faz perder o fôlego. De repente ouço meu nome ao longe, viro-me na direção da voz e encaro um senhor se aproximar ao lado do Edgar.
- Boa noite, minha Lady Mardell. - Edgar segura minha mão beijando-a sobre a luva. Sinto um arrepio cruzar a minha espinha e sei o grande motivo disso. Seus olhos penetrantes me causam medo.
- Creio que ainda não é o momento para utilizar o nome da família, meu filho, afinal vocês ainda não estão casados. - O senhor parrudo se pronuncia e sinto um certo alívio por desviar meus olhos para ele, ignorando um pouco a presença daquele homem.
- Posso roubar a minha irmã por um instante? - O rapaz jovial da minha visão anterior aparece de repente, colocando sua palma da mão em minhas costas.
- Certamente.... Mas gostaria de presenteá-la antes do casamento de amanhã. - Edgar diz mostrando-me uma caixinha de madeira e ao abri-la me surpreendo com o colar que, minutos atrás, estava sobre uma vitrine exposto no museu.
- É lindo... - Falo por um segundo e sem perceber o meu futuro marido já coloca o colar sobre o meu pescoço.
- Esse é o selo do meu amor por você, minha Doce Victória.
- Sou grato por ser atencioso com minha irmã, mas se vocês nos derem licença... - O rapaz que se denomina meu irmão diz com um sorriso no rosto.
- Não vamos mais incomodá-los, Henrique, aproveitem a festa. - O senhor se distancia junto com o seu filho.
- Você me salvou, obrigada. - Confesso a ele, porque sinto que posso confiar totalmente no Henrique.
- Estou aqui para isso, prometi ao nosso pai que cuidaria de você mesmo depois do acordo de casamento.
- Sobre isso, Henrique... você poderia me esclarecer esse acordo? - Pergunto confusa e ele me encara com uma expressão de espanto.
- Você ultimamente anda estranha, minha irmã, isso está relacionado aos seus encontros escondidos com o Ramon? - Ele diz com naturalidade e meu rosto queima de vergonha.
- C – como assim? - Arregalo os olhos surpresa.
- Não sou ingênuo, observo a maneira que vocês trocam olhares. Peço somente que tome cuidado, essa família salvou-nos, porém ela também poderá trazer a nossa ruína.
- Mas.... - Antes de ter a chance de me manifestar tudo a minha volta torna-se um borrão e minha visão escurece.
O peso domina o meu corpo e por um instante tenho a sensação de estar caindo em um buraco. Como em Alice no país das Maravilhas, mas nada tão mágico como encontrar um gato falante. A claridade volta a bater em meus olhos e os abro com dificuldade.
Observo o lugar ao meu redor, ainda com a visão turva. Estou em uma espécie de quarto, refaço meus passos para descobrir como vim parar aqui. Antes que eu faça qualquer movimento ouço a voz de uma mulher.
- Que bom que acordou, senhorita... - Uma moça loira se aproxima e forço a me levantar, mas a pressão na minha cabeça ainda é forte.
- C - como assim acordou? - Pergunto ainda zonza.
- Você estava em uma das nossas sessões no museu e desmaiou. - Ela gesticula com as mãos.
"O museu! Ele deve ter desencadeado algo que me fez voltar para aquela época mesmo acordada. "
Penso comigo mesma e a enfermeira sorri ao estender um copo de água com um comprimido branco. Analiso aquele remédio um pouco receosa. Nunca bebo nada que não conheço as propriedades químicas. Mas ela me garante que ele é um calmante natural e ainda relutante engulo o comprimido.
- Quem me encontrou? - Questiono-a curiosa.
- Um rapaz que também estava no museu e ele te trouxe no mesmo instante para enfermaria, na verdade esse homem está ali fora, pediu para eu dar notícias sobre você quando acordasse.
Fico intrigada para saber quem está do outro lado da porta. Será que o Leonardo me seguiu? Ele é o primeiro que vem à minha mente, afinal não nos falamos desde quando sai do hospital. Balanço a cabeça em negativa tentando dissipar meus medos. Em silêncio aponto para a porta e a enfermeira entende o meu pedido e sai da sala. Observo a sombra do homem e busco em minha memória quem poderia ser, mas aquela silhueta não é de ninguém que conheço.
A curiosidade invade cada fibra do meu ser, mas me contenho, porque ainda me sinto zonza e sei que o mais prudente é esperar essa tontura passar. De repente o homem desconhecido passa pela porta e o encaro com a expressão de surpresa.
Analiso cada detalhe da sua face, e perco a cor no mesmo segundo. Seus cabelos encaracolados loiro escuros, olhos cor de avelã, traços, altura, são familiares, como já tivesse visto em algum lugar. Sua barba bem alinhada se destaca com seus óculos de grau.
Trêmula, não consigo raciocinar direito, uma onda de sentimentos me agarra, fazendo minha mente rodopiar. Encaro o homem, analisando cada detalhe da sua face e perco a cor no mesmo segundo. Me esforço para assimilar toda essa situação e tenho uma espécie de Déjà vu, mas sei que não é por conta dos meus sonhos, sinto que já nos cruzamos, nessa realidade.
- Olá, senhorita Mendes, é um prazer revê-la, fico aliviado em saber que agora a senhorita está bem. - Sua voz é familiar, mas não me lembro de onde nos conhecemos.
- O - Oliver? - Minha expressão demonstra surpresa e um sorriso sutil surge no rosto dele.
- A senhorita lembra o meu nome. - Ele diz com um tom gentil, e me impressiono com sua maneira de se portar.
- Isso é realmente uma grande coincidência! - Exclamo, impressionada como o mundo é pequeno.
- Se me permite dizer, acredito que tudo acontece por algum motivo. - Seus olhos são atenciosos e por um segundo quase lanço um suspiro.
- Claro, se não me encontrasse no chão, não sei o que aconteceria. Agora já está virando um padrão! - Experimento fazer uma brincadeira, mas ele permanece com a feição neutra.
- Bom, já posso ir, enfermeira? - Volto-me para a mulher que estava distraída com alguns papéis.
- Sim, claro, mas você precisa ir ao médico realizar exames mais detalhados e....
- Obrigada! - Corto ela levantando-me da cama. - Foi um prazer revê-lo, Oliver. - Digo quase correndo da sala.
Distancio-me o máximo que posso, mas escuto ele exclamar o meu nome e cesso meus passos. Olho em sua direção, o observo se aproximar e uma sensação estranha invade meu corpo.
"Droga! Ele não poderia ter me deixado ir? "
Penso comigo mesma irritada por toda essa situação constrangedora, e por um minuto penso o quanto minha vida daria uma bela novela das nove. Observo o rapaz parar à minha frente e sua expressão de preocupação me deixa ainda mais impaciente.
- Me perdoe se eu disse algo que tenha te ofendido. - Seus olhos transparecem sinceridade e isso mexe um pouco comigo.
- Você não fez nada, é que ainda tenho muito que pesquisar aqui no museu, e acredito que você também! Lembro que no nosso último encontro você estava fazendo uma pesquisa de história e não quero atrapalhar você.... - Começo a dizer sem parar e ele me encara atentamente, como se anotasse tudo o que dissesse em sua cabeça.
- Minha pesquisa já terminou, estava indo embora do museu quando te encontrei caída no chão e não pude deixar de ajudá-la. Bom, não irei mais ocupar seu tempo, desculpe pelo incômodo. - Ele se despede e vira-se caminhando para longe.
Uma força sobrenatural move meus pés e mesmo que tente me conter não consigo. Caminho a passos largos para perto do Oliver e me controlo para não agir por impulso.
"O que diabos estou fazendo? Mal conheço esse homem"
Meu lado racional luta para assumir o controle do meu corpo, mas sou levada pelas minhas emoções duvidosas. E não cesso meus passos, quando dou por mim já estou perto desse homem que vi apenas duas vezes.
Apesar de não saber o que estou fazendo, acredito que essa é a chance de tentar mudar um pouco o foco, tirar os pensamentos tristes e colocar experiências novas, criando outras amizades. Preciso aprender a me arriscar mais, porque a vida é muito curta para pensar minuciosamente nos detalhes.
- Ei, espera! - Grito para ele e no mesmo instante o vejo virar em minha direção.
- Está tudo bem?
- Sim, só queria saber se.... Você já provou o cachorro quente do Brasil? - Indago curiosa e sua face neutra exclama um sorriso perfeito.
- Na verdade não, por que?
-Estava pensando... Como você me ajudou duas vezes... poderia te pagar um cachorro quente.
- Tem certeza, senhorita Mendes?
- Nada de senhorita, pode me chamar de Safira! E sim, tenho certeza, podemos nos encontrar aqui na frente do museu às 18h00?
- Certamente, nos vemos às 18h00, senhorita... Mend... Safira. - Ele se corrige no último minuto.
- Combinado então! - Me despeço dele e volto minha atenção para a minha busca por respostas.