Eu não tenho nada contra criar o filho de outra pessoa, sei que poderia amar aqueles meninos como se fossem meus, o problema não é com eles, e sim com o pai deles. Sim! Eu sinto atração por John, não posso negar que me sinto uma menina tímida com algumas atitudes dele, mas eu não o amo, eu sequer tenho sentimentos por ele além dessa atração, que poderia muito bem acontecer com qualquer um.
Finalmente consegui dormir, depois de ler e reler o bendito contrato diversas vezes, já eram quatro da manhã. Levantei ao meio dia, havia algumas mensagens de John, acabei decidindo ignorar, ainda não sei o que devo dizer.
John: Bom dia, como você está? - 08h
John: Oi, estava aqui olhando as fotos do parque e da festa, gostaria de mostrá-las pra você, posso ir ai? - 10h
John: Eu sei que não pedi uma coisa comum, eu imploro, fale comigo! - 14h
John: Certo, desisto! Vou te dar o tempo que quiser para pensar, não incomodarei mais. Quando quiser, estarei aqui. - 20h
Foi difícil ler as mensagens e não responder. Eu não tenho o costume de ignorar os outros, sei muito bem como é ser ignorada, mas o que eu deveria responder? Eu deveria vê-lo e agir como se ele não tivesse me proposto a casar com alguém que mal conheço?
É uma decisão muito importante! É a minha vida! Se ele tivesse feito eu me apaixonar e me pedido em casamento, que idiota! Eu teria aceitado sem pensar duas vezes, porque eu estaria apaixonada, porém, sem sentimento algum, além da atração física, a decisão fica ainda mais difícil de ser tomada.
Não quis contar a Will, preciso pensar um pouco primeiro. E foi assim que passei meu Domingo, dividida entre banalidades e um contrato que me tirou a paz.
***
No dia seguinte acordo cedo, tomo banho, me arrumo e em menos de meia hora estou na galeria. Chego cedo, exceto Lupi, a responsável pela limpeza, ninguém mais chegou.
- Bom dia, minha querida. - Ela diz assim que me vê.
- Bom dia, Lupi, senti sua falta.
- Que carinha estranha é essa? O que aconteceu?
- Não aconteceu nada, Lupi.
- Sabe, é muito fácil saber quando algo não está bem. Um sorriso contagiante como o seu não some por nada.
- Eu trouxe café da manhã! - Ergo minhas mãos para que veja a sacola e ela sorri, percebendo minha mudança de assunto. - Me acompanha? - digo com dengo.
- Claro! - ela larga a vassoura e seguimos até a cozinha.
Após servir a mesa, Lupi já havia feito inúmeras perguntas sobre meu semblante triste e me fez contar tudo. Não é só querer conversar, eu precisava! Lupi é como uma avó para mim, de todos, exceto por Will, eu sabia! Seria ela, quem mais me entenderia e me ajudaria, ela sempre sabe o que dizer!
- Então ele quer que se torne sua esposa e mãe dos filhos dele? - indaga ela com olhos arregalados.
- Exatamente, estaríamos amparados pelo contrato. Um contrato que diz o que posso ou não fazer, tanto com ele, quanto com os filhos.
- E o que você acha disso?
- Eu não sei, Lupi. John é um homem muito bonito, educado, entre outras coisas. Não seria difícil me apaixonar por ele, quem sabe ele também não passaria a gostar de mim? Não é assim que vai funcionar Lupi, isso é só um negócio para ele. Eu vou receber pelo meu papel, receber pra estar casada.
- E qual o problema? - ela perguntou risonha.
- Lupi, eu quero romance! Não me importo de criar as crianças, me importo de dormir com alguém que sequer me ama. Como vai ser? Vamos dormir em quartos separados, mal vamos nos falar e na frente dos amigos seremos o casal perfeito? Depois do que aconteceu com você sabe quem, eu não quero atuar ou ter que passar por qualquer coisa do gênero de novo.
- Então o faça amá-la.
Olho para ela confusa e digo: Acho que não entendi, Lupi.
- Seja sincera com ele! Conte como se sente! Faça ele entender o seu lado da história. Conte a ele sobre você sabe quem...
- Ele já sabe! - Ela arqueia uma sobrancelha a ouvir minhas palavras. - Eu contei.
- Se você contou, é porque você confia nele.
- Eu não sei... Acho que foi só a situação que me obrigou a contar.
- Se ele já sabe, ele vai entender! Enquanto ele estiver ocupado em tentar fazer com que você o ame, faça-o te amar também.
- Você faz parecer fácil, Lupi.
- E é, minha querida. Ele quer você como esposa, mesmo que de uma maneira diferente, a única coisa que você pode fazer é mostrar para ele a maneira certa e o motivo certo.
Ela sorria como quem sabia bem do que falava. Fiquei refletindo em suas palavras enquanto a observava. Lupi era ótima em dar conselhos, desde quando entrei na galeria Lupi cuidou de mim. Quando meu namoro acabou, Lupi bateu em meu ex quando o viu na rua. Peguei meu celular e alguns minutos se passaram enquanto eu olhava para a tela, me decidindo se era isso mesmo que eu queria fazer, até reunir coragem suficiente e mandar uma mensagem para ele
Catrina: Oi, podemos nos ver? Precisamos conversar. - Quase imediatamente recebi minha resposta.
John: Oi, sim, claro! Diga-me, quando?
Catrina: Hoje, às 19h
John: Combinado.
Embora tenha passado boa parte do meu dia pensando no que estaria por vir, ocorreu tudo bem. A compra de John ajudou a pôr algumas coisas no lugar, não havia resolvido tudo. Porém, acende em nossos corações outra vez a chama da esperança. Talvez eu devesse agradecê-lo, ou talvez não... Eu não sabia nem o que faria ao vê-lo, a única coisa que eu sabia é que minha vida, jamais seria a mesma.
***
Quando chego em sua casa, ele está na porta, pronto para me receber. Ele está vestindo um blazer preto, e uma camisa branca com alguns de seus botões abertos. Não posso evitar olhar para a abertura e o pedaço de pele exposto, estranhamente sinto um arrepio percorrer meu corpo, imaginando o que mais teria ali. Se ele percebeu, não deu sinal algum, apenas me convidou para entrar.
- Você disse que queria conversar, não disse se íamos a algum lugar, então achei melhor ficar arrumado - ele sorri envergonhado.
- Não iremos a lugar algum, acho melhor conversarmos sobre isso aqui mesmo, é um lugar mais reservado. - sorrio para amenizar a rispidez de minhas palavras.
- Claro. - Ele diz antes de me convidar a acompanhá-lo até o escritório - Sente-se - ele pede assim que entramos.
- Onde estão os meninos? - pergunto
- Dormindo. - ele responde sorridente. Eu esperava por mais, queria assuntos banais capazes de tirar a tensão caída sobre meu corpo naquele momento. - Sobre o que queria falar? - ele questiona sem piedade.
- Sobre sua proposta.
- Você tem uma resposta?
- Eu sempre me imaginei casando e tendo meus próprios filhos. O que quero dizer é que sua proposta me pegou de surpresa.
- Eu entendo! Você é jovem, bonita, ainda tem muito pela frente e pegar filhos que não são seus para criar realmente é assustador.
- Não! Meu problema não é com seus filhos. Eles são crianças maravilhosas! Não há nenhum problema em não serem meus filhos.
- E qual seria o problema? - franze a testa como se realmente não entendesse.
- O problema é você.
Ele fica chocado com minhas palavras e não fala nada, apenas me analisa por um tempo.
- Por que sou um problema?
- Você me atrai, de alguma forma eu me sinto uma menina perto de você...
- Não vejo problema nisso - ele me interrompe, olho séria para seu sorriso sem vergonha que logo some.
- O problema é que eu não o amo. Eu sequer gosto de você romanticamente. Eu me sinto atraída por você como eu me sinto por algum homem bonito que conheci em uma balada. É desejo, só sexo, entende? Eu não me importo em criar filhos de outra pessoa, se eu amar o pai deles é o que importa! Eles não tem culpa de nada e nem merecem sofrer por isso, contudo, me casar com alguém, quando eu não o amo, é uma coisa completamente diferente.
Ele me olha profundamente, seu olhar curioso me perturba.
- Eu devo amá-la?
- Eu não disse isso! - eu pensei, não falei!
- Se me amasse, casaria comigo. Você acabou de dizer isso.
- Exatamente! Se eu te amar. Você jamais me amará, seu contrato é claro, nenhuma promessa de amor será feita. Portanto, não posso amar alguém que não terá sentimentos por mim, pra você são negócios, pra mim não!
- Posso amá-la se me permitir. - Eu não esperava ouvir isso.
- Como faria isso? - digo com gozação.
- Saia comigo! Vamos ser como um casal normal nos conhecendo. Três meses! Me dê três meses para provar, eu posso amá-la assim como pode me amar.
- Como vou saber? Pode ser parte do seu jogo para conseguir uma esposa.
- Você vai saber! A gente sabe quando o sentimento é recíproco de verdade. - Apesar de olhar para mim eu pude perceber, seu pensamento estava longe, como se um piscar de olhos o trouxesse de volta, ele continuou: - Se no final desse período nada evoluir entre nós, eu te deixo em paz!
Proposta tentadora, penso comigo. Isso é exatamente o que Lupi me sugeriu.
- Tudo bem. Eu aceito sua proposta! Porém, tenho uma condição!
- Que seria?
- Você é um homem com muita influência, a galeria não tem passado por seus melhores momentos, melhorou um pouco desde sua última compra, e eu agradeço imensamente por isso.
- Eu preciso comprar mais, é isso?
- Você gosta de interromper, não é mesmo? Não é isso! Eu não quero seu dinheiro, quero seus contatos. Você é um homem influente, com sua ajuda podemos reerguer a galeria.
- Como planeja fazer isso?
- Me deixe organizar uma exibição aqui na sua casa, para seus amigos, deixe-me mostrar sua coleção particular, eles vão ser influenciados por você. Então apresentarei a eles quadros novos e eles comprarão para acompanhá-lo.
Ele parece confuso, tudo indica que está pensando em minha proposta, quando ele sorri, além de sentir uma vontade incontrolável de sorrir também, sei que concorda comigo.
- Fechado. - Ele responde e apertamos nossas mãos selando nosso acordo.