Capítulo 4 Dois (Parte dois)

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Após o toque do sinal de entrada, todos seguiram para as suas devidas salas, e o trio adentrou a porta onde o professor de Matemática já lhes esperava.

- Atrasados de novo? – O professor Olav Davis, que era pai de Adam, olhou em sinal de reprovação para os três amigos.

- Bronquinha do papai! – Hillary Campbel debocha do garoto, sussurrando para as amigas que sempre sentavam juntas. Porém, Hazel observava os movimentos da sua boca, e assim que leu seus lábios, levantou o dedo do meio em direção ao quinteto.

- Ai que garota estúpida... – Hazel revira os olhos colocando sua mochila na mesa, e em seguida senta-se na primeira cadeira à frente, junto com os dois amigos ao lado.

- Bom dia, meus alunos! – O professor Olav sorriu e olhou para cada um dos alunos. – Hoje vamos falar sobre a importância da matemática em nossa vida.

- Com certeza, é mais importante que a Hazel na vida de qualquer pessoa. – Campbel que tinha cabelos longos, era alta e magra, faz um coque enquanto fala. – Tipo... Cem por cento de certeza.

- Cala a sua boca! – Hazel vira para a garota que sentava no fundo da sala. – "Doutora".

- Crianças... – O professor tenta acalmar os jovens, sem sucesso.

- Do que adianta ser filha de uma pessoa tão importante se você é uma garota tão mesquinha... – Megan não se contém e responde.

- Se eu fosse médico, como seu pai... – Adam sorri irônico. – Eu jamais salvaria a sua vida.

- Adam! – Olav bate na mesa de seu filho. – Para! Chega, todos vocês. Mais uma palavra ofensiva, eu suspendo todos vocês não agora... Mas em semana de prova!

- Tudo bem... – Hazel revira os olhos.

- Ridícula. – Megan sussurra no ouvido de Adam que concorda com a cabeça.

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O Alarme de saída finalmente ecoou por todo o Colégio Regional, e cada aluno saiu imediatamente assim como o trio de amigos e o quinteto perverso.

- Querem ir lá para casa? – Adam sorri. – Podemos jogar RPG.

- Eu topo. – Megan sorriu.

- Eu preciso fazer uma coisa... – Hazel sorri pensando no rapaz do espelho.

- Que sorriso é esse? – Megan olha para a amiga, confusa.

- Uma hora eu conto para vocês. – A ruiva responde dando uma piscadinha.

- Lee... – Adam segura a mão da amiga. – Sem segredos. Lembra?

- Não é segredo... – A menina observa os amigos e olha para os próprios pés em seguida. – Vocês só não entenderiam.

- Você pode tentar... – Meg responde.

- Outra hora... Tudo bem? – A garota acelera os passos, deixando aos poucos seus amigos para trás. – Preciso ir!

A garota corre, se afastando dos dois amigos, que ficam confusos a respeito do que estaria acontecendo. Por que Hazel parecia mais distante? Havia mais alguma coisa acontecendo?

Hazel correu até a fazenda, e ao chegar e abrir a porteira, vê seu pai acariciando uma vaca que gemia em tom fraco, pois estava desnutrida e prestes a morrer.

- Pai! – A ruiva se aproxima, abaixando-se perto do animal.

- Não há o que fazer... – Oswald abaixa a cabeça. – A morte e a escassez estão cada vez mais intensas.

- Eu sinto muito, papai... – A garota abaixa a cabeça, tristonha.

- Sua mãe fez ensopado... – O pai da menina tenta animá-la. – Vai almoçar, minha filha.

- Não estou com fome... – A garota se levanta. – Mas talvez seja útil me alimentar.

- O que houve? Ainda triste pelo Jasper? – Oswald olha nos olhos da filha.

- Já nos resolvemos... - A garota hesitou em contar tudo que aconteceu pois sabia que o pai não aprovaria as atitudes do garoto.

- Então vá se alimentar! – O pai belisca a barriga da ruiva dando um sorriso gentil. – Minha bichinha está tão sequinha.

- Bobo! – Hazel sorri se afastando e correndo para dentro de casa.

Ao entrar na sala, podia sentir o cheiro de legumes e carne que invadia o local, então seguiu até a cozinha, colocou seu prato, olhou ao redor para conferir se sua mãe estava ali, mas ela percebeu que Victória Sinclair poderia estar no curral, então sentou-se à mesa, sozinha, almoçando apressadamente para que pudesse finalmente ir para o quarto.

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Sinclair entrou no quarto e trancou a porta e as janelas imediatamente, conferiu se seus pais estavam distraídos e seguiu até o espelho, batendo duas vezes no objeto.

- Oliver? – A garota disse em tom duvidoso.

- Olá raio de Sol! – O rapaz aparece no espelho, com um piscar de olhos. – Como foi seu dia?

- Foi ótimo, até! – Hazel afirma. – Exceto pela discussão na sala de aula.

- Discutiu com quem? – Oliver pergunta, atento.

- A vadia que beijou o Jasper... – Completa.

- Mas vocês discutiram por causa dele? – Questiona indignado.

- Não! – Senta-se na beira da cama. – Na verdade ela só humilhou minha condição financeira...

- Nossa... – O garoto se encosta para trás e observa a garota. – Mas e você e o... Jeff?

- É Jasper! – Revira os olhos e olha para o rapaz. – Mas a gente se acertou...

- Como? – Pergunta.

-Olha! – Hazel puxa da sua mochila o buquê que já estava amassado. – Ele me deu essas flores. Já murcharam... Mas é culpa desse calor infernal.

- E isso foi suficiente para perdoá-lo? – Martin questiona novamente.

- Não o suficiente... – Sorri. – Mas por agora, é o bastante.

- Você merece mais do que apenas flores como pedido de desculpas... – Oliver sorri gentilmente antes de desaparecer do espelho.

- Volta aqui! – A garota bate no artefato algumas vezes até acreditar que ele não voltaria. – Droga. Por que você joga as coisas no ar? Idiota!

- Você quer mesmo que eu fique? – Oliver aparece novamente e dá um sorriso.

- Incrivelmente, sim! – A garota sorriu. – Eu até deixei de passar a tarde com os meus amigos...

- Para ficar comigo? – Oliver se impressiona.

- Sim... – A ruiva se aproxima do espelho. – Sua companhia ontem foi importante.

- É importante para mim que você esteja em paz... – Oliver senta-se no chão. – Agora me conta. Como é o mundo hoje em dia?

- Bom, - A garota sorri se aproximando do seu telefone azul que ficava próximo a cama. – Por isso aqui, a gente consegue falar com pessoas de onde quisermos.

- Telefone... Eles mudaram um pouco. – Olha confuso. – Ele faz um som esquisito, e eu observava as outras garotas falando por um desses. Não eram iguais, mas tinham a mesma função.

- Tecnologia... – Sorri.

- Tem isso aqui também – Hazel se aproxima do rádio e sintoniza uma estação qualquer que estava tocando Rock. – Conhece?

- Uau... – Oliver sorri. – Mas que música agressiva.

- Rock... – A garota sorri. – Eu gosto. Mas escuto outras coisas.

- Fascinante... – Oliver se impressiona. – Estou tanto tempo preso aqui, aconteceu tanta coisa.

- O que você fazia antes desse espelho?

- Eu recitava poemas em tabernas, e para a Bruxa que me prendeu aqui, além de trabalhar como lavrador e ajudá-la com as plantações de sua fazenda.

- Que incrível! – A garota sorri. – Então você sabe vários poemas.

- Tenho milhares em minha cabeça... – O garoto põe o dedo na lateral da testa. – Tudo memorizado. Por um século.

- Eu sinto muito por você estar preso aí... – A garota se aproxima do espelho, colocando a mão no vidro. – Eu adoraria poder te ajudar. Porém eu não sei como, mas só para começar, eu amo outra pessoa. E sabe... Eu não sou bruxa.

- Eu já disse, - O garoto sorriu gentil, encostando através do espelho nas mãos de Hazel. Mesmo que eles não pudessem realmente se tocar, a ruiva sentiu um calafrio invadir todo o seu corpo, sentimento esse que Oliver também experimentou, fazendo os dois sorrirem espontaneamente. – Eu não vou desistir de você tão fácil!

            
            

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