Assim que fechei os olhos, ele já estava lá, esperando-me. Estava diferente mais uma vez, mas eu
sabia que era ele. Era aquele cheiro delicioso de homem. Isso e a longa cicatriz vertical que ele tinha
no meio do tórax rígido e delineado.
Hoje, ele era alto e musculoso. Loiro com os olhos cor de mel e um sorriso de garoto levado.
Usava uma calça social e um cinto. Estava sem camisa e os contornos dos seus músculos me
deixavam louca só de olhar.
– Você pode tocar se quiser – convidou. – Sabe que sou todo seu.
Sorri constrangida. Era estranho ouvir um homem falar assim. Ele me devolveu um sorriso largo e
descarado.
– Quem é você? – perguntei com um sussurro, sem tirar os olhos do corpo dele.
– Eu sou desejo, Nahia. Mas pode me chamar de Amadeo, se preferir. Diga-me: como foi sua
noite, ontem?
Aproximei-me com cuidado e levantei uma das mãos em sua direção. Amadeo segurou minha mão
com delicadeza e a repousou sobre seu peito. Sua pele era macia e quente. Deslizei meus dedos até
suas costelas e fechei os olhos.
– Sim – ele murmurou em meu ouvido. – Você se divertiu muito ontem à noite, não foi? – ele
passava as mãos pela minha cintura enfiando os dedos por baixo da minha blusa, sua boca nunca
abandonava minha orelha. – E não se preocupe: nós ainda vamos nos divertir muito mais.
Ele passou a ponta da língua no meu queixo, subindo a linha da minha mandíbula até chegar na
minha orelha, que mordiscou com suavidade. Suas mãos estavam dentro da minha blusa e geravam
eletricidade onde quer que tocassem. Eu mantinha os olhos fechados, apreciando as sensações.
Era possível que ele conseguisse me fazer gozar apenas com seu toque. Mas eu não queria esperar
para ver. Queria que ele me tomasse e me possuísse como ele não tinha feito na noite anterior.
Queria ouvi-lo gemer e gozar.
E então um pensamento tomou conta de minha mente: e se eu não conseguisse? Não tinha muita
experiência, e a pouca que tinha não era muito boa. Fora, é claro, a da noite anterior. Abri os olhos e
levei minhas mãos até os seus ombros, hesitando por alguns segundos, sem saber se o afastava ou se
o trazia para ainda mais perto de mim.
– Não precisa temer sua falta de experiência – sussurrou, como se ouvisse meus pensamentos. E
algo no seu tom de voz me fez ter certeza de que ele ouvia. – Todo mundo tem que começar de algum
lugar, não é?
Eu quis sorrir. Sim... todo mundo tinha que começar de algum lugar. Mas eu não era um pouco
velha demais para começar?
– Você ainda está na metade dos vinte, Nahia – ele sorriu.
– Pare de fazer isso! – recriminei, sem conseguir esconder um sorriso. – É constrangedor.
– Eu estou aqui para te ajudar, querida. Não posso ajudar se você não for honesta. E não há nada
em você mais honesto que seus pensamentos – ele deu de ombros. – Tenho que ficar atento a eles. É
meu trabalho.
– Você fala como se fosse uma entidade independente e não apenas fruto da minha imaginação... –
não era exatamente uma pergunta. Mas também não era exatamente uma afirmação. Se ele era só um
sonho, por que parecia que era ele e não eu quem estava no controle? E se não era só um sonho, o que
seria?
Ele sorriu, misterioso, e colocou o indicador sobre os lábios, pedindo silêncio.
– Você precisa praticar – falou, ainda escondido atrás de seu indicador.
Ele fazia parecer fácil. Eu, definitivamente, não tinha em mim forças para ir até aquele bar mais
uma vez. Para dar em cima de um homem mais uma vez. Precisava experimentar outras coisas.
– Existem homens que podem te ajudar.
Demorei mais do que deveria para entender o que ele queria dizer e forcei minha personificação
no sonho a fechar a boca.
– Você quer dizer um acompanhante?
– Quero dizer um gigolô, Nahia. É uma profissão sabe?
– É ilegal! Eu poderia ser presa.
– Você ainda está morando em sua velha cidade, Nahia? Isso aqui é Amsterdã. Não é proibido
aqui. Nada é proibido aqui. Ou melhor... quase nada.
– Então, eu faço o quê? Eu vou até o Blue Light District e peço um homem?
– Você é muito tímida. Acho que buscar um gigolô no meio da rua não seria adequado. Quem sabe
um dia. Mas por hoje, eu recomendaria que você ligasse para algum serviço. Eles atendem em casa,
sabia?
Estiquei meus braços empurrando-o para longe de mim. Meu novo personal trainer para assuntos
da vida estava me desafiando. Eu sentia em seu olhar. Se alguém pudesse ouvir suas palavras,
entenderia tudo aquilo como uma simples conversa. Mas eu sentia em seu olhar que não era só isso.
Havia um brilho em seus olhos cor de mel que dizia "Vamos lá, Nahia. Jogue a timidez pra longe de
você. Arranque a dúvida do seu corpo como você arrancou aquele pijama. Olhe pra si mesma no
espelho e ouse. Ouse, Nahia".
Eu podia não concordar com o que ele dizia, mas... Nossa! Como era bom sentir aquela segurança.
– Ah, sim! – ele sorriu de uma orelha a outra. – E para evitar constrangimentos futuros... O Blue
Light District é onde ficam os travestis, não os homens.
Meu queixo caiu um pouco.
– Mas eu achei que o Red Light...
– O Red Light é com mulheres, o Blue Light com travestis.
– Você tem certeza?
Ele sacudiu a cabeça afirmativamente de um jeito adorável.
– Bem! – bateu palmas. – Acho que devo ir agora.
Minha boca abriu mais uma vez. Eu realmente tinha que aprender a controlar essa coisa.
– Mas... Mas nós nem...
Amadeo acariciou meu queixo e sorriu para mim de um jeito proibido.
– Tudo a seu tempo, querida. Agora você deve acordar. Tem uma ligação pra fazer, não tem?
– O quê? No meio do dia? Eu não sou um animal! Não vou ligar pra um gigolô vir pra minha casa
no meio do dia!
Amadeo olhou para mim com uma apatia que contrastava enormemente com a minha indignação.
– Você deve algo a alguém? Dinheiro, favores, satisfação... Deve?
– Não, mas...
– Então, se você quiser passar o dia fodendo loucamente com um homem contratado
exclusivamente para lhe dar prazer é da conta de alguém?
– Eu sei que não, mas é que...
– Nahia, você se preocupa mais com desculpas do que com ações. Acorde e decida. Se você
quiser uma companhia durante o dia, o problema é só seu.
***
Não tinha comida na minha despensa ou geladeira que conseguisse tirar minha mente do meu
sonho.
Sim, eu podia ligar para um serviço de acompanhantes.
Sim, era uma ideia interessante, diferente e sensual.
Sim, era permitido nesse país e eu não seria presa.
Mas havia algo dentro de mim que gritava que aquilo era errado. Um tremor passou rapidamente
pelo meu corpo e eu sacudi os ombros tentando espantá-lo. Sentei à mesa da copa encarando a grande
janela que mostrava uma vista perfeita dos apartamentos do prédio vizinho. Passei as mãos nos
cabelos.
Meu apartamento era amplo com ares de flat e uma mobília minimalista. Tudo em seu devido lugar
e propriamente limpo. Sempre. Era como uma lei que mantinha meu mundo girando. Pela milésima
vez, fui até o fogão verificar se todos os botões do gás estavam desligados, e passei um pano na
bancada da pia.
Ia sentar à mesa mais uma vez e voltar a sacudir a perna compulsivamente. Mas, em vez disso, fui
calmamente até a janela. Além dela eu podia ver o apartamento dele.
Você deve estar se perguntando quem é ele. Bem, eu não sei. Ele mora no prédio ao lado. Seu
apartamento fica no mesmo nível que o meu e nossas janelas só não são conjuntas por causa de alguns
poucos metros que nos separam.
Ele parecia livre e feliz. Sempre. Gostava de observá-lo e, em mais de uma ocasião, já o tinha
pegado me observando. Acho que é um artista de algum tipo. Talvez arquiteto. Com frequência, eu o
via sentado em uma mesa daquelas de designers, trabalhando em algo. Mas hoje ele não parecia estar
em casa.
Respirei fundo e sacudi os cabelos mais uma vez. Precisava de um motivo para sair. Dar uma
volta. Certo! O que eu não tenho em casa? Leite, não tenho leite. Abri a geladeira. Droga... Tenho
leite. Mas nunca é demais. Vamos lá, Nahia, vamos comprar leite.
Peguei a bolsa e abri a porta antes que mudasse de ideia. Parado no hall, esperando o elevador,
estava Nathan. Ele tinha alguns vários anos a mais do que eu, mas tinha envelhecido muito bem. Não
sei se ele era professor de alguma coisa ou talvez advogado. De um jeito ou outro, sempre andava
muito alinhado e com muitos papéis.
– Bom dia, Nathan – cumprimentei.
– Olá, Nahia. Está linda como sempre – ofereceu uma piscadela na minha direção. Ele era
simpático. Flertava comigo sempre que nos encontrávamos. Era agradável. A porta se abriu e
entramos no elevador.
– Planos para este belo sábado? – perguntei sem realmente querer saber a resposta.
– Meu filho acabou de chegar de viagem. Ele mora nos Estados Unidos com a mãe. Quero dizer...
ele saiu de casa já faz uns anos, eu acho. Mas ainda mora do outro lado do Atlântico. Estou indo ao
aeroporto buscá-lo.
– Ah! Ótimo, Nathan. Ele já conhece a cidade?
– Veio aqui algumas vezes, mas nunca consigo levá-lo para fazer nada particularmente cultural...
Sorri.
– É o mal dessa cidade!
Disse um "até logo" já a meio caminho da calçada. A imagem do filho jovem de Nathan
procurando atividades não culturais na cidade mais louca do mundo não era uma imagem que eu
precisava no momento. Eu precisava comprar leite. Ou talvez chocolate ou outra coisa qualquer.
Precisava de um filme de Richard Gere e precisava esquecer essa loucura toda sobre gigolôs.
***
O sábado foi se esticando e eu não conseguia me concentrar no filme. Fiquei tamborilando os
dedos nos botões do controle remoto. Qual era o problema comigo?
Eu queria contratar um gigolô, não queria? Esses meus sonhos vívidos estavam me perturbando e
ficavam na minha mente o dia inteiro. Provavelmente era só o jeito que o meu subconsciente achou de
gritar comigo para que eu parasse de ser tão passiva. Mas eu queria ouvi-lo, não queria?
Ah, inferno... Se até o filho americano do Nathan conseguia se divertir nessa cidade, por que eu,
que já era residente há alguns anos, não conseguia abandonar meu preconceito?
Um movimento além da janela chamou minha atenção. Meu vizinho "arquiteto" tinha acabado de
sair do banho. Usava apenas uma toalha branca enrolada na cintura e ainda estava com o corpo
molhado. Meu coração pulou e eu me aproximei da janela, mantendo o corpo contra a parede para
evitar ser vista. Não foi muito correto da minha parte ficar espionando meu vizinho, eu sei disso. Mas
também não foi correto da parte dele sair andando pela sala só de toalha, foi?
Ele era oriental. Japonês, provavelmente. Tinha os olhos puxados e o cabelo negro extremamente
liso e arrepiado. Sei que é clichê dizer que ele devia praticar artes marciais, mas com certeza não se
mantém um corpo daquele sem praticar algum tipo de exercício físico com frequência. E ele tinha três
daquelas espadas samurais presas na parede, logo acima de um armário cheio de bonecos. Ele
também parecia colecionar revistas em quadrinho. Tinha algumas emolduradas espalhadas pela
parede. Era estranho, nunca tinha imaginado que um cara que coleciona bonecos e revistas em
quadrinho pudesse ser tão gostoso. É sério: dava pra contar os gominhos do seu abdômen, e quando
ele usou outra toalha para enxugar o cabelo molhado, dava para ver os músculos do braço se
contraindo deliciosamente. Ele tinha uma boca desenhada, um maxilar quadrado e um nariz afilado.
Ele se aproximou do que deveria ser a porta do seu quarto e tirou a toalha. Infelizmente, ela caiu
bem no segundo que ele atravessou a porta e eu não pude ver mais nada. Joguei as costas contra a
parede e encarei o meu teto. Eu estava começando a ficar molhada só de ver um homem de toalha
andando pela sua sala. Qual era o meu problema?
Certo... Vamos fazer isso! Corri até o meu computador e comecei a digitar algo como
"acompanhantes masculinos Amsterdã" e demorei poucos segundos para descobrir que o mundo é
extremamente masculino, para não dizer machista.
Todos os sites de acompanhantes disponibilizavam mulheres. E os poucos sites que mostravam
algum homem oferecendo o serviço de acompanhante eram voltados para o público gay.
Como o meu objetivo era não só aliviar minha tensão como aprender o que um homem gosta que
uma mulher faça, um acompanhante gay não me pareceu uma boa opção. Demorei mais tempo do que
imaginei até achar uma agência razoável. As fotos dos modelos eram incríveis, e um em particular
chamou toda a minha atenção. Dava para contar os gominhos do abdômen dele também e isso me
atraiu quase instantaneamente. O site dizia que ele era bissexual. Eu preferia um cara cem por cento
hétero para essa experiência em particular, mas como não havia muitas opções e eu estava com um
pouco de pressa, acabei optando pelo gominhos.
Tinha um e-mail e telefone.
E-mail era mais impessoal, telefone era mais rápido.
Respirei fundo e olhei pela janela. Meu vizinho usava uma calça comprida cinza de moletom e
estava sem camisa. Bebia algo quente de uma caneca escura. Nossos olhares se cruzaram e ele
levantou a caneca para mim em um brinde. Eu voltei a encarar a tela do computador e fingi que não
tinha visto.
Telefone será.
Disquei o número rapidamente como quem arranca um band-aid. Estava tendo muitos desses
momentos ultimamente: momentos em que, se parar para respirar, desiste do que ia fazer.
A pessoa do outro lado atendeu.
– Hallo – cumprimentou em holandês a voz feminina do outro lado da linha.
– Alô... Eu queria um homem – nahia! Eu queria um homem? Você perdeu o juízo?
Prendi minha respiração e esperei a moça do outro lado parar de rir.
– Uma cliente direta! É bem diferente das que geralmente temos por aqui. Gostei! A senhora se
interessou por alguns de nossos acompanhantes em particular?
– Ah, sim – vai, agora desembucha, sua maluca. "Quero um homem"... ai, meu Deus! – O nome no
site é Nick. Diz aqui que ele tem 27 anos, loiro, olhos claros.
– Ja, ja! O Nick, certo. Qual serviço gostaria de solicitar e quando?
– Ah... quais serviços vocês têm?
– Bem, vários! Temos a companhia para jantar, para festas comuns, festas de gala, fim de semana
de viagens. Temos também a experiência namorado, a experiência ator pornô e a experiência virgem.
Sorri. Parecia que estava pedindo delivery de comida chinesa. Ela ainda estava falando.
– E todos esses serviços podem ser acompanhados por massagem, intimidade ou ambos.
Fiquei em silêncio considerando minhas possibilidades.
– Senhora? Ainda está na linha?
– Sim! Estou! – "intimidade" quer dizer sexo? Eu não sabia. Mas como já estava tão enfiada
naquele negócio todo, achei que mais uma pergunta maluca não ia me destruir. – Quando você diz
intimidade, quer dizer "sexo"?
– Ja! Sim, senhora! Relações íntimas.
– Certo. Eu quero isso, então.
Eu tinha certeza que ela estava sorrindo do outro lado. Mas que se dane. A essa altura, eu também
já estava rindo da minha ousadia.
– Sim, senhora. O Nick para um momento íntimo. Apenas isso? Ou mais algum serviço?
Sim, eu queria arroz chop suey com o meu frango xadrez.
– Ah, coloca uma massagem também.
Dessa vez ela riu alto. Provavelmente estava achando a experiência delivery muito divertida,
também.
– E para quando será?
– Ah... Agora?
– Só um momento, senhora. Preciso ver se o Nick está disponível.
Ela me colocou em espera e eu fiquei tamborilando os dedos em qualquer superfície ao meu
alcance.
– Senhora? Está na linha?
– Sim!
– O Nick está disponível. Onde gostaria de encontrá-lo?
– Na minha casa.
– Certo. Preciso de um endereço.
Eu disse.
– Um telefone para contato pode ser este mesmo que a senhora usou?
– Sim, pode. Você precisa do meu nome?
– Não, senhora. Trabalhamos com total discrição. Não precisa dar qualquer informação que não
seja absolutamente necessária.
Gostei disso. A atendente continuou.
– O valor por hora será de 150 euros.
– Tudo bem.
– Por quantas horas gostaria de reservar o serviço?
– Não sei bem...
– É a primeira vez que usa nossos serviços, eu suponho?
– Sim, acho que já deu pra perceber – sorri e ela riu de volta.
– Posso informar o Nick que a senhora quer ser avisada a cada nova hora. Assim, a senhora
mantém o controle de quanto tempo passou e decide se quer que ele permaneça ou não. E vou deixar
o limite de tempo em aberto. Pode ser?
– Parece ótimo.
– E qual a forma de pagamento? Dinheiro, cartão...?
Minha boca tinha vontade própria e se abriu mais uma vez. Eu não era holandesa e definitivamente
não estava acostumada com essa naturalidade quando se tratava de prostituição. Na França, uma
coisa assim nunca aconteceria. Nunca. Pelo menos não de forma tão aberta e tranquila. Estava só
esperando ela me perguntar se eu queria parcelar o pagamento porque, sinceramente, era só isso que
faltava.
– Posso pagar com cartão? – não era o tipo de transação que eu queria que ficasse registrada,
mas... Eu não devia nada a ninguém. Não estava fazendo nada ilegal. E não tinha tanto dinheiro em
espécie comigo.
– Com certeza. Nick levará a máquina. Posso ajudá-la com mais alguma coisa?
– Não. Não.
– Boa tarde, então, senhora. E obrigada por escolher a Elite Escorts.
E desligou.
Eu nem respirei. Corri direto para tomar banho. Um homem maravilhoso ia bater na minha porta a
qualquer instante, e mesmo que ele estivesse sendo pago, eu ainda queria me preparar o melhor que
pudesse.
Coloquei uma roupa leve e bonita e fiquei logo sem roupa íntima. Ah, não me julgue. Eu estava
pagando por hora, não estava?
Três batidas na porta. Tentei respirar fundo, mas o ar estava passando pela minha traqueia em
etapas. Eu devia ter virado uma dose de alguma coisa para ver se parava de tremer tanto.
Calma, sugeriu uma voz lá no fundo da minha mente. Uma voz que, sem dúvida, não era minha.
Coloquei um pé atrás do outro tentando reaprender a andar e cheguei até a porta. Sabia que ele era
um profissional que trabalhava com isso e tudo o mais. Sabia que ele era gostoso. Tinha visto a foto.
Mas, por Deus... ele era muito gostoso. E, mais uma vez, era igual a figura que Amadeo tinha me
mostrado.
Tinha o cabelo loiro cuidadosamente penteado, os olhos cor de mel, um sorriso safado que
praticamente confessava aos quatro cantos do mundo que ele trabalhava dando prazer. Estava
vestindo uma camisa e uma calça social escura. Dei um sorriso satisfeito e saí do caminho,
convidando-o a entrar com um gesto. Eu ainda não conseguia dizer nada.
– Boa tarde – ele me mediu dos pés à cabeça e me olhou em um misto de surpresa e satisfação, que
fez com que eu me sentisse linda. Parte de mim pensou que talvez o grande público de gigolôs fosse
mulheres mais velhas, então talvez ele estivesse um pouco satisfeito comigo. A outra parte esbofeteou
esse pensamento, classificando-o de ridículo e me lembrando de que ele estava sendo pago para
fazer com que eu me sentisse assim.
Seja como for, foi muito bom.
Fechei a porta e olhei de volta para ele. Engoli em seco.
– É a primeira vez que faço isso – achei melhor tirar isso logo do caminho.
– Oh! Não me avisaram que era a experiência virgem, mas sem problemas – sorriu.
– Não! Não! Você entendeu errado – sorri – Já fiz isso. Nunca fiz isso – expliquei, indicando-o
com a mão.
– Ah! Entendo – Nick esticou a mão para mim e eu a toquei. – Pense em mim como o homem dos
seus sonhos. Sou o homem com quem você sonha durante a noite e que você deseja durante o dia. E
estou aqui para transformar tudo em realidade. O que você quiser, pelo tempo que quiser, eu vou
fazer. Se quiser que eu vá embora, é só pedir. Mas enquanto não pedir, eu vou cuidar de você, como
homem nenhum nunca cuidou.
Era um bom discurso. Ah, diabos, você não estava lá para ouvir. Era um discurso excelente!
Minhas pernas começaram a tremer de novo.
Vamos, Nahia, fale de uma vez.
– Eu queria aprender... a ser... melhor – escolhi as palavras com cuidado, esperando que ele
entendesse.
– Melhor em quê? – ele estava mais perto agora e começava a pentear meus cabelos para trás da
orelha. Ele tinha um cheiro bom. Não Amadeo bom, mas bom.
– Quero aprender como fazer um homem ir à loucura.
Ele sorriu:
– Com um rosto desses... – ele tocou meus lábios. – E um corpo desses... – tocou minha cintura. –
Querida, eu te garanto: os homens já vão à loucura.
Eu contive um sorriso que quase escapou, e segurei suas duas mãos.
– É sério.
– Tudo bem – Nick assentiu e me abraçou pela cintura, ainda mantendo uma distância entre nós. –
Como você quer fazer isso, então? – seu tom era doce e sensual.
– Quero que você fale comigo. Enquanto estivermos na cama. Quero que diga o que os homens
gostam e o que não gostam e se eu estou fazendo certo ou errado.
– Tudo bem, querida, mas... nem todos os homens são iguais – deu de ombros.
– A sua ficha do site diz que você é bi.
Ele sorriu intrigado.
– Sim, sou. Mas hoje, por você, eu sou completamente hétero.
Não era isso que eu queria dizer.
– Eu sei, eu sei. Mas... quero dizer, você sabe do que um homem gosta.
Ele espremeu os lábios e balançou a cabeça em afirmação.
– Pronto! – concluí. – É isso que quero que me ensine.
– Você não está pensando em virar concorrência, está? – ele sorriu brincalhão, espremendo os
olhos pra mim.
Eu levantei a mão em posição de juramento.
– Prometo que não.
– Tudo bem. Então, vamos começar vendo como você fica nua na cama.
Ele tirou meu vestido com uma agilidade incomparável, e logo eu estava nua diante dele. Nick
permaneceu vestido, observando-me.
– Você não vai tirar a roupa? – perguntei.
– Primeira lição – ele levantou o indicador. – Muitos homens gostam de olhar a mulher
inteiramente despida na sua frente – ele desceu os olhos pelo meu corpo e eu me senti
verdadeiramente nua. – Só para olhar, admirar – ele me segurava pela mão e passava os olhos em
cada centímetro do meu corpo. Eu resistia aos impulsos de me tapar. – Isso os excita – ele me puxou
para perto e me abraçou. – Ter uma mulher bela e nua sob seu controle. Alguns homens se excitam
mais vendo uma mulher nua estando vestidos do que quando se despem junto delas.
Eu mordi meu lábio trêmulo. Controle era bom, mas tinha algo no fato de ter um homem vestido me
vendo nua que era particularmente incrível.
Ele desabotoou os dois primeiros botões de sua calça, abaixou as mãos e olhou para mim
sugestivamente. Entendi o que Nick estava dizendo e imediatamente me pus a despi-lo. Ele tocou
minhas mãos.
– Faça isso devagar. Brinque com o meu corpo enquanto tira minha roupa. Despir uma pessoa não
é uma tarefa que precisa ser concluída antes da brincadeira começar – ele enfiou minhas mãos dentro
de sua camisa por entre os botões e eu comecei a sentir aquele tórax perfeito que eu tinha visto na
foto. – Despir já é parte da brincadeira.
Obedeci, e as peças de roupa dele foram caindo, uma após a outra, com calma, enquanto eu
brincava com cada novo pedaço de pele que encontrava. Passei a língua por seu tórax e os dedos por
seu abdômen. Só aquilo já tinha valido os 150 euros. Senti os braços fortes e experientes de Nick me
envolverem e me jogarem na cama.
Agora ele estava nu, também. Seu membro viril se erguia rígido no meio de suas pernas com uma
imponência avassaladora. Ele ficou de pé alguns segundos, permitindo que eu o observasse,
observando-me de volta.
– Abra as pernas – ele mandou. Meu fôlego foi embora sem deixar recado avisando quando ia
voltar. Eu obedeci, e acho que nunca me senti tão exposta na vida. Ali, em cima da cama, com as
pernas abertas. Toda a minha intimidade à mostra para um completo desconhecido que estava ali, de
pé na beira da minha cama, sem tirar os olhos de mim. Ele passou a língua nos lábios e senti minhas
coxas encharcarem.
Nick se ajoelhou na cama e continuou as instruções.
– Alguns homens preferem ver a mulher no controle. Mas é do instinto masculino buscar o poder.
Eles se sentem mais másculos e mais viris quando estão no controle. É sensual. Se um homem te
mandar fazer algo na cama e você estiver disposta a satisfazer esse homem, obedeça.
Tentei fazer uma anotação mental, mas ele me cobriu com seu corpo e minha mente parou de se
preocupar com o que quer que fosse que não envolvesse aqueles dedos suculentos passeando em
minha vagina.
Ele prendeu meu mamilo entre os dentes e o puxou para um lado e para o outro. Eu arqueei as
costas, enfiando meus seios em sua boca. Nick beijou minha barriga e passou a língua pelo meu
umbigo. Seus dedos permaneciam me bolinando, esfregando aqui, beliscando ali. Sua boca me
abandonou e eu senti seu hálito quente contra meu estômago.
– Na maior parte das vezes, apenas o corpo feminino já basta para excitar um homem. A mulher
não precisa fazer nada, só precisa deixar que o homem a toque onde quiser. Mas quando a mulher
participa mais ativamente... é aí que o homem enlouquece.
– Como? – quis saber.
– Eu quero que você agarre minha bunda, que arranhe minhas costas, que chupe minha língua e
morda meu pescoço. Quero que você brinque com meus mamilos e acaricie meu saco.
Uma coisa de cada vez, fiz tudo que ele mandou, exatamente como ele mandou. Meu corpo gritava
para mim que ia gozar e eu tentava fazê-lo esperar só mais um minuto. Nick me girou e me colocou
por cima dele. Eu estava sentada em seu pênis e ele entrava em mim como se estivéssemos dançando.– Sua vez – disse, entre as estocadas leves que ele começava a impor. – Quero que você monte emmim e rebole – ele tinha suas mãos em minha cintura e me guiava em movimentos circulares ao redor
do seu membro. – Assim... Isso... Devagar...
Segurei seus ombros e coloquei meu queixo contra seu rosto. Abri os olhos por apenas uma fração
de segundo e vi: meu vizinho estava lá. Além da janela, observando por cima de sua mesa de
designer. Ele tinha o queixo apoiado nas mãos entrelaçadas e sorria como se estivesse adorando tudoo que via.
O mais incrível foi que eu não senti qualquer vestígio de vergonha. Eu estava na minha casa, na
minha cama, com um homem que eu tinha escolhido. Se ele estava bisbilhotando, o problema era
dele. Entre não estar com vergonha do vizinho e provocar o vizinho há um abismo muito grande, eu
sei. Por isso, digo que não sei o que deu em mim quando resolvi lhe oferecer uma piscadela
indecente.
Eu vi seu queixo cair exageradamente. Eu sorri e continuei a rebolar em cima do pau de Nick.
Nunca me senti tão gostosa na vida. Nick chupava meus seios e eu mantive os olhos abertos e no meu
vizinho além da janela. Ele me devolveu a piscadela, entendeu o meu olhar como um convite e veio
se sentar mais perto para ter uma vista melhor. Deixei que ele olhasse.
Meu corpo estava gritando "Chega!", não ia esperar mais nem um segundo. Ouvi Nick gemendo e
gemi junto. Caímos um sobre o outro. Suados e satisfeitos. Eu sorri e pedi que ele fechasse as
cortinas. Agora que o sexo tinha acabado, não ia demorar muito para minha vergonha voltar e eu não
queria ter que encarar meu vizinho quando isso acontecesse.
***
Nahia parou de falar abruptamente e eu senti meu coração na garganta. Não queria que ela parasse.
Queria que ela continuasse.
– Parece que nosso tempo acabou, doutora – ela admitiu com simplicidade. – Continuamos na
próxima semana? No mesmo horário?
– S... sim – eu disse, esperando do fundo da minha alma que não tivesse ficado muito óbvio que
estava balbuciando.
Ela pegou a bolsa, levantou-se e saiu. E eu tenho que confessar que contei os segundos para nossa
próxima sessão.