ALICE...
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Capítulo 4 -3

NARRAÇÃO JANAÍNA

Ambos se olham e escolhem suas cadeiras, sem falar nada.

- Antes de começar, quero agradecer por terem vindo. Imagino que não é fácil ver um e-mail de uma desconhecida com segredos e se arriscarem em um encontro.

- Procurei por vocês no site de pesquisa antes de vir. Gostei do que vi e decidi aparecer.

Diego diz e pisca para mim de forma sedutora. Idiota! Não o quero como pai de Alice. Ela não merece um homem imbecil, assim.

- Vim porque achei que era algo importante. Me parecia uma desconhecida com segredo, precisando de ajuda.

Daniel fala de um jeito adorável, que me faz sorrir.

- Prometo que não tomarei muito tempo dos dois. Só não prometo que o assunto seja passageiro.

Respiro fundo e pego em minha bolsa uma foto da Sophi.

- Essa é a minha irmã...

Mostro aos dois. Diego apenas observa e Daniel pega a foto em sua mão.

- Há alguns anos atrás, vocês dois tiveram um envolvimento com ela, num curto período de tempo.

- Não conheço essa mulher.

Diego fala grosseiramente.

- A verdade é que não reconheceria nenhuma mulher de curto envolvimento na minha vida de anos atrás. Foram várias.

Nojo é o que sinto agora. Como Sophi pode se envolver com alguém tão podre?

- Lembro dela...

Olho para Daniel que está atento a foto. Um pequeno sorriso se forma em seu rosto.

- Ela é bem...

Faz uma pequena careta e me olha.

- Intensa!

- Era...

Digo com um aperto no peito e seguro a vontade de chorar.

- Sophi faleceu alguns meses após se relacionar com vocês.

- Sinto muito!

Daniel coloca sua mão sobre a minha.

- Do que ela morreu?

- Sofreu um acidente de carro.

Ficamos nos olhando.

- E por que nos chamou aqui? Se sua irmã está morta, qual o motivo de nos reunir aqui?

Olho com raiva para o homem insensível ao meu lado. Não quero de jeito algum que ele se aproxime de Alice. Se isso for o pai, prefiro que ela nunca o conheça.

- Sophi estava grávida!

Os olhos de Diego se arregalam. Ela morreu após dar a luz a minha sobrinha.

- Sua sobrinha sobreviveu?

Daniel pergunta um pouco nervoso.

- Sim... Ela tem cinco anos.

Abro um enorme sorriso ao me lembrar de Alice.

- Vai me dizer que sou o pai da menina!

Diego fala com um tom alterado.

- Eu não sei! Pode ser que sim. Mas também pode ser o Sr. Visentin.

- Me chame de Daniel.

Olho para ele.

- Sophi se envolveu com os dois e não sabia quem era o pai.

- Por que ela nunca nos procurou na época que estava viva? Por que não falou comigo?

- Vergonha, talvez! Como dizer a dois homens que podem ser o pai de seu filho? Eu já estou com vergonha de falar disso, imagina ela que carregava o bebê.

- Entendo!

- Não posso ser o pai dessa criança. Nem me lembro da mãe.

- Existe o exame de DNA, que ajuda a identificar o pai.

Olho para os dois.

- Pensei em fazerem o exame para saber.

- Quem garante que não pode ter mais gente nesse rolo? Sua irmã pode ter rodado em muitas outras camas, além das nossas. Isso se rodou mesmo na minha.

- Vou ignorar sua falta de respeito.

Digo o encarando.

- Você desde que entrou nesse café foi um completo babaca. Deus me perdoe, mas prefiro que Alice fique sem pai, se o infeliz for você.

- Agradeço se me rejeitar como opção. Não quero filhos agora e não quis há anos atrás.

- Minha irmã não fez um filho sozinha.

- Não vou assumir nada. Não vou fazer exame nenhum. Você está fazendo isso para ganhar dinheiro em cima da menina.

- Cala a boca! Cuidei da Alice até agora com amor e com o meu suor, trabalhando muito. Não quero dinheiro de vocês. Só quero que ela tenha um pai. Um pai que a mereça e você não a merece.

- Ótimo! Então uma opção a menos. Pode ficar com a paternidade.

Grita para o Daniel e levanta.

- Boa sorte!

Sai da cafeteria batendo os pés e estou furiosa.

- Acalme-se!

Daniel me fala suavemente.

- Idiota!

Tento me acalmar, mas está impossível.

- Me fala da Alice!

Daniel pede sorrindo. Ele tem os cabelos claros e olhos verdes. Nada que me lembre Alice. Mas Diego também possui cabelos claros e olhos verdes. Ambos não possuem nada da minha pequena e não me ajuda em nada.

- Alice é um encanto de menina.

Falar dela me acalma. Tento descrever minha pintinha da forma mais perfeita possível. Daniel me olha encantado e desejo do fundo do meu coração que ele seja o pai.

- Posso ver uma foto dela?

- Daniel, não quero que mantenham contato com ela, até ter certeza da paternidade. Não quero mexer com a cabecinha dela. Então prefiro fazer o exame antes pra depois dar espaço para se conhecerem, se for o pai.

- Gostaria de conhecê-la, mesmo que não seja o pai. A forma como falou dela, me fez querer ser o pai ou um amigo próximo pra ela.

- Isso é muito bonito da sua parte. Mas prefiro antes saber pelo exame se é o pai, para depois ver como se aproximar.

- Então caso eu não seja o pai, vai me deixar mesmo assim fazer parte do mundo dela?

- Conversamos isso depois. Pode ser?

- Claro! Só tem uma coisa.

Me olha um pouco desanimado.

- Estou indo hoje para uma viagem de negócios fora do país. Volto em uma semana.

- Tudo bem! Quando voltar, faremos o exame.

- Me espera?

- Sim...

****************

Pego Alice na escola e parece que o dia dela foi bom. Não para de falar um segundo.

- Me diz como foi seu dia!

- Vamos jogar. Se meu dia foi bom, grito flores. Se meu dia foi ruim, grito sapo.

Não tem como não rir. Ela odeia sapos.

- Flores...

Grita muito alto, chamando atenção de algumas pessoas na frente do nosso prédio.

- Um dia muito feliz!

Entramos no prédio e subimos para o nosso apartamento. Enquanto Alice toma seu banho, arrumo seu jantar.

- Estou com fome!

Entra na cozinha, toda descabelada.

- Já está pronto.

Coloco seu prato na mesa com um copo de suco.

- Você está toda descabelada.

Enquanto ela come, arrumo seu cabelo. Seus fios claros me lembram o Daniel e também Diego.

- Você já arranjou um menino?

Pergunta e bufo.

- Não...

- Tem um professor bonito na escola. Daria um belo menino pra você.

- Come tudo...

Beijo sua cabeça.

- Vou tomar banho e me arrumar pra trabalhar.

Corro para o banheiro e rapidinho estou no chuveiro.

- Mãedinda!

Alice me grita na porta.

- O que foi?

- Tem um menino na porta.

- O que?

Desligo o chuveiro e puxo uma toalha.

- Não abra a porta para estranhos!

- Ele falou seu nome!

- Merda! Você abriu a porta?

Alice não fala nada e me desespero. Me enrolo de qualquer jeito na toalha e saio correndo do banheiro. Vou para a sala e levo um enorme susto, com um homem no meio da minha sala. Agarro a toalha e seus olhos percorrem meu corpo todo, parando em meus olhos.

- Janaína?!

Pergunta com uma voz rouca.

- Quem é você?

Minha voz sai falhada.

- Renato Mantovani! Sou irmão do Diego Mantovani.

            
            

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