Eu achei que ele continuaria sendo uma fantasia para sempre e toda a vez que fantasiava sobre ele, me sentia culpada - até que de repente ele era meu. Pelo menos oficialmente, porque seu coração ainda pertencia à minha irmã.
No dia em que descobri, estava sentada na mesa do meu quarto quando alguém bateu na porta e meu pai entrou. Ele me mandou para o meu quarto algumas horas atrás, como tantas vezes nos meses desde que Fina havia sido sequestrada e mesmo agora que ela estava de volta. Todo mundo achava que eu era jovem demais para entender o que estava acontecendo.
- Sofia, posso falar com você? - Perguntou papai. Levantei os olhos do meu dever de casa com uma pequena carranca. Sua voz parecia estranha.
- Fiz algo de errado? - Essa era a única explicação para o pai ou a mãe me procurarem. Eles andavam muito ocupados desde o sequestro, então eu estava acostumada a ficar sozinha ou com minha prima Anna. Eu não estava brava com eles. Eles estavam sofrendo muito. Eu só queria que as coisas voltassem ao que costumavam ser. Eu queria que fossemos felizes.
Papai veio até mim e tocou o topo da minha cabeça, com os olhos tristes. - Claro que não, joaninha.
Eu sorri com o uso do meu apelido. Sempre lembrava o quanto ele me amava, mesmo que nem sempre pudesse mostrar por causa de quão ruins as coisas estavam.
- Vamos sentar lá, ok? - Ele apontou para o meu sofá rosa. Ele foi até lá e afundou, parecendo cansado. Eu o segui e sentei ao lado dele. Por um longo tempo, ele não disse nada, apenas me olhou de uma maneira que fez minha garganta ficar apertada.
- Papai? - Eu sussurrei. - Fina está bem?
- Sim... - Ele engoliu em seco e pegou minha mão. - Você sabe que temos regras em nosso mundo. Regras que todos nós temos que
seguir. Danilo não pode mais se casar com Serafina e, por isso, decidimos prometer-lhe a ele.
Eu pisquei, chocada. Minha barriga tremeu loucamente. - Sério?
- Eu me encolhi com quão excitada soei.
Os olhos do papai se suavizaram ainda mais. Ele apertou minha mão levemente. - Em alguns anos, você se casará com ele. Depois de completar dezoito anos. Então você não precisa se preocupar com isso agora.
Seis anos e seis meses. - Fina está triste?
Papai sorriu. - Não, ela sabe que as regras precisam ser seguidas.
Eu assenti lentamente. - Danilo realmente quer se casar comigo quando eu crescer?
Eu não conseguia acreditar. Ele era tão bonito e inteligente. Serafina e ele pareciam da realeza um ao lado do outro, como um casal dos sonhos da Disney.
Papai beijou minha testa. - Claro que ele quer. Qualquer homem ficaria grato por tê-la como esposa. Ele te escolheu.
Eu sorri para ele.
Ele me puxou contra ele com um suspiro profundo. - Oh, joaninha. - Ele parecia triste, não animado, e eu não tinha certeza do por que.
Sonhei com Danilo a noite toda. Eu mal podia esperar para falar com Anna sobre isso. Ela viria hoje antes de voltar com sua família para Chicago.
Eu tinha acordado antes do amanhecer, tonta demais para voltar a dormir.
Deitada de bruços na minha cama, não conseguia parar de escrever o nome de Danilo e o meu, uma e outra vez, não importa o quão infantil isso fosse. Sofia Mancini parecia perfeito para mim.
Uma batida soou.
- Entre! - Gritei e rapidamente escondi meus desenhos tolos de
vista.
Fina entrou, cabelos loiros deslizando lindamente por seu
ombro. Ela estava de jeans simples e camiseta e não usava maquiagem, mas ainda era a garota mais bonita que eu conhecia. Por que Danilo me escolheria em vez dela? Ela já era adulta. Ela era a princesa perfeita para alguém como ele.
Eu desviei o olhar dela, envergonhada por estar sendo mesquinha. Fina havia sido sequestrada. Ela sofreu.
- Eu queria falar com você sobre Danilo. Presumo que papai já tenha falado com você?
- Você está com raiva de mim? - Eu perguntei, preocupada que Fina se sentisse mal porque agora não tinha um futuro marido.
- Raiva? - ela perguntou, parecendo confusa enquanto se aproximava de mim.
- Porque Danilo quer se casar comigo agora e não com você.
- Não. Eu não estou. Eu quero que você seja feliz. Você está
bem?
Apesar do meu constrangimento, mostrei meus rabiscos para ela,
querendo compartilhar com outra pessoa.
Os olhos de Fina se arregalaram. - Você gosta dele?
- Eu sinto muito. Gostava dele mesmo quando lhe prometeram. Ele é fofo e cavalheiro.
O medo de sua reação explodiu através de mim, mas ela me surpreendeu quando se inclinou e beijou minha cabeça. Alívio me inundando.
Fina me olhou com um aviso. - Ele é um homem adulto, Sofia. Vai levar muitos anos até você se casar com ele. Ele não chegará perto de você até lá.
- Eu sei. Papai me contou. - Eu não me importava em esperar e fiquei orgulhosa que Danilo concordou em esperar por mim por tantos anos. Isso significava que ele realmente me queria.
- Então estamos bem? - Eu perguntei, ainda incapaz de acreditar que Fina não estava brava comigo por ter tomado seu noivo.
- Melhor do que bem, - disse Fina e saiu. Hesitei e decidi segui- la para pedir mais informações sobre Danilo. Eu não sabia muito sobre ele. Quando cheguei à galeria e olhei para o saguão, vi Fina e Danilo.
- Sofia é uma menina. Como você pôde concordar com esse vínculo, Danilo?
Meus olhos se arregalaram com seu tom rude. Eu achei que ela estava bem comigo casando com Danilo? Ela não parecia.
Danilo parecia furioso. - Ela é uma criança. Muito jovem para mim. Ela tem a idade da minha irmã, pelo amor de Deus. Mas você sabe o que é esperado. E não vamos nos casar até que ela seja maior de idade. Eu nunca toquei em você e não vou tocá-la.
- Você deveria ter escolhido outra pessoa. Não Sofia.
- Eu não a escolhi. Eu escolhi você. Mas você foi tirada de mim e agora não tenho escolha a não ser me casar com sua irmã, embora seja você quem eu quero!
Ele não me queria? Eu respirei fundo enquanto meu peito se contraía de dor. Meus olhos formigaram com lágrimas.
Danilo e Fina ergueram os olhos.
Eu me virei e voltei para o meu quarto, onde me joguei na minha cama e comecei a chorar. Papai mentiu para mim. Danilo não me escolheu. Ele ainda queria Fina. Claro que ele queria. Ela era tão bonita e loira. As pessoas muitas vezes lamentavam o fato de eu não ter herdado o cabelo loiro da mamãe.
Alguém bateu na porta.
- Vá embora! - Eu enterrei meu rosto mais fundo no travesseiro.
- Sofia, posso falar com você? - Danilo disse.
Eu congelei. Danilo nunca tinha se aproximado de mim. Lentamente me sentei e enxuguei os olhos. Pulei da minha cama e verifiquei meu rosto no espelho. Meus olhos estavam inchados e meu nariz vermelho. Fina ficava bonita chorando. Eu não.
Andei na ponta dos pés em direção à porta, meu estômago revirando de nervosismo quando a abri. Danilo e Fina esperavam no corredor.
Fina sorriu para mim, mas meus olhos foram atraídos para Danilo. Eu tive que esticar o pescoço para trás porque ele era muito alto. Minhas bochechas esquentaram, mas eu não podia fazer nada sobre a reação do meu corpo a Danilo.
- Posso falar com você por um momento? - ele perguntou.
Tentei esconder meu choque e rapidamente olhei para Fina para ver se estava tudo bem. - Claro, - disse ela.
Fui em direção ao meu sofá, subitamente constrangida com todo o rosa do meu quarto. Eu duvidava que Danilo gostasse muito da cor. Eu sentei no sofá, enrolando meus dedos em punhos no meu colo para esconder o tremor. Danilo deixou a porta aberta e veio até mim. Seus olhos examinaram meu quarto e eu me encolhi quando eles se demoraram na variedade de bichos de pelúcia na minha cama. Eu não me aconchegava mais com eles. Eu só tinha problemas para jogá-los fora. Agora eu queria ter feito isso. Danilo deve pensar em mim como uma garotinha boba agora. Ele se sentou ao meu lado, mas com muito espaço entre nós. Esperando no corredor, Fina me deu um sorriso fraco e depois sumiu de vista, mas eu sabia que ela estaria por perto.
Arrisquei um olhar para Danilo. Seu cabelo escuro estava penteado para trás, mas levemente bagunçado e ele estava completamente vestido de preto. Normalmente, eu não gostava de preto, mas em Danilo parecia muito bonito.
Ele se virou para mim, seus olhos escuros se fixando nos meus. Minha pele esquentou ainda mais e tive que olhar para o meu colo. Ele limpou a garganta. - O que você ouviu no saguão não era para os seus ouvidos.
Eu assenti. - Está tudo bem. Eu sabia que você queria Serafina. - Minha voz tremia.
- Sofia, - Danilo disse com uma voz firme que me fez olhar para cima. Eu não tinha certeza do que sua expressão significava. Ele definitivamente não parecia feliz. - Eu escolhi você. Serafina e eu não podemos mais nos casar depois do que aconteceu. Eu não queria magoar seus sentimentos. Por isso falei aquilo.
Eu examinei seu rosto brevemente, mas depois desviei o olhar. Ele parecia honesto, mas uma pitada de dúvida permaneceu em mim. O que eu tinha visto lá embaixo não parecia um show para Fina. Danilo parecia sinceramente desapontado por tê-la perdido. No entanto, eu queria acreditar que ele realmente me escolheu como sua futura noiva, que papai não precisou convencê-lo a fazer isso.
- Tudo bem? - ele perguntou. Eu forcei um sorriso.
- Sim.
- Ótimo. - Ele levantou e por um momento nossos olhos se encontraram novamente. Sua boca se apertou de um jeito que eu não entendi, então ele se virou e saiu.
Olhei para minhas mãos, dividida entre excitação e decepção. Balançando os dedos, me perguntei quando ganharia um anel de noivado. Fina ganhou o dela imediatamente quando nossos pais decidiram o vínculo.
Mas talvez desta vez eles esperassem. Seria mal visto um compromisso se tornar público tão pouco tempo depois que Fina foi salva.
Eu levantei e fui para a minha cama. Peguei meus bichos de pelúcia e os joguei no chão, depois tirei alguns pôsteres embaraçosos de cavalos das minhas paredes. Depois de remover alguns vestidos com babados do guarda-roupa e colocá-los na pilha de bichos de pelúcia, desci as escadas correndo para pegar um saco de lixo. Danilo queria alguém tão equilibrada quanto minha irmã. Eu não poderia mais agir como uma garotinha se quisesse que ele me desejasse.