23 Modos de Prazer
img img 23 Modos de Prazer img Capítulo 3 A terceira noite
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Capítulo 6 A sexta noite img
Capítulo 7 A sétima noite img
Capítulo 8 A oitava noite img
Capítulo 9 A nona noite img
Capítulo 10 A décima noite img
Capítulo 11 A décima primeira noite img
Capítulo 12 A décima segunda noite img
Capítulo 13 A décima terceira noite img
Capítulo 14 A décima quarta noite img
Capítulo 15 A décima quinta noite img
Capítulo 16 A décima sexta noite img
Capítulo 17 A décima sétima noite img
Capítulo 18 A décima oitava noite img
Capítulo 19 A décima nona noite img
Capítulo 20 A vigésima noite img
Capítulo 21 A vigésima primeira noite img
Capítulo 22 A vigésima segunda noite img
Capítulo 23 A vigésima terceira noite img
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Capítulo 3 A terceira noite

"O prazer é a energia que une e agrega. Quanto vale uma noite de prazer absoluto?"

Jane Austen

Assim que fechei os olhos, ele já estava lá, esperando-me. Estava diferente mais uma vez, mas eu

sabia que era ele. Era aquele cheiro delicioso de homem. Isso e a longa cicatriz vertical que ele tinha

no meio do tórax rígido e delineado.

Hoje, ele era alto e musculoso. Loiro com os olhos cor de mel e um sorriso de garoto levado.

Usava uma calça social e um cinto. Estava sem camisa e os contornos dos seus músculos me

deixavam louca só de olhar.

– Você pode tocar se quiser – convidou. – Sabe que sou todo seu.

Sorri constrangida. Era estranho ouvir um homem falar assim. Ele me devolveu um sorriso largo e

descarado.

– Quem é você? – perguntei com um sussurro, sem tirar os olhos do corpo dele.

– Eu sou desejo, Nahia. Mas pode me chamar de Amadeo, se preferir. Diga-me: como foi sua

noite, ontem?

Aproximei-me com cuidado e levantei uma das mãos em sua direção. Amadeo segurou minha mão

com delicadeza e a repousou sobre seu peito. Sua pele era macia e quente. Deslizei meus dedos até

suas costelas e fechei os olhos.

– Sim – ele murmurou em meu ouvido. – Você se divertiu muito ontem à noite, não foi? – ele

passava as mãos pela minha cintura enfiando os dedos por baixo da minha blusa, sua boca nunca

abandonava minha orelha. – E não se preocupe: nós ainda vamos nos divertir muito mais.

Ele passou a ponta da língua no meu queixo, subindo a linha da minha mandíbula até chegar na

minha orelha, que mordiscou com suavidade. Suas mãos estavam dentro da minha blusa e geravam

eletricidade onde quer que tocassem. Eu mantinha os olhos fechados, apreciando as sensações.

Era possível que ele conseguisse me fazer gozar apenas com seu toque. Mas eu não queria esperar

para ver. Queria que ele me tomasse e me possuísse como ele não tinha feito na noite anterior.

Queria ouvi-lo gemer e gozar.

E então um pensamento tomou conta de minha mente: e se eu não conseguisse? Não tinha muita

experiência, e a pouca que tinha não era muito boa. Fora, é claro, a da noite anterior. Abri os olhos e

levei minhas mãos até os seus ombros, hesitando por alguns segundos, sem saber se o afastava ou se

o trazia para ainda mais perto de mim.

– Não precisa temer sua falta de experiência – sussurrou, como se ouvisse meus pensamentos. E

algo no seu tom de voz me fez ter certeza de que ele ouvia. – Todo mundo tem que começar de algum

lugar, não é?

Eu quis sorrir. Sim... todo mundo tinha que começar de algum lugar. Mas eu não era um pouco

velha demais para começar?

– Você ainda está na metade dos vinte, Nahia – ele sorriu.

– Pare de fazer isso! – recriminei, sem conseguir esconder um sorriso. – É constrangedor.

– Eu estou aqui para te ajudar, querida. Não posso ajudar se você não for honesta. E não há nada

em você mais honesto que seus pensamentos – ele deu de ombros. – Tenho que ficar atento a eles. É

meu trabalho.

– Você fala como se fosse uma entidade independente e não apenas fruto da minha imaginação... –

não era exatamente uma pergunta. Mas também não era exatamente uma afirmação. Se ele era só um

sonho, por que parecia que era ele e não eu quem estava no controle? E se não era só um sonho, o que

seria?

Ele sorriu, misterioso, e colocou o indicador sobre os lábios, pedindo silêncio.

– Você precisa praticar – falou, ainda escondido atrás de seu indicador.

Ele fazia parecer fácil. Eu, definitivamente, não tinha em mim forças para ir até aquele bar mais

uma vez. Para dar em cima de um homem mais uma vez. Precisava experimentar outras coisas.

– Existem homens que podem te ajudar.

Demorei mais do que deveria para entender o que ele queria dizer e forcei minha personificação

no sonho a fechar a boca.

– Você quer dizer um acompanhante?

– Quero dizer um gigolô, Nahia. É uma profissão sabe?

– É ilegal! Eu poderia ser presa.

– Você ainda está morando em sua velha cidade, Nahia? Isso aqui é Amsterdã. Não é proibido

aqui. Nada é proibido aqui. Ou melhor... quase nada.

– Então, eu faço o quê? Eu vou até o Blue Light District e peço um homem?

– Você é muito tímida. Acho que buscar um gigolô no meio da rua não seria adequado. Quem sabe

um dia. Mas por hoje, eu recomendaria que você ligasse para algum serviço. Eles atendem em casa,

sabia?

Estiquei meus braços empurrando-o para longe de mim. Meu novo personal trainer para assuntos

da vida estava me desafiando. Eu sentia em seu olhar. Se alguém pudesse ouvir suas palavras,

entenderia tudo aquilo como uma simples conversa. Mas eu sentia em seu olhar que não era só isso.

Havia um brilho em seus olhos cor de mel que dizia "Vamos lá, Nahia. Jogue a timidez pra longe de

você. Arranque a dúvida do seu corpo como você arrancou aquele pijama. Olhe pra si mesma no

espelho e ouse. Ouse, Nahia".

Eu podia não concordar com o que ele dizia, mas... Nossa! Como era bom sentir aquela segurança.

– Ah, sim! – ele sorriu de uma orelha a outra. – E para evitar constrangimentos futuros... O Blue

Light District é onde ficam os travestis, não os homens.

Meu queixo caiu um pouco.

– Mas eu achei que o Red Light...

– O Red Light é com mulheres, o Blue Light com travestis.

– Você tem certeza?

Ele sacudiu a cabeça afirmativamente de um jeito adorável.

– Bem! – bateu palmas. – Acho que devo ir agora.

Minha boca abriu mais uma vez. Eu realmente tinha que aprender a controlar essa coisa.

– Mas... Mas nós nem...

Amadeo acariciou meu queixo e sorriu para mim de um jeito proibido.

– Tudo a seu tempo, querida. Agora você deve acordar. Tem uma ligação pra fazer, não tem?

– O quê? No meio do dia? Eu não sou um animal! Não vou ligar pra um gigolô vir pra minha casa

no meio do dia!

Amadeo olhou para mim com uma apatia que contrastava enormemente com a minha indignação.

– Você deve algo a alguém? Dinheiro, favores, satisfação... Deve?

– Não, mas...

– Então, se você quiser passar o dia fodendo loucamente com um homem contratado

exclusivamente para lhe dar prazer é da conta de alguém?

– Eu sei que não, mas é que...

– Nahia, você se preocupa mais com desculpas do que com ações. Acorde e decida. Se você

quiser uma companhia durante o dia, o problema é só seu.

***

Não tinha comida na minha despensa ou geladeira que conseguisse tirar minha mente do meu

sonho.

Sim, eu podia ligar para um serviço de acompanhantes.

Sim, era uma ideia interessante, diferente e sensual.

Sim, era permitido nesse país e eu não seria presa.

Mas havia algo dentro de mim que gritava que aquilo era errado. Um tremor passou rapidamente

pelo meu corpo e eu sacudi os ombros tentando espantá-lo. Sentei à mesa da copa encarando a grande

janela que mostrava uma vista perfeita dos apartamentos do prédio vizinho. Passei as mãos nos

cabelos.

Meu apartamento era amplo com ares de flat e uma mobília minimalista. Tudo em seu devido lugar

e propriamente limpo. Sempre. Era como uma lei que mantinha meu mundo girando. Pela milésima

vez, fui até o fogão verificar se todos os botões do gás estavam desligados, e passei um pano na

bancada da pia.

Ia sentar à mesa mais uma vez e voltar a sacudir a perna compulsivamente. Mas, em vez disso, fui

calmamente até a janela. Além dela eu podia ver o apartamento dele.

Você deve estar se perguntando quem é ele. Bem, eu não sei. Ele mora no prédio ao lado. Seu

apartamento fica no mesmo nível que o meu e nossas janelas só não são conjuntas por causa de alguns

poucos metros que nos separam.

Ele parecia livre e feliz. Sempre. Gostava de observá-lo e, em mais de uma ocasião, já o tinha

pegado me observando. Acho que é um artista de algum tipo. Talvez arquiteto. Com frequência, eu o

via sentado em uma mesa daquelas de designers, trabalhando em algo. Mas hoje ele não parecia estar

em casa.

Respirei fundo e sacudi os cabelos mais uma vez. Precisava de um motivo para sair. Dar uma

volta. Certo! O que eu não tenho em casa? Leite, não tenho leite. Abri a geladeira. Droga... Tenho

leite. Mas nunca é demais. Vamos lá, Nahia, vamos comprar leite.

Peguei a bolsa e abri a porta antes que mudasse de ideia. Parado no hall, esperando o elevador,

estava Nathan. Ele tinha alguns vários anos a mais do que eu, mas tinha envelhecido muito bem. Não

sei se ele era professor de alguma coisa ou talvez advogado. De um jeito ou outro, sempre andava

muito alinhado e com muitos papéis.

– Bom dia, Nathan – cumprimentei.

– Olá, Nahia. Está linda como sempre – ofereceu uma piscadela na minha direção. Ele era

simpático. Flertava comigo sempre que nos encontrávamos. Era agradável. A porta se abriu e

entramos no elevador.

– Planos para este belo sábado? – perguntei sem realmente querer saber a resposta.

– Meu filho acabou de chegar de viagem. Ele mora nos Estados Unidos com a mãe. Quero dizer...

ele saiu de casa já faz uns anos, eu acho. Mas ainda mora do outro lado do Atlântico. Estou indo ao

aeroporto buscá-lo.

– Ah! Ótimo, Nathan. Ele já conhece a cidade?

– Veio aqui algumas vezes, mas nunca consigo levá-lo para fazer nada particularmente cultural...

Sorri.

– É o mal dessa cidade!

Disse um "até logo" já a meio caminho da calçada. A imagem do filho jovem de Nathan

procurando atividades não culturais na cidade mais louca do mundo não era uma imagem que eu

precisava no momento. Eu precisava comprar leite. Ou talvez chocolate ou outra coisa qualquer.

Precisava de um filme de Richard Gere e precisava esquecer essa loucura toda sobre gigolôs.

***

O sábado foi se esticando e eu não conseguia me concentrar no filme. Fiquei tamborilando os

dedos nos botões do controle remoto. Qual era o problema comigo?

Eu queria contratar um gigolô, não queria? Esses meus sonhos vívidos estavam me perturbando e

ficavam na minha mente o dia inteiro. Provavelmente era só o jeito que o meu subconsciente achou de

gritar comigo para que eu parasse de ser tão passiva. Mas eu queria ouvi-lo, não queria?

Ah, inferno... Se até o filho americano do Nathan conseguia se divertir nessa cidade, por que eu,

que já era residente há alguns anos, não conseguia abandonar meu preconceito?

Um movimento além da janela chamou minha atenção. Meu vizinho "arquiteto" tinha acabado de

sair do banho. Usava apenas uma toalha branca enrolada na cintura e ainda estava com o corpo

molhado. Meu coração pulou e eu me aproximei da janela, mantendo o corpo contra a parede para

evitar ser vista. Não foi muito correto da minha parte ficar espionando meu vizinho, eu sei disso. Mas

também não foi correto da parte dele sair andando pela sala só de toalha, foi?

Ele era oriental. Japonês, provavelmente. Tinha os olhos puxados e o cabelo negro extremamente

liso e arrepiado. Sei que é clichê dizer que ele devia praticar artes marciais, mas com certeza não se

mantém um corpo daquele sem praticar algum tipo de exercício físico com frequência. E ele tinha três

daquelas espadas samurais presas na parede, logo acima de um armário cheio de bonecos. Ele

também parecia colecionar revistas em quadrinho. Tinha algumas emolduradas espalhadas pela

parede. Era estranho, nunca tinha imaginado que um cara que coleciona bonecos e revistas em

quadrinho pudesse ser tão gostoso. É sério: dava pra contar os gominhos do seu abdômen, e quando

ele usou outra toalha para enxugar o cabelo molhado, dava para ver os músculos do braço se

contraindo deliciosamente. Ele tinha uma boca desenhada, um maxilar quadrado e um nariz afilado.

Ele se aproximou do que deveria ser a porta do seu quarto e tirou a toalha. Infelizmente, ela caiu

bem no segundo que ele atravessou a porta e eu não pude ver mais nada. Joguei as costas contra a

parede e encarei o meu teto. Eu estava começando a ficar molhada só de ver um homem de toalha

andando pela sua sala. Qual era o meu problema?

Certo... Vamos fazer isso! Corri até o meu computador e comecei a digitar algo como

"acompanhantes masculinos Amsterdã" e demorei poucos segundos para descobrir que o mundo é

extremamente masculino, para não dizer machista.

Todos os sites de acompanhantes disponibilizavam mulheres. E os poucos sites que mostravam

algum homem oferecendo o serviço de acompanhante eram voltados para o público gay.

Como o meu objetivo era não só aliviar minha tensão como aprender o que um homem gosta que

uma mulher faça, um acompanhante gay não me pareceu uma boa opção. Demorei mais tempo do que

imaginei até achar uma agência razoável. As fotos dos modelos eram incríveis, e um em particular

chamou toda a minha atenção. Dava para contar os gominhos do abdômen dele também e isso me

atraiu quase instantaneamente. O site dizia que ele era bissexual. Eu preferia um cara cem por cento

hétero para essa experiência em particular, mas como não havia muitas opções e eu estava com um

pouco de pressa, acabei optando pelo gominhos.

Tinha um e-mail e telefone.

E-mail era mais impessoal, telefone era mais rápido.

Respirei fundo e olhei pela janela. Meu vizinho usava uma calça comprida cinza de moletom e

estava sem camisa. Bebia algo quente de uma caneca escura. Nossos olhares se cruzaram e ele

levantou a caneca para mim em um brinde. Eu voltei a encarar a tela do computador e fingi que não

tinha visto.

Telefone será.

Disquei o número rapidamente como quem arranca um band-aid. Estava tendo muitos desses

momentos ultimamente: momentos em que, se parar para respirar, desiste do que ia fazer.

A pessoa do outro lado atendeu.

– Hallo – cumprimentou em holandês a voz feminina do outro lado da linha.

– Alô... Eu queria um homem – nahia! Eu queria um homem? Você perdeu o juízo?

Prendi minha respiração e esperei a moça do outro lado parar de rir.

– Uma cliente direta! É bem diferente das que geralmente temos por aqui. Gostei! A senhora se

interessou por alguns de nossos acompanhantes em particular?

– Ah, sim – vai, agora desembucha, sua maluca. "Quero um homem"... ai, meu Deus! – O nome no

site é Nick. Diz aqui que ele tem 27 anos, loiro, olhos claros.

– Ja, ja! O Nick, certo. Qual serviço gostaria de solicitar e quando?

– Ah... quais serviços vocês têm?

– Bem, vários! Temos a companhia para jantar, para festas comuns, festas de gala, fim de semana

de viagens. Temos também a experiência namorado, a experiência ator pornô e a experiência virgem.

Sorri. Parecia que estava pedindo delivery de comida chinesa. Ela ainda estava falando.

– E todos esses serviços podem ser acompanhados por massagem, intimidade ou ambos.

Fiquei em silêncio considerando minhas possibilidades.

– Senhora? Ainda está na linha?

– Sim! Estou! – "intimidade" quer dizer sexo? Eu não sabia. Mas como já estava tão enfiada

naquele negócio todo, achei que mais uma pergunta maluca não ia me destruir. – Quando você diz

intimidade, quer dizer "sexo"?

– Ja! Sim, senhora! Relações íntimas.

– Certo. Eu quero isso, então.

Eu tinha certeza que ela estava sorrindo do outro lado. Mas que se dane. A essa altura, eu também

já estava rindo da minha ousadia.

– Sim, senhora. O Nick para um momento íntimo. Apenas isso? Ou mais algum serviço?

Sim, eu queria arroz chop suey com o meu frango xadrez.

– Ah, coloca uma massagem também.

Dessa vez ela riu alto. Provavelmente estava achando a experiência delivery muito divertida,

também.

– E para quando será?

– Ah... Agora?

– Só um momento, senhora. Preciso ver se o Nick está disponível.

Ela me colocou em espera e eu fiquei tamborilando os dedos em qualquer superfície ao meu

alcance.

– Senhora? Está na linha?

– Sim!

– O Nick está disponível. Onde gostaria de encontrá-lo?

– Na minha casa.

– Certo. Preciso de um endereço.

Eu disse.

– Um telefone para contato pode ser este mesmo que a senhora usou?

– Sim, pode. Você precisa do meu nome?

– Não, senhora. Trabalhamos com total discrição. Não precisa dar qualquer informação que não

seja absolutamente necessária.

Gostei disso. A atendente continuou.

– O valor por hora será de 150 euros.

– Tudo bem.

– Por quantas horas gostaria de reservar o serviço?

– Não sei bem...

– É a primeira vez que usa nossos serviços, eu suponho?

– Sim, acho que já deu pra perceber – sorri e ela riu de volta.

– Posso informar o Nick que a senhora quer ser avisada a cada nova hora. Assim, a senhora

mantém o controle de quanto tempo passou e decide se quer que ele permaneça ou não. E vou deixar

o limite de tempo em aberto. Pode ser?

– Parece ótimo.

– E qual a forma de pagamento? Dinheiro, cartão...?

Minha boca tinha vontade própria e se abriu mais uma vez. Eu não era holandesa e definitivamente

não estava acostumada com essa naturalidade quando se tratava de prostituição. Na França, uma

coisa assim nunca aconteceria. Nunca. Pelo menos não de forma tão aberta e tranquila. Estava só

esperando ela me perguntar se eu queria parcelar o pagamento porque, sinceramente, era só isso que

faltava.

– Posso pagar com cartão? – não era o tipo de transação que eu queria que ficasse registrada,

mas... Eu não devia nada a ninguém. Não estava fazendo nada ilegal. E não tinha tanto dinheiro em

espécie comigo.

– Com certeza. Nick levará a máquina. Posso ajudá-la com mais alguma coisa?

– Não. Não.

– Boa tarde, então, senhora. E obrigada por escolher a Elite Escorts.

E desligou.

Eu nem respirei. Corri direto para tomar banho. Um homem maravilhoso ia bater na minha porta a

qualquer instante, e mesmo que ele estivesse sendo pago, eu ainda queria me preparar o melhor que

pudesse.

Coloquei uma roupa leve e bonita e fiquei logo sem roupa íntima. Ah, não me julgue. Eu estava

pagando por hora, não estava?

Três batidas na porta. Tentei respirar fundo, mas o ar estava passando pela minha traqueia em

etapas. Eu devia ter virado uma dose de alguma coisa para ver se parava de tremer tanto.

Calma, sugeriu uma voz lá no fundo da minha mente. Uma voz que, sem dúvida, não era minha.

Coloquei um pé atrás do outro tentando reaprender a andar e cheguei até a porta. Sabia que ele era

um profissional que trabalhava com isso e tudo o mais. Sabia que ele era gostoso. Tinha visto a foto.

Mas, por Deus... ele era muito gostoso. E, mais uma vez, era igual a figura que Amadeo tinha me

mostrado.

Tinha o cabelo loiro cuidadosamente penteado, os olhos cor de mel, um sorriso safado que

praticamente confessava aos quatro cantos do mundo que ele trabalhava dando prazer. Estava

vestindo uma camisa e uma calça social escura. Dei um sorriso satisfeito e saí do caminho,

convidando-o a entrar com um gesto. Eu ainda não conseguia dizer nada.

– Boa tarde – ele me mediu dos pés à cabeça e me olhou em um misto de surpresa e satisfação, que

fez com que eu me sentisse linda. Parte de mim pensou que talvez o grande público de gigolôs fosse

mulheres mais velhas, então talvez ele estivesse um pouco satisfeito comigo. A outra parte esbofeteou

esse pensamento, classificando-o de ridículo e me lembrando de que ele estava sendo pago para

fazer com que eu me sentisse assim.

Seja como for, foi muito bom.

Fechei a porta e olhei de volta para ele. Engoli em seco.

– É a primeira vez que faço isso – achei melhor tirar isso logo do caminho.

– Oh! Não me avisaram que era a experiência virgem, mas sem problemas – sorriu.

– Não! Não! Você entendeu errado – sorri – Já fiz isso. Nunca fiz isso – expliquei, indicando-o

com a mão.

– Ah! Entendo – Nick esticou a mão para mim e eu a toquei. – Pense em mim como o homem dos

seus sonhos. Sou o homem com quem você sonha durante a noite e que você deseja durante o dia. E

estou aqui para transformar tudo em realidade. O que você quiser, pelo tempo que quiser, eu vou

fazer. Se quiser que eu vá embora, é só pedir. Mas enquanto não pedir, eu vou cuidar de você, como

homem nenhum nunca cuidou.

Era um bom discurso. Ah, diabos, você não estava lá para ouvir. Era um discurso excelente!

Minhas pernas começaram a tremer de novo.

Vamos, Nahia, fale de uma vez.

– Eu queria aprender... a ser... melhor – escolhi as palavras com cuidado, esperando que ele

entendesse.

– Melhor em quê? – ele estava mais perto agora e começava a pentear meus cabelos para trás da

orelha. Ele tinha um cheiro bom. Não Amadeo bom, mas bom.

– Quero aprender como fazer um homem ir à loucura.

Ele sorriu:

– Com um rosto desses... – ele tocou meus lábios. – E um corpo desses... – tocou minha cintura. –

Querida, eu te garanto: os homens já vão à loucura.

Eu contive um sorriso que quase escapou, e segurei suas duas mãos.

– É sério.

– Tudo bem – Nick assentiu e me abraçou pela cintura, ainda mantendo uma distância entre nós. –

Como você quer fazer isso, então? – seu tom era doce e sensual.

– Quero que você fale comigo. Enquanto estivermos na cama. Quero que diga o que os homens

gostam e o que não gostam e se eu estou fazendo certo ou errado.

– Tudo bem, querida, mas... nem todos os homens são iguais – deu de ombros.

– A sua ficha do site diz que você é bi.

Ele sorriu intrigado.

– Sim, sou. Mas hoje, por você, eu sou completamente hétero.

Não era isso que eu queria dizer.

– Eu sei, eu sei. Mas... quero dizer, você sabe do que um homem gosta.

Ele espremeu os lábios e balançou a cabeça em afirmação.

– Pronto! – concluí. – É isso que quero que me ensine.

– Você não está pensando em virar concorrência, está? – ele sorriu brincalhão, espremendo os

olhos pra mim.

Eu levantei a mão em posição de juramento.

– Prometo que não.

– Tudo bem. Então, vamos começar vendo como você fica nua na cama.

Ele tirou meu vestido com uma agilidade incomparável, e logo eu estava nua diante dele. Nick

permaneceu vestido, observando-me.

– Você não vai tirar a roupa? – perguntei.

– Primeira lição – ele levantou o indicador. – Muitos homens gostam de olhar a mulher

inteiramente despida na sua frente – ele desceu os olhos pelo meu corpo e eu me senti

verdadeiramente nua. – Só para olhar, admirar – ele me segurava pela mão e passava os olhos em

cada centímetro do meu corpo. Eu resistia aos impulsos de me tapar. – Isso os excita – ele me puxou

para perto e me abraçou. – Ter uma mulher bela e nua sob seu controle. Alguns homens se excitam

mais vendo uma mulher nua estando vestidos do que quando se despem junto delas.

Eu mordi meu lábio trêmulo. Controle era bom, mas tinha algo no fato de ter um homem vestido me

vendo nua que era particularmente incrível.

Ele desabotoou os dois primeiros botões de sua calça, abaixou as mãos e olhou para mim

sugestivamente. Entendi o que Nick estava dizendo e imediatamente me pus a despi-lo. Ele tocou

minhas mãos.

– Faça isso devagar. Brinque com o meu corpo enquanto tira minha roupa. Despir uma pessoa não

é uma tarefa que precisa ser concluída antes da brincadeira começar – ele enfiou minhas mãos dentro

de sua camisa por entre os botões e eu comecei a sentir aquele tórax perfeito que eu tinha visto na

foto. – Despir já é parte da brincadeira.

Obedeci, e as peças de roupa dele foram caindo, uma após a outra, com calma, enquanto eu

brincava com cada novo pedaço de pele que encontrava. Passei a língua por seu tórax e os dedos por

seu abdômen. Só aquilo já tinha valido os 150 euros. Senti os braços fortes e experientes de Nick me

envolverem e me jogarem na cama.

Agora ele estava nu, também. Seu membro viril se erguia rígido no meio de suas pernas com uma

imponência avassaladora. Ele ficou de pé alguns segundos, permitindo que eu o observasse,

observando-me de volta.

– Abra as pernas – ele mandou. Meu fôlego foi embora sem deixar recado avisando quando ia

voltar. Eu obedeci, e acho que nunca me senti tão exposta na vida. Ali, em cima da cama, com as

pernas abertas. Toda a minha intimidade à mostra para um completo desconhecido que estava ali, de

pé na beira da minha cama, sem tirar os olhos de mim. Ele passou a língua nos lábios e senti minhas

coxas encharcarem.

Nick se ajoelhou na cama e continuou as instruções.

– Alguns homens preferem ver a mulher no controle. Mas é do instinto masculino buscar o poder.

Eles se sentem mais másculos e mais viris quando estão no controle. É sensual. Se um homem te

mandar fazer algo na cama e você estiver disposta a satisfazer esse homem, obedeça.

Tentei fazer uma anotação mental, mas ele me cobriu com seu corpo e minha mente parou de se

preocupar com o que quer que fosse que não envolvesse aqueles dedos suculentos passeando em

minha vagina.

Ele prendeu meu mamilo entre os dentes e o puxou para um lado e para o outro. Eu arqueei as

costas, enfiando meus seios em sua boca. Nick beijou minha barriga e passou a língua pelo meu

umbigo. Seus dedos permaneciam me bolinando, esfregando aqui, beliscando ali. Sua boca me

abandonou e eu senti seu hálito quente contra meu estômago.

– Na maior parte das vezes, apenas o corpo feminino já basta para excitar um homem. A mulher

não precisa fazer nada, só precisa deixar que o homem a toque onde quiser. Mas quando a mulher

participa mais ativamente... é aí que o homem enlouquece.

– Como? – quis saber.

– Eu quero que você agarre minha bunda, que arranhe minhas costas, que chupe minha língua e

morda meu pescoço. Quero que você brinque com meus mamilos e acaricie meu saco.

Uma coisa de cada vez, fiz tudo que ele mandou, exatamente como ele mandou. Meu corpo gritava

para mim que ia gozar e eu tentava fazê-lo esperar só mais um minuto. Nick me girou e me colocou

por cima dele. Eu estava sentada em seu pênis e ele entrava em mim como se estivéssemos dançando.– Sua vez – disse, entre as estocadas leves que ele começava a impor. – Quero que você monte emmim e rebole – ele tinha suas mãos em minha cintura e me guiava em movimentos circulares ao redor

do seu membro. – Assim... Isso... Devagar...

Segurei seus ombros e coloquei meu queixo contra seu rosto. Abri os olhos por apenas uma fração

de segundo e vi: meu vizinho estava lá. Além da janela, observando por cima de sua mesa de

designer. Ele tinha o queixo apoiado nas mãos entrelaçadas e sorria como se estivesse adorando tudoo que via.

O mais incrível foi que eu não senti qualquer vestígio de vergonha. Eu estava na minha casa, na

minha cama, com um homem que eu tinha escolhido. Se ele estava bisbilhotando, o problema era

dele. Entre não estar com vergonha do vizinho e provocar o vizinho há um abismo muito grande, eu

sei. Por isso, digo que não sei o que deu em mim quando resolvi lhe oferecer uma piscadela

indecente.

Eu vi seu queixo cair exageradamente. Eu sorri e continuei a rebolar em cima do pau de Nick.

Nunca me senti tão gostosa na vida. Nick chupava meus seios e eu mantive os olhos abertos e no meu

vizinho além da janela. Ele me devolveu a piscadela, entendeu o meu olhar como um convite e veio

se sentar mais perto para ter uma vista melhor. Deixei que ele olhasse.

Meu corpo estava gritando "Chega!", não ia esperar mais nem um segundo. Ouvi Nick gemendo e

gemi junto. Caímos um sobre o outro. Suados e satisfeitos. Eu sorri e pedi que ele fechasse as

cortinas. Agora que o sexo tinha acabado, não ia demorar muito para minha vergonha voltar e eu não

queria ter que encarar meu vizinho quando isso acontecesse.

***

Nahia parou de falar abruptamente e eu senti meu coração na garganta. Não queria que ela parasse.

Queria que ela continuasse.

– Parece que nosso tempo acabou, doutora – ela admitiu com simplicidade. – Continuamos na

próxima semana? No mesmo horário?

– S... sim – eu disse, esperando do fundo da minha alma que não tivesse ficado muito óbvio que

estava balbuciando.

Ela pegou a bolsa, levantou-se e saiu. E eu tenho que confessar que contei os segundos para nossa

próxima sessão.

            
            

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