Capítulo 2 Um (Parte dois)

- Uau! – O garoto sorriu, colocando uma das mãos na frente da sua boca. – De longe, você é a pessoa mais engraçada que vi durante todo esse tempo.

- Você é um espírito? – Hazel se aproxima e dá um tapa no espelho.

- Não! – O rapaz respondeu com um leve sorriso.

- Um monstro! – Questiona.

- Não...

- Uma alucinação? – Hazel coça os olhos mais uma vez. – Eu sou maluca? Eu estou do jeito que a clínica psiquiátrica gosta?

- Clínica psiquiátrica? – O menino pergunta, atento.. – O que é isso?

- Esquece... – Hazel revira os olhos. – Já sei! Você é um espelho falante, do tipo "espelho, espelho meu... "

- Calma... – O garoto do espelho sorri gentilmente.

- Calma? Eu estou falando com algo que eu nem faço idéia se é real, e você quer que eu fique calma? – Se senta na cama e observa os movimentos do garoto.

- Oliver...

- O que? – A garota tomba a cabeça, confusa.

- Oliver Martin... Meu nome! – Sorriu gentilmente.

- Hazel... – A ruiva sorriu. – Como você foi parar aí?

- Um feitiço...

- Então é tipo, "espelho, espelho meu" mesmo... – Responde.

- Bom... – O garoto pausa por uns segundos. – Uma bruxa me prendeu aqui por eu não aceitar me casar com ela.

- A quanto tempo isso aconteceu? – Hazel se aproxima do espelho, mais confiante.

- Estamos em 1985, certo?

- Isso!

- Um século! – O garoto completa.

- E por que você parece tão jovem? – Hazel questiona. - Quantos anos você tem?

- Ela me congelou no tempo... É como se eu tivesse 19 anos ainda... mas é só acrescentar 100 anos. – O garoto do espelho abaixa a cabeça. – É uma maldição. Eu passo de espelho em espelho, me apaixonando pelas garotas que vejo através deles, elas não podem me ver, e por isso, eu sempre acabo de coração partido, e aí, eu pulo para o próximo. Só posso trocar de espelho, quando eu partir meu coração. Por hora, fico preso a elas... Então ou eu me tranco na caixa de espelhos ou eu sofro por amor... Não sei qual é a pior parte da tortura.

- Então você pode ir embora de coração partido... Revira os olhos. – Eu tenho namorado!

- É por causa dele que você estava chorando? – O garoto olha nos olhos da ruiva. - Você não me parece tão indelicada. Pelo menos, não quando ama alguém...

- Enfim... – Hazel coça a cabeça após perceber que o jovem notou algo de sua personalidade. – Me fala sobre a maldição.

- Você... Esse lugar... Me parecem familiar.

- Eu tenho certeza de que eu nunca te vi. – Hazel responde séria.

- Mesmo assim... Eu já estive aqui antes. Só não me lembro ao certo o que aconteceu aqui.

- Tem mais informações? - Olha o garoto atentamente.

- Você pode me ver... – Oliver completa. – Apenas outra garota conseguiu me ver... E fazem anos... Décadas.

- Como essa maldição pode ser quebrada?

- Se uma bruxa se apaixonar por mim... – Silencia-se por alguns segundos. – Ela pode me tirar do espelho que estou preso.

- Não conte comigo para isso... – Hazel responde. - Não sou bruxa.

- Mas me conte... – O garoto coloca as mãos na parede do espelho. – Por que estava chorando?

- Quer mesmo ouvir?

- Tenho todo o tempo do mundo... – Oliver sorriu, abaixando-se e sentando no chão.

- Hoje é meu aniversário, e... – Hazel sente uma lágrima escorrer. – Definitivamente, foi o pior dia da minha vida. Aquele idiota... Me abandonou. Logo hoje...

- Que droga...– Oliver revira os olhos, apoiando seu cotovelo no joelho, e sua cabeça em sua mão.

- Como se não bastasse... – A ruiva dá um soco no chão. – Eu vi ele beijando a líder de torcida. Aquela vadia.

- Acho que a gente pode fazer o final desse dia ser um pouco mais leve. O que acha? – Oliver deu um sorriso sugestivo.

- Você está preso em um espelho... – A garota se encosta em sua cama olhando para o rapaz. – O que você pode fazer por mim?

- Sei fazer poemas... – Franze a sobrancelha e faz um movimento que mostra sua covinha na bochecha. O que fez um sorriso espontâneo sair do rosto de Hazel. – O que acha ?

- Bom... – A garota deita-se na cama, olhando fixamente para o garoto através do espelho. – Acho que não me resta nada além de sua companhia, então... Sinta-se livre para me deixar emocionada. Estou te ouvindo...

Oliver clareia a garganta, dá um sorriso gentil e em seguida inicia:

- A moça disse, olhando para os próprios pés, ao mergulhar num oceano raso:

"Nunca se esqueça de não implorar pelo mínimo"

Misteriosamente sumiu, afogou-se em pensamentos

Inundada pelos sentimentos que se privou de sentir

Sucumbiu aos fracos de coração que mesmo frente ao oceano, mal vêem uma simples poça

Se a moça tivesse olhado pra cima teria visto o barco que estava lá no horizonte

Mal sabia ela que se aguentasse mais um pouco, por mais inalcançável que parecesse

O que ela precisava logo estaria à sua frente.

Restaram apenas suas palavras jogadas ao vento...

"Nunca se esqueça de não implorar pelo mínimo"

Hazel olhou para o jovem alto que tinha um olhar doce, e ao respirar fundo, pensou se o que ele havia dito não faria sentido a respeito de tudo que ela estava passando. Todas às vezes que pediu para que Jasper dissesse que a ama, e todos os pedidos que foram recusados. O garoto não diz nada e fica apenas observando o olhar reflexivo da ruiva, esperando que ela quebre o silêncio. Depois de minutos ecoando pelo quarto apenas um ruído baixo, a ruiva finalmente diz:

- Nossa... – Olha para o espelho novamente. – Isso me fez pensar em algumas coisas. Mas apenas pensar. Não consigo deixá-lo. É mais forte do que eu. Eu o amo!

- Você se sente livre? – Oliver questionou, tendo apenas como resposta o bocejo de Hazel, que levantou-se para apagar as luzes.

- Boa noite, Oliver! – A garota exclamou após apagar as luzes.

- Estarei aqui, se precisar! – Oliver respondeu partindo em seguida.

Hazel sorriu satisfeita, abraçando seu travesseiro e lembrando-se de cada palavra dita por Oliver. A sua doce voz ecoava em sua mente, mesmo depois de um tempo sem ouvi-lo. Hazel não sabia identificar ao certo o que sentia, mas no fundo, sabia que provavelmente a causaria menos danos do que Jasper causava no momento. Eram diversas perguntas e questionamentos que apenas o tempo poderia responder para a garota.

O quarto estava escuro, estava silencioso. Mas depois de muito tempo, finalmente Hazel se sentia em paz. Paz essa, causada pelo estranho menino do espelho. Algo que deveria assustá-la, mas deixou-a fascinada, e talvez encantada pelo que viu no lugar de seu reflexo. A garota tentava fechar os olhos e dormir, mas tudo que ela via, mesmo de olhos fechados, era aquele sorriso gentil, onde se depositava uma covinha de acordo com seus movimentos. Não podia ser possível, mas Hazel não fazia idéia do sentimento que o jovem misterioso que apareceu após um dia caótico iria proporcioná-la.

A garota finalmente sentiu-se sonolenta após ficar por horas olhando na direção do espelho, em meio ao escuro, mergulhando em sua imaginação. Ela não conseguia entender como um dia tão ruim, poderia ter se tornado, mesmo que por mais curto que o momento fosse, em um dia que talvez fizesse-a finalmente entender o que realmente precisa.

A garota sabia que no dia seguinte iria encontrar Jasper em algum lugar, era típico do jovem magoá-la e se desculpar com flores. Mas talvez, só talvez... Essas flores não importassem mais.

            
            

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