Capítulo 5 Três (Parte um)

Hazel havia passado a tarde em frente ao espelho, com as janelas e portas fechadas. Fazendo com que seus pais estranhassem seu comportamento isolado, porém os dois sabiam que se ela precisasse, com certeza os chamaria. Estava escurecendo, o pôr-do-sol chegava ao seu fim e enquanto Hazel conversava com Oliver Martin, a garota escuta três batidas fortes na Janela do seu quarto, fazendo com que o rapaz do espelho imediatamente fuja daquele local, trancando-se novamente em sua caixa de espelhos.

O único lugar que ele poderia estar além do espelho que estivesse preso, e ainda assim, poderia escutar os sons ecoarem pelo local escuro. Um dos castigos da maldição era este: Não poderia ignorar a existência da garota do lado de fora.

-Hazel! – Jasper bate novamente enquanto chama pela ruiva.

- Espera! – Hazel dá um sorriso singelo, conferindo o espelho, em seguida abrindo as janelas.

- Por que você está trancada? – O garoto alto franze a testa, em sinal de confusão.

- Precisava ficar sozinha, um pouco... – Hazel sorri. – Estava cansada. Eu acho.

- Posso entrar? – O moreno coloca as mãos no peitoril da janela.

- Pode sim... – Hazel Lee aponta para a porta do quarto. – Mas passa pela porta. Ok?

- Ok... – O garoto estranha o comportamento menos intenso de Lee, afinal, ela sempre o recebia sorrindo, e pedia que pulasse pela janela, pelo simples fato de que não suportaria esperar ele adentrar a porta de entrada e a da sala, para finalmente, estar no quarto.

Hazel olhou para o espelho enquanto esperava Jones, e conferiu que Oliver não estava ali. Entretanto, não sabia que o garoto podia escutá-los. Mas ela havia guardado em sua memória o que Martin tinha dito sobre não implorar pelo mínimo, e decidiu observar o comportamento de Jasper. O que aconteceria se ela não ligasse para o fato de que talvez ele não se importe com ela?

- Você parece estranha. – O jovem que vestia uma calça jeans e uma camisa branca, e estava com o cabelo bagunçado e espalhado assimetricamente pela sua testa coloca a mochila em cima da mesa e se aproxima para dar um selinho na ruiva. – Está tudo bem?

- Está sim... – A garota coça a cabeça rapidamente, bagunçando seu rabo de cavalo que ainda estava feito desde antes da escola. – Só estou pensando em algumas coisas.

- Já até sei... – O garoto revira os olhos, mudando de humor em um segundo. – Você acha que eu não estou te dando amor suficiente e blábláblá.

- Como ele pode ser tão imbecil? – Oliver escuta pelo ambiente escuro, e cada palavra que Jasperpronunciava, o garoto sentia mais desprezo pelo moreno.

Hazel escuta a voz de Oliver ecoar através do espelho, fazendo-a olhar imediatamente para o artefato, para conferir, e não o viu ali.

- Hazel? – Jasper fala ferozmente.

- O que foi? – A ruiva torna a olhar para o jovem. – Desculpa.

- Você parece estar no mundo da lua... – Jasper segura a garota que o olhava pela cintura, dando um beijo em seu rosto. – Estou ficando preocupado.

- Não deveria! – Hazel refuta.

- Por que não? – Jasper franze o cenho e se afasta da garota.

- Você não se preocupou comigo quando estava beijando a Hillary... – A garota coloca as mãos na cintura, olhando para o espelho, para sentir-se confortável. – Não é mesmo?

- Isso! – Oliver vibra de dentro do quarto escuro, quando Hazel novamente ouviu sua voz e entendeu que ele estava ali. – Minha garota. Estou orgulhoso.

- Você vai mesmo tocar nesse assunto? – Jasperse joga na cama, sentando-se, batendo com as duas mãos em seus dois joelhos de forma agressiva. – Foi ela quem me beijou!

- Ah! – Hazel anda de um lado para o outro em frente a cama, por cima do tapete verde que ocupava o espaço até o banheiro enquanto dá uma risada irônica. – Você espera mesmo que eu acredite nisso? Qual é. Vocês estavam quase fu...

- Chega! – Jasper se levanta furioso, e seu rosto estava levemente vermelho.

- Foi você quem causou isso! – Hazel grita com o moreno. – Qual foi a última vez que você disse que me ama? Você lembra?

- Hazel... – Jones respira fundo, na tentativa de lembrar do momento.

- Não lembra, não é? – Hazel gargalha confusa. – Mas eu lembro. Fazem sete meses! Sete meses,Jasper!

- Hazel... Eu te amo. – Jasper refuta. – Mas, eu não acho que faça sentido repetir inúmeras vezes algo que você já sabe.

- Eu sei? – A ruiva pergunta indignada. – Você me deixou aqui... Sumiu. E aparece na festa que eu estava planejando ir, e beija aquela estúpida. No dia do meu aniversário!

- Eu achei que as flores eram suficientes. – Jasper olha para a garota.

- Flores foram suficientes por tanto tempo... – A garota deixa uma lágrima escapar e em seguida olha para o espelho, respirando fundo. – Mas, eu acho que elas poderiam ser suficientes, se você realmente me amasse.

- Quer saber? – Jasper olha furioso para a ruiva em seguida fala irônico. – Talvez eu não te ame mesmo! Sabe porque? Por que você é insuportável!"Me ama, por favor, diz que me ama!"

- Namorados fazem isso! – A ruiva sente seus olhos marejados e sua voz embargada.

- Quando a namorada não se comporta como uma criança... – Responde após dar um soco na parede.

- Quer saber? – Hazel grita. – Vá embora daqui! Talvez você precise arrumar uma namorada que não se preocupe com amor e seja apenas uma vadia. Pode ser exatamente a Hillary!

- Olha... – Jasper caminha até a porta saindo e batendo-a furiosamente. – Vou me lembrar disso.

- Adeus, seu merda! – Hazel grita o mais alto possível, o suficiente para seus pais olharem preocupados para a janela. Mas após entenderem o que havia acontecido, se sentiram em paz. Eles não aprovavam o relacionamento dos dois, apenas aceitavam pois não bastaria insistirem para impedi-la de amá-lo. – Nunca mais volte aqui!

Após observar que o jovem saía da fazenda, Hazel olhou para seus pais que se comunicaram apenas no olhar, e sabiam que a ruiva ficaria bem. Lee trancou novamente a janela e a porta do seu quarto, a espera de que Oliver aparecesse.

- O que foi aquilo? – Oliver aparece imediatamente após a garota sentar-se frente ao espelho, no chão.

- Eu quem pergunto. – Hazel tomba a cabeça. – Como eu escutei a sua voz e não pude te ver?

- Eu sempre estou nesse espelho. – Oliver senta-se e olha nos olhos da garota, através do artefato. – Pelo menos, enquanto eu estiver apaixonado por você.

- Você não me conhece... – Hazel refuta. – Como pode estar apaixonado?

- Faz parte da maldição. – Martin completa. – Literalmente quando te vi, eu me apaixonei. Mas me fale de você. O que aconteceu?

- Você ouviu... – A ruiva revira os olhos e se encosta na cama. – Você sabe exatamente o que aconteceu.

- E eu não poderia estar mais orgulhoso. – Oliver sorri gentil. – E o que vai fazer agora?

- Acho que não preciso de alguém por enquanto. – A garota responde animada. – Acho que já sei o que fazer.

- Me diga!

A garota levantou-se animada, virando-se para baixo da cama, e puxando uma caixa com alguns materiais de pintura, juntamente com alguns quadros brancos.

- Vou voltar a pintar!

- Você pinta? – Oliver sorri impressionado.

- Pintava, antes de namorar com Jasper. – A garota puxa alguns pincéis e tintas, conferindo se estava tudo ali. – Mas ele não gostava, então eu parei.

- Conselho rápido sobre o amor: - Oliver levanta o polegar direito e sorri. – O amor de verdade sempre vai amar quem você é. Você nunca vai precisar se moldar.

- Você é sempre tão intenso assim? – A garota balança a cabeça seguida de um sorriso.

- Eu acho que sim... – Oliver responde.

- É até bonitinho de se ver... Mas tendo em vista que você é literalmente do século passado, você é realmente um cavalheiro. – Olha para o rapaz que sorriu apaixonado. – Pelo menos dentro desse espelho bizarro.

- Você não imagina como eu queria sair daqui... – O rapaz sorri e tira seu chapéu, segurando com sua mão direita, fazendo com que os olhos da ruiva se iluminassem ao ver os pequenos cachos que se formavam em seu cabelo.

- Não existe outro jeito de quebrar a maldição? – Hazel questiona.

- Não... – O garoto abaixa a cabeça, balançando-a em seguida. – Mas eu me conformo se todos os dias eu puder conversar com você!

- Você não pode esperar que eu possa te salvar... – Hazel olha para o rapaz que ainda estava cabisbaixo.

- Mas posso esperar que se apaixone por mim... – O garoto sorri empolgado. – Talvez ser amado seja o suficiente.

- Mas o amor não é suficiente... – Refuta.

- Para uma pessoa que está há um século em uma caixa de espelhos, é mais que suficiente.

O silêncio repentinamente ecoou pela sala, o rapaz desapareceu do espelho. Hazel sabia que ele estava ali, sabia que podia chamá-lo e ele simplesmente apareceria. Porém a garota hesitou em chamá-lo, deitando-se em sua cama, após abrir a janela de seu quarto para observar a luz do luar.

O clima em Ice Garden, mesmo que à noite, era quente e seco. Por conta disso, as pessoas constantemente tinham problemas respiratórios. Que era o caso da avó de Hazel, que contraiu pneumonia crônica há dois anos atrás. Cada dia a senhora ficava mais fraca, mas apesar de doente, Gertrude sempre mantinha um sorriso no rosto, assim como toda família Sinclair, apesar da instabilidade na fazenda.

A garota observava as estrelas, e pela primeira vez desde os 15 anos, sentiu-se livre. Livre paraser amada, mesmo que não fosse o momento. Mas sabia que estava livre do sentimento de insuficiência. Talvez os conselhos de Oliver realmente tivessem surtido efeito para a garota. Afinal, todos ao redor já haviam alertado sobre a índole do rapaz. Apesar de um jovem de personalidade forte e inteligente, ele não era um bom par romântico para a garota. Todos eram capazes de ver isso, exceto a garota, antes que Oliver aparecesse.

Hazel sorriu satisfeita ao ver uma estrela cadente passar, em um piscar de olhos, respirou fundo e fez um pedido:

- Que eu encontre um amor que seja alcançável!

Hazel olhou para o espelho, viu seu reflexo, e questionou silenciosamente qual era o motivo de ela estar sentindo falta daquele jovem cavalheiro. Ela não podia sentir seu cheiro nem mesmo tocá-lo. Mas ela sentia de alguma forma que ele poderia ser especial. Lembrou-se da sensação que sentiu ao tocar o espelho enquanto ele estava do outro lado. Seu pedido foi direcionado a Oliver, mas nem ela mesma sabia disso.

Já haviam passado semanas desde que Hazel desistiu de Jasper. A garota ia para a escola, interagia com seus amigos, mas eles podiam notar que a ruiva estava cada dia mais distante.

- O que está acontecendo? – Adam segura as mãos de Lee, seguido de um sorriso mútuo e espontâneo. – Você anda distante.

- Você precisa ver os cactos que plantei! – Megan sorriu animada.

- Aí – Hazel sorri. – Eu odeio praia, mas amo cactos.

- Acho que é uma boa- Adam pausa. – sair daquele quarto um pouco. A gente sabe que está triste pelo Jasper, mas precisa superar.

- Gente... – A ruiva segura os cabelos que estavam soltos, em seguida fazendo um coque folgado. – Eu estou bem. Sério.

- Então vamos ao jardim! – Ellie sorriu para os amigos que saíam juntamente do portão do Colégio Regional.

O trio caminha em passos rápidos até a estrada que levava até a praia, onde ficava a casa de pesca do pai de Megan. O sol batia na cabeça dos três, que olhavam ao redor e observavam as árvores vivas que ainda restavam pela reta.

Após um caminho demorado, os três finalmente puderam avistar a praia. Imediatamente, Megan corre até a areia, jogando sua mochila , indo até a água, mergulhando e nadando mar adentro.

- Você deveria tentar! – Adam sorri para Hazel.

- Eu vou afundar no primeiro segundo... – A garota retruca.

- Não vai.. – O garoto mais alto pega as mãos da garota, puxando até a areia. – Vamos... Eu te seguro.

                         

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