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Capítulo 4
No dia seguinte apanhámos o metro para o centro de Lisboa ás 7h da manhã. Sentia muito sono e estava acima de tudo, curiosa com o trabalho em questão. Não sabia se iria gostar ou se era mais uma coisa que iria fazer por obrigação.
Descemos na última estação e o Santiago estava tão entusiasmado que não se calava um segundo. Já me doía a a cabeça de o ouvir e ainda era só o começo do dia.
- Estou ansioso de chegar. Vamos ver aquelas celebridades todas. Vai ser espetacular! Não nos podemos atrasar despacha-te Mariana. Mais rápido...
- Tem calma, assim não te consigo acompanhar. O que é têm as celebridades de espetacular? São pessoas como as outras, mas que só querem é festas e andarem a mostrar-se aos outros. – disse-lhe eu revirando os olhos.
Sinceramente não gostava muito de pessoas famosas, achava que eram todas iguais, convencidas, arrogantes, supérfluas e materialistas. Nem nunca tinha tido sequer um ídolo. Claro que gostava de algumas bandas e cantores, mas a sua vida particular não me interessava minimamente. Tinha a minha para me preocupar.
Chegámos ao estúdio e estava uma rapariga á porta com uma pasta na mão que era a crowd, a responsável pelas pessoas da figuração. Era alta, cabelo ruivo preso num rabo de cavalo, olhos verde azeitona e tinha muitas sardas espalhadas na face. Vestia-se de uma forma simples com uns jeans e uma blusa de manga comprida e uns ténis. Chamava-se Rita e era muito simpática, perguntou-nos os nomes para apontar na folha quem já tinha chegado.
Eu que nunca tinha visto um estúdio de televisão na minha vida, fiquei de queixo caído. Era enorme, era dividido em vários edifícios, cada um desses era um estúdio. O nosso onde iríamos gravar, era o número 5. Existia lá dentro também um outro edifício á parte onde era a cantina e o bar. Como ainda era cedo, parámos para beber um café no bar.
-Santi, isto é enorme. O que é que vamos fazer, afinal? Também gravamos juntamente com os atores?
Ele riu-se com a minha ignorância.
- Que raio de pergunta é essa? Que tontinha que tu és. Claro que gravamos todos juntos. Mas nunca viste novelas?
- Escusas de gozar comigo. – disse eu já meio chateada. – Por acaso não me lembro de ver nenhuma. Acho que só ia vendo quando era pequena. Mas isso é porque a minha mãe adora novelas. Vê quase todas, põem tudo a gravar e vai vendo nos tempos livres. Eu nunca liguei a isso. Se passar algum ator conhecido por nós tens de me dizer porque não conheço nenhum.
- Sinceramente, minha querida, não pareces deste planeta. Toda a gente já viu pelo menos uma novela na vida e conhece algum ator, até das revistas.
- Revistas? Isso então nem sequer olho, detesto. Só se fala das vidas dos outros. Se cada um se preocupasse com a sua, era bem melhor.
- Tu não sabes do que falas. É tão emocionante saber mexericos! – riu-se ele dando-me uma cotovelada. – ÁS vezes a nossa vida está numa fase menos boa, e saber das coisas dos outros faz-nos esquecer um pouco as nossas.
- Está bem, como queiras.
Entrámos finalmente dentro do edifício onde tinha o estúdio 5. Havia muitas portas e tinha dois andares. No andar de baixo existia também uma máquina de café. A Rita indicou-nos uma porta para uma sala grande no andar de cima a fim de colocarmos as nossas coisas e esperarmos que nos chamassem para gravar.
Arrumei a minha mala com as três mudas de roupa que nos pedem sempre que vamos fazer figuração, neste caso era roupa casual de inverno, por baixo da cadeira onde me sentei.
- E agora? – perguntei eu ao Santi.
- Agora esperamos. Só não sei quanto tempo. O meu amigo disse que por vezes isto é demorado. Podemos ter de ficar á espera de algum ator atrasado ou existir algum problema técnico, ou ainda, esperar que gravem as cenas que precisam de figurantes.
- Ah, que bom! – resmunguei eu afundando-me na cadeira. – Isso significa que podia ter dormido um pouco mais.
- Não sejas assim, estás aqui comigo, podemos ir conversando.
Entretanto, entraram mais duas pessoas. Dois homens mais velhos, por volta dos seus 40 anos. Descontraídos, bem-dispostos, conversavam com a Rita. Pelos vistos, conheciam-se todos.
As pessoas continuaram a chegar. Quando dei por mim a sala estava quase cheia. A maioria conhecia-se. Já deviam fazer aquilo á um tempo.
Vieram dizer-nos para vestirmos a primeira muda de roupa, estávamos prestes a ser chamados.
Fizemos uma fila, e sem fazer barulho para não incomodarmos ninguém, entrámos dentro do estúdio de gravação.
Aquilo lá dentro era um mundo completamente á parte de tudo o que já tinha visto. Enorme, cheio de cenários diferentes, pessoas de todos os tipos a andarem de um lado para o outros, câmaras, luzes, cabos, projetores, televisões, etc..
Percebi quem eram os atores porque já se encontravam no cenário e estavam a ser-lhes dadas instruções da cena que iriam gravar. Estávamos num cenário de um restaurante. Deram-nos as indicações onde iríamos ficar. Eu e o Santiago íamos ficar numa mesa com mais um dos homens mais velhos bem-dispostos.
Quando eu ouvisse a palavra ação, tinha de me levantar, sorrir para quem estava comigo na mesa e simular que ia á casa de banho, ficar para lá daquela porta uns 40 segundos e voltar a sentar-me no mesmo sítio. Muito simples, mas as mãos tremiam-me, nem sei bem porquê.
Primeiro fazem a cena como ensaio e se correr tudo bem, então aí é que gravam. Toda a gente fez tudo corretamente, então só fizemos isto duas vezes. Admito que foi giro.
O homem que estava connosco chamava-se Paulo, explicou-nos tudo por alto, que tínhamos que fingir que estávamos mesmo num restaurante a conviver e conversar sem som.
O dia passou e tudo dentro do mesmo género. Sinceramente, enquanto lá estávamos não pensei em mais nada a não ser no que estava a fazer, o dia passou rápido. Acabámos por fazer amizade com o Paulo e com o amigo que se chamava Pedro.
Saí de lá animada e só tinha a certeza de uma coisa, queria ir fazer aquilo sempre que pudesse.