Teve momentos de filmagens onde ele teve que repetir posições e algumas falas anunciando a propaganda da marca e afins.
O trabalho era extenso então ele até nem se deu conta de que já tinha se passado umas duas horas que ele estava ali. Quem o avisou que as sessões daquele dia tinham terminado foi Max que apareceu com um lanche.
- Fui bem então?
- Você foi ótimo. – Ele elogiou e Albert sorriu.
De repente no camarim onde eles ainda estavam enquanto Albert estava vestindo as suas roupas, uma mulher madura invadiu ali toda afoita.
- Albert? Albert! Fiquei tão feliz quando soube que você estava aqui hoje...
- Moça, não é permitido que ninguém entre aqui sem permissão. Por favor, saia. – Max ficou na frente da mulher.
- Mas eu só quero falar com ele...
- Max, deixa que eu falo.
- Não não. Por favor, moça. Não me obrigue a chamar os seguranças. Ele insistiu e a mulher teve que se retirar não tão pacificamente. Max olhou pro Albert o fuzilando com os olhos. - Você quer mesmo dificultar o meu trabalho né!?
- A mulher parecia inofensiva... – Ele deu de ombros voltando a se vestir.
- Só que qualquer pessoa estranha que quiser falar com você tem que falar comigo primeiro.
- E se eu não quiser? Não posso falar com qualquer um agora?
- Não seja ingénuo, você sabe como esse mundo é perigoso. De boas intenções o inferno está cheio.
- Eu também estou cheio, só que não de boas intenções. – Albert saiu de lá tão apressado que Max não teve como alcança-lo.
As vezes ele não suportava Max e todo o resto do mundo, tinha coisas tão simples que ele queria ser capaz de fazer sem ter que ter alguém fazendo pra ele, aquela falta de privacidade era o cúmulo. Ele não suportava mais aquilo, enquanto da varanda de um compartimento vazio do studio, Albert ficou olhando pra lá embaixo, reparando nas pessoas que se movimentavam nas ruas tratando de suas próprias vidas, Albert as vezes só queria ter aquela liberdade como a que eles tinham, ele só queria ser uma daquelas pessoas... O seu celular vibrou com Max ligando pra ele, afinal ele tinha mais coisas pra fazer da agenda...
[...]
Naquela tarde Albert estava apresentando a sua proposta de inovação na empresa. A Williams Jowels era uma empresa de refinaria de pedras preciosas para jóias tanto femininas como masculinas, aquela empresa já estava na família do Albert há gerações, o fundador era o tataravô do Albert chamado Albert Gregory Williams em 1857, na época em que o mundo ainda era em preto e branco. O primeiro Albert da família era um garimpeiro trabalhando nas minas das terras áridas do leste do país quando sem muitas esperanças ele achou uma pepita de diamante bem por baixo no quintal da sua própria casa, tratava-se de uma grande usina ainda por ser explorada, poucos anos depois o homem visionário já tinha comprado a maior parte da terra daquela região humilde e deserta, uma indústria refinadora ia se formando ali, as especiarias de diamante que ele vendia começaram a se espalhar pelo condado, pelo Estado e pelo resto do país com seus filhos trabalhando em coesão com ele formando assim um negócio de família, Albert sabia daquela história porque seu pai contava pra ele quando ele era pequeno. E hoje em dia a Williams Jowels já detia um grande mercado, tinha filiais por todos Estados Unidos, Europa e Ásia, o nome dos Williams era prestigiada no mundo dos negócios. O pai do Albert sempre o lembrava da importância de continuar o legado de sua família visto que ele era o único filho do casal e fora um tio-avô que morava na Irlanda, eles eram os únicos Williams vivos.
O senhor Ernest Theodore Williams, sentado na sua mesa presidencial como o maior acionista, estava olhando atentamente o filho enquanto este apresentava o seu projeto de inovação.
- A Williams Jewels tem sido uma firma de prestígio altamente condecorada no mercado, porém, as nossas agências não têm dirigido atenção a comunidade onde ela está inserida, quer dizer, se a empresa está crescendo, é justo que a comunidade também cresça. Sugiro que façamos o melhor para ajudar as nossas comunidades, gerar mais empregos, entrar em coordenação com a prefeitura e construir mais vias de acesso nos lugares de extração e liquidar alguns produtos para que também clientes encarecidos possam usufruir dos nossos produtos. Afinal, toda pessoa quer oferecer um diamante ao seu parceiro. – Convicto de que tinha dado o seu melhor, Albert sorriu encarando os acionistas.
Albert era formado em administração empresarial, ele sabia que a Williams Jewels não perderia tanto dinheiro usando a sua estratégia e que num futuro próximo a empresa poderia redobrar os lucros atuais do que apenas explorar os recursos já obtidos.
- Você está dizendo para a gente albergar os menos favorecidos nas nossas agências porque fazem parte da nossa comunidade? – Esse era o pai dele, ele não parecia muito contente. – Mas os nossos clientes são de uma sociedade alta e eles são exigentes, porquê a gente iria aborrecê-los agora? E se esse seu projeto der errado?
- Eu tenho convicção de que a situação líquida da firma não será atingida. – Ele fez um sinal para que Max distribuísse uns papéis para todos os presentes, ele fez. – Como vêem, o património líquido se constitui confortavelmente estável, ou seja, a empresa ainda detém lucro elevado. Quanto a isso não têm nada a temer, mas os nossos funcionários das fábricas têm vivido em condições não agradáveis, uma pequena parte está se beneficiando com o atual gerenciamento da empresa, eu sugiro mudança, temos que fazer diferente da concorrência, temos que proteger os nossos se importando com a nossa comunidade.
- Jovem Williams. – Uma das acionistas se pronunciou. – Eu até entendo o seu posicionamento, mas o que nos garante que essa mudança radical poderá não levar a ruína dessa firma? – Vários acionistas se manifestaram concordando com aquela questão, um burburinho começou se formando ali.
- Eu garanto, estamos estudando esse projeto a meses, a margem de erros é pouquíssima.
- E porquê devemos confiar em você? afinal, isso se trata de biliões de dólares... – Alguém estava falando, então Ernest se levantou.
- Senhores, esse assunto tem que ser discutido com mais calma e tempo, não podemos concordar em nada agora. Então dentro de um trimestre a gente volta a decidir se esse projeto será aceite ou não. Por agora, reunião encerrada. – O burburinho das pessoas ali se fez presente enquanto elas farfalhavam os papéis, pegavam nas suas pastas e se retiravam ainda conversando sobre o tópico recente. Richard, o amigo do Albert, aproximou-se dele com um sorriso de orelha em orelha e o abraçou.
- Wau, parabéns. O seu projeto é maravilhoso, ajudar os pobres, porquê nunca pensamos sobre isso antes? – Aquilo parecia ter um quê zombeteiro mas Albert descartou a impressão.
- Pois é, só espero que a administração aceite... – Albert estava mesmo querendo aquilo. Ele não era indiferente a situação deplorável que a monção desfavorecida estava passando.
- Albert, por favor me acompanha na minha sala. – Era o pai dele, Albert acentiu e acompanhou o homem mais velho, Max ficou de lado de fora sem permissão para entrar. O seu pai serviu duas taças de vodka forte e deu-lhe um dos copos.
- Obrigado. – Albert estava sentado em frente a mesa do pai.
- Devo dizer que estou surpreso com a sua apresentação. – Ele começou. Fico feliz que como pai pelo menos criei um filho que tenha senso e humildade. – Ele riu e Albert o acompanhou.
- Apenas estou fazendo o que é o certo para a empresa, pai.
- Devo-lhe dizer que a ideia do seu projeto não foi assim tão feliz. Os acionistas não gostaram muito de saber que podem disperdiçar tanto dinheiro assim.
- É só numa primeira fase, garanto que cada centavo gasto virá em dobro...
- Albert, você deve saber que esse seu projetinho não tem como dar certo, não é?
- É mesmo? ou é você quem não quer que dê certo?
- A Williams Jewels não tem sido um prestígio "dando de comer aos pobres". – Ele levantou os dedos fazendo aspas no ar.
- Se você quer que essa empresa tenha um futuro próspero é necessário que comecemos a "dar de comer aos pobres". – Ele rebateu usando a alegoria do pai.
- Seja mais prático, Albert. As pessoas não estão dispostas a perder tanto dinheiro...
- Onde você vai quando não volta pra casa? Há quanto tempo não vê a mamãe? Pretende deixá-la? – O homem mais velho ali levou a bebida até a boca e bebeu antes de responder.
- Estamos falando sobre trabalho.
- Então quando vamos falar sobre assuntos pessoais uma vez que você nunca está em casa?
- Pare com isso. Aja como homem, você é um Williams. Os Williams nunca abrem mão de nada que lhes pertence para beneficiar terceiros.
- Você não acredita em mim, pai? Não confia em mim?
- Comece a agir com responsabilidade e eu confiarei em você. – Os lábios do homem estavam prensados numa linha fina, o seu olhar sobre ele era afiado e duro como duas adagas, sempre o questionando, o julgando, o sufocando. Albert saiu imediatamente daquele lugar.
De novo o pai dele estava fazendo aquilo, o tratando como se ele fosse uma criança, como se ele não tivesse responsabilidade alguma. A cabeça de Albert quase que explodia de tão sufocado que ele estava se sentindo. Ter a reprovação do próprio pai era pior sensação do mundo. Max o seguiu em silêncio, não era necessário perguntar algo pra ter uma ideia de que a conversa entre pai e filho não tinha sido agradável. A uma dada altura, Albert perguntou a ele.
- Você acredita em mim..? – Max olhou pra ele e sorriu terno.
- Claro que sim. – Ele respondeu, aquilo já era suficiente pro Albert por agora.