Capítulo 4 Adelyn

Os dias de Daphne passavam tranquilamente, naquela semana só iria trabalhar na quinta e sábado, apesar da vida não ser muito generosa com ela, apesar de nao ter conhecido seus pais, nunca desistiu dos seus sonhos, as vezes se perguntava porquê os pais a abandonaram num orfanato, pra ela era difícil lidar com essa rejeição, será que os pais não tinham condições financeiras ou ela era um estorvo na vida deles por isso a deixaram no orfanato?? Eram tantas questões que precisavam ser respondidas, mas nunca haveriam respostas, nunca foi procurada, nunca sequer ligaram para saber como ela estava,

apesar de tantos infortúnios continuava em pé, nada e nem ninguém a faria desanimar.

Aproveitou os dias que não tinha ensaios para visitar algumas universidades que ofereciam licenciatura em design de moda, e agora que trabalhava durante a noite podia arranjar tempo durante o dia para ir à faculdade.

Podia conciliar os estudos com os ensaios que tinham de ser feito durante a semana antes da apresentação, pra ela nada era mais importante que realizar o sonho de se transformar na maior designer e estilista do país.

Na quarta-feira foi no orfanato onde cresceu visitar sua educadora Adelyn, já havia um tempo que não a visitava e estava morrendo de saudades.

- minha menina, que bom vê-la, há quanto tempo - disse Adelyn lhe dando um beijo e abraço.

- Sim nana senti saudades suas, como vão as coisas? As crianças não tem te aprontado muito? - perguntou Daphne lhe abraçando de volta.

- Essas crianças são umas danadinhas, se parecem com uma que conheço quando era nova - respondeu Adelyn sorrindo e piscando o olho.

- Ahh nana eu sempre fui comportadinha, não minta pra mim - disse Daphne sorrindo de volta.

- e continua comportada? a Elouise ainda não te desviou?

- Não fala assim nana, até parece que você tem bola de cristal, agora estou trabalhando como stripper no club que Loui trabalha.

- Porquê você está fazendo uma loucura dessas Daph? A Loui eu até entendo e não me surpreende em nada, desde criança sempre foi rebelde e com ideias próprias, mas vc?? O que está acontecendo com você meu Deus? - perguntou Adelyn com o olhar triste.

- Ai nana aconteceram tantas coisas, eu perdi meu emprego e estava desesperada, a vida está difícil aqui e eu não tive opção, preciso de dinheiro para me manter e para pagar a universidade.

- Mas isso não é uma justificativa Daph eu não me conformo, você sempre foi uma menina tão centrada e agora está se desviando do caminho certo...... ahh minha menina como isso foi acontecer....

- Fica calma nana isso é temporário, eu só preciso conseguir pagar toda a licenciatura e adiantar algumas contas e eu vou deixar esse emprego eu juro - disse ela segurando a mão de Adelyn docemente.

- Não tem como ficar calma, mas eu confio em ti e sinceramente espero que isso termine logo, não faz o seu perfil ficar dançando por aí para esses homens idiotas e pervertidos.

- É verdade, eu fico surpreendida com a quantidade de homem pervertido que há nessa cidade, eles até ficam jogando um monte de dinheiro pra gente, acho que eles não têm coisa melhor pra fazer com o dinheiro, mas também com o tanto de grana que recebem devem ser só migalhas o que ficam lançando.

- Humm, sei.... mas eu sinto que tem algo tirando o teu sono, o que é??

- ahh nana você me conhece tão bem, nem consigo te esconder algo.

- Pois é, vai abrindo essa boquinha aí que eu quero saber tudo.

- É que tem um homem, que frenquenta o club...... ele me beijou, e eu senti coisas que nunca tinha sentido antes sabe, eu me sinto culpada com tudo isso por causa do Thomas.

- É mesmo, tem o Thomas.... você não lhe contou sobre o novo emprego certo? Daph isso não vai acabar bem - disse Adelyn preocupada.

- Eu vou resolver nana, como não sei mas vou resolver.

- Espero que sim, mas e esse homem que te beijou? Se ele tentar de novo?

- Se ele tentar de novo eu o mato!! Ele não tem nenhum direito de fazer isso.

- Tudo bem meu amor, vamos sair e comer um lanchinho? Hoje é meu dia de folga e eu adoraria sair um pouquinho.

Daphne e Adelyn saíram e passaram a tarde juntas, a muito que não se viam e precisavam colocar a conversa em dia, Adelyn não tinha muito a contar, desde que perdeu seu marido não se envolveu com mais ninguém, decidiu dedicar a vida a cuidar das crianças órfãs e até se mudou para viver no orfanato, Daphne por sua vez não parava de falar sobre os seus sonhos, e em como faria até o impossível para se formar e ser reconhecida em todo país, falava também do club e o quanto aqueles caras eram loucos, era tudo novo para ela, falava até da decoração, nunca viu tanto luxo a vida toda.

Depois de passarem o dia juntas despediram-se e Daphne voltou ao seu apartamento, no dia seguinte iria ao club trabalhar, e já estava ficando nervosa só de imaginar na hipótese de encontrar aquele homem de novo, mas ela iria enfrentá-lo..... enfrentaria quem quer que fosse tentar desrespeita-la, não é porque ela estava trabalhando num stripp club que ela não merecia respeito, ninguém tinha o direito de ultrapassar os limites com ela.

A semana estava passando rápido para Édouard, por causa do novo projeto ele andava muito ocupado, era um projeto que seria investido milhões de dólares, a ideia era criar um número limitado de anéis e colares de diamante rosa, para uma pequena clientela...... era importantíssimo priorizar a qualidade, exclusividade e elegância das joias, por isso exigiu que os designers refizessem o esboço das joias, a classe social alta era conhecida por adquirir produtos refinados de alta qualidade e acima de tudo exclusividade.

Era quinta-feira e naquele dia tinha uma reunião com o fornecedor que estava tentando tirar proveito da escassez cobrando o triplo do valor normal.

Alguém bateu na porta do seu escritório.

- Entre.

- desculpe senhor, vim informar que o Sr. julius já se encontra aqui para a reunião marcada.

- por favor dirija-o para cá, vou atende-lo aqui.

- tudo bem - disse sua secretária e foi buscar o fornecedor.

Entrou um homem de meia idade com aparência asquerosa.

- Boa tarde senhor Édouard - disse o homem oferecendo a mão.

Édouard primeiro o olhou de cima pra baixo e só depois o ofereceu a sua mão, estava sendo educado para ver até onde o homem seria capaz de chegar para lhe extorquir.

- Boa tarde senhor Julius, por favor sente-se.

- Obrigado.

- Então, fui informado que o senhor pediu esta reunião, alguma novidade?

- Sim senhor, já tenho a quantidade certa de diamantes rosa que o senhor pediu.

- Muiito bem, e a quanto vai ser?

- É aquele preço que falei com o seu director financeiro senhor, 10 milhões de dólares por quilate.

- O senhor enlouqueceu?? Ou devo presumir que está tentando me roubar? - perguntou Édouard num tom sombrio e frio de gelar até a alma.

- Como assim tentando lhe roubar? O senhor sabe que diamante rosa são raros.

- Sei muito bem que é raro, mas me cobrar o triplo do preço normal não é roubo??

- Bem, eu... n-não estou cobrando triplo senhor, 10 milhões é o preço normal.

- Como ousa tentar me enganar e mentir descaradamente? Saí já do meu escritório - disse Édouard pegando Julius pela gola e o empurrando para fora da sala - e não volte a pisar aqui seu imbecil.

Édouard não permitia que o fizessem de bobo e aquele senhor estava tentando tirar vantagem dele, mas tudo foi descoberto antes de se efetuar os pagamentos.

O dia foi cansativo pra ele, foi para sua cobertura mais cedo, tomou um banho e saiu pra jantar..... estava com muita vontade de ver aquela stripper mascarada de novo, mas preferiu adiar a sua visita no club para o final de semana.

Daphne foi ao club com Elouise, apesar de aparentar estar calma, por dentro estava morrendo de tão nervosa que estava, perguntava a si mesma se Édouard iria ao club, a ideia de vê-lo novamente a deixava nervosa, principalmente depois de terem se encontrado por acaso no restaurante francês..... iria usar a máscara naquela noite também, não importa qual era a opinião do gerente.... não iria arriscar ser reconhecida por ele.

Ela sabia que não podia se esconder eternamente mas quem sabe depois de algumas semanas ele se esquecia totalmente do rosto e não a reconhecia.

Naquela noite Édouard não foi ao club e ela agradeceu aos céus, no fundo sentiu uma pitada de decepção mas era melhor assim, cada um no seu mundinho.

Para sua sorte ninguém havia lhe requisitado para um show privado naquela noite, tudo que precisava fazer era dançar para plateia e sorrir um pouco para eles, era importante demonstrar boa disposição sempre pois disso dependia seu sustento agora.

O celular chamou enquanto ela retocava a maquiagem, era Thomas..... o sentimento de culpa invadiu-lhe assim que viu o nome escrito na tela do celular.

- Oi Thomas, tudo bem?

- Olá Daph, eu estou bem e vc? E esse barulho abafado de música? Onde você está?

- Estou bem, ahmm esse barulho é a Loui, acho que está ensaiando na sala, sei lá.

- Ham ok, sei que já está um pouco tarde mas eu gostaria de vê-la, tenho saudades.... desde domingo que não a vejo.

- Podemos deixar pra amanhã? É que estou exausta e já estou pra dormir.

- Tudo bem, então amanhã eu te pego no teu trabalho.

- N-não precisa, amanhã irei sair cedo do trabalho, pode me buscar em casa - mentiu ela.

- Sério? Desde quando teu chefe vos deixa sair de cedo? Ele sempre vos escravizou.

- Ahh é que entrou um novo gerente no restaurante e ele é gente boa, muito legal.

- Está certo, então até amanhã.

- Até amanhã Thomas, bjs.

Ufa, pensou ela, dessa vez tinha escapado.... mas não iria conseguir sustentar essa mentira por muito tempo..... ou contava a verdade ou terminava com ele, na mesma iriam terminar pois nenhum homem em sã consciência aceita sua namorada/mulher trabalhar num cabaré se exibindo toda.

Na manhã seguinte Daphne foi ao shopping, fazia um tempo que não se mimava com algumas roupas e sapatos novos, com o salário que recebia como garçonete mal dava pra fazer as unhas, que dirá de comprar roupas? Mas agora tinha umas boas gorjetas dos clientes que lançaram dinheiro nas suas 2 apresentações no palco, comprou várias peças lindas e depois foi para casa se preparar e esperar por Thomas, iriam ao cinema assistir algum filme, Thomas chegou e tocou a campainha.

- Oi Thomas, como você está?

- Olá Daph, bem e vc?

- Estou bem, podemos ir??

- Não, posso entrar? antes eu gostaria de perguntar algo - disse Thomas sério.

Meu Deus, será que tinha sido descoberta?? Ela já estava inventando uma desculpa na sua cabeça, porquê não contou quando teve oportunidade, porquê?? Agora teria de enfrentar as consequências.

- Podes entrar Thomas, aconteceu alguma coisa?? - perguntou ela nervosa.

- Sim, eu quero saber porquê você nasceu tão linda?? É que wow você está deslumbrante hoje, esse vestido é novo? - perguntou ele sorrindo

- Para Thomas, você me assustou..... pensei que tinha acontecido alguma coisa, é novo sim - respondeu ela com ar de alívio.

- O que teria acontecido? Estava só criando suspense, realmente estás muito linda hoje.

- Obrigada, agora podemos ir?? O filme já vai começar.

- Claro, podemos.

Daphne e Thomas foram ao cinema, depois foram jantar, Thomas era tão atencioso com ela.... mas ela se perguntava porquê não sentia a mesma emoção que sentiu quando Édouard a beijou?? Chegava a ser ridículo um desconhecido despertar coisas que o próprio namorado não despertava.

Enquanto pensava sobre isso escutou uma música tocando, um dos cantores lhe ofereceu um buquê de rosas vermelhas, Thomas havia chamado um grupo que fazia serenatas.... enquanto o grupo cantava Thomas tirou uma caixinha do seu paletó.

- Daphne William, aceita se casar comigo?

Casar?? Como assim ele queria casar? Logo agora que as coisas estavam tão complicada pra ela, estava ocultando tantas coisas que sentia-se sufocada, estavam em público e não podia humilhá-lo dizendo não, eram tantos anos juntos que ele não merecia passar por isso.

- Sim, eu aceito - disse ela estendendo a mão pra ele colocar o anel.

Thomas colocou o anel e a beijou, e lá estava de novo aquele beijo morno lhe lembrando que Édouard beijava muito melhor, era um Deus do beijo, enquanto Thomas seu namorado, era um mero mortal..... Édouard exalava masculinidade e beleza, era viril e ela sabia disso, qualquer mulher se jogaria aos seus pés, mas ela não era qualquer uma e sua integridade não era algo a se discutir.

- O que foi Daph?? Não pareces feliz com o meu pedido - disse Thomas.

- Não é isso Thomas, claro que estou feliz como podes pensar que eu não estaria feliz? Só estou muito emocionada, não esperava por isso hoje mas foi uma surpresa muito agradável - mentiu ela.

Agradável? Não seja mentirosa, você devia ter vergonha na cara....acusou sua mente, meu Deus minha consciência agora tem vida própria pra ficar de deboche pra cima de mim?? Pensou ela.

- Tudo bem, você está muito aérea hoje..... vamos terminar o jantar e eu te levo pra casa - disse Thomas.

Assim que terminaram o jantar Thomas a levou pra casa, mal se despediram Daphne sentiu um alívio enorme tomar conta dela, se antes já sentia-se incomodada por estar ao lado dele mentindo, agora sentia-se sufocada...... duma ou de outra forma tinha de resolver essa situação.

- Que anel é esseeeeee??? - perguntou Elouise fazendo o maior drama.

- Thomas me pediu em casamento, ai amiga isso vai de mal a pior - disse ela.

- Daph você tem de resolver essa situação logo, porquê você aceitou o pedido nessas circunstâncias?

- Mas como vc eu ia negar num restaurante lotado e com todo mundo nos olhando?? Seria humilhação de mais e ele não merece, ele é tão gente boa e eu estou sendo injusta com ele - respondeu Daphne enquanto olhava no anel.

- Pois é, não tinha como.... mas trate de resolver isso logo antes que se transforme numa gigante bola de neve.

- Prometo que vou resolver, só preciso de um tempo - respondeu ela pensativa.

- tudo bem, eu vou dormir..... amanhã é dia de trabalho e preciso descansar a minha beleza - disse Elouise - você devia fazer o mesmo.

- Sim Loui, vou descansar também.... que Deus me dê paciência para suportar aqueles babacas do club - disse Daphne pegando nas têmporas.

- Uma hora você se acostuma, então até amanhã, beijinhos.

- Até amanhã Loui, durma bem.

            
            

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