Capítulo 3 Começo de uma nova etapa

Capítulo 3

Atendi o telemóvel para evitar a conversa do momento.

- Sim? – atendi sem qualquer emoção.

- É assim que falas comigo passados meses de não me atenderes? – perguntou ele tentando brincar.

O meu melhor amigo era muito brincalhão, fazia piadas em praticamente todas as situações, principalmente para tornar os ambientes mais leves.

- Desculpa, mas não estou com disposição...

Sentei-me na cama e deixei claro á minha mãe que a conversa entre nós tinha terminado. Ela saiu com um ar triste para eu poder falar á vontade.

- Tu nunca estás com disposição rapariga. Quando é que te vou ver feliz de novo?

- Porque ligaste?

- Amanhã vamos a uma agência que um amigo meu me falou. E não aceito não como resposta, nem que tenha que te ir vestir e dar-te banho.

- Não me apetece ir. Vou ficar em casa.

- Não vais não, queres ganhar dinheiro certo?

- Sim, mas o que vamos fazer a essa agência? É onde?

- Em Lisboa, vamos fazer figuração em novelas. Vais ver que vais gostar, para além de ganhar dinheiro aparecemos na televisão, vai ser muito divertido!

Pensei por um bocado. Bem, eu tinha de fazer alguma coisa, não é? Também tinha de sair do precipício em que me encontrava.

- Está bem eu vou. – respondi eu sem muita vontade.

O Santiago fez uma festa do outro lado da linha. Tive de afastar o telemóvel do ouvido.

- Então amanhã estou aí às 10h. Até amanhã. Beijinhos

- Está bem. Até amanhã. Beijinhos

Assim que desliguei a chamada a minha mãe entrou no quarto.

- Boa filha, vais fazer alguma coisa e sair deste quarto. Fico muito contente!

Deu-me um beijo e deixou-me com os meus pensamentos. Não sabia como iria conseguir reunir forças para seguir em frente, mas tinha de ser. Não podia continuar a viver assim. Sabia que a partir de amanhã ia começar uma nova etapa da minha vida.

Com muito custo, arrastei-me para a casa de banho e tomei um banho quente.

No dia seguinte, às 10h em ponto lá estava o Santiago a tocar à campainha. Durante algum tempo ele tinha desistido de lá ir a casa porque eu não queria ver nem falar com ninguém. Deu-me o espaço que eu precisava mas ia sempre falando com os meus pais. De vez em quando tentava ligar para o meu telemóvel com esperança que eu atendesse.

Quando me viu deu-me um abraço tão forte que fiquei quase sem respirar.

- Onde vais assim vestida? – perguntou ele olhando-me de alto a baixo com uma cara depreciativa.

- Qual é o problema da minha roupa? – olhei para mim própria e achava que até estava mais apresentável do que como me sentia por dentro.

- Fofa, vamos à Future Bright Produções, é uma agência que trabalha com a televisão lembras-te? Vem, eu ajudo-te.

Lá fui arrastada por ele para o meu quarto. Ele escolheu um vestido em vez das calças de ganga e da blusa simples que tinha. Depois de me ter deixado vestir, arranjou-me o cabelo num rabo de cavalo e fez-me uma maquilhagem simples.

Olhei-me ao espelho e quase chorei. Ele fez um milagre em mim. Estava com muito bom aspeto.

- Assim está bem, estás linda! – disse ele dando-me um beijo na bochecha.

- Obrigada Santi mas isto não será um exagero?

- Claro que não, para a inscrição vão tirar-nos fotos e temos de estar maravilhosos! – brincou comigo no espelho fingindo estar a fazer pose de foto.

- Está bem vamos lá.

Chegámos à agência e fomos encaminhados para uma sala de espera dando-nos uma ficha de inscrição para preenchermos.

Lá dentro havia várias secretárias com pessoas a mexer em computadores e outras pessoas a andarem de um lado para o outro atarefadas.

Passámos pelas secretárias para entrar numa salinha, mais pequena, que tinha câmaras, um cenário branco com um banco de pé alto á frente, próprio para tirar fotos.

Senti-me um pouco tonta com as poses que me pediram para fazer, mas fiz tudo o que me pediram.

Em seguida, fomos a uma das secretárias para nos marcarem trabalho. Explicaram que o restante seria marcado por telefonema.

Então ficou para o dia seguinte, íamos gravar no estúdio da RP, uma produtora da televisão do canal TPV para a novela Duplo Amor.

O meu melhor amigo estava tão entusiasmado que já não o conseguia ouvir, afinal íamos os dois juntos fazer o mesmo trabalho.

Custava-me sempre adormecer ultimamente, mas o que é certo é que nessa noite ainda foi pior. Sentia-me ansiosa nem sabia bem porquê. Essa sensação estava adormecida em mim há tanto tempo que quase nem a reconheci.

Ao fim de tantas voltas na cama, adormeci.

            
            

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