23 Modos de Prazer
img img 23 Modos de Prazer img Capítulo 5 A quinta noite
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Capítulo 6 A sexta noite img
Capítulo 7 A sétima noite img
Capítulo 8 A oitava noite img
Capítulo 9 A nona noite img
Capítulo 10 A décima noite img
Capítulo 11 A décima primeira noite img
Capítulo 12 A décima segunda noite img
Capítulo 13 A décima terceira noite img
Capítulo 14 A décima quarta noite img
Capítulo 15 A décima quinta noite img
Capítulo 16 A décima sexta noite img
Capítulo 17 A décima sétima noite img
Capítulo 18 A décima oitava noite img
Capítulo 19 A décima nona noite img
Capítulo 20 A vigésima noite img
Capítulo 21 A vigésima primeira noite img
Capítulo 22 A vigésima segunda noite img
Capítulo 23 A vigésima terceira noite img
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Capítulo 5 A quinta noite

"Sexo só é sujo quando é bem feito."

Woody Allen

Sabe quando você acorda se sentindo gostosa? Nunca aconteceu com você? Você acorda com

vontade de vestir sua melhor roupa e andar na rua fazendo as pessoas olharem para você. Foi assim

que eu acordei naquela segunda-feira. Coloquei um vestido bandage escuro que ia até o meio da coxa

e uma sandália alta. Era uma roupa sóbria e muito sensual, que ainda estava com a etiqueta. Puxei

meus seios para cima, ajustando a roupa e valorizando o decote.

Isso tinha acontecido comigo poucas vezes. Eu sempre saía me sentindo uma das mulheres mais

lindas do mundo, mas era só colocar o pé na rua e a humanidade me lembrava de que eu estava

errada. E aí eu voltava para a minha timidez padrão e o dia continuava sem muitas novidades.

Naquela segunda-feira, no entanto, algo estava diferente. Algo tinha acontecido. Era possível que

eu tivesse ficado mais bonita da noite para o dia? Andei pela rua e notei que, dessa vez, eu estava

realmente atraindo olhares. Foi uma injeção de ânimo na minha autoestima. Acho que a pobrezinha

estava precisando disso já fazia algum tempo.

No entanto, vergonha ainda estava lá. E a cada assovio ou "bom dia" sugestivo que eu escutava na

rua, minha timidez pedia para voltar. Eu insistia e dizia "Agora não. Só mais um pouquinho". Queria

aproveitar ao máximo aquela nova sensação. Estava sendo o ponto alto da minha semana. Ou melhor,

do meu mês.

– Nossa, Nahia... Que bicho te mordeu? – era interessante ouvir Vicent falar algo que não fosse

"com licença". Ainda mais quando seu tom de voz sugeria que ele estaria disposto a levar alguns

tapas na cara, se isso significasse que ele poderia esfregar seu pintinho minúsculo contra qualquer

parte do meu corpo. Ofereci um sorriso amarelo e o ignorei. Já mencionei que estava me sentindo

muito gostosa?

Passei a manhã sentindo olhares na minha direção. Minhas bochechas começaram a ameaçar ficar

vermelhas de vergonha, mas Amadeo ainda estava lá comigo. Repetindo palavras reconfortantes,

fazendo com que eu me sentisse segura.

Colin estava se aproximando. Ele tinha os cabelos metodicamente penteados para trás e a barba

perfeitamente feita. Usava uma camisa de seda colada de mangas compridas delineando aquele corpo

escultural. Senti vontade de observá-lo e sorrir como uma boba. Mas ele estava vindo em minha

direção, então virei para a frente e tentei fingir que estava mais ocupada do que estava.

– Nahia, como está o texto de orelha do... – ele hesitou, talvez estivesse me observando da cabeça

aos pés. Ah! Por favor, esteja me observando da cabeça aos pés. – Ah! Bom dia – seu tom mudou

levemente e eu presumi que ele estava, de fato, impressionado com o visual que eu tinha escolhido

para o dia.

– Bom dia, Colin – meu sorriso foi provavelmente mais largo e amigável do que o de qualquer

mulher com uma autoestima razoável. Mas quando o assunto era Colin, eu sempre me sentia derreter

como uma frágil colher de manteiga em uma frigideira.

– Você está muito bonita hoje. Tem algum encontro quando sair daqui?

A pergunta me pegou desprevenida. Ele sempre era sociável, mas nunca tínhamos conversado

sobre minha vida pessoal. Ou sobre a dele. No entanto, havia algo divertido em seu tom e eu imaginei

que ele estivesse brincando.

– Talvez – brinquei de volta.

– Bem, não se esqueça de me apresentar o sortudo. Tenho que aprová-lo antes, hein? – sorriu.

Ainda bem que eu estava sentada, porque ele puxou uma de minhas bochechas e minhas pernas

desistiram da vida.

Ele começou a dizer exatamente quais textos de orelha precisava e eu fui eternamente grata a minha

excepcional habilidade multitasking, porque parte do meu cérebro insistia em não fazer nada que não

fosse observar aquela boca linda se movendo.

Colin se afastou e algo interessante aconteceu. Não foi Amadeo quem inundou minha mente com

comentários irritados sobre minha atitude boneca desmiolada diante do homem dos meus sonhos.

Não foi nem sua imagem nem sua voz. Eu olhei de volta para a tela do meu computador, para os meus

papéis e as horas e horas de trabalho que teria no dia, e a primeira coisa que surgiu em minha mente

foi Kio. Lembrei de seu sorriso divertido atrás de mim, na fila do sex shop.

"Você é muito contraditória, não é?"

Suas palavras e seu sorriso tomaram conta de todos os meus pensamentos. Ele teria rido por horas

se tivesse me visto desajeitada na frente de Colin. Eu era um enigma para ele e adorava essa ideia.

Adorava a ideia de que havia uma pessoa no mundo a quem eu podia surpreender. Tinha sido

divertido.

Levantei e fui beber um copo de água. Precisava botar minha cabeça de volta no lugar. Tinha muito

trabalho a fazer e ainda era apenas segunda-feira. A semana estava só começando, e eu não podia me

perder em devaneios sobre um ou outro homem.

***

Era estranho ouvir meus colegas de trabalho conversando sobre o fim de semana. Parte de mim

queria ser convidada para participar dos programas, queria se sentir incluída. Mas outra parte de

mim tinha certeza de que ia detestar sair com eles. Não apreciava a companhia de nenhum deles em

particular – fora Colin, é claro – e era óbvio para mim que, depois de alguns poucos minutos em um

bar com aquela gente, eu já estaria louca para voltar para casa.

Mas, ainda assim, teria sido interessante ser convidada. Gostaria de ter a opção de não ir.

A palavra "opção" ficou rodando pelo ar ao meu redor enquanto eu recolhia meus pertences e

encerrava mais um dia de trabalho. Tinha sido um dia impressionantemente produtivo. Nada melhor

que uma pilha de trabalho para te fazer esquecer qualquer outra coisa.

O elevador-lesma demorou suas duas horas habituais para chegar, e a palavra "opção" não me

abandonava. Era isso que Amadeo tinha dito, não era? Era interessante ter opções. Estava começando

a entender o que ele tinha dito.

Fiz o caminho de volta para casa no piloto automático. Estava duelando com a ideia de seguir ou

não o plano de Amadeo. Senti um sorriso bobo tomar conta de meus lábios: eu estava começando a

tratar Amadeo como uma pessoa real e não como um fruto da minha imaginação. Fato era que meu

corpo já estava exausto do jeito como eu estava organizando as coisas nos últimos vinte e poucos

anos da minha vida. Ele queria mais, e tinha colocado Amadeo nos meus sonhos para me explicar

isso.

Apertei o botão do "oito" e observei meu reflexo no espelho do elevador. Eu estava toda

arrumada. A maquiagem precisava de uns retoques, mas nada que cinco minutos na frente do espelho

não resolvessem. Era um desperdício ir para casa sem aproveitar esse visual e essa sensação, não

era?

Verdade seja dita, todos os conselhos de Amadeo até agora tinham me rendido bons resultados.

Fora a discussão com meu vizinho, mas aquilo podia ser remediado. Sorri mais uma vez. Confiança é

um remédio milagroso. Da Nahia que tinha fechado as cortinas, morta de vergonha, para a Nahia que

acreditava que até a discussão com um semidesconhecido podia ser remediada, era um longo

caminho. E ela tinha percorrido essa distância em apenas dois dias. Parabéns, Nahia!

Coloquei a chave de casa na fechadura, mas algo no meu corpo não quis destrancar a porta. Algo

dentro de mim não queria ir para casa. É, eu tinha que trabalhar no dia seguinte. Mas eu tinha uma

vida toda de noites responsáveis e bem dormidas. Além do que, eu era, muito provavelmente, a

profissional mais competente de todo o meu setor. Eu podia fazer uma irresponsabilidade uma única

vez, não podia?

Eu me lembrava do sonho. Lembrava da mulher nua e do seu toque. Tinha sido interessante.

"Opções", era o que Amadeo tinha dito. Eu queria ter opções. Demorei três segundos, parada em

frente à porta, para resolver o que eu queria.

Eu queria ir para um bar gay e queria ver se mulheres eram uma opção.

É. Era isso que eu queria.

O problema é que eu não fazia a menor ideia de qual bar era gay e onde ele ficava.

Então um pensamento delicioso me ocorreu: Kio.

Ele trabalha com isso, não é? E disse que não ficava envergonhado com esses assuntos. Podia

matar dois coelhos desse jeito. Deixar a discussão para trás, provocá-lo e impressioná-lo com minha

contradição só para me divertir, além de deixar bem claro que não estava ofendida. Talvez assim, da

próxima vez que eu chamasse Nick – e, acredite, eu planejava chamar Nick novamente –, Kio se

sentiria à vontade para observar, se quisesse. Sim, aquilo seria muito bom.

Duas coisas são igualmente verdadeiras: se eu entrasse em casa para procurar um bar gay na

internet, era possível que eu perdesse a coragem e não fosse a lugar algum. Se eu queria ir, eu devia

ir agora. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de ir até a casa de Kio e perguntar para ele era mais gostosa

do que a ideia de ir para o bar gay. Tinha percebido que, mesmo que desistisse da ideia de

experimentar mulheres, ainda assim eu iria até a casa de Kio tirar minha dúvida.

Girei nos calcanhares e voltei para o elevador. As portas se abriram e Nathan e seu filho saíram.

– Boa noite, Nahia! Você está muito elegante – Nathan me cumprimentou.

– Obrigada! – sorri, já me enfiando no elevador.

– Já conheceu meu Andrew?

– Já, sim – acenei para ele e o observei sorrir para mim enquanto as portas se fechavam.

Assim que vi a entrada do prédio de Kio, percebi que não sabia qual era o seu apartamento. Será

que eu deveria voltar para casa para contar andares e janelas?

A caixa de correio, sua maluca.

Valeu, Amadeo.

Mas isso acabou nem sendo necessário. Na entrada do prédio, havia uma lista de campainhas. Ele

também morava no oitavo andar. Apertei botão e ouvi o apito arranhado do interfone.

Não deu nem tempo de pensar que ele poderia não estar em casa.

– Pois não? – disse a voz masculina do outro lado.

– Senhor Kioujin?

– Sim?

– Aqui é Nahia. Sua... ahn... vizinha. Será que poderíamos conversar um instante? Se o senhor

não estiver ocupado – acrescentei.

– Ah... claro, claro – um barulho típico de portas automáticas destravando confirmou que a porta

estava aberta.

Precisei me controlar para não correr.

Mais um elevador, mais um espelho. E eu percebi que não tinha retocado a maquiagem. Abri a

bolsa e comecei a fazer o melhor que pude com os itens que tinha à disposição, rezando para que o

elevador subisse bem devagar. Mas a porcaria parecia estar munida de jatos e em poucos segundos

um apito avisou que as portas estavam abertas. Endireitei-me e andei até a porta de Kio.

Dei duas batidas leves e esperei segurando a respiração.

– Boa noite – ele abriu a porta e a dúvida estava estampada em seu rosto. Convidou-me para entrar

com um gesto. Eu aceitei e entrei.

Era uma visão interessante: o apartamento que eu estava acostumada a ver além da minha janela.

Agora eu via o que ele podia ver todos os dias. Realmente, havia poucas partes da minha casa que

ele não tinha visão. Todo o resto era um livro aberto para ele.

– Em que posso ajudá-la, senhorita Nahia?

Virei-me para ele resoluta. Ele já tinha rido do meu constrangimento uma vez, eu não ia deixar que

ele fizesse isso de novo.

– O senhor mencionou que trabalha com assuntos... – por Deus! Qual é a palavra?

– Obscenos? – ele sugeriu, e o sorriso divertido estava de volta. Sustentei seu olhar.

– Na falta de uma palavra melhor.

– Sim, senhorita. Trabalho – confirmou. – A senhorita veio até aqui porque gostaria de uma

sugestão de algum filme pornô específico? Eu tenho uma vasta coleção – ele tentava manter a

seriedade, mas era óbvio que estava falhando. – Se a senhorita quiser se juntar a mim, posso fazer

pipoca. Ou mousse de chocolate.

Dei um tapa brincalhão em seu braço e sorri. Não tinha ficado ofendida. Nós tínhamos um

histórico de sexo e passeio em lojas de sex shop, não tínhamos? Estava começando a me sentir

estranhamente à vontade com esse desconhecido e seus assuntos impróprios para menores.

– O senhor é simplesmente incapaz de me respeitar, não é?

Ele riu.

– Perdão. Por favor, prefiro que me chame de Kio. Acho que temos intimidade o suficiente para

pelo menos nos tratarmos pelo primeiro nome, não, senhorita Nahia?

– Nesse caso, insisto que me chame só de Nahia.

Ele concordou com um aceno da cabeça.

– Muito bem, Nahia. Você vai me dizer o que veio fazer aqui ou vou ter que tentar adivinhar? Nada

contra tentar adivinhar – ele acrescentou rapidamente. – Acho que seria divertido.

– Na verdade, vim fazer uma pergunta. Pedir sua... ajuda – concluí amigavelmente.

– Bem, estou ao seu dispor. Do que precisa?

– Estava cogitando visitar um bar gay. Mas não conheço nenhum, então imaginei que o senhor...

que você – corrigi – pudesse me ajudar.

Ele me observou intrigado.

– Um bar gay?

– Não estou dizendo que o senhor seja gay. Mas imaginei... – ele estava rindo.

– Se eu fosse gay, não teria nenhum problema com isso, Nahia. E sendo hétero, também não tenho

problemas se alguém achar que sou gay.

Kio era, provavelmente, o homem mais bem resolvido da face da Terra.

– Um bar gay... – ele continuou. – Muito bem. Masculino, feminino, ou misto?

– Ahm... – esse novo mundo que eu estava começando a conhecer era muito cheio de escolhas, e

eu raramente sabia a resposta certa. Se é que havia uma.

– Misto – dei de ombros. Acho que me sentiria mais à vontade assim.

– Certo. Vou pegar meu casaco.

Ele vai comigo?

– Não. Não! Não quero incomodá-lo, só preciso de um endereço.

– Nahia – ele sorriu. Tinha um belo sorriso. – Primeiro, não vou deixar uma dama nova em

assuntos obscenos – repetiu a palavra como uma brincadeira – ir sozinha a um bar gay pela primeira

vez. E, segundo – seu sorriso se alargou e eu sorri com ele –, eu não posso perder essa cena.

– Então, o senhor acha que bar gay é uma coisa obscena? – quis constrangê-lo.

– De forma alguma. Mas algo me diz que o que a senhorita planeja fazer lá será.

Será que era impossível colocá-lo contra a parede?

– Kio – segurei seu braço enquanto ele vestia o casaco. Ele parou diante do meu toque. – Isso não

é um encontro – falei pausadamente. Não queria que houvesse qualquer mal-entendido.

– Senhorita Nahia. Não costumo levar mulheres para bares gays em encontros.

***

Era exatamente o que eu esperava: um bar normal, cheio de gente.

Deixamos nossos casacos na entrada e ficamos de pé, lado a lado, próximos a uma pequena mesa

elevada.

– Certo! – ele bateu palmas. – O que você queria fazer em um bar gay?

Ah, diabos! Eu já tinha dito quase tudo a ele, não tinha?

– Queria experimentar como é ficar com uma mulher.

– Ah droga! – ele apoiou o queixo no punho.

– O que foi?

– Logo depois que eu prometi não olhar mais pro seu apartamento – ele brincou, exagerando na

decepção. – Você bem que podia ter experimentado isso semana passada, hein?

Eu ri alto e me apoiei em seu ombro. Ele sorriu para mim, calorosamente.

– Se você ficar muito perto, eu posso acabar resolvendo beijá-la e seu plano de experimentar uma

mulher iria por água a baixo.

– E o que o faz pensar que eu o beijaria de volta e desistiria do meu plano? – perguntei.

– Não disse que me beijaria de volta. Mas as mulheres por aqui não dariam mais em cima de você.

Achariam que você não é lésbica...

– E se eu te desse um tapa e gritasse "Não fico com homens"?

Ele respirou fundo e pensou por um ou dois segundos.

– Bem, nesse caso, acho que é melhor eu beijá-la, então – sorriu finalmente. – Pelo bem do seu

plano.

Eu ri mais uma vez. Fazia tempo que não me divertia tanto. Pelo menos, não estando vestida.

– Certo, senhor desenhista de hentais! Como eu faço pra conseguir uma mulher?

Ele sorriu. Era claro que também estava se divertindo. Muito.

– Infelizmente, o primeiro passo seria se afastar de mim. Ou isso ou eu poderia ajudá-la.

– Já decidimos que isso não é um encontro, Kioujin! – brinquei. – Você não vai me beijar – cinco

palavras bem simples. Algo arranhou desconfortavelmente dentro de mim.

– Calma, calma. Você não ouviu todo o meu plano. Eu posso ser seu "amigo" e te indicar para

alguém. Aponte alguém que te interessa e eu vou até lá falar bem de você.

Era um bom plano. Foi bom trazê-lo.

– Tudo bem, e o que eu faço?

– Você fica ali perto do balcão e espera.

– Certo.

– Vamos lá, olhe ao redor. Quem te interessa?

– Ah, você escolhe! – dei de ombros. Ele riu.

Fui até o balcão e esperei.

– Para a senhorita – o garçom me ofereceu uma bebida.

– Ah, não! Eu não pedi nada – e então minha ficha caiu.

– Foi aquela dama quem pediu para a senhorita – ele apontou uma mulher no salão e algo dentro de

mim suspirou "missão cumprida". Era Amadeo. Ou melhor, o corpo que Amadeo tinha usado na noite

anterior. Comecei a me perguntar se não haveria algo de sobrenatural nos meus sonhos, mas o

pensamento rapidamente se foi. Ela se aproximou.

– Como vai?

– Bem e você? – levantei o copo em um brinde de agradecimento e bebi. Rápido. Se eu ficasse

bêbada logo seria mais fácil.

– Melhor agora – ela sorriu e tocou meu braço. Eu devolvi o sorriso e respirei fundo. – Você

parece nervosa.

– Sim – confessei. Eu queria dizer algo mais, mas não sabia o quê.

– Nunca ficou com uma mulher antes? – ela perguntou estreitando os olhos, gentilmente.

– É tão óbvio assim? – encolhi os ombros.

– Um pouco – ela sorriu, delicada. – Qual o seu nome?

– Nahia, e você?

– Lucy. Diga-me, Nahia – ela se aproximou e colocou meus cabelos para trás da orelha. – O que

veio fazer aqui pela primeira vez?

Dei de ombros:

– Acho que quero experimentar novas opções.

– E eu acho que posso te ajudar com isso.

Expirei. Vai, Nahia, pergunta de uma vez.

– Será que você quer sair daqui? – perguntei, como quem arranca um band-aid.

– Você é direta, Nahia. Gostei disso. E pra onde nós vamos?

– Eu não moro muito longe daqui.

Ela terminou seu drinque e sorriu para mim.

– Eu só preciso dar tchau a um amigo – expliquei.

– Te encontro na porta?

Fiz que sim e voltei para a mesa. Kio ainda estava terminando sua bebida e me observou com

aqueles olhos sensuais e brincalhões.

– Não sei o que vim fazer aqui, você parece se virar muito bem sozinha!

– Obrigada pela ajuda! – sorri discretamente.

– Já está indo?

– Já.

– Eu pediria seu telefone, mas... estamos em um bar gay, você está saindo pra ficar com outra

mulher... não sei... – sorriu. – Acho que vou esperar um momento mais apropriado.

– Ou você pode abrir a janela e gritar – sugeri. Ele riu alto. – Mas, sério: obrigada.

– É engraçado. As outras vezes que trouxe mulheres para um bar gay eu sempre esperei mais que

um "obrigada". Mas não dessa vez, claro. Dessa vez não foi um encontro.

– Eu achei que você não trazia mulheres para bares gays em encontros.

Ele piscou pra mim.

– Vou te dar algo mais que um "obrigada", então – coloquei os cotovelos sobre a mesa para me

aproximar dele e pedi que se aproximasse com um movimento do indicador. Ele se moveu para frente

até que estivéssemos nariz contra nariz. Desviei o rosto para o lado, coloquei minha boca sobre sua

orelha e sussurrei:

– Você pode assistir.

***

Lucy passou os dedos por dentro do meu decote e brincou com meu seio. Parte de mim se

arrependeu da empreitada naquele segundo. A ida ao apartamento de Kio e todo o caminho até o bar

foi muito mais excitante do que a mão dela no meu peito.

É, Amadeo, acho que eu sou definitivamente heterossexual. Nada de errado com isso. Mas agora

que eu já estava ali, no meu apartamento, no meu sofá... Eu ia fazer o quê? Mandá-la embora?

Acariciei sua perna com suavidade e ela sorriu. Ficamos brincando com zíperes, laços e botões

enquanto tirávamos as roupas uma da outra. "Devagar", eu repetia para mim mesma, "Brinque com a

roupa como o Nick disse". Imaginei Amadeo sorrindo ao me ver dando instruções sexuais ao meu

próprio corpo. Sim, eu tinha aprendido muito em poucos dias e, com certeza, ia fazer uso de meus

recém-adquiridos conhecimentos.

Mas nada daquilo estava exatamente me excitando. Era como ter uma amiga me ajudando a tirar o

vestido no fim de uma festa. Estava completamente seca e constrangida. E agora?

Meu pensamento foi de Amadeo para Kio. Se eu estivesse fazendo um show para ele, talvez fosse

mais excitante, não? Afinal, sexo com Nick não teria tido metade da graça se meu querido vizinho

não estivesse por perto.

Lucy estava nua e escorregou do sofá para o tapete, e eu aproveitei para lançar um olhar curioso

além das minhas janelas. Tudo no apartamento dele ainda estava na mais completa escuridão. Será

que ele ainda estava no bar? E se ele fosse gay? O pensamento me atingiu tão subitamente quanto os

dedos de Lucy. De repente, eu não estava mais seca.

Ela tinha o indicador enfiado em mim, massageando-me por dentro. Girava o dedo bem devagar,

como se estivesse procurando meu ponto G, mas como se não estivesse com nem um pouco de pressa

para encontrá-lo. Seu dedão permaneceu do lado de fora, acariciando meu clitóris. Abri as coxas e

deixei que ela continuasse o que estava fazendo.

Apoiei as costas contra o sofá e senti algo macio e molhado contra minhas coxas sensíveis. Ela

segurava minhas pernas na altura da bunda, e estava com as unhas encravadas na minha carne. Mas eu

não liguei para suas unhas. Nem um pouco. Era sua língua que estava ganhando toda a minha atenção.

Começou com pequenas lambidas que eu mal conseguia entender; era apenas a sensação de algo

macio, molhado e deliciosamente flexível contra minhas partes íntimas. Então, ela começou a usar

apenas a ponta da língua. Movimentos circulares atingiam os pequenos lábios e voltavam para o meu

clitóris enrijecido, e depois faziam o caminho todo de novo. O raio do círculo aumentou, e sua língua

poderosa e experiente explorava cada vez mais.

Seu indicador estava de volta. Entrando e saindo, entrando e saindo. Com o polegar, ela dava

beliscões no meu clitóris excessivamente sensível e eu gemi. Não sei quando comecei a brincar com

meus seios, mas lá estavam minhas mãos, agarrando meus mamilos.

Ela colocou um segundo dedo dentro de mim e, em seguida, um terceiro. Seu polegar continuava a

estimular o exterior de minha vagina e agora ela tinha os dentes em meu grelinho. Mordiscava

delicadamente e eu urrei.

Era como meu vibrador: cada toque era preciso e perfeito. Como aquela mulher podia me

conhecer tão bem?

Ela não precisa te conhecer, Amadeo veio de minha mente prestar esclarecimentos. Ela é uma

mulher, Nahia. Tem um corpo que se excita nos mesmos lugares que o seu. Ela conhece bem.

Um maldito vibrador humano. Era isso que Lucy era. Meus músculos pélvicos se contraíam como

se fossem implodir e eu senti meu corpo inteiro tremer. Dois segundos e eu ia gozar como uma louca.

Minha companheira pareceu antecipar o momento e eu a senti sugando. Ela sugava com força e bebia

toda a minha umidade, seu polegar nunca abandonava meu clitóris e o massageava seguindo o ritmo

da sua boca.

Gritei. Alto.

Ela se levantou e eu a vi limpando a boca com o braço.

– Minha vez – ela sorriu.

Certo. Tudo bem, Nahia. Você consegue fazer isso. Consegue.

Lucy me empurrou para que eu deitasse de costas no sofá e ficou de quatro por cima de mim. Um

69 é uma posição bem simples. Uma pessoa por cima da outra, cada uma com a cabeça na pélvis da

outra. Ou melhor, cada uma com a boca no órgão sexual da outra.

O que faz essa posição ser extraordinariamente prazerosa é que, quanto mais você se excita, mais

sua boca trabalha. Só fazer sexo oral pode ser um trabalho cansativo. Mas fazer sexo oral enquanto

você está recebendo um... Bem... aí é um pouco diferente, não?

Eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Já tinha feito sexo oral em homens. Poucas vezes, e

foram extremamente desagradáveis. Mas... em uma mulher? Não, nunca. Nisso eu era virgem.

Foi mais fácil do que eu imaginei. Mais fácil porque Lucy estava bem ali, fazendo em mim tudo

que ela queria que eu fizesse nela. Imitei cada um de seus movimentos. Onde eu a sentia pôr a língua,

eu punha a minha. No mesmo local, com o mesmo movimento e a mesma intensidade. Eu imitava seus

dedos, seu toque, seus sopros. Quando ela lambia, eu lambia. Quando ela sugava, eu sugava. Gozei

junto com ela, ou quase. Eu precisei alguns segundos a mais que ela. Mas lá estava eu. Mais uma vez.

Jogada, suada e satisfeita.

Estava começando a me acostumar.

***

Lucy deixou seu telefone e disse que quando eu sentisse vontade de experimentar mulheres de

novo eu deveria ligar para ela. Recado anotado. Olhei mais uma vez pelas janelas. Nada de Kio. Eu

tinha dito que ele podia assistir, não tinha? Com todas as palavras. Então por quê...?

Enquanto estava com Lucy, ocorreu-me que ele poderia ser gay. Ele sabia muito bem onde era o

bar gay. Mencionou já ter ido lá outra vezes.

Não seja boba, Nahia, ele gostou de ver você na cama com Nick, não gostou?

Sim, mas... E se fosse de Nick que ele tivesse gostado? E não de mim?

Quero dizer... ele fez uma piada sobre ser uma pena eu ter resolvido experimentar mulheres justo

quando ele prometeu não me observar mais. Mas podia ter sido só uma piada, não é? Que tipo de

homem deixa escapar a chance de ver duas mulheres transarem?

Vesti meu pijama e me enfiei na cama. Estava exausta.

– Merda... e eu tenho que trabalhar amanhã... – resmunguei pro travesseiro.

***

Eu estava nua diante de mim. Tinha uma longa cicatriz vertical sobre o seio esquerdo.

– Por que você não usa uma imagem só? – perguntei

– Porque eu não tenho uma imagem só – ouvi minha voz sarcástica me responder. – Gostou de

mulheres? – ele quis saber.

– Um pouco – respondi, oferecendo um sorriso de quem se recusa a admitir o erro.

– Mas tem algo mais em sua mente – ele se aproximou, ainda usando meu corpo. – Ele não é gay,

Nahia. Pode ficar tranquila.

– Não estou preocupada – hesitei.

– Está sim. Você gosta do vizinho gostoso e queria ele nu na sua cama. Tudo bem que não queira

dizer isso claramente pra ele, mas vai mentir pra mim?

Mostrei a língua para a outra eu.

– Vamos deixar Kio fora dessa conversa, está bem? Não quero ter que ficar com vergonha quando

estou dentro da minha própria casa, então acho que vou cortar o contato por enquanto.

Ele riu como se não acreditasse no que eu estava dizendo. Tudo bem. Nem eu mesma acreditava.

Amadeo respirou fundo e disse:

– Quero dizer, nunca fiquei com uma mulher antes.

É o quê?

– Hã?

– "Quero dizer, nunca fiquei com uma mulher antes." Repita.

Cocei a testa. Você já ouviu essa história até aqui. Diz para mim: adianta questionar Amadeo?

– "Quero dizer, nunca fiquei com uma mulher antes" – repeti calmamente.

– Mais uma vez. – ele pediu.

– Pra quê isso?

– Só repita!

Eu repeti e fiz uma careta para ele.

– Tudo bem. Por hoje é só. Acho que você precisa dormir.

– O quê? – eu segurei minha cópia pelos ombros. – E o que nós vamos fazer amanhã?

Ele sorriu.

– Você é uma máquina, por acaso? Precisa descansar, garota. Não, eu não tenho nada planejado

pra você. Quer dizer... quase nada.

Ele riu de um jeito diferente, e algo dentro de mim teve certeza que ele tinha, sim, um plano. Mas

que, dessa vez, ele não ia me dizer qual era.

                         

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