Daniel fala de um jeito adorável, que me faz sorrir.
- Prometo que não tomarei muito tempo dos dois. Só não prometo que o assunto seja passageiro.
Respiro fundo e pego em minha bolsa uma foto da Sophi.
- Essa é a minha irmã...
Mostro aos dois. Diego apenas observa e Daniel pega a foto em sua mão.
- Há alguns anos atrás, vocês dois tiveram um envolvimento com ela, num curto período de tempo.
- Não conheço essa mulher.
Diego fala grosseiramente.
- A verdade é que não reconheceria nenhuma mulher de curto envolvimento na minha vida de anos atrás. Foram várias.
Nojo é o que sinto agora. Como Sophi pode se envolver com alguém tão podre?
- Lembro dela...
Olho para Daniel que está atento a foto. Um pequeno sorriso se forma em seu rosto.
- Ela é bem...
Faz uma pequena careta e me olha.
- Intensa!
- Era...
Digo com um aperto no peito e seguro a vontade de chorar.
- Sophi faleceu alguns meses após se relacionar com vocês.
- Sinto muito!
Daniel coloca sua mão sobre a minha.
- Do que ela morreu?
- Sofreu um acidente de carro.
Ficamos nos olhando.
- E por que nos chamou aqui? Se sua irmã está morta, qual o motivo de nos reunir aqui?
Olho com raiva para o homem insensível ao meu lado. Não quero de jeito algum que ele se aproxime de Alice. Se isso for o pai, prefiro que ela nunca o conheça.
- Sophi estava grávida!
Os olhos de Diego se arregalam. Ela morreu após dar a luz a minha sobrinha.
- Sua sobrinha sobreviveu?
Daniel pergunta um pouco nervoso.
- Sim... Ela tem cinco anos.
Abro um enorme sorriso ao me lembrar de Alice.
- Vai me dizer que sou o pai da menina!
Diego fala com um tom alterado.
- Eu não sei! Pode ser que sim. Mas também pode ser o Sr. Visentin.
- Me chame de Daniel.
Olho para ele.
- Sophi se envolveu com os dois e não sabia quem era o pai.
- Por que ela nunca nos procurou na época que estava viva? Por que não falou comigo?
- Vergonha, talvez! Como dizer a dois homens que podem ser o pai de seu filho? Eu já estou com vergonha de falar disso, imagina ela que carregava o bebê.
- Entendo!
- Não posso ser o pai dessa criança. Nem me lembro da mãe.
- Existe o exame de DNA, que ajuda a identificar o pai.
Olho para os dois.
- Pensei em fazerem o exame para saber.
- Quem garante que não pode ter mais gente nesse rolo? Sua irmã pode ter rodado em muitas outras camas, além das nossas. Isso se rodou mesmo na minha.
- Vou ignorar sua falta de respeito.
Digo o encarando.
- Você desde que entrou nesse café foi um completo babaca. Deus me perdoe, mas prefiro que Alice fique sem pai, se o infeliz for você.
- Agradeço se me rejeitar como opção. Não quero filhos agora e não quis há anos atrás.
- Minha irmã não fez um filho sozinha.
- Não vou assumir nada. Não vou fazer exame nenhum. Você está fazendo isso para ganhar dinheiro em cima da menina.
- Cala a boca! Cuidei da Alice até agora com amor e com o meu suor, trabalhando muito. Não quero dinheiro de vocês. Só quero que ela tenha um pai. Um pai que a mereça e você não a merece.
- Ótimo! Então uma opção a menos. Pode ficar com a paternidade.
Grita para o Daniel e levanta.
- Boa sorte!
Sai da cafeteria batendo os pés e estou furiosa.
- Acalme-se!
Daniel me fala suavemente.
- Idiota!
Tento me acalmar, mas está impossível.
- Me fala da Alice!
Daniel pede sorrindo. Ele tem os cabelos claros e olhos verdes. Nada que me lembre Alice. Mas Diego também possui cabelos claros e olhos verdes. Ambos não possuem nada da minha pequena e não me ajuda em nada.
- Alice é um encanto de menina.
Falar dela me acalma. Tento descrever minha pintinha da forma mais perfeita possível. Daniel me olha encantado e desejo do fundo do meu coração que ele seja o pai.
- Posso ver uma foto dela?
- Daniel, não quero que mantenham contato com ela, até ter certeza da paternidade. Não quero mexer com a cabecinha dela. Então prefiro fazer o exame antes pra depois dar espaço para se conhecerem, se for o pai.
- Gostaria de conhecê-la, mesmo que não seja o pai. A forma como falou dela, me fez querer ser o pai ou um amigo próximo pra ela.
- Isso é muito bonito da sua parte. Mas prefiro antes saber pelo exame se é o pai, para depois ver como se aproximar.
- Então caso eu não seja o pai, vai me deixar mesmo assim fazer parte do mundo dela?
- Conversamos isso depois. Pode ser?
- Claro! Só tem uma coisa.
Me olha um pouco desanimado.
- Estou indo hoje para uma viagem de negócios fora do país. Volto em uma semana.
- Tudo bem! Quando voltar, faremos o exame.
- Me espera?
- Sim...
****************
Pego Alice na escola e parece que o dia dela foi bom. Não para de falar um segundo.
- Me diz como foi seu dia!
- Vamos jogar. Se meu dia foi bom, grito flores. Se meu dia foi ruim, grito sapo.
Não tem como não rir. Ela odeia sapos.
- Flores...
Grita muito alto, chamando atenção de algumas pessoas na frente do nosso prédio.
- Um dia muito feliz!
Entramos no prédio e subimos para o nosso apartamento. Enquanto Alice toma seu banho, arrumo seu jantar.
- Estou com fome!
Entra na cozinha, toda descabelada.
- Já está pronto.
Coloco seu prato na mesa com um copo de suco.
- Você está toda descabelada.
Enquanto ela come, arrumo seu cabelo. Seus fios claros me lembram o Daniel e também Diego.
- Você já arranjou um menino?
Pergunta e bufo.
- Não...
- Tem um professor bonito na escola. Daria um belo menino pra você.
- Come tudo...
Beijo sua cabeça.
- Vou tomar banho e me arrumar pra trabalhar.
Corro para o banheiro e rapidinho estou no chuveiro.
- Mãedinda!
Alice me grita na porta.
- O que foi?
- Tem um menino na porta.
- O que?
Desligo o chuveiro e puxo uma toalha.
- Não abra a porta para estranhos!
- Ele falou seu nome!
- Merda! Você abriu a porta?
Alice não fala nada e me desespero. Me enrolo de qualquer jeito na toalha e saio correndo do banheiro. Vou para a sala e levo um enorme susto, com um homem no meio da minha sala. Agarro a toalha e seus olhos percorrem meu corpo todo, parando em meus olhos.
- Janaína?!
Pergunta com uma voz rouca.
- Quem é você?
Minha voz sai falhada.
- Renato Mantovani! Sou irmão do Diego Mantovani.