Muitos queriam possuí-la, como mariposas atraídas por um objeto brilhante. Quando ela me foi prometida com a idade de quinze anos, me deleitei com a admiração e o ciúme dos meus companheiros homens feitos. Eu ganhei o tão cobiçado prêmio, poderia chamá-la de minha.
Durante anos, contei os dias até o nosso casamento.
Tudo parecia estar indo a meu favor. Eu estava prestes a me tornar o mais novo Underboss da Outfit, com apenas vinte anos, casando com a sobrinha do Capo, a princesa do gelo. Eu me senti invencível.
Arrogância e orgulho são considerados pecado por muitos. Fui severamente punido por eles.
Dias antes de eu assumir o cargo de meu pai como Underboss, minha irmãzinha Emma sofreu um acidente de carro. Agora ela estava presa a uma cadeira de rodas sem futuro pela frente. O mundo da máfia não era gentil. Meninas e mulheres que tinham falhas óbvias eram deixadas de lado como indignas, condenadas a uma vida nas sombras como solteironas ou se casavam com o primeiro idiota que as aceitasse como esposa.
No dia do meu casamento com Serafina, ela foi roubada de mim, sequestrada por nosso inimigo mais cruel: a Camorra de Las Vegas.
Quando o Capo deles a mandou de volta para nós, ela não era a mesma garota que conheci. Ela estava perdida para mim, quebrada além do que eu poderia consertar.
Agora fui deixado com as ruínas do meu futuro meticulosamente planejado.
Com uma irmã deficiente e de coração partido. Um pai moribundo. Sem esposa. Fechei os olhos depois da minha ligação com meu pai. Ele insistia que precisávamos exigir um vínculo com a família Cavallaro. Ele queria a conexão com o Capo, e eu concordava, mas substituir Serafina quando sua perda ainda me cortava como uma lâmina ácida parecia impossível.
A vida tinha que continuar e eu tinha que parecer forte. Eu era jovem. Muitos esperavam que eu falhasse na tarefa de governar Indianápolis. Eles estavam esperando por esse momento, pela minha queda. Enrolei meus dedos em um punho ao redor do anel e fui em busca do meu Capo e do pai de Serafina.
Dez minutos depois, o pai de Serafina, Pietro Mione, seu irmão Samuel e nosso Capo Dante Cavallaro se reuniram comigo no escritório da mansão Mione, tentando resolver o problema do vínculo de casamento quebrado. O assunto causaria uma onda de rumores, independentemente do que decidíssemos hoje. Era tarde demais para controlar os danos.
Eu soltei um suspiro. - Meu pai insiste que eu me case com alguém da sua família, - eu disse sem emoção, mesmo quando meu
interior ardia de raiva e culpa. - É necessário um vínculo entre nossas famílias, especialmente neste momento.
Pietro suspirou, afundando na cadeira. Samuel balançou a cabeça com um olhar. - Serafina não se casará. Ela precisa de tempo para se curar.
Eu lhe daria o tempo que precisasse, como havia dito, mas ela não queria mais se casar comigo.
- Existem outras opções, - Dante disse.
Minha raiva aumentou. - Quais opções? Não vou aceitar a filha de nenhum outro Underboss. Minha cidade é importante. Não vou me contentar com menos do que foi prometido!
Dante fez uma careta. - Cuidado com o seu tom, Danilo. Sei que é uma situação difícil, mas espero respeito.
Samuel parecia querer me atacar. - Você não poderá ter Fina!
- Você também não poderá ter Anna, - disse Dante.
Eu nunca tinha considerado sua filha uma opção. Se eu me casasse com ela, isso só me causaria problemas. Eu duvidava que Dante não enfiasse o nariz nos meus negócios se sua filha tivesse envolvida. - Você precisa do meu apoio nesta guerra. Você precisa de uma família forte para apoiá-lo.
- Isso é uma ameaça?
- Isso é a verdade, Dante. Acho que você é um bom Capo, mas insisto em ter o que minha família merece. Não vou me contentar com menos.
- Não vou forçar Fina a se casar, não depois do que ela passou,
- disse Pietro.
Dante assentiu. - Concordo.
Mesmo se eu ainda quisesse Serafina, entendia o raciocínio deles. Ela não queria se casar comigo e eu não a forçaria a um vínculo, quando já havia sofrido tanto recentemente. - Estamos em um impasse então.
Havia apenas uma opção. Era uma que eu queria evitar, mas não podia. Meu pai sugeriu imediatamente a irmã mais nova da minha ex-
noiva como substituta. Era uma ideia ridícula, mas a única opção viável.
Dante e Pietro se entreolharam, provavelmente considerando exatamente essa opção. - É isso que você me pede, Dante?
- Pietro, se seguirmos as regras, Danilo poderia exigir se casar com Serafina. Eles estavam noivos.
Eu esperei que eles resolvessem o que precisassem. Havia apenas uma opção para o nosso problema.
Pietro abriu os olhos. Eles estavam duros, cheios de aviso. - Eu te darei Sofia.
Meu pai estava certo.
Sofia. Ela era uma criança. Eu nunca sequer olhei para ela. - Ela tem o que, onze anos? - Mesmo que fosse a única opção, uma nova onda de raiva surgiu em mim. Raiva pela situação e raiva absoluta em relação a Remo Falcone.
- Doze em abril, - Samuel corrigiu, fazendo uma careta para mim. Suas mãos estavam enroladas em punhos, mas eu tinha a sensação de que a raiva dele não era só para mim.
- Sou dez anos mais velho que ela. Prometeram-me uma esposa agora.
- Você estará ocupado com esta guerra e estabelecendo seu reinado sobre Indianápolis. Um casamento posterior pode ser uma vantagem para você - disse Dante.
Dez anos mais nova que eu. Eu nem conseguia pensar nela como uma mulher, minha esposa. Só de tentar imaginá-la adulta já me fazia sentir um maldito pervertido. Serafina não era muito mais velha quando a prometeram, mas sua idade era próxima a minha. Eu a queria mesmo naquela época porque ela era a princesa do gelo, porque era tão bonita que todos a desejavam.
Eu não podia imaginar desejar Sofia assim, não podia imaginar desejá-la de jeito nenhum. Ela era uma criança. Ela não era sua irmã.
Eu ia matar Remo Falcone por roubar minha noiva, por quebrá-la de uma maneira que impossibilitava que ela se casasse comigo. Eu
mataria tudo o que importava para ele também. Eu não descansaria até destruir sua vida como ele destruiu a minha.
- Danilo? - Dante perguntou com cuidado e percebi que tinha me distraído.
Não importava o que eu queria. Esse vínculo salvaria Emma. Era tudo o que eu podia esperar neste momento.
- Eu tenho uma condição.
- Qual condição? - Dante perguntou em um tom cortante. Sua paciência estava acabando. Estes últimos meses haviam testado a todos nós.
Meus olhos se inclinaram para Samuel, que me olhou com olhos estreitos. Eu poderia confiar nele com minha irmã? Mais do que em todas as outras opções restantes. Papai casaria Emma em algum momento e ninguém que valesse nada a queria. Ela seria exposta a alguém que esperava melhorar sua posição, alguém que não a merecia.
- Ele se casa com minha irmã Emma, - eu disse.
O rosto de Samuel se contorceu em choque. - Ela está em uma... Ele não terminou a frase. Bom para ele, porque eu queria matá-
lo. - Numa cadeira de rodas, sim. É por isso que ninguém de valor a quer. Minha irmã merece apenas o melhor, e você é o herdeiro de Minneapolis. Se todos vocês querem esse vínculo, Samuel terá que se casar com minha irmã, e então me casarei com Sofia.
- Porra, - Samuel murmurou. - Que tipo de acordo distorcido é
esse?
- Por quê? Seu pai tem procurado por possíveis noivas, e minha
irmã é uma Mancini. Ela é um bom partido.
Samuel respirou fundo e depois assentiu. - Eu vou me casar com sua irmã. - Eu arreganhei os dentes para ele, não gostando do seu tom.
- Então está resolvido? - Perguntou Pietro. - Você vai se casar com Sofia e aceitar o cancelamento do noivado com Fina?
Eu assenti rispidamente. - Não é o que eu quero, mas terá que servir.
- Terá que servir? - Samuel rosnou, dando um passo à frente com os olhos estreitos. - É da minha irmãzinha que você está falando. Ela não é algo que você aceita como prêmio de consolação.
Mas ela era o prêmio de consolação. Todos nós sabíamos disso. Eu ri amargamente. - Você deve se lembrar disso quando encontrar minha irmã.
- Chega, - Dante rosnou.
- O casamento terá que esperar até que Sofia tenha idade, - disse Pietro, parecendo cansado.
Ele achou que eu queria uma noiva infantil? - Claro. Minha irmã também não se casará antes dos dezoito anos.
Seis longos anos. Eu não estava triste por ter mais tempo para estabilizar meu domínio sobre Indianapolis, essa era a única coisa que eu odiava em me casar com Serafina, mas a queria e ela não podia esperar muito tempo. Mas agora, agora eu teria tempo de sobra para construir meu reinado, para me divertir um pouco mais - como o pai apontou. Seis anos era muito tempo. Tanta coisa poderia acontecer até lá. Eu não perderia outra garota. Eu garantiria que Sofia estivesse segura, mais segura do que Serafina.
Pietro assentiu.
- Então está decidido, - eu disse.
- Eu tenho que voltar para casa em breve. Podemos resolver os detalhes posteriormente. - Dante assentiu. - Só mais uma coisa. Não quero que as notícias sobre o vínculo de Samuel com minha irmã saiam ainda. Ela não precisa saber que isso foi um acordo na troca por Sofia.
Fui em direção à porta, querendo sair desta casa, desta cidade, mas acima de tudo ficar longe de Serafina. Eu podia ouvir passos atrás de mim, mas não me virei. Não havia mais nada a dizer, não hoje.
- Danilo, espere, - exigiu Samuel.
Estreitando os olhos, me virei. - O que você quer? - Tínhamos chegado a um entendimento provisório enquanto tentávamos salvar Serafina das garras de Remo Falcone, mas tive a sensação de que não
duraria. Nós dois éramos alfas que não lidavam bem com alguém que não se curvava aos nossos desejos.
- Sofia merece mais do que ser a segunda melhor.
Provavelmente isso era verdade. Verdade para as duas irmãs. Emma tinha recebido cartas duras do destino. Ela merecia apenas o melhor. Ela conseguiria isso? Provavelmente não. - Vou tratar Sofia com respeito, como sempre tratei Serafina. - Minha boca torceu, expressando o nome dela. - Lembre-se de fazer o mesmo com Emma.
Samuel balançou a cabeça. - Quit pro quo? 1
Eu não disse nada. Isso era uma bagunça. Nós dois teríamos garotas que não queríamos em um vínculo que garantisse nosso poder. Samuel e eu éramos homens orgulhosos até o fim. Remo Falcone pisara nesse orgulho. Um orgulho que queríamos reconstruir.
Eu estava começando a pensar que esse orgulho seria nossa queda.